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2005-05-28

 

Coisas espantosas  (1)



A Heteronimia no PUXA-PALAVRA


Ele há coisas que, mesmo dentro dos parâmetros da liberdade de opinião que quase todos prezamos (e muito), bradam aos céus.


O meu amigo e companheiro de blogue, Jão Abel Freitas, escreveu, não vai muito tempo, que se o actual governo tomasse, porventura, o rumo de aumentar os impostos estaria afiançadamente a seguir por mau caminho e, a seu jeito, explicou porquê [ ver aqui]. Depois de já conhecidas, genericamente, as medidas do Governo, com aumento de impostos (e tudo!), congratula-se com o acervo das medidas tomadas e declara-se «agradavelmente surpreendido» [conferir aqui].


Finalmente, em post imediatamente anterior, amofina-se com a solução transitória que o Governo encontrou para as SCUTS (com certeza com o beneplácito do nosso saudoso companheiro de blogue e Ministro das Obras Públicas, Mário Lino), e rebela-se contra a suposta omissão das «esquerdas».


Pasmo ao ler este movimento em zigue-zague, topada à esquerda, topada à direita, com um desfecho questionador para as forças (das esquerdas) que, quanto muito, poderão estar de acordo com umas medidas e em desacordo com outras.


Qual dos textos é que retrata a opinião do signatário? O primeiro, o último, ou o segundo?


Antes de prosseguir o debate que por certo se impõe, seria aconselhável perceber melhor o que se passa.



Cordialmente.


Comments:
Manuel Correia

Agradeço os epítetos todos com que me brindaste e são muitos.

Penso que leste mal todos os meus post, uma leitura parcelar,sem uma visão de conjunto. A culpa deve ser minha mas para tua informação reconheço-me nos textos todos que escrevi e não encontro nenhuma contradição entre eles. Mas ideias são ideias e quem sou eu para as desfazer.
 
João Abel,

o teu post intitulado Contra o aumento de impostos sustenta uma posição sábia, bem fundamentada e orientada para o crescimento económico. O outro post que referi Combate ao défice começa por dizer: «José Sócrates surpreendeu-me pela positiva , embora desejasse, por razões económicas e sociais, que algumas das medidas anunciadas fossem outras.». É certo, como tu dizes, que não é fácil desfazer ideias, mas estranhei que após uma tomada de posição tão sólida, te surpreendesses positivamente com o conjunto das medidas anunciadas. Tal como, mudando agora de assunto, me espantei com a adesão pronta do Raimundo à nivelação da AP pelo que o Sector Privado tem de mais miserável. Aqui para nós, - desabafei interiormente - então não queres lá ver que o PUXA se está a tornar numa máquina de legitimação automática de tudo o que o Governo produz?! Depois vi que não. A tua posição quanto às portagens para as SCUTS vai ao arrepio do que o Mário Lino (para já) e o Jorge Coelho, noutra ocasião, sustentaram. Há quem aplane o terreno para justificar o não cumprimento das promessas eleitorais do PS. Pelo meu lado, sustento o ponto de vista que as promessas são para cumprir, sob pena do ciclo de esperança desta primeira maioria absoluta do PS se dissolver na decepção pantanosa dos ciclos anteriores.
 
Meu caro

Não se procura um debate, se é isso que se quer e acredito, atirando umas quantas flechas que mexem com alguns cânones pessoais. É uma postura possível, mas não criadora de ambiente entusiamente nesse sentido. Agora, segundo percebi do teu comment, este em termos analiticos muito mais apropriados, era tua intenção levar-me a explicar algumas incongruências minhas face ás medidas preconizadas pelo governo de José Sócrates. Certo, seria uma boa postura.Acho, contudo, pouco canónico a referência en passage a outros amigos, quer no post quer no comment a referência ao nosso bloguista autosuspenso Mário Lino ou ao Raimundo. Porque não posso ter posições dissonantes? e menos ainda a dúvida sobre o blog como correia de transmissão. É algo de muito complexo que a minha cabeça não chega lá.
 
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Amigo João Abel,

é certo que procuro o debate. Adoro debater. A sucessão de monólogos mais ou menos bem estruturados, enfada-me, confesso. Mas também é verdade que raramente se consegue um bom debate. Bem vês, os debatentes perdem imenso tempo a tratar de questões laterais. Tu, para já e por exemplo, preferes discorrer sobre questões morais (o que deve e o que não deve ser dito, de quem e de que modo). Meto-me contigo para conversar e que ganho em troca? Uma cartilha de normas: 1) «Não se procura o debate (...) atirando umas quantas flechas; 2) É «pouco canónica» a referência ao Mário Lino (é apenas Ministro da República, por isso deveríamos deixá-lo de fora da discussão política?!) ou ao RN que é apenas nosso camarada de blogue, debatente exímio, interpelativo e, por isso, não deveria ser por mim referido... Pronto. Deixa lá. Não avançámos muito no tema, mas fiquei a saber algo sobre a tua apuradíssima ética debatente. Serei mais cuidadoso da próxima vez.
 
Manuel Correia

Estamos em debate ou talvez melhor dito num pré - debate. O que chamas "ética" para mim seriam apenas umas quantas regras de estar porque não vou começar por chamar "camelo" a algúem por exemplo e depois convidá-lo para o debate. Isso é possível num "debate" partidarizado, o debate/não debate que se produz na AR. Não me parece que deva ser para aqui transplantado esse ambiente e método. E não fiquei ofendido,pela tua entrada, em minha opinião desabrida, quando muito algo incomodado. Arrumado este assunto. Tenho lançado algumas ideias discutíveis sobre aquilo que penso como mudar a AP, vários post existem no blog sobre isso, bem como a minha posição sobre as Scuts é também muito firme e antiga em termos de princípio de defesa do utilizador/pagador, dada a natureza da matéria que não se coloca ao nível da saúde ou do ensino ou mesmo da justiça.No entender é uma falsa questão as Scuts como alavanca do desenvolvimento. E quanto aos impostos mantenho o princípio que afirmei antes de conhecer as medidas de José Sócrates, porque como economista e cidadão defendo que este país tem de ajustar a despesa pública à sua dimensão, embora haja muito para fazer do lado das receitas. Mas sem uma gestão numa óptica de longo prazo da despesa não vamos longe. E para ir por este caminho é muito duro. As pessoas vão reagir forte.
 
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João Abel,

De acordo quanto ao modo como formulas a questão: «ajustamento». Por isso me surpreendi com a tua apreciação «positiva», quando o aumento do IVA, por exemplo, com o seu «escalão» de 42% não me parece que se possa considerar eficaz (não sei sequer se é sério ). Por outro lado, o aumento dos combustíveis, com a repercussão incontornável que tem na formação dos preços dos produtos e serviços deles dependentes (e são muitos), acabará por ter um efeito inibitório sobre a expansão da actividade económica. Não assumo a radicalidade dos que concluem que se trata de «mais do mesmo», mas concedo aos analistas mais radicais, que estamos perante «muito do mesmo». Face a isto, a minha opinião vai no sentido de criticar o governo que começa mal, pois com a maioria absoluta que detém, tenderá a ensurdecer progressivamente. Quanto à AP, não tenho nada a acrescentar. Tenho lido os teus posts sobre o assunto (há um ror de tempo) e estou praticamente de acordo com as tuas posições. O mesmo não sucede em relação às SCUT mas, como a prosa já vai demasiado longa, voltarei ao tema em próximo comment ou post.
 
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