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2005-08-24

 

Finalmente percebi !!!...

Finalmente percebi o porquê de tanta intervenção cirúrgica em atraso.!!!... Percebi porque é Portugal "tão improdutivo"..... Compreendi o porquê de tanta incompetência neste país e sobretudo porque grassa tanta irresponsabilidade....E finalmente concluo. É impossível contrariar a burocracia porque é uma instituição que justifica muita coisa.

Vou apenas descrever factos de hoje passados num hospital público desta cidade. Um hospital de nome, um hospital de crianças.

Consulta marcada para as 8 horas, por telefone segundo todas as orientações prescritas pelo médico. Chega-se às oito, dá-se o nome da criança na recepção que confirma tudo estar bem e mandam aguardar. E a sala começa a encher. Aí por volta das nove não está cheia, está a transbordar.

Nove e quarto como nada tivesse acontecido, vou perguntar qual é o imprevisto. Nada, nenhum imprevisto, o médico já começou a atender. Então vamos entrar a seguir? Que não, que há seis pessoas à frente. Aqui começo eu a não "querer" perceber. Mas então a consulta não era às oito, pergunto? Que sim, mas primeiro vão os bebés. Havia dois chegados depois, barafustei um pouco, mas esforcei-me por compreender. Só que aqueles bebés nunca mais entravam. Ás dez horas segunda pergunta quando somos atendidos?

Aqui, a coisa foi menos clara, alguma indisposição talvez de lado a lado, até que às dez e cinquenta e cinco chegou a vez de entrar. A consulta resumiu-se praticamente à entrega de uma requisição para ir ao serviço de radiografias fazer a dita. Aqui correu rápido e bem e volta-se à ortopedia, agora com uma pequeníssima espera: lido o resultado pelo médico, é marcada nova consulta. Onze e meia tudo OK.

Concluindo, em termos práticos o serviço prestado pelo hospital ao doente precisa de 35 minutos com as idas e vindas aos diversos serviços, sem grandes acelerações.

Só me interrogo sobre o Porquê destas três horas e meia. De uma manhâ de trabalho perdido. Uma criança acordada às seis e quarenta cinco e um mau serviço prestado. Será que alguém no Hospital D. Estefânia pára dois minutos para se interrogar sobre isto?

Acho francamente que este processo, que bem percebi é universal naquele sector, (talvez estendível a todo o hospital ou a todos os hospitais e os privados não são muito melhores) não se trata de nenhum caso especial,é intrinsecamente assim.

Penso que explica a prestação de cuidados de saúde que temos e o país que temos, pois já não conheço nenhuma área em que estes factos não aconteçam. Percebe-se porque arde e continuará a arder este País.

Comments:
A burocracia e o consumo de tempo neste país espanta qualquer um.

Há pouco ouvi no Telejornal que na CM Famalicão existe um gabinete de apoio ao emigrante quetrata de todos os processos burocráticos na hora e diziam que certidões que demoram 8 dias eram fornecidas na hora, entre outros processos que normalmente demoram 10 dias e que eram logo feitos.

Não me espanta que isto possa ser efectuado na hora e até acho muito bem que os emigrantes tenham este gabinete, o que me espanta é que os mesmos funcionários que tratam disto na hora, não o possam fazer para a totalidade dos cidadãos que necessitam de tratar de assuntos nas C.Municipais.
 
Mas isto é o dia a dia nos serviços de saúde... ora por uma razão, ora por outra sem razão o quotidiano é esse.
E muito obrigado pela distinção.
Acredite que foi um prazer que muito me honrou.
Um abraço.
 
Comento a questão levantada por JAF. A saúde em Portugal. O funcionamento dos hospitais. O desrespeito pelo cidadão e a arrogância da classe médica face ao utente. Do lugar onde escrevo há médicos que acumulam o serviço público de manh, ou seja, têm um horário a cumprir quer seja numa unidade hospitalar, consulta externa, ou centro de saúde. Só que nessa mesma hora estão nas suas clínicas. À tarde engordam a agenda marcando consultas a partir das 14 horas quando, na verdade, só podem estar presentes a partir das 16 horas. Isto leva a que uma carneirada que paga os olhos da cara para tê-los fique tardes e noites inteiras para, muitas vezes, ser assistida em 5 minuto, tal como uma velha peça da fábrica Ford desfazendo-se na linha de montagem. Seria bom que houvesse coragem para meter esta gente nos eixos. Quem tem medo das corporações? Salazar deve estar a rebolar-se de riso.
Mariana
 
Em Portugal não existem médicos em número suficiente para as necessidades. Li há pouco tempo no JN que não há pediatras na maior parte dos hospitais do distrito de Lisboa, e que por isso estas consultas estavam a ser encaminhadas para os hospitais centrais com as consequências fáceis de imaginar.
Esta situação é o resultado de 30 anos de numerus clausus apertados em Medicina, que condenou milhares de jovens com vocação para a esta área, a exercer uma actividade completamente diferente e os portugueses a penarem por um médico. Responsáveis foram os poderes insttuídos na Ordem dos Médicos e os sucessivos governos do PS e do PSD.
Ainda por cima a situação tem tendência para se agravar.

José Manuel
 
Não foram só os numerus clausulus em medicina... foi, sobretudo, a mercantilização da medicina, o proteccionismo de certos grupos com investimento em clínicas, a gestão hospitalar, mais o cruzamento entre público e privado. Não há médicos? Vão contar essa história a quem acredita em anjos.
Teresa
 
Não costumo comentar mas o tema é apetecível. A espera por dis-funcionamento nas consultas em instituições de saúde.
Se é preciso marcar, que se seja atendido na marcação.
Se é «por hora de chegada», entre as 9 e as 10, por exemplo, que seja dito para as pessoas saberem e decidirem como se organizam.

Não me parece justificável 2 ou 3h de espera com uma marcação e sem um pedido de desculpas ou uma justificação plausível.
Seja lá por parte de quem fôr. E menos por profissionais de saúde.
Ah, antes que alguém me "espanque" por ignorância, sou profissional da área da sáude...

e entendo que os clientes e cidadãos têm uma palavra sobre este assunto. Já agora, preencheu reclamação no Livro Amarelo?!
 
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