2006-05-18
Tentar perceber a Bolívia (2)
Os espanhóis não conseguiram ou não quiseram exterminar toda a população local, aliás, ao que parece, com culturas milenares. Desde a independência, em 80 anos o país foi governado pelos brancos que ainda hoje não ultrapassam os 15% da população. O resultado não é famoso. Desde a independência 200 golpes e contragolpes. Desde 2001 5 presidentes.A Bolívia é o país mais pobre da América do Sul (75% da população abaixo do nível de pobreza), as riquezas nacionais foram vendidas às multinacionais estrangeiras a troco de umas comissões generosas pelos governante que nos últimos 25 anos puseram o país em leilão.
O poder, ou ao menos os poder institucional, foi agora ganho em eleições pelos que ainda há umas dezenas de anos viviam à margem da “civilização” e até nalgumas zonas mais recôndidas sob o jugo da escravidão. Camponeses contam que ainda não há 50 anos, em certas terras como em Vale Verde o comprador de 100 cabeças de gado podia levar 2 ou 3 famílias indígenas - oferta do senhor da terra.
Um indígena na presidência. E indígenas no Governo. Metade deste é constituído por académicos brancos os outros oito são indígenas ou mestiços. Dirigentes de organizações que estão na origem das revoltas que conduziram à actualidade.
A Ministra da Justiça, Casimira Rodrigues, era dirigente do movimento das mulheres empregadas domésticas. ( Empezó a trabajar como empleada doméstica a los 13 años. Sometida a abusos físicos, mentales y sexuales, trabajó dos años sin que le pagaran, como es común en muchos lugares de Latinoamérica. “Había momentos en que se sentía insignificante”.)
É difícil conceber um desfecho diferente da derrota para esta equipa ao leme dos destinos deste país humilhado. (Está nos tribunais o processo contra generais que aceitaram que a embaixada americana, na certeza da vitória de Morales, sonegassem para os EUA os únicos 44 mísseis comprados à China, das forças armadas bolivianas). É difícil conceber um desfecho diferente da derrota não porque tenham, até ao momento, dado más provas mas porque têm contra eles quase tudo. O poder económico interno, boa parte das forças armadas e policiais, a pobreza, a falta de meios humanos e tecnológicos, a inexperiência e a economia globalizada, as multinacionais, Washington.
Reduzir o líder indígena Morales e a sua equipa representativa dos libertos, ao gesto largo e definitivo de “populista” parece-me bem na boca da direita e dos interesses que adivinham ser atingidos. Mas os democratas, os que não desdenham da justiça social e da dignidade dos povos não devem ir na onda sem melhor reflexão. Afinal deveríamos rezar (os que rezam) para que a sorte os acompanhe. Porque necessitam de muita sorte e toda a sabedoria do mundo para levar adiante, em mar tão tormentoso, nau tão frágil.
é o que desejo e o pessimismo, mesmo sob a capa do realismo é mau companheiro.
Parabéns pelos excelentes postes (este e os anteriores)e o denodo em informar e esclarecer quanto à situação boliviana. Estou de acordo que é difícil.
"Dale tu mano a el indio;
dale que te hará bien.
Y encontraras el camino
como ayer yo lo encontré."
Pronto. Aí tens a quadra da minha prece.
A presidência de Lula e a nova postura face ao imperialismo americano (e também europeu) mostraram que havia uma outra forma de estar na vida, mais digna.
A actual situação da Bolívia tem tanto de bonito e utópico como de ingénuo, Mas a palavra ingenuidade sempre rimou com Liberdade.
Hasta la vitoria, sempre !
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