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2004-12-23

 

Caderno Diário (1)

Portas de Brandenburg, Berlim. O que divide também aproxima.

Em primeiro lugar um abraço de gratidão ao João Tunes. A distribuição dos prémios do «Água Lisa» contempla o PUXAPALAVRA com um generoso «Prémio de Porcelana». Sentimo-nos com certeza lisonjeados (eu, pelo menos, sim) e tocados pela imaginativa dinamização da Blogosfera. Para além do prémio que nos coube (exaequo com numerosos companheiros virtuais) só havia mais três: um de ouro, outro de prata e outro, ainda, de bronze. Calhou-nos o mais frágil, sugestivo e análogo às loiças da alma. Sejamos nós, os do PUXA, merecedores de tal distinção. Ademais os outros eram só três enquanto nós somos alguns dezassete. Grande é a companhia, melhor há-de ser a travessia!

Em segundo lugar, uma resposta ao João Tunes acerca do que penso da Maioria Absoluta (MA) e da Maioria Relativa (MR) no actual contexto. Para nos poupar vou fingir-me lacónico.

Compacto de cinco reflexões acerca das maiorias

1 – Uma MA não se pede. Quem a pede, perde a grandeza que deve ter quem a ganha. É mais conquista do que dádiva.

2 – Uma MA, como já vimos, favorece o autismo embrionário em todas as organizações políticas. Providencia em operacionalidade o que retira em necessidade de dar atenção ao que vai mudando.

3 – Uma MR obriga a uma definição mais nítida. Com o grau de confiança que se recebeu do eleitorado, firmam-se os compromissos que forem necessários para a concretização de um conjunto de medidas.

4 – A elevação crítica dos eleitores tenderá provavelmente à constituição de constelações de apoio mutáveis em função das causas. O tempo dos catch-all-parties é um tempo triste e, desejo-o de boa mente, em vias de extinção.

5 – Com MA ou com MR, o PS terá de governar. Enquanto os lobbies uivam sob o espectro do Bloco Central, vamos pondo as cartas na mesa, falando claro e colocando condições. Se desta vez a esperança voltar a falhar, que não seja por falta de participação.

Comments:
Com MA ou MR o problema do PS é uma falta recorrente de coordenação e organização que permita fazer chegar as opiniões e contribuições de cada um.
Admito que este é um problema complicado, mas se fosse fácil qualquer um o faria.
As Novas Fronteiras, como os estados gerais seriam uma excelente oportunidade de organizar este fluxo.
O que parece estar a acontecer é ser apenas um titulo bonito e mediatico para reuniões das elites do costume antes da chegada ao poder.
Para ser eficaz devia manter-se para alem das eleições permitindo fazer chegar as contribuições de cada um "lá acima".
Infelizmente parece que vai ser pior do que Estados Gerais pois só vai durar dois meses e depois fecha, pois a partir daí tem de se ser solidário com os problemas dos "camaradas" no poder.
 
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Sugiro que use uma identificação (mesmo fictícia) para podermos «humanizar» a forma de tratamento.
Estou de acordo com o cerne do comentário anterior. Primeiro porque assistimos à afirmação de uma corrente dentro do PS segundo a qual o tempo dos «independentes» já passou (Carrilho, entre outros, teorizou prodigamente sobre isso); depois, porque muitos dos apoiantes da actual liderança se opuseram à realização de novos Estados Gerais, com esse ou outro nome, alegando que uma tal iniciativa não se coadunava com o contexto de então. Alguns fizeram-no, inclusivamente, aqui neste Blog. Assiste-se, assim, no PS, a uma pulsão anacrónica análoga aos saltos em frente dos tempos do slogan «Só, só, só PS». Curiosamente, tais sintomas de fechamento e de indisponibilidade para a discussão de matérias incómodas vieram a par da consigna da MA como único cenário admissível.
Não são apenas as forças políticas em perda de influência que evitam a discussão quando os temas não lhes convêm...
Apraz-me acrescentar, como nota positiva, que vi ontém o Luis Filipe Pereira, na SIC - Notícias a reformular cautelosamente a questão dos resíduos, evitando referir-se expressamente aos RIP. Pareceu-me mais equilibrado e mais próximo das declarações de há uns dias atrás, antes da absolutização co-incineradora. Nem tudo vai para pior...
 
O meu voto é na... maioria relativa!
Portanto...
Olha, desejo-te um grande Natal na companhia de todos e obrigado por tudo.
Para a semana cá nos encontramos.
 
1-Porquê ? Estamos a falar de votos. Nas eleições pedimos às pessoas para votarem em nós. Lá por ser "dado" também pode ser "conquistado" em simultaneo.
2-Como exemplificado no 2º mandato do Guterres o autismo embrionário das organizações existe mesmo sem MA. Como não consigo "medir" se a "operacionalidade" aumenta mais ou menos do que a diminuição da "atenção ao que vai mudando", sinto-me tentado em dizer que como o PS sempre teve MR poderiamos fazer a experiência para ver se dá melhor resultado.
3-Os compromissos fazem-me sempre lembrar aquela "do que é um camelo ?" : um cavalo desenhado por um comité.
4-O que é uma catch-all-partie ?
5-Qual participação ? Este blog ? As Novas Fronteiras ? Os acessores do Socrates ? !.
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Tu és a esperança, a madrugada.
Nasceste nas tardes de setembro,
quando a luz é perfeita e mais dourada,
e há uma fonte crescendo no silêncio
da boca mais sombria e mais fechada.

Para ti criei palavras sem sentido,
inventei brumas, lagos densos,
e deixei no ar braços suspensos
ao encontro da luz que anda contigo.

Tu és a esperança onde deponho
meus versos que não podem ser mais nada.
Esperança minha, onde meus olhos bebem,
fundo, como quem bebe a madrugada.
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Comecemos pela 2ª parte do comentário de Lester Burnham. Gosto do poema. Entra, de súbito, num registo inesperado mas, apesar disso, resiste. Os textos de boa qualidade são assim. Resistem a tudo...

Quanto à 1ª parte do comentário, parece-me que (1) a acção política orientada para persuadir as pessoas a votarem em nós - «pedir votos» - não é o mesmo que pedir a MA. Uma coisa é convencer as pessoas de que merecemos que confiem em nós; outra é convencer um eleitorado a dar-nos uma MA. No primeiro caso dirijo-me a pessoas; no segundo caso, exprimo um desiderato. MA, MR ou minoria são obviamente uma consequência; são uma soma de resultados. Não são directamente atingíveis. Na prática, uma MA, tal como uma MR ou uma minoria, é um suplemento retórico à boca das urnas. Vota-se numa força política porque ela o merece (mesmo que seja por vingança contra quem traiu a nossa confiança) e não porque estejamos seguros de que ela vai obter uma MA ou uma MR. Utilizando os termos do comentário: admito a expressão «pedir o voto», porque é algo que nos pode ser confiado; nenhum cidadão eleitor está no entanto em condições de nos «dar» ou garantir a MA. Costuma ser a aspiração das organizações democráticas ter mais votos (quantosa mais melhor). Fixar a fasquia acima da MR, requer um merecimento cuja avaliação é mais aconselhável deixar ao escrutínio dos eleitores.
(2) A minha opinião é de que a MA exacerba aquilo a que chamei o autismo embrionário. É verdade que o autismo político não carece de MA para se agravar, mas parece-me que a circunstância de uma força politica não depender de ninguém para aprovar o que quer que seja, no caso do nosso sistema e cultura políticos, é remédio santo.
(3) ... e todavia não há política sem compromisso, sem negociação, sem entendimento, dentro e fora dos partidos políticos. Respeitando o exemplo humorístico dado, teremos mesmo de ir de camelo...
(4) Um catchall party é um partido interclassista, que dilui os propósitos ideológicos para poder captar o maior número de votos possível. Relativiza o que é diferente para poder dar a impressão de que defende os interesses de todos, - pobres e ricos, empregados e desempregados, integrados e excluídos, pequenos e grandes empresários, interior e litoral, etc. Na prática isso nunca foi possível, mas quanto aos partidos que pretendem recolher tudo a qualquer custo, sim, existem.
(5) Sim, todas essas formas de participação mailas outras a que cada um chega ou pode chegar: cooperativas, sindicatos, associações de diversos jaezes, conversas de rua, de café, artigos de jornal, de... sei lá. Há tanto mundo entre o Sol e Saturno...
 
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