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2005-06-21

 

Notários em Guerra com o Ministério da Justiça

Ontem no DNnegócios li que a privatização dos notários, sob o consulado de Celeste Cardona como Ministra da Justiça, equivalia a "uma privatização das receitas e uma conservação da despesa".

Esta análise do Ministério da Justiça de Alberto Costa apresentava-se com alguma fundamentação aparentemente credível, designadamente nos seguintes termos: o processo de privatização dos notários não continha obrigatoriedade alguma de contratar nenhum dos seus anteriores funcionários públicos, agravada com o facto de no prazo de cinco anos os que transitarem para os cartórios privados poderem regressar ao regime público. Pelo lado das receitas para o Estado, haveria uma quebra, por exemplo o notário privado vai pagar 10 € por escritura ao Estado enquanto o notário público cobra 175 €, revertidos integralmente para o Estado. Feitos os cálculos, o Ministério da Justiça concluia por uma situação dramática e de caos.

Hoje, é a vez dos notários privados aparecerem no mesmo Jornal a contestar os cálculos do Ministério da Justiça e também com uma fundamentação aparentemente credível contestam o que disse ontem o Ministério, nos seguintes termos: não é verdade que a maioria dos funcionários vão ficar no Estado, as previsões de receitas do Ministério da Justiça estão falsaeadas porque não levam em conta os salários que deixam de pagar, os encargos com instalações e as receitas de IVA de cerca de 40 milhões de €. A Associação Portuguesa de Notários conclui dizendo que o Estado no global ganhará, arrecadando mais receitas.

Esta é uma guerra apenas entre Notários e Estado? E o cidadão, as empresas e a sociedade em geralonde estão? Ganham o quê? Parece que nem Estado nem notários se interessam por isso, pois nem uma única palavra li sobre isso, de parte a parte.

Não vou concluir sem dizer o que me vai na alma. Primeiro não tenho boa imagem do cartório público. Só tenho aquela imagem que "sem conhecimento de alguém" para se ser atendido passava-se "as passas do Algarve". Filas de espera do costume, para além do mau humor e alguma arrogância. Segundo não sou contra as privatizações desde que me sinta melhor atendido e não explorado nos preços. Houve privatizações destes serviços em vários países para melhor. O que não entendo é a leviandade com que esta informação foi canalizada para o público.

Procura-se uma guerra ou uma correcção do que foi mal decidido no processo de privatização? Para bem do utente procurem entender-se e informar-nos seriamente. É o mínimo. Mas espero mais francamente. Que o Ministério da Justiça leve esta nau a bom porto. Será um bom contributo à reformatação do Estado.


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