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2005-07-04

 

Energia nuclear: achegas para uma discussão

Aproveito a boleia do João Abel para meter a minha colherada na discussão sobre este tema. Para começar, o meu contacto profissional com estes assuntos é limitado: participei há alguns anos em dois projectos de investigação ligados à energia nuclear: uma simulação da penetração de micro-ondas no betão para eventual eliminação de resíduos radioactivos e um projecto de modelação de um guia de ondas para uma peça de um toro de fusão nuclear. Tive também um pequeno contacto (através do estágio de um aluno de post-graduação) com a problemática da gestão dos resíduos.

Alguns comentários ao post inicial pecam por um excessivo optimismo: o projecto de fusão não é solução com que se possa contar, a fusão fria nunca foi comprovada experimentalmente e o projecto ITER tem como horizonte, na melhor das hipóteses, 2050. Os problemas de segurança dependem de dois factores, uma boa escolha da tecnologia e uma gestão rigorosa do risco nuclear, nestes temas é preciso um estado muito forte.

Os aspectos positivos da energia nuclear são a redução da dependência energética e uma grande redução na emissão de gases de efeito de estufa.

Os aspectos negativos são o problema da gestão dos resíduos, para o qual não há nenhuma solução; o impacto ambiental, nomeadamente o aquecimento da água dos rios utilizada para arrefecimento das centrais e o risco de acidentes.

Para os que quiserem aprofundar esta questão:

Comments:
O seu comentário é como diz uma boa achega para a discussão,por sistematizar/evidenciar os aspectos positivos/negativos da opção do nuclear.
Mas em Portugal e agora,discutir esses aspectos desinseridos da real situação económica do país e da conjuntura mundial e dos seus recursos,levará, por certo,ao bloqueamento das soluções que envolvam alguns riscos, como é o caso das centrais nucleares.
Mas lembro que o país vizinho tem uma, já algo idosa, mesmo aqui ao nosso lado e não tenho visto os nossos "puristas" muito incomodados com a matéria.
Não pode hoje haver uma discussão séria da opção a seguir, sem que os riscos inerentes possam ser ponderados na sua avaliação e não pura e simplesmente ditar a sua eliminação.
 
Na decada de 90 visitei a EdF por razões que não tinham ligação c/ o nuclear; foi na época da forte contestação ao nuclear nomeadamente à gestão dos resíduos (transporte e armazenagem);durante o almoço como é natural este assunto veio à conversa; já passaram alguns e posso estar equivocado mas retive a ideia de que a EdF estava a desenvolver um projecto para resolver este assunto; não voltei a ouvir falar deste projecto (não é a minha área) e a contestação barulhenta aos resíduos praticamente terminou; pelo seu post(e o P F deve ser conhecedor nesta área)não existe qualquer tecnologia para reutilizar os resíduos (ou algum tipo de resíduos); paciencia.
Há um ponto do seu post que é incontestável - é preciso um governo forte para escolher e implementar a tecnologia adequada.
Hoje o António Vitorino, na RTP deu um valente empurrão para este debate.
O Iter é um projecto a longo prazo com resultados e custos imprevisiveis, mas a utilização de energia solar usando paineis parece-me ser a unica energia renovável que vale a pena considerar - requer contudo um aprofundamento da tecnologia de fabrico dos paineis fotovoltaicos para melhorar a sua perfomamnce - há várias universidades a trabalhar nesta área como deve saber.
 
para enquadrar os leigos com eu nas questões energéticas sugiro a leitura dos seguintes artigos:
economist may 14-20 2005 pag 67 -biofuels
economist july 2nd 2005 pag 79 nuclear ambitions
Financial times july 5 2005 pag 1 pollution penalties hit record
 
Caro anónimo:
Sobre a reutilização, na década de 90 estava na moda a tecnologia dita de super-regenerador com os reactores phénix e super-phénix, a ideia é conceber um reactor capaz de "queimar" plutónio (que é um dos principais resíduos do combustível). Entretanto super-phénix foi fechado (a central está a ser desmantelada) pois economicamente nunca foi rentável, trata-se de uma tecnologia complicada que utiliza sódio líquido como fluido de transporte de calor primário. Entretanto a COGEMA e a EdF desenvolveram um programa de incorporação de Plutónio no combustível das centrais "clássicas", trata-se do célebre MOX. Sublinho a importância da recuperação do plutónio no MOX pois até este programa a única utilização do plutónio era militar.

No entanto, em volume o plutónio representa apenas uma ínfima parte dos resíduos da energia nuclear todo o resto deve ser tratado com custos enormes. Para os resíduos de grande radioactividade a solução actual consiste na vitrificarão e armazenagem em locais com um sistema de arrefecimento complexo pois estes libertam calor durante alguma centenas de anos.

É evidente que tudo isto mostra um grande progresso em relação aos anos 70 em que os resíduos eram englobados em betão e deitados ao mar.
 
Peço desculpa pelo meu atrevimento mas gostava de levantar duas questões:
a)alguns residuos, após tratamento libertam calor - este calor não pode ser aproveitado para produzir vapor, logo eletricidade que pode produzir hidrogenio ou agua potável através de dessalinização?
b) a investigação sobre P&T ( partitioning and transmutation) que presumo se destina a reduzir o nivel de radioactividade nos residuos refere-se à sua explicação sobre os superregeneradores ou é outra "coisa"? e qual é o resultado?
Agradeço a sua paciencia mas para um economista estes assuntos são bastante esotéricos.
 
Meu caro economista anónimo,

1) Alguns lixos radioactivos libertam calor mas, ao mesmo tempo, são muito radioactivos. Não conheço projectos de aproveitamento dessa energia mas suponho que a razão da sua inexistência está ligada à falta de rentabilidade. Imagine os custos da protecção contra as radiações de um tal dispositivo que terá uma eficácia muito inferior à de um reactor.

2) As teconologias P&T representam uma pista interessante pois podem utilizar tecnoogias de aceleradores de particulas que são bem conhecidas, geram energia e eliminam resíduos. Resta submetê-las à dura prova da realidade. Actualmente vários grupos de investigação trabalham nesta área. A tecnologia phénix é um exemplo de P&T.
 
Caro Engenheiro
Agradeço a sua paciencia; a questão é saber quanto custa isolar o residuo devido à radiactividade(a armazenagem e o arrefecimento tem sempre que se fazer não é?), qual a produção de eletricidade/hidrogenio/agua previsivel, e o custo desta unidade de produção - o que parece fácil mas não é; eventualmente teremos que ouvir a opinião da equipe do prof. Mariano Gago (acelerador de particulas/cern/P&T não é?). Vou promover as condições para nos encontrarmos pessoalmente através do João Abel.
Cumprimentos
Nota:visitei a EdF para assistir a um processo de vitrificação de residuos industriais perigosos- não radiactivos
 
Só uma pequena correcção: eu sou um simples matemático aplicado que sempre trabalhou em equipes pluri-disciplinares: actualmente com gente da finança e num passado recente com gente da física e da engenheiria.

É só para que a ordem dos engenheiros não me acuse de apropriação do título :)
 
Ao meu caro anónimo terei muito gosto em pô-lo em contacto com o Pedro Ferreira, que deu um excelente contributo a este debate.
Mas a não ser por email, só se nos encontrarmos em Paris. O que não deixa de ser simpático.
 
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