2014-10-19
PEDRO BAPTISTA - AS MEMÓRIAS QUE FALTAVAM
7 DE NOVEMBRO, 18h00
ÁTRIO DA CÂMARA MUNICIPAL DO PORTO
RUI MOREIRA, PRESIDENTE DA CÂMARA
JOSÉ MANUEL LOPES CORDEIRO, HISTORIADOR
JOSÉ QUEIRÓS, JORNALISTA
JOSÉ
SOUSA RIBEIRO,
EDITOR
**********
Pedro Baptista foi o fundador e dirigente da Organização Comunista
Marxista-Leninista Portuguesa (OCMLP)
e do seu órgão político O Grito do Povo. Organização maoista
com origem no Porto, nos anos 70, do século XX.
A PIDE não simpatizava com as suas actividades e procurou-o em
1971. Avesso a conversas com a polícia política do fascismo, Pedro Baptista
trocou-lhe as voltas e experienciou a clandestinidade. Movia-o a determinação casmurra
não apenas de derrubar a ditadura, o que não seria pouco, mas ainda de promover
a revolução que criasse mundos novos. Pedro Baptista não recuava perante os
perigos e estes apresentaram-se-lhe inapeláveis, em 1973 “em Chaves, ao princípio da tarde de 16 de abril de 1973”.
Por essa altura
eu andava pela região de Lisboa com os mesmos insanos propósitos só que com
mais sorte. Clandestinidade sim prisão não.
Só conheci
Pedro Baptista no início dos anos 90 – já a ditadura claudicara havia quase duas
décadas - quando nos encontrámos na criação e andanças da Plataforma de
Esquerda a cujos órgãos dirigentes pertencemos. Depois, em representação desta
associação cívica e política, fomos eleitos, como independentes, nas listas do PS,
na sequência de um acordo que se iniciou com Jorge Sampaio e continuou com
António Guterres.
Na Assembleia da República ocupávamos o
mesmo gabinete. Uma sala grande que nos abrigava a nós e ainda o saudoso amigo
e inesquecível coronel “capitão de Abril” Marques Júnior, a Maria Carrilho, o
José Reis e o Eduardo Pereira.
Sexta-feira à
tarde ele partia para o Porto: “Até para a semana. Vou para Portugal.” Eu reprovava-lhe o desaforo e zangava-me com ele. Pelo
menos até à 2ª feira seguinte.
Deixo aqui uns
breves extractos do livro que, como habitualmente, nos oferece a sua excelente
escrita
Página 318:
“Coincidentemente com todos os sinais atrás referidos, a PIDE
assaltou a casa de meus pais no
início de agosto 1971. No entanto, eu já só lá ia de quando em vez.
O assalto foi o
sinal definitivo de que tinha de passar do regime de vigilância para o da
clandestinidade rigorosa. Assim aconteceu depois de duas semanas num buraco
provisório, mas seguro. Uns meses depois, mas já em 1972, o mesmo aconteceu com
o Rui Loza.
Ao passarmos à
clandestinidade, pudemos concentrar-nos mais no avanço do trabalho
organizativo do operariado, que avançava desde o início de 1970, na montagem do
jornal e em todo o trabalho de criação da rede clandestina nacional.
O jornal – O Grito
do Povo –
foi fundado em dezembro de 1971, numa casa em Barroselas, no
Alto Minho, por mim, estudante de filosofia nas horas vagas da revolução, pelo
Penafort Campos, empregado de balcão, que não esteve presente fisicamente mas
com quem tudo foi acordado antes e depois das decisões, pelo Francisco Morais,
tipógrafo, e pelo Rui Loza, estudante de arquitetura, sendo estes os
constituintes”
…………
Página 351
“Fui preso em seguida, em Chaves, ao princípio da tarde de
16 de abril de 1973.
Tinha
acabado de entrar no país, de onde saíra duas semanas antes, para uma visita em
Paris, onde me reunira com alguns movimentos revolucionários estrangeiros, com
a nossa estrutura no exterior e com o Hélder Costa, com cuja organização nos tínhamos
acabado de fundir…
Tinha
entrado e saído inúmeras vezes por aquele local – o Açude – que conhecia, portanto,
bastante bem. Do ponto de vista da passagem da fronteira a salto, a pouco mais
de um quilómetro da fronteira oficial, sendo muito conhecida, não era de
segurança extrema, mas tinha a vantagem dum carro de apoio se poder movimentar
do lado português sem se fazer notar, dado o tráfego da estrada, o mesmo
acontecendo do lado galego, onde, além disso, havia acesso fácil a transportes públicos.
Bastante
segura era a passagem ao domingo de manhã, com o movimento da missa,
na igreja galega. Mas em qualquer dia de canícula, era normal que por ali cirandassem
veraneantes que acudiam à represa, a refrescarem-se com um mergulho, sendo que o ribeiro, geralmente,
fora dos degelos, se transpunha com um saltito.”