2013-08-26
David Cameron quer invasão da Síria, já!
David Cameron interrompeu
hoje as férias para exigir, em Londres, a intervenção militar na Síria, já.
"Mesmo sem o acordo da ONU" chegando-lhe como prova da autoria da matança de
1300 civis, nos arredores de Damasco, com gás sarin, pelo governo Sírio, as
certezas que W. Bush, Blair, Aznar e Durão Barroso tinham sobre as armas
nucleares do Iraque. Posição próxima tem a França e a Alemanha coloca como
questão prévia saber se foi de facto o regime sírio o autor da chacina.
O assassínato dos 1300 civis
nas proximidades de Damasco, dos quais grande parte crianças, com o gás sarin
tanto poderá ter sido cometido pelas autoridades de Damasco como por um
qualquer dos grupos terroristas do fundamentalismo islâmico que atua ao lado
dos oposicionistas, incluído a Al Qaeda, talvez, quem sabe, com a ajuda amiga
de serviços secretos de Israel ou dos países do “Ocidente“ mais sensíveis aos
"direitos humanos" .
Não poria as mãos no fogo
por nenhum dos lados. O governo da Síria, o Irão, os xiitas, o Hezebolah, os alauitas,
ou a Rússia tendem à priori a culpar os
rebeldes pelo assassínio em massa do seus compatriotas. Pelo outro lado, os EUA,
o Reino Unido, a França, a Turquia, Israel, a Arábia Saudita e outros países
árabes sunitas, “sabem”, uns mais que outros, conforme os seus interesses, que
foi o governo de Bashar a Al-Assad a usar armas químicas. Do lado desta
barricada está a maior parte da comunicação social a que temos acesso.
Ainda espero que a inspeção
internacional ao local do crime apure a verdade, se é que consegue, se é que
quer. Mas não estou otimista.
No entanto, para se chegar à
mão dos criminosos um bom critério é o de saber a quem aproveita o crime e
quanto a isto… vejamos:
Ainda que sem grande
convicção os EUA, chamuscados no Iraque e no Afeganistão, avisam que o uso de
armas químicas é o limite que transposto pelo governo de Damasco obrigará os
EUA a intervir militarmente.
Neste quadro internacional atribuir
o uso do gás sarin a Al - Assad, vem mesmo a calhar para os rebeldes pressionarem
a intervenção do “Ocidente” no derrube do governo Sírio. Ser este a usar o gás
sarin, numa tal orgia do horror, só poderia ser estupidez ou estado de
necessidade face a forças militares inimigas à beira da vitória, o que não
acontece, pelo contrário.
Notícias da
Reuters (BEIRUTE, 24 Ago )dizem que “a TV estatal síria informou que soldados
encontraram agentes químicos em túneis de rebeldes em um subúrbio de Damasco,
neste sábado, e alguns soldados estavam "sufocando".
“… Um alto funcionário de desarmamento da ONU chegou a Damasco neste sábado
para pressionar pelo acesso de inspetores ao local do ataque e os Estados
Unidos estavam realinhando suas forças navais na região para dar ao presidente
Barack Obama a opção de um ataque contra a Síria.
“Relatos da
oposição síria apontam que entre 500 e mais de 1.000 civis foram mortos por gás
colocado em munições lançadas por forças leais ao presidente Bashar al-Assad.” (Link
)
No entanto, já em Maio
passado, a ex-Procuradora do Tribunal Penal
Internacional e membro da comissão de inquérito da ONU sobre as violações dos
Direitos Humanos na Síria, Carla del Ponte
dissera numa entrevista à Rádio Suíça italiana que: "De acordo com as
provas que recolhemos, os rebeldes utilizaram armas químicas, fazendo uso do
gás sarin", na madrugada de hoje.” (Link ).
O regime sírio está longe de pertencer ao grupo dos países árabes extremistas onde metade dos nacionais - as mulheres - vive em semi-escravidão e a democracia e a justiça é a da sharia. O regime autoritário e corrupto sírio, onde as liberdades estão longe de estar garantidas, , está, no contexto do mundo árabe, entre os menos maus. É uma regime secular, laico, onde as diferentes religiões têm convivido em paz. Uma intervenção militar do Pentágono com o aplauso entusiasta do Sr Cameron visa tudo menos a instauração dos direitos humanos com cuja ausência convivem fraternalmente na Arábia Saudita e noutros países árabes “amigos”, e conduziria muito provavelmente a um regime mais ou menos confessional onde os democratas e os que lutam pela liberdade rapidamente seriam submersos pelo fundamentalismo islâmico, sunita ou xiita.
O regime sírio está longe de pertencer ao grupo dos países árabes extremistas onde metade dos nacionais - as mulheres - vive em semi-escravidão e a democracia e a justiça é a da sharia. O regime autoritário e corrupto sírio, onde as liberdades estão longe de estar garantidas, , está, no contexto do mundo árabe, entre os menos maus. É uma regime secular, laico, onde as diferentes religiões têm convivido em paz. Uma intervenção militar do Pentágono com o aplauso entusiasta do Sr Cameron visa tudo menos a instauração dos direitos humanos com cuja ausência convivem fraternalmente na Arábia Saudita e noutros países árabes “amigos”, e conduziria muito provavelmente a um regime mais ou menos confessional onde os democratas e os que lutam pela liberdade rapidamente seriam submersos pelo fundamentalismo islâmico, sunita ou xiita.
Impõe-se,
isso sim, o uso de todos os meios de pressão políticos não militares que
conduzam a uma negociação com vistas a mais liberdade e mais democracia. No
contexto do mundo árabe toda a prudência não é demais.
_____________________
Síria:
Área: 185.000
Km2 (quase duas vezes Portugal).
População: 22.457.336 (2013). Árabes 90.3%, Kurdos, Armenios e
outros 9.7%.
Idade média da
população: 22,7
anos (Portugal 40,7)
Mortalidade
infantil por 1000 nascimentos: 14,63 (Portugal 4,54, EUA 5,9)
Religião: Sunitas 74%, outros islamitas incluindo alauitas, druzos: 16%,
Cristãos vários: 10%, Judeus: pequenas comunidades em Damasco, Al Qamishli, e
Aleppo.
PIB per capita: 5.100 dólares,
em 2011 (Portugal 23.800 dólares, em 2012)
Serviço militar obrigatório para os homens 18 meses a partir dos 18 anos.
As mulheres podem prestar servico militar voluntário [Link ]