2023-02-26
A ARA nasceu a partir de um curso em CUBA em 1965
Nem todos os dias vamos até Havana, capital de Cuba. Eu fui até lá, em "trabalho", em 1965, frequentar um curso de acções armadas para a criação da ARA Acção Revolucionária Armada. Com a ARA esperávamos fortalecer e acelerar a luta para o derrube do regime fascista do ex-seminarista, vindo de Santa Comba Dão, Salazar de seu nome.
A criação da ARA foi uma odisseia que só se venceu após anos e anos de luta a vencer dificuldades criadas pelo regime salazarento. A primeira acção armada exitosa foi a sabotagem, com duas grandes explosões, do mais moderno navio cargueiro de apoio à guerra colonial, o Cunene, em 1970.
Mas para ir a Cuba era o cabo dos trabalhos. Como chegar lá? De Portugal Salazar não deixava e de muitos outros países países os Estados Unidos também o impediam com o seu cerco a Cuba, de modo que fiz uma viagem de quase uma volta ao mundo para lá chegar.
Como a PIDE ainda não me chegara aos calcanhares pude airosamente ir até Paris e daqui de comboio ou avião até Genebra e Zurique na Suíça. Aqui já mais seguro de quaisquer controles pidescos, parti confiante para Praga e daqui para Moscovo. Pensava partir daqui de avião para Havana mas assim não aconteceu, os tempos eram de guerra ainda que fria e os EUA só não invadiam Cuba porque Moscovo, senhor de armas nucleares em prontidão o impediam. Afinal não segui de Moscovo direto para Havana como pensava. Os países da Europa Ocidental vassalos dos EUA não autorizavam a passagem para Cuba de aviões, sequer de passageiros ou comerciais, pelos seus espaços aéreos. De modo que de Moscovo não segui directamente para Cuba como esperava e fiz o caminho tortuoso que a aviação, da então União Soviética, tinha de fazer, via Murmanski, cidade soviética junto ao Polo Norte e daí via, Oceano Atlântico abaixo, atá ao Mar das Caraíbas e aterragem em Havana. Fiz a viagem com o Rogério de Carvalho, um herói do PCP já com muitos anos de prisão por "Peniches" e "Tarrafais" que ia comigo frequentar o curso de acçãos armadas em Havana.
Em Murmanski fizemos apenas uma rápida paragem mas gostei de ver tanta neve. O avião aterrou numa pista entre duas altíssimas muralhas de neve e por todo o lado só neve, neve e mais neve. Ao interior do avião não chegava o frio mas ao sairmos para a gare usámos uns casaquitos que nos forneceram para o efeito. Pele e lã, fofinhos por dentro mas tão grossos, robustos e pesados que ajoujávamos dentro deles.
Pelo infindo Mar Atlândico abaixo eu e o Rogério pouco ou nada vimos dada a escuridão da noite mas lá mais para a frente, quando já clareava o dia maravilhávamo-nos com a vista verdejante das Caraíbas e de Cuba.
E fico-me por aqui. Depois relatarei a belíssima recepção e estadia cubana durante uns curtos meses.