2013-09-12
A Síria: 110 mil mortos e 4 milhões de deslocados
Diana Soller e Tiago
Moreira de Sá (Universidade de Miami e IPRI-UNL e UNL-IPRI), cientistas, suponho, referem, num artigo de opinião, no Público de 10
de Setembro de 2013, quatro guerras promovidas pelos EUA, em dez anos, no Médio Oriente. Afirmam que
Os autores acham que “as intervenções punitivas e humanitárias que aumentaram exponencialmente nos últimos vinte anos, tem resultado quase sempre em fracassos e estão contra estas ” guerras punitivas” porque o que vem a seguir, é sempre pior “
Relativamente ao irreprimível apelo ao castigo dos “maus” por parte dos donos dos impérios imaginado pelos autores citados quero lembrar que então os EUA não castigaram Pinochet, antes o instigaram e apoiaram a derrubar o governo legítimo de Allende que o tirano assassinou e de caminho mais uns 20.000 dos seus adversários políticos.
"... em nossa opinião estas decisões não são inteiramente
baseadas em interesses estratégicos, mas radicam numa longa tradição liberal,
presente nos EUA pelo menos desde o início do sec. XX, que prescreve que as
democracias punam e corrijam grosseiras injustiças perpetradas por
autocracias."
E esta seria a razão por que Obama ameaçou primeiro invadir a
Síria, depois apenas bombardear e agora talvez se fique pelo desmantelar do
armamento químico de Damasco, alternativa apresentada pela Rússia com a
concordância da Síria e do seu aliado, o Irão.
Diana Soller e Tiago Moreira de Sá radicam este irreprimível
impulso dos EUA (e outras potências democráticas) para castigar os regimes autocráticos
que ofendem os direitos humanos ou desrespeitam
o direito internacional, em Imannuel Kant, o
grande filósofo prussiano do séc. XVIII e oferecem-nos uma viagem pela história
dos EUA e dos presidentes norte-americanos que lhes parece corroborar a
sua tese
Os autores acham que “as intervenções punitivas e humanitárias que aumentaram exponencialmente nos últimos vinte anos, tem resultado quase sempre em fracassos e estão contra estas ” guerras punitivas” porque o que vem a seguir, é sempre pior “
Nisto estamos de acordo.
Salvo o devido
respeito pela opinião dos articulistas acho que a história dos EUA e de todos
os impérios desmente esta sua tese “kantiana” que tomo por manifesta vontade de
dar, ainda que ténue, uma auréola de respeitabilidade e humanismo aos
agressores imperialistas que se regem estritamente pelos seus interesses: dinheiro e poder. E não recuam ante a morte de mil ou de um milhão dos “súbditos”, das autocracias que decidem castigar e que afinal são delas vítmas inocentes.
Relativamente ao irreprimível apelo ao castigo dos “maus” por parte dos donos dos impérios imaginado pelos autores citados quero lembrar que então os EUA não castigaram Pinochet, antes o instigaram e apoiaram a derrubar o governo legítimo de Allende que o tirano assassinou e de caminho mais uns 20.000 dos seus adversários políticos.
Também não suscitaram a ira dos EUA as brutais ditaduras da
Argentina e do Brasil que nos anos 60 e 70 do século XX massacraram os adversários
políticos chegando a atirá-los ao mar a partir de aviões. Ou a roubar os filhos
bebés ou crianças a prisioneiros políticos para serem adotados e educados por
adeptos seus. Os autores, que tomo por pessoas de boa fé, esqueceram-se do
golpe militar organizado por Washington, executado pela CIA e encabeçado pelo coronel
Castilho Armas (http://es.wikipedia.org/wiki/Jacobo_%C3%81rbenz
) que derrubou, na Guatemala ,o presidente Jacobo Arbenz (1951-54)
democraticamente eleito e que queria para a Guatemala as riquezas do seu país entretanto
apropriadas por empresas norte-americana. Esqueceram-se que os EUA apoiaram no Haiti a ditadura terrorista e paranóica de Duvalier o Papa Doc.
Um regime que até chegou a colocar nus,
na mesma cela, homens e mulheres, prisioneiros políticos, para diversão dos
algozes.
Não se lembraram também do governo nacionalista de Mossadegh,
(1951-53) eleito democraticamente na Pérsia (o Irão), http://pt.wikipedia.org/wiki/Mohammed_Mossadegh que não quis ceder à URSS a exploração de
campos de petróleo, o que os EUA consideraram apropriado mas não perdoaram que fizesse o mesmo às companhias
de petróleo norte-americanas. Foi imediatamente “castigado”. A Casa Branca em
associação com a Grã Bretanha pressionou o Xá
Reza Pahlavi e este substitui-o de imediato pelo
general Zahedi. Seria fastidioso prosseguir pelos infindáveis casos que tornam
risível a tese “kantiana” de governantes imperiais justiceiros e humanistas.
Recordo só que o que se atribuía ao presidente F.D.
Roosevelt (presidente dos EUA: 1933 – 45), um democrata, que quando questionado o seu apego à
democracia e liberdade lhe perguntaram como era possível então os EUA apoiarem
o brutal ditador da Guatemala onde, na
verdade, quem mandava era a companhia norte-americana United Fruit, ele teria
respondido, "bem... sabe... realmente ele é um ditador horrível mas que posso eu fazer?
Ele é “o nosso ditador”.
Não é certamente o filosófico e irreprimível impulso Kantiano
para o primado da justiça e da lei que leva os Estados Unidos a recusarem-se a assinar
os estatutos do Tribunal
Penal Internacional assinados, até 2012, por 120 países. Ou leva os EUA
. a fornecer armas
químicas a Saddam Hussein quando este era um “democrata” amigo para as lançar
sobre as tropas do Irão que estavam a levar a melhor aos exércitos iraquianos na
guerra de 1980 a 88, armas que depois Saddam usou também, entre 1986 e 89, no
genocídio dos curdos iraquianos;
. ou a apoiar e a armar, com a Arábia Saudita e o Paquistão,
a então amiga Al Qaeda e Bin Laden e os então “amigos” talibans a lutar no
Afeganistão contra o regime apoiado pelos soviéticos que entretanto atribuíra
às mulheres os mesmos direitos que aos homens, direito ao trabalho, à educação, à intervenção
política, a proibir a burka, e a poderem
andar na rua sem a “trela” de um homem;
. ou a instigar, armar e municiar, de braço dado com a
democratíssima Arábia Saudita e outros “democracias” sunitas do golfo a
rebelião contra o regime sírio onde, no melting
pot das organizações terroristas, está a Al Qaeda, que no terreno puseram desde logo em cheque os
legítimos objectivos dos rebeldes democratas da “primavera árabe” que, se a
rebelião triunfar, o mais provável é serem fuzilados.
Ora os presidentes norte-americanos fazem estas coisas não
por presidirem ao “reino do mal” mas porque têm de defender quem garantiu e
subsidiou a sua eleição: os interesses das grandes empresas multinacionais, do complexo
industrial-militar (denunciado pelo presidente Eisenhower nos anos 50 do
sec.XX).
Sem negar a minha concordância com várias das opiniões expendidas
no artigo “Obama, a Síria e os vícios
das sociedades liberais” não posso deixar de considerar uma ingenuidade ou estultícia a tese de que as
guerras ditas de punição resultam, pelo menos em parte, de impulsos democrático/justicialistas, decorrentes de impulsos filosóficos e kantianos.
Etiquetas: guerra química., Obama, Siria
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Fui ali confirmar o que diz o comentador anónimo: Tiago Moreira de Sá, doutorado em História Moderna e Contemporânea, especialidade de História das Relações Internacionais no Período Contemporâneo, pelo Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa, é Professor Auxiliar Convidado na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e investigador no IPRI-UNL. em http://www.ipri.pt/investigadores/investigador.php?idi=28
Realmente tão esplendorosa formação científica para nos vir narrar uns contos da carochinha muito ideológicos e que só não serão devidamente recompensados se os poderes branqueados forem muito distraídos.
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Realmente tão esplendorosa formação científica para nos vir narrar uns contos da carochinha muito ideológicos e que só não serão devidamente recompensados se os poderes branqueados forem muito distraídos.
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