2014-07-23
O deputado do PS Sérgio Sousa Pinto arrasa a direção de Seguro
O problema do PS é político, por
mais que o queiram converter numa novela
« Quem entenda que os últimos anos foram marcados por
uma oposição mobilizadora, determinada e capaz, protagonizada pelo PS e
liderante no Parlamento e no País, é natural que não perceba a razão de ser da
candidatura de António Costa à liderança do PS.
Quem não reconhece a necessidade de interromper este
ciclo no PS, enquanto é tempo para prevenir uma vitória marginal ou mesmo uma
derrota nas próximas legislativas, é natural que seja refratário ao significado
político da iniciativa de António Costa e ao movimento subsequente,
inteiramente espontâneo, que sacudiu o partido e a sociedade portuguesa, ambos
mergulhados numa crise de esperança e de confiança.
Com quem protagonizou em posição de destaque esse
ciclo perdido receio que não haja mesmo qualquer esperança de vir a travar um
debate no plano político, que é o plano devido. Nesses casos, é manifesta a
preferência por reduzir o conflito a um duelo de egos, em que a Costa é
reservado o papel de ambicioso e maquiavélico vilão e a Seguro o de mártir
inconsolável e carpideiro, que passeia pelo País o seu ressentimento, com um
punhal cravado na omoplata direita.
A chorosa novelização do problema político do Partido
Socialista não resiste aos factos, duros como punhos, de três anos de oposição
medíocre, hesitante e no geral errática e inepta. Esse é o problema. Puramente
político..........
« Entrámos, então, no ciclo da abstenção
violenta, de que nunca mais saímos. Depois ,veio o acordo de regime patrocinado
por Cavaco Silva. O precioso convénio amarraria o PS ao programa austeritário,
a troco de eleições antecipadas, que o PS putativamente venceria,
prolongando-se o convénio num bloco central capitaneado pelo líder do PS e
primeiro--ministro - e ungido pelo Presidente. Mas Mário Soares - sozinho -
deitou o sonho ao fundo.
Será ainda preciso recordar outro momento
alto do desnorte socialista: o único entendimento que o PS considerou
irrecusável com a direita, em três anos, foi o desagravamento da tributação
sobre os lucros das empresas.
Este penoso elenco está muito encurtado, mas
ajudará a compreender a hemorragia eleitoral do PS, de eleição para eleição,
até à evidência de que não estaria à altura de libertar o País da direita mais
reacionária e implacável que o Portugal democrático conheceu.
A queda do PS nas indicações de voto não é de
ontem. O PS precisa de tempo e de força para poder protagonizar uma verdadeira
alternativa, que rompa a gaiola de ferro do neoliberalismo europeu e doméstico.
Mas isso supunha que quem está agarrado ao poder no partido aceitasse disputá-lo
democraticamente, em nome do País e do interesse geral. Este PS, indiferente à
agonia lenta que se autoimpôs, permanece refém de uma cultura implacável de
sobrevivência, uma esperteza feita de habilidade e manha, completamente
estranha à cultura do partido, mas profusamente enfeitada de princípios e
valores. Esperemos que as primárias, nascidas desse caldo, sejam o instrumento
da sua destruição.»
(Artigo completo aqui no DN)