2013-08-27
Por razões de estupidez, Damasco usou o gás sarin para facilitar a invasão do país
Parece que o mundo livre e o seu
comandante, os EUA, já decidiram invadir
a Síria. Diz o vice-presidente Kerry e diz David Cameron que só falta saber a
hora e como.
Estava anunciado há muito que, se
o regime sírio usasse armas químicas contra os rebeldes, os EUA não tinham
outro remédio senão intervir militarmente, derrubar, o actual governo, em defesa da
liberdade e da democracia.
O governo de Damasco, sabendo
isto, e estando desde há meses na mó de cima na luta contra os insurgentes sírios,
decidiu por razões de estupidez, atacar um bairro dos arredores da capital com
gás sarin e assassinar indiscriminadamente 1300 civis, incluído muitas crianças
que a imprensa, TVs e Internetes de todo o mundo mostraram revoltando contra
Damasco a humanidade (que lê ou vê estas notícias) que em uníssono não só apoia
como exige aos EUA e à UE o derrube de Bashar Al-Assad que sem o parecer é
afinal um Sadan Hussein.
Veio mesmo a calhar porque a
decisão de intervir já estava em preparação mas era necessário ter o apoio da massa
ignara que dá os votos de vez em quando.
Talvez, talvez, talvez, que daqui
por uns anos, quando a administração norte-americana, vencidos os prazos, abrir
à consulta a sua documentação secreta, lá venha a informação que hoje nos
escapa : os serviços secretos israelitas,
a pedido da CIA, forneceram a uma célula da Al Qaeda X doses de gás sarin para ajudar
os nossos amigos, democratas e amantes da liberdade, a verem-se livres do horrível
ditador Bashar Al-Assad eliminando uns 1300 desgraçados, nos arredores de
Damasco. Infelizmente havia muitas crianças mas paciência. Ou tanto melhor, dado
que uma muito bem conseguida campanha de
informação atribuiu a responsabilidade do crime ao presidente da Síria.
Talvez. Talvez. Não é que o campo
oposto não fosse capaz de um crime daquele jaez mas os ideais do imperialismo apenas
se medem em dólares ou euros, petróleo ou outras riquezas naturais. É claro que
já não vivemos tempos tão propícios aos mandantes e poderosos como aqueles em
que aniquilaram milhões de seres humanos para lhes roubarem tudo, como sucedeu,
por exemplo, na conquista das Américas, ao ponto de povos e civilizações
inteiras terem sido totalmente dizimados. Depois a ”nobreza do dinheiro” teve de se ir conformando com as conquistas da
plebe, consequência de grandes e vitoriosas lutas do “terceiro estado” e tem de lidar com essa chatice das eleições e
dos votos. Mas conseguiram, controlando a educação, a comunicação social, corrompendo,
mentindo, falsificando, por vezes de forma tão monstruosa que ninguém de boa
consciência pode sequer admitir que se trate de falsidades.
Na realidade não sei quem cometeu
o crime monstruoso nos arredores de Damasco. É certo que já
em Maio passado, a ex-Procuradora do
Tribunal Penal Internacional e membro da comissão de inquérito da ONU sobre as
violações dos Direitos Humanos na Síria, Carla del Ponte dissera, numa
entrevista à Rádio Suíça italiana que: "De acordo com as provas que
recolhemos, os rebeldes utilizaram armas químicas, fazendo uso do gás
sarin" [Link].” Mas se ele só
aproveitaria a quem quer a intervenção militar, admitindo que Damasco não é um
manicómio, tudo parece apontar para uma operação montada para justificar a
intervenção armada na Síria. Mas seriam as potências ocidentais, cristãs,
democratas, paladinas da defesa dos direitos humanos, capazes de uma monstruosidade
destas, numa atitude de "os fins justificam todos os meios"?
O que se passou com o Iraque, as
provas forjadas, ou apenas enunciadas das armas nucleares que o Iraque tinha,
provas tão evidentes que até Durão Barroso as viu nas mãos de W. Bush deixa
qualquer pessoa no seu juízo de pé atrás com as políticas dos imperialistas.
Afinal o truque se é que esta
chacina é de facto uma armadilha, é velho. Em 1939 Hitler vestiu umas fardas
polacas a militares alemães despejou-os do outro lado da fronteira, na Polónia,
eles dispararam uns tiros para o lado de cá, contra a pátria sagrada dos nazis e
Hitler cheio de razão e apoiado por muitos alemães, justamente indignados com o
traiçoeiro ataque dos polacos, invadiu a Polónia e foi por aí fora acabando a
suicidar-se 6 anos e 50 milhões de mortos depois, no Reichstag. Já antes Hitler
tinha mandado incendiar o Reischtag (o Parlamento) para acusar do crime os comunistas
alemães e assim, com a moral do seu lado, ilegalizar o PC alemão e de caminho
os socialistas.
Os EUA também necessitaram de uma
justificação moral, para iniciar a invasão do Vietnam do Norte. E a justificação surgiu. Em 1964, uns tiros
disparados contra navios de guerra norte-americanos junto à costa
norte-vietnamita, que logo ali ficou provado ser de canhões do Vietnam do Norte “obrigaram” os Estados
Unidos a invadir aquele país. Foi a primeira guerra em que os EUA foram derrotados, mas depois de milhões de vietnamitas mortos e de um país destruído.
As guerras de rapina por vezes,
no curto prazo, dão prejuízo financeiro. Mas é ao país! Os custos são pagos pelo
contribuinte mas os grandes, os gigantescos, os inimagináveis lucros da pilhagem são de quem
investiu… na guerra.
Não sei se a realidade da Síria é
esta que aqui apresento. Mas não me espantaria. Não é nada que não possa ser
feito por quem apoiou a criação do exército taliban no Afeganistão, por quem foi protetor e
apoiante da Al Qaeda (parceria EUA/Arábia Saudita/Paquistão. Os EUA deu a formação, a Arábia Saudita o dinheiro e o Paquistão as bases de treino). Era para combater
o regime de Bashar Al-Assad "amigo dos russos", e lhes permitiu uma base naval no Mediterrânio. O regime sírio é para Washington uma ditadura má muito diferente do da Arábia Saudita que é uma ditadura boa. É certo que o regime sírio, ao contrário do que se passa no reino da familia Saud, eliminou a escravidão das mulheres que podem andar na rua sem a trela de um homem, têm os mesmos direitos que os homens, nomeadamente no ensino, na saúde, podem eleger e ser eleitas. A Síria proibiu na Constituição a lei islâmica da sharia. Mas compra armas aos russos em vez de ser aos EUA, não permite a privatização da única companhia de petróleo síria e pior que tudo não deixa passar pelo seu território o grande gasoduto que devia partir do Qatar para a Europa e libertar esta da dependência do gás e dos gasodutos que vêm da Rússia.
Para derrubar este maldito regime - vá lá compreendam - vale tudo.
Para derrubar este maldito regime - vá lá compreendam - vale tudo.
Comments:
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Quem sabe alguma coisa sobre os últimos 70 anos da história do mundo, dificilmente acredita na bondade americana e seus aliados de ocasião e circunstância.
O seu artigo poderá parecer fantasioso aos usuais espíritos independentes. Mas eu sei que até talvez seja pouco imaginativo para a infindável teia dos «interesses instalados».
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