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2021-07-11

 

Shahd Wadi, palestiniana. Estudou em Coimbra. Foi despedida.

Recebi esta mensagem do Comité Palestina. Que me dizem? 

" Shahd Wadi, militante contra a ocupação israelita, membro do Comité de Solidariedade com a Palestina, foi despedida do seu posto de assessora na representação diplomática da Palestina em Lisboa. A carta que aqui divulgamos testemunha a repressão usada pela Autoridade Palestiniana contra os que levantam a voz contra a sua política de opressão e violação dos direitos humanos.

"No dia 5 de julho último, a Missão Diplomática da Palestina informou-me verbalmente de que o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Palestina exigiu a minha demissão imediata e sem aviso prévio do cargo de Assessora dos Assuntos Culturais e Imprensa, por ter condenado nas redes sociais, o hediondo assassinato do activista político e candidato ao Conselho Legislativo da Palestina, Nizar Banat, morto pelas mãos das Forças de Segurança da Autoridade Palestiniana após a sua detenção.

"Banat, era um activista que acusou em várias ocasiões Autoridade Palestiniana de corrupção e que revelou 

ultimamente o escândalo do acordo entre as autoridades palestinianas e Israel sobre vacinas contra a COVID-19 perto de fim da validade. Nizar Banat, foi detido de madrugada do dia 24 de Junho e espancado até a morte.

Até àquele momento, a expressão do meu repúdio por aquele acto consubstanciou-sena partilha nas redes sociais de artigos que o meu pai, o escritor Farouq Wadi, escreveu sobre o assunto, na assinatura de uma carta aberta conjunta de um grupo de jovens palestinianas e palestinianos residentes em Portugal (em anexo), a qual foi entregue na Missão Diplomática da Palestina, no dia 30 de Junho último. A Missão Diplomática da Palestina entregou-me uma carta de cessação de contrato, prometendo pagar uma indeminização em breve e agradecendo o trabalho desempenhado no exercício das minhas funções desde 2010.

O meu despedimento não foi o primeiro. Ihab Bseiso, Director da Biblioteca Nacional da Palestina  ex-ministro da cultura, foi demitido por ter criticado nas redes sociais este assassinato extrajudicial. As manifestações pacíficas que foram organizadas em protesto contra esta morte, foram reprimidas violentamente, usando métodos utilizados normalmente pelas forças da ocupação israelita, como o gás lacrimogêneo, manifestações estas onde muitas pessoas foram feridas e detidas. As manifestantes mulheres jovens sofreram particularmente represálias, tendo os seus telemóveis sido confiscados com a ameaça de divulgar as suas fotografias íntimas.

Especialmente hoje, num momento em que se intensificam os ataques contra Gaza e as tentativas da limpeza étnica e colonização da Palestina seja em Sheikh Jarrah, Silwan, Beita e outras localidades palestinianas, é urgente fortalecer a unidade e resistência do povo palestiniano contra a ocupação israelita. Saliento que as minhas críticas neste momento sobre os vários episódios de violência e de represálias da parte da Autoridade Palestiniana partem da minha crença da importância de reunir e juntar o povo palestiniano e não criar mais divisões.

Apesar de meu despedimento ter sido amplamente divulgado pelos meios de comunicação na Palestina e até fora, não pretendo de maneira nenhuma torná-lo num caso específico ou pessoal, mas demonstrar, através do mesmo, o ponto a que chegou a repressão do exercício de liberdade, designadamente da liberdade de expressão na Palestina.

Também não pretendo desviar a atenção da nossa luta principal contra a ocupação israelita, mas não podemos esquecer que quando lutamos pela liberdade da Palestina, lutamos por toda a liberdade contra qualquer opressão, venha ela de onde vier.

Neste momento, é importante juntar a voz das pessoas solidárias com a causa palestiniana à voz do povo palestiniano, o qual, enquanto resiste a perseguição dos seus jornalistas pela ocupação israelita, não esquece as tentativas de asfixia da liberdade de expressão exercida pela Autoridade Palestiniana. As mesmas pessoas que estão à porta das prisões israelitas para saber de membros da sua família, estão à porta das prisões da Autoridade Palestiniana para saber dos seus entes queridos. As pessoas que saem à rua contra a ocupação israelita são também as mesmas que se manifestam contra a opressão da Autoridade Palestiniana.  O luto que se faz pelos resistentes mortos pela ocupação tem a mesma cor do que se faz por Nizar Banat.  

Qualquer pessoa que se junte ao seu povo na defesa dos seus direitos, onde eu me incluo, é perseguida ou despedida injustamente.  Apelo-vos juntar a vossa voz à do povo palestiniano para pôr fim a qualquer tipo de injustiça, sejam elas as perpetuadas pela ocupação israelita sejam as praticadas pela autoridade palestiniana. 

Continuarei, como sempre, a minha luta pela defesa dos direitos do povo palestiniano, contra a opressão e pela liberdade, toda a liberdade. 

Shahd Wadi

9 de Julho 2021"
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Acarta acima referida:
Liberdade para a Palestina, contra a opressão! Nós, abaixo-assinados, filhas e filhos do povo palestiniano, residentes em Portugal, condenamos o hediondo assassinato do activista político e candidato ao Conselho Legislativo da Palestina, Nizar Banat, morto após a sua detenção pelas Forças de Segurança da Autoridade Palestiniana. Salientamos que a liberdade de expressão é garantida pela Lei Básica Palestiniana. 

Denunciamos e condenamos os ataques bárbaros e as detenções perpetrados pelas Forças de Segurança da Autoridade Palestiniana contra os manifestantes pacíficos que protestaram contra o assassinato do activista Nizar Banat. 

 Sob o princípio da liberdade total que acreditamos não pode ser posto em causa, apelamos ao direito de reunião e manifestação, à necessidade de preservar as liberdades políticas e à proteção dos manifestantes. Rejeitamos as acusações de traição e o desvio da essência de nossa causa: a libertação da Palestina. 

Condenamos veementemente as intimidações, as detenções e os ataques contra activistas políticos e manifestantes pelas mãos das Forças de Segurança da Autoridade Palestiniana. Acções como estas constituem uma grave violação dos direitos e liberdades garantidos pela Lei Básica Palestiniana. Esses ataques contra o nosso povo acontecem num momento em que temos uma necessidade extrema de fortalecer a nossa unidade e resistência contra a brutalidade da ocupação sionista. Seja em Sheikh Jarrah, Silwan, bairro de Al-Bustan, Beita e outras localidades palestinianas ameaçadas de despejos, seja na Faixa da Gaza, onde nosso povo inabalável ainda está a curar as suas feridas, perante o silêncio da liderança palestiniana, a indiferença árabe e da comunidade internacional. 


              Nós, abaixo-assinados, filhas e filhos do povo palestiniano, residentes em Portugal: 

● Enviamos as nossas mais profundas condolências à família de Nizar Banat, o mártir da palavra, que morreu num assassinato hediondo. 

● Juntamos a nossa voz a quem apela à formação de um comité de investigação independente fora do quadro da Autoridade Palestiniana, constituída por personalidades reconhecidas pela sua independência e integridade, para conduzir uma investigação abrangente sobre o assassinato de Nizar Banat, garantindo que os responsáveis serão exemplarmente punidos. Para conduzir também uma investigação sobre as agressões contra os manifestantes pacíficos, tenham essas agressões sido levadas a cabo por civis ou militares. 

● Afirmamos a importância do trabalho jornalístico e da proteção de todos os profissionais da comunicação social que continuam a trabalhar ininterruptamente para transmitir a verdade e expor os crimes da ocupação e suas políticas racistas. Da mesma forma, condenamos veementemente a repressão por parte das Forças da Segurança da Autoridade Palestiniana. Exigimos que estes profissionais não sejam atacados de qualquer forma ou sob qualquer pretexto. 

● Rejeitamos a política de traição, infidelidade e a anulação do outro. Afirmamos a importância e a necessidade da existência da oposição nacional sob o teto de uma Palestina unida. 

● Afirmamos a ilegalidade de qualquer detenção por causa de uma opinião ou filiação política. Afirmamos a necessidade de proteger o direito da liberdade de expressão e exigimos a libertação de todos os presos políticos. 

Finalmente afirmamos que a unidade nacional é a válvula de segurança e da vitória do nosso povo palestiniano na Cisjordânia, Gaza, Jerusalém, nos territórios de 1948 e na diáspora. Recusamos os confrontos internos, que nos distraem do nosso objectivo principal: resistir e derrotar a ocupação.Força para o nosso povo até a liberdade e o regresso à nossa terra. Paz para os mártires, cura para os feridos e liberdade para todos os prisioneiros. Liberdade para a Palestina. 

Abdel Jawad Rabie 

Dima Mohammad 

Hindi Mesleh 

Obai Radwan 

Rasha Salah 

Serena Sabat 

Serene Issa 

 Shahd Wadi 

Thuraya Alayan 

 Younes Khamash



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