2014-10-25
Nicolau Santos no Expresso: "Deviam estar todos presos"
No Expresso
Até agora
considerava-se que, entre todos os bancos portugueses que tiveram problemas, só
o BPN era verdadeiramente um caso de polícia. Mas à medida que se conhecem mais
pormenores sobre o que se passou nos últimos meses no BES cada vez temos mais a
certeza que estamos perante um segundo caso de polícia. Daí a pergunta: porque
é que não estão todos presos?
Se não, vejamos.
Depois de ter sido proibido pelo Banco de Portugal de continuar a conceder
novos créditos ao Grupo Espírito Santo a partir de Janeiro deste ano, o BES
continuou a fazê-lo - e, segundo as indicações, fê-lo no montante de 1,2 mil
milhões de euros. E das duas uma: ou fê-lo com conhecimento de toda a
administração, que sabia da proibição do Banco de Portugal; ou fê-lo por
decisão de apenas duas pessoas - Ricardo Salgado e Amílcar Morais Pires.
No primeiro caso,
todos deviam estar já presos; no segundo, os dois deviam estar detidos. Para
além de desobedecerem ao banco central, lesaram gravemente o património do
banco, sabendo conscientemente que o estavam a fazer.
Quanto aos outros
membros do conselho de administração, se não foram coniventes, foram pelo menos
incompetentes. Tinham responsabilidades em várias áreas de controlo da
actividade do banco e ou não deram por nada ou, se deram, não fizeram nada. Por
isso, fez muito bem o Banco de Portugal em afastar Joaquim Goes, António Souto
e Rui Silveira.
Mas e a
Tranquilidade? A Tranquilidade que também continuou a investir em empresas do
GES este ano sabendo do estado em que se encontravam? O presidente executivo
Pedro Brito e Cunha, que é primo de Ricardo Salgado, tomou essas decisões com
base em quê? Na relação familiar, como é óbvio. Devia estar detido
igualmente.
Lesou gravemente
e de forma consciente o património da seguradora. E Rui Leão Martinho, o
presidente não executivo da Tranquilidade e ex-presidente do Instituto de
Seguros de Portugal, não sabia de nada?
De novo, das duas
uma: ou é incompetente ou foi conivente. Em qualquer caso, já se devia ter
demitido ou ter sido demitido. Mas a verdade é que o Instituto de Seguros de
Portugal parece estar perdido em combate. O presidente José Almaça não tem nada
para dizer? Não tem nada para fazer?
Já agora, António
Souto, que o BdP suspendeu da administração do BES é membro do conselho de
administração da Tranquilidade. Vai continuar neste cargo? E Rui Silveira,
igualmente afastado da administração do BES, é do conselho fiscal da
Tranquilidade. Também se vai manter na seguradora?
Por tudo isto se vê o polvo em que se tornou o GES,
tendo no seu centro o BES. Nem todos têm as mesmas responsabilidades. Mas há
vários dos seus dirigentes que já deviam estar detidos e sem direito a caução
pelos danos que estão a causar a muitos dos que neles confiaram e ao próprio País.
Então, a pergunta é:
-
Porque é que não estão todos presos?
E
a resposta, óbvia, só pode ser:
- Porque eles são, de facto, os donos disto tudo. Das leis, da Justiça, dos governos, do parlamento. E, por consequência, de todos nós.
Não ouviram, na passada terça-feira, na Assembleia da República, a propósito destruição da PT devido ao caso BES – e às opções dos seus gurus – Pedro Passos Coelho dizer que não é nada com ele? Mesmo que o país perca milhões com isso, nacionalizar está fora de questão? Só se podem nacionalizar os prejuízos?
Comments:
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Todas essas roubalheiras acontecem por furos nas leis, muitos direitos constitucionais para bandidos, mentalidade permissiva dos portugueses, ingenuidade dos eleitores,
etc
A culpa não é do imperialismo,do Diabo, etc, a culpa é simplesmente dos portugueses....
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etc
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