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2014-08-30

 

Imagina que Portugal era a Palestina



Este mapa ilustra bem o que Suad Amiry, na foto, em baixo, explica aqui no blog MEMÓRIAS , com rara clareza: a essência da eterna guerra em terras da Palestina.


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2014-08-25

 

Mais de 96 ex-governantes deram em banqueiros!


São 96 os nomes apurados, num total maior, que deixou de fora os seis bancos encerrados entretanto, de ex- governantes que, após cessarem funções governativas , durante o regime democrático, “viraram” banqueiros.
Terão andado nos governos a aprender a ser banqueiros em vez de bem governar o país, como era suposto?
Estou a lembrar-me do caso recente do ex-ministro da Defesa e depois dos Negócios Estrangeiros, Luís Amado, que, terminada a sua missão patriótica no governo logo arranjou emprego no BANIF, como presidente do conselho de administração. É função melhor remunerada do que ministro. É, se se incluir prémios e extras, acima de 100 mil euros por mês. Também recentemente,  em Março deste ano, o seu amigo Jaime Gama arranjou emprego como presidente do CA do… BES Açores.
Mas a maioria de ex-ministros ou secretários de Estado que deram em banqueiros são do PSD, 53 dos 96, mais uns quantos “ independentes” em governos do PSD ou PSD/CDS;  30 são do PS e 5 do CDS. Só os governos de Cavaco Silva deram 30 banqueiros!
“O campeão é Rui Machete, actual ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, que ocupou cargos em seis bancos diferentes ao longo da sua carreira, também muito preenchida politicamente (foi ministro em dois Governos Constitucionais e um Governo Provisório). Depois surgem vários governantes com posições em três bancos diferentes: Alexandre Vaz Pinto, Almerindo Marques, António Nogueira Leite, Carlos Tavares, Luís Alves Monteiro e Luís Mira Amaral."
Também o Expresso, a 17 de Julho, noticiou que 25 ex- governantes, tinham ligações a empresas do GES (Grupo Espírito Santo)
Os bancos, a alta finança, dominam a política, os governos e as nossas vidas sem precisarem de ir a votos.  
Mas não devemos  generalizar. Político não é sinónimo de corrupto, vendido ou agente dos multimilionários donos dos bancos.  Ainda que alguns se esforcem por dar má fama à função. Os políticos são pessoas como nós. Umas são corruptas outras não, umas tem coragem de virar costas aos seus cargos quando percebem que não conseguem alterar os “esquemas” outras resignam-se.  E há muitos políticos que são pessoas íntegras. Estou convencido que constituem a grande maioria. Nem é necessário ser-se um Mugica, presidente do Uruguai ou um Manuel de Arriaga, primeiro presidente da República de Portugal que comprou com o seu dinheiro o carro para as funções de presidente da República e decidiu pagar uma renda quando se mudou para uma parte pequenina das instalações do palácio de Belém.  Eanes, por ex., renunciou a muito dinheiro ao não aceitar os retroativos a que tinha direito na sua carreira militar.  
Não devemos cair na esparrela de considerar que político é sinónimo de corrupto ou pessoa sem princípios porque esse é o caminho que, em geral, nos aponta quem nos desejaria  impingir um ditador disfarçado de “não político”.


 

2014-08-05

 

Serviço público: o artigo de José Victor Malheiro

Victor Malheiros, hoje, no seu artigo de opinião, no Público, denuncia as mentiras e a denegação de informação ao país relativamente ao caso mafioso do BES/GES. Questiona, e bem, Carlos Costa, o governador do Banco de Portugal. Eis o seu artigo:
 
Por José Vítor Malheiros

05/08/2014 - 00:39

Teríamos gostado de ver o Banco de Portugal garantir que nunca mais algo semelhante se voltaria a passar nas suas barbas. Mas não vemos

O governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, lá acabou por admitir que nos tem andado a enganar. Não o disse por estas palavras nem com esta clareza, claro, mas lá o disse, no cuidado fraseado que a banca e as "entidades reguladoras" usam, recheado de jargão técnico e de eufemismos elegantes.

Afinal era mentira que os problemas do Grupo Espírito Santo fossem totalmente independentes do BES, era mentira que tudo estivesse bem no BES, era mentira que o BES tivesse uma almofada financeira suficiente para colmatar os buracos do crédito malparado e das imparidades, era mentira que houvesse algumas coisas que andavam mal no GES mas que não punham em causa a credibilidade da banca portuguesa e do sistema financeiro (vide evolução das taxas de juro), era mentira que o Estado não precisaria de resgatar o BES, era mentira que os testes de stress tivessem provado a solidez do BES, era mentira que não houvesse razão para afastar rapidamente Ricardo Salgado da gestão corrente do banco e mesmo do seu conselho estratégico, etc.

Note-se que não há a mínima razão para pensar que Carlos Costa terá mentido intencionalmente e, se por acaso o fez com intenção, não há a mínima razão para pensar que a sua intenção não fosse boa. Mas aconteceu que as suas declarações descreveram ao longo dos últimos meses (anos?) uma realidade diversa da realidade real, muito mais optimista do que aquilo que nos parece hoje ajustado e onde não havia quaisquer razões para suspeitar de actividades ilícitas. Acontece. Mais: se houve um optimismo exagerado e aqui e ali alguma informação sonegada ao público, é provável que Carlos Costa tenha considerado que fazia o seu dever, já que a confiança é o principal capital do sistema financeiro. Pode pensar-se que Carlos Costa e todos os funcionários do Banco de Portugal que lidaram com a questão BES foram enganados pelo banco e pelos seus dirigentes (o que não diria muito bem das suas capacidades de fiscalização e regulação, já para não falar da sua competência, argúcia ou bom senso) ou que perceberam num ápice o que se passava mas não quiseram tornar pública a verdadeira dimensão do problema para não causar maiores estragos. É possível. O que seria bom que o Banco de Portugal e Carlos Costa percebessem é que esta estratégia possui custos elevados ao nível da credibilidade da instituição e das pessoas que a integram. Ou seja: se tudo tivesse acabado em bem, o Banco de Portugal teria podido manter a sua ficção até ao fim. Mas, como não acabou, a ficção acabou por se revelar uma fraude. Seja porque o Banco de Portugal não percebeu o que se passava no BES, seja porque percebeu e não quis agir de forma determinada para não "alarmar os mercados", esperando que o Espírito Santo (o da Santíssima Trindade) resolvesse as coisas, a credibilidade da instituição, do seu governador e dos seus funcionários, justa ou injustamente, saiu ferida de morte.

O que quer isto dizer? Que não existe nenhuma razão hoje (se é que existiu alguma vez no passado) para acreditar no que diz o Banco de Portugal sobre o BES, o GES, o Novo Banco, o Tóxico Banco, ou Qualquer Outro Banco. A atitude do Banco de Portugal no passado parece ter sido pautada pela defesa da imagem e do poder de Ricardo Salgado — até que essa defesa se tornou impossível. É possível que isso se tenha devido a uma preocupação de defesa do BES, que além de ser o banco do regime possuía uma dimensão que o tornava, aos olhos do BdP, too big to fail e, por consequência, que tornava Ricardo Salgado too big to jail. Mas não há absolutamente nada que nos garanta que o Banco de Portugal, perante um caso em tudo semelhante (ou pior) que venha a suceder, não adopte exactamente as mesmas atitudes e não tome as mesmas medidas, sempre com a preocupação de não alarmar os mercados e de não desestabilizar o sistema financeiro.

Perante um caso como o do BES, teríamos gostado de ver o Banco de Portugal, hoje, reconhecer responsabilidades, fazer uma investigação aprofundada do que correu mal, admitir culpas, corrigir procedimentos, garantir que nunca mais algo semelhante se poderia voltar a passar nas suas barbas. Admitir, em suma, que se vai preocupar mais com a honestidade do que com a amizade dos banqueiros. Mas não vemos nada disso e esse facto é mais preocupante que o caso BES, porque nos diz que, depois deste BES, haverá outro, e outro, e outro. Casos em que os clientes de um banco serão aliciados (ou pressionados) a comprar acções desse banco ou do banco de um primo para depois verem o seu dinheiro ser engolido por um buraco que, no fundo, tem um funil que acaba no bolso de uma das famílias donas de Portugal ou no bolso de um dos caciques do "arco do poder". Casos em que uma parte considerável do dinheiro movimentado escapará a todo o controlo legal e a todos os deveres fiscais graças ao uso de offshores e a um carrossel de transferências. Casos em que um contabilista distraído se vai esquecer de incluir uns milhões de dívidas nas contas e terá como sanção umas férias no Brasil. Casos em que todos os esquecimentos fiscais dos poderosos e as gorgetas de milhões não declaradas continuarão a ser perdoados com bonomia.

Para descansar os contribuintes, o BdP garante que o Velho Banco não vai receber um tostão e que deverão ser os seus accionistas a arcar com o prejuízo e que o Novo Banco não vai recorrer a dinheiro dos contribuintes. Mas o que são os 4400 milhões "da troika" senão dinheiro dos contribuintes, sobre o qual temos andado a pagar juros? Será que o Novo Banco nos vai ressarcir de todos os custos que tivemos com este dinheiro, que pedimos emprestado (especialmente para o BES?), somando-lhe um belo juro? E o que é o buraco nas empresas do GES e do Velho Banco senão dinheiro roubado aos portugueses, que desapareceu das poupanças, do investimento, da economia e da receita fiscal?

Será que o BdP nos garante que nada de semelhante vai voltar a acontecer, como já nos disse quando do caso BPN? Talvez garanta. Mas não há razões para acreditar.


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