2015-07-10
"Grécia: Merkel derrotada > Passos Coelho enganado..."
O
abaixo escrito é da autoria do economista Luís Salgado de Matos, e trouxe-o
(sem permissão!) do seu blog O Economista Português (link)
no
qual ele se apresenta como
Um Economista Pouco Conhecido
Luís Salgado de Matos, o autor do blog, é hoje menos conhecido pela sua vertente económica e mais pelo lado politólogo – tem estudado o Estado, as Forças Armadas e a Igreja e publicou em 2011 o livro A Separação do Estado e da Igreja, editado pela Dom Quixote, do grupo Leya.
O
leitor se não o conhece, então vá ali, ao seu blog, que não perde o seu
tempo.
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48 horas antes de o Sr. Tsipras escrever o seu plano para Bruxelas, já a imprensa portuguesa sabia que ele continha a derrota moral do ras grego: manchete do Diário de Notícias de anteontem, anunciando que a Grécia «cedeu». Mas afinal quem cedeu foi a Madrinha, a Srª Merkel. Ou de como somos levados à certa pelos nossos mass media. E o DN nem é dos piores.
Quando o Presidente Barack Hussein Obama lembrou à
engenheira química Angela Merkel
que, no meio da guerra fria com a Rússia, era má ideia entregar a Grécia a
Moscovo, o destino da senhora estava resolvido: passava do Departamento do
Tesouro para o Pentágono. O Fundo Monetário Internacional (FMI) já começara a
tocar-lhe o Kindertoetenlieder, mas ela é dura de ouvido e escapou-lhe
a mensagem da música. Diz-se que o Engº Guterres tinha aprendido a
infalível ciência de governo: seguir as sondagens. Sabe-se que a Srª Merkel
descobriu um sistema ainda mais perfeito, simples e barato: para governar
o mundo basta-lhe ler todos os dias o canto superior direito da primeira página
do Financial Times, que publica o índice da bolsa de valores. Ora a
Grécia é uns 2% do PIB europeu e as bolsas apenas piscaram o olho perante as
maldades que o Sr. Varoufakis ministrou à nova Cariátide (claro que a Srª
Merkel ignora o efeito de uma queda acumulada de 1% num plano de investimento
em bolsa e por isso considera 1% uma ninharia). Coitada. Sic transit
gloria mundi. O Economista Português pede também ao leitor um
pensamento bom em intenção do Sr. Sigmar Gabriel, o socialista alemão que andou
a fazer a publicidade da chancelarina e a dizer umas verdades duras aos
helenos.
A questão grega resolveu-se, como O Economista Português sempre previu,
e perde assim muito do seu interesse pois resume-se agora a saber em
que medida seremos prejudicados face aos gregos: medida grande? medida pequena?
Mas esta questão interessará a alguém em Portugal? Haverá uma oposição
responsável que queira governar e tenha um plano de governo? Haverá uma
opinião pública minimamente informada em matéria económico-financeira?Com
efeito, é certo que a Srª Merkel perdeu e os gregos ganharam. Só os
mais bacocos elementos do batalhão de semicomentaristas oficiosos das
nossas televisões e jornais se deixam enganar pelos eufemismos com que a
propaganda alemã começou ontem a mimosear-nos, para ornamentar a sua derrota:
«aliviar» (uma linda metáfora de casa de banho) a dívida grega e
não reestruturá-la, muito menos perdoá-la. A propaganda dos credores colocou
hoje nos jornais uma fuga do pedido grego que exagera a austeridade e, para
agradar a Berlim, declara que o perdão da dívida será curto, mas sem o
quantificar. Só segunda feira começaremos a medir a exctensão da derrota
alemã. Falando a sério: ainda ontem, no Palais Bourbon, um chefe da
direita francesa pedia a Hollande e a Berlim piedade para Portugal e por
extensão para a Espanha e a Irlanda quando perdoassem a Grécia. Deus o ouça.
O Dr. Passos Coelho acreditou e verbalizou que a
Alemanha não cederia e por isso enfileira entre os derrotados de hoje. Acreditou com a fé cega que põe nos mitos urbanos.
Donde lhe brotava tão comovente fé? Só podia nascer dos lábios flexuosos da
chancelarina os quais lhe tinham dado a saber que não cederia aos gregos, que
nunca por nunca ser lhes cederia. A Srª Merkel disse em segredo ao Dr. Coelho o
que nos disse a todos em público e ele, por beber do fino e o suposto segredo
lhe quadrar ao simplismo mental em matéria económico-financeira,
acreditou. Coelho acreditou acompanhadíssimo:
grandes nomes da estratégia portuguesa, incluindo do PS, outros políticos com
nome na praça asseguraram-nos publicamente que ela não cederia, que os gregos
perderiam, que a política da troika era o 11º mandamento que Ieová dera a
Moisés no deserto para a salvação da classe política portuguesa. Enganaram-se.
Prestaram-se às manobras da nova Cariátide. Fizeram que o nosso país
desempenhsse nesta última farsa da Eurozona o divertido papel do Arlequim da commedia
del arte. Nunca repararam que a Srª Merkel é tão fértil em ultimatos como
é úbere em recuos perante as putativas consequências desses mesmos Diktate?
Nunca viram que ela tem a ameaça fácil e a fuga lépida? Os ludibriados,
a começar pelo Sr. Chefe de Governo, têm um plano B para compensar
Portugal pelos prejuízos do logro em que nos fizeram cair, prejuízos
resultantes de termos abraçado alianças internacionais nocivas aos nossos
interesses de nação devedora? Veremos.