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2021-01-29

 

Com André Ventura e o Chega o fascismo sai do armário.

Reproduzo mensagem recebida de Vasco Lourenço/A25A que oferece as considerações de ALFREDO BARROSO sobre o Chega e André Ventura e que transcreve as "prevenções" contra o fascismo feitas por Humberto Eco.

Vasco Lourenço: "Caros Associados

Temos ouvido algumas piedosas afirmações, que procuram branquear os actuais  neofascistas, com o argumento de que o fascismo ou o nazismo foram diferentes. 
Alfredo Barroso, nosso associado, tem assumido relevante papel na denúncia do avanço da extrema-direita, em Portugal e no Mundo. 
Nem sempre estamos de acordo com ele, nomeadamente na qualificação de forças políticas e dirigentes nacionais. Mas respeitamo-lo, como Homem íntegro e honesto, democrata e patriota, frontal nas suas atitudes e eterno lutador contra o politicamente correcto! 
Ao decidirmos divulgar este seu texto de alerta e denúncia contra o avanço de um novo nazismo/fascismo, ainda admitimos a não inclusão do seu comentário pessoal. Considerámos que não tínhamos esse direito, que, sendo claro que são opiniões pessoais, as deveríamos incluir. 
Aqui ficam, com um forte abraço amigo e de Abril ao Alfredo Barroso. 
A todas e a todos, as nossas mais cordiais saudações de Abril"    

Vasco Lourenço
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Alfredo Barroso:     

O FASCISMO E A INTOLERÂNCIA EVOCADOS POR UMBERTO ECO

Os textos de UMBERTO ECO que a seguir vão ler, traduzidos por mim, Alfredo Barroso, dedico-os a todos aqueles que ainda se atrevem a dizer que o movimento do CHEGA, chefiado por André Ventura, não é fascista ou neofascista, é só um movimento demagógico e populista de extrema-direita. Para que não acordem para a realidade quando já for demasiado tarde, quando Ventura tiver encontrado em Rui Rio um aliado como Hitler encontrou em Franz Von Pappen (que o ajudou a dissolver a República de Weimar e a consolidar o seu poder), e em Marcelo Rebelo de Sousa, um PR tão impotente como o marechal Paul Von Hindenburg, Presidente da República de Weimar desde 1925 até à sua morte em 1934. Ora leiam:

“Ora Temos de velar para que o significado de cada um destes dois termos [Liberdade e Libertação] nunca torne a ser esquecido. O fascismo eterno está sempre em nossa volta, por vezes com disfarces civis. Seria tão confortável que alguém avançasse pelo palco do mundo e dissesse: 'Quero reabrir Auschwitz, quero que os camisas negras voltem a desfilar pelas ruas italianas'. Pois é, mas a vida não é assim tão simples! O fascismo eterno é susceptível de regressar sob as aparências mais inocentes. E temos o dever de o desmascarar, de apontar a dedo cada uma das suas novas formas - todos os dias, em cada parte do mundo. Dou, mais uma vez, a palavra a [Franklin D.] Roosevelt: "Atrevo-me a dizer que, se a democracia americana deixasse de progredir como uma força viva, procurando dia e noite, por meios pacíficos, melhorar a condição dos nossos cidadãos, a força do fascismo cresceria no nosso país" (4 de Novembro de 1938). Liberdade e Libertação são, portanto, um dever que nunca acaba. E tal deve ser a nossa divida: "nunca esqueçamos”

“A intolerância mais perigosa é aquela que nasce na ausência de qualquer doutrina, movida por pulsões elementares, É por isso que os argumentos racionais não servem para criticá-la nem para travá-la. É evidente que os fundamentos teóricos de 'Mein Kampf' são refutáveis com uma bateria de argumentos bastante elementares, mas se as ideias que [o livro de Hitler] propõe sobreviveram a todas as objecções é precisamente porque elas se apoiam numa intolerância selvagem, impermeável a toda e qualquer crítica”

“Toda e qualquer teoria se torna vã perante a intolerância rastejante que ganha terreno dia após dia. A intolerância selvagem baseia-se num curto-circuito categorial que ela empresta ,desde logo, a uma futura doutrina racista. Por exemplo: se Albaneses entrados em Itália nos últimos anos se tornaram ladrões ou deram em prostitutas (o que até é verdade), segue-se então que todos os Albaneses, sem excepção, são ladrões ou prostitutas”.

“Este é um curto-circuito terrível porque constitui uma tentação permanente para cada um de nós: basta que nos tenham roubado uma mala no aeroporto dum país qualquer para que se regresse a casa afirmando que é preciso desconfiar das pessoas desse país.

“Aliás, a intolerância mais terrível é a dos pobres, primeiras vítimas da diferença. Não há racismo entre os ricos: esses, eventualmente, produzem doutrinas do racismo; mas os pobres produzem-no na prática, que é bem mais perigosa. 
«Os intelectuais não conseguem lutar contra a intolerância selvagem porque, face à pura animalidade sem pensamento, o pensamento está desarmado. Mas já é bastante tarde quando eles enfrentam a intolerância doutrinal, porque, quando a intolerância se faz doutrina, é demasiado tarde para a combater, e aqueles que deveriam fazê-lo tornam-se as suas primeiras vítimas.

E no entanto, é aí que está o desafio. Educar na tolerância os adultos que se disputam uns com os outros por motivos étnicos e religiosos é tempo perdido. Demasiado tarde. É que a intolerância selvagem tem de ser combatida na raiz, por via de uma educação constante que tem de começar desde a mais tenra infância, antes que ela se inscreva num livro, e antes que ela se torne uma casca comportamental demasiado espessa e excessivamente dura.”

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NOTA (de Alfredo Barroso): Este texto foi escrito na altura do julgamento do capitão SS Erich Priebke, que participou activamente, sob as ordens do major Kappler, no terrível massacre das Fossas Ardeatinas (em Roma, a 24 de Março de 1944, e que consistiu na execução de 335 reféns italianos, como represália a um atentado cometido por "partigiani" da Resistência Italiana que causou 33 mortos membros das SS; o cálculo feito pelos nazis era o de fuzilar 10 italianos por cada SS morto, mas ainda foram acrescentados nomes à lista inicial). Encontrado na Argentina, onde se tinha refugiado, Erich Priebke foi extraditado em 1995 e julgado em Roma por um tribunal militar que, em 1 de Agosto de 1996, o deu como culpado de homicídio mas ordenou a sua libertação imediata por o crime ter prescrito. Ora, o texto de Eco, do qual apenas traduzi alguns excertos, foi escrito no momento dessa escandalosa sentença, que suscitou uma enorme emoção em Itália. Entretanto, o Supremo Tribunal de Justiça italiano anulou a sentença e, em consequência de novo julgamento, Priebke foi condenado, em 7 de Março de 1998, a prisão perpétua.

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