2019-11-11
Golpe militar na Bolívia
"A queda de Evo Morales mostra que o império e
seus aliados não descansam, mantendo-se sempre à espreita para agir contra
aquelas lideranças que representam os interesses do povo", diz o colunista
Paulo Moreira Leite
No dominó sul-americano, a Bolívia era a única peça
que permanecia de pé, inabalável, após o vendaval imperialista que em pouco
mais de cinco anos modificou a paisagem política da região.
Pela ordem cronológica. Em 2013, com a morte de Hugo
Chávez, teve início a fase mais dura do bloqueio à revolução bolivariana, um
garrote cada vez mais apertado no pescoço da Venezuela, que resiste, apesar de
tudo, apoiada por um Exército que sustenta o governo Nicolas Maduro com uma
fidelidade única na região.
Em 2015, grandes escândalos midiáticos ajudaram
derrotar o peronismo na Argentina, abrindo caminho para a vitória de
Maurício Macri. Em 2016, o projeto Lula-Dilma foi derrubado através de um golpe
parlamentar, consolidado pela prisão de Lula em 2018. Em 2017, numa sórdida
trama palaciana, Lenin Moreno desfez as conquistas de Rafael Correa para
reconectar o Equador ao comando de Washinton.
O golpe que forçou a renúncia de Evo Morales,
presidente desde 2006, reeleito pela quarta vez, mostra que a selvageria
política continua liberada na América do Sul.
Apoiado pelo Exército e pelas forças policiais
encarregadas da segurança interna, o ataque final a um presidente que jamais
foi derrotado nas urnas é um aviso aos navegantes da democracia e da soberania
de povos e países dessa parte do mundo. A América do Sul segue como alvo de
cobiça do império e seus ajudantes, capazes de empregar métodos implacáveis
para conservá-la sob seus domínios.
Não vamos nos iludir. O que está em jogo, no Chile de
Pinochet-Pinera, no Brasil de Temer-Bolsonaro. na Argentina de Macri, não é o
bem-estar do povo, nem o reforço das garantias democráticas, nem qualquer
conceito mais evoluído sobre a condição humana. Apenas a submissão de uma
região inteira, rica em minérios estratégicos e em recursos naturais, aos
interesses e domínios de Washington.
O golpe que derrubou Evo é a versão bem sucedida da
operação liderada por Aécio Neves para impedir a posse de Dilma em 2015.
Paralisada inicialmente, a manobra seria bem sucedida um ano e quatro meses depois.
Tanto a vitória de Augusto Fernandez-Cristina
Kirschner na Argentina, como a rebelião popular contra Pinera, no Chile e a
libertação de Lula, no Brasil, mostram que a região não evolui de uma mesma
maneira, nem numa única direção. Há uma imensa vontade de mudanças a favor dos
explorados e excluídos, que tem feito girar a roda de mudanças numa direção
favorável.
A luta por uma Assembléia Constituinte ganha força e
consistência no Chile. A liberdade de Lula é o ponto de partida para dar nova
musculatura à oposição a Bolsonaro, até hoje desarticulada e sem uma voz capaz
de falar pelas grandes camadas do povo brasileiro.
Mas a queda de Evo Morales mostra que o império e seus
aliados não descansam, mantendo-se sempre à espreita para agir contra aquelas
lideranças que representam os interesses do povo.
Alguma dúvida?
Diante de toda a destruição, onde a oposição não tem
uma estratégia para o que enfrenta, o povo está anestesiado e as instituições
foram destruídas,