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2004-08-22

 

Relativizando as Ideias (V)

Não estou convencido que os meus "sentimentos" sobre a realidade de Luanda traduzam a complexidade do que é a vida dos cerca de 4,5 milhões de pessoas que se estima viverem na cidade. E, além disso, Angola não é só Luanda. Também sei que a guerra não explica tudo. Penso conhecer alguma coisa sobre a complexidade política do que foi/é o processo de construção do Estado Angolano. Aliás é um processo que não pode ser desinserido das transformações iniciadas no Leste europeu nos finais da década de 80 e de todos os efeitos políticos, a nível mundial, daí decorrentes.

A ruptura de sistema político dá-se em Angola em 1991 com a aprovação da Lei de Revisão Constitucional que estabelece o fim do partido único e da economia de tipo planificação central. A revisão da Constituição e toda uma série de outras leis posteriores designadamente de 1992 instituiram, no seu conjunto, formalmente, reformas relativas a partidos políticos, associações, comunicação social, direito à greve e o direito de reunião.

E foi na sequência destas reformas e do processo de paz de Bicese que se realizaram as eleições de Setembro de 1992, cujo processo ficou inacabado, por entretanto se ter reacendido a guerra, entre outros motivos, pela contestação dos resultdos dessas mesmas eleições.

Daí que a aplicação prática destas reformas, legalmente existentes, tenha tido uma vida muito efémera. Por outro lado, não houve qualquer experiência eleitoral a nível intermédio ou de base (Províncias, Camaras, Comunas), pelo que todos os orgãos existentes são de nomeação.

Independentemente da leitura que cada um de nós tenha do processo subsequente às reformas e às eleições, a realidade é esta. Há que começar tudo do princípio, pois o estado de direito, pelo menos na sua concepção ocidental, está muito longe de estar implementado.

E sentimentos como o medo, a intolerância política, a violência fácil marcarão por algum tempo mais a VIDA POLÍTICA e a implementação de reformas estruturantes aos diferentes níveis(social, económico e político).

Comments:
Não é fácil perceber-se Angola e Luanda muito menos, ou melhor dizendo, as cidades do Litoral. Há grandes segmentos da população com elevado poder de consumo.E eu pergunto-me, como? É só a economia paralela? Como é que a esta gente chega o dinheiro do petróleo e dos diamantes?
 
As "notas breves de viagem", como lhes chama um dos comentadores e que o próprio autor parece não enjeitar, começam por questionar "o complexo mundo do petróleo" não só nos aspectos económicos, mas sobretudo no campo da política ao dizer que a margem de manobra dos países africanos produtores de petróleo face às multinacionais americanas é diminuta. Sinceramente, não tinha equacionado o problema desta forma, mas não é uma leitura desprovida de sentido. Preciso de colher mais informação e pelo menos fiquei alertado para várias questões para mim novidade.
D. Pontes
 
Estas notas de viagem são interessantes e colocam algumas questões de fundo. Só por isso valeu. Mas pressente-se um autor algo defensivo, onde o político e o técnico conflituam. será mesmo assim?
Ana Esteves
 
Esta informação sobre a base jurídica da política é importante conhecer-se. Mas a dúvida sobre quem efectivamente foi o culpado do processo eleitoral não ter avançado, a UNITA? e Porque não o MPLA? a atribuição das culpas dependem da nossa simpatia? Hoje ainda há UNITA? Não houve uma acomodação desta, tanto mais que os seus líderes parecem estar bem encostados em Luanda? São dúvidas pertinentes que francamente não espero resposta, nem ambiciono isso, mas que me sinto bem a colocar para cada um pensar sobre elas.
 
Cuidado com os tiques de neocolonialismo.
 
Gostava de o felicitar pela análise fresca, inovadora e desafiante e ... objectivamente fundamentada.
Pelas reacções aos seus posts, aquilo que se pode constatar é que, apesar do pensamento único e daquilo que pensam os guardiões do Templo da Verdade, quando aparece alguém a dizer coisas diferentes as pessoas soltam-se e ... aplaudem!

Já tenho comentado, com várias pessoas, que as "reflexões" de alguns "analistas", da nossa praça, sobre Angola, para além de revelarem ignorância sobre os factos, são "wishful thinking" a coberto de uma "torre de marfim" imbuída de preconceitos politicamente correctos.
 
Os tiques neocolonialistas só são aceitáveis se forem politicamente correctos!... De contrário, são puro reaccionarismo ao serviço de interesses insondáveis ...
 
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