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2006-06-19

 

ESTALOU A POLÉMICA - tréplica a Manuel Correia

Lendo as respostas de Manuel Correia ao meu post A FENPROF e o radicalismo da sua estratégia sindical e à minha réplica Estalou a polémica percebe-se que ele não está a contestar os meus argumentos mas a responder a afirmações que que eu deveria ter feito para que as suas considerações fossem pertinentes. Uma interpretação mais benevolente pode concluir que, apesar do título do seu post, (Estalou a Polémica! (Resposta a Raimundo Narciso) ) MC não está a responder a mim, ou só a mim, mas ao que se opina por aqui, nas caixas de comentários ou se opina por aí.

Vamos então ao que interessa.

As minhas afirmações (1º post citado) de que a ministra da Educação tem como prioridade da sua política o ensino e os alunos e só em segundo lugar os interesses dos professores e que os sindicatos tem como prioridade a defesa dos interesses dos professores e só em segundo lugar os alunos, suscitou a observação do MC (último post citado)

"peço-te para meditares, para já, apenas nesta postura perigosamente simplificadora. Sempre que o Estado se arvora em paladino de interesses não representados, fá-lo por uma de duas razões: ou quer usurpar o direito de representação (neste caso, os alunos do ensino básico e, pelo visto, os respectivos pais); ou quer diminuir a importância de interesses mais estruturados e organizados (neste caso, os sindicatos dos professores). Falar em nome de quem não está organizado de modo a poder fazer-se representar é um velho expediente. Tem o seu quê de demagógico e populista. E é decepcionante."

Meu caro Manuel salvo o devido respeito e consideração parece-me teres mergulhado nalguma confusão quando dizes que o Estado se arvora em paladino de interesses não representados...etc. Maria de Lurdes Rodrigues não está na 5 de Outubro a "falar em nome de quem não está organizado (alunos) e assim a utilizar "um velho expediente... demagógico e populista". Nada disso. O Governo português, este como qualquer outro legitimamente sufragado, foi eleito para governar e não para ser um moderador de lóbis ou corporações por mais legítimas que sejam (e os sindicatos são-no).

Melhor ou pior a ministra da Educação está a governar sem cedências "populistas" e muito bem. Sem se deixar intimidar com as ameaças e a campanha de ódio particularmente da FENPROF, que se vangloria de a conseguir demitir. Cujos dirigentes mais exaltados garantem ser a ministra uma megera apostada na destruição da Escola pelo ódio vesgo que supostamente nutre pela classe dos professores que permanentemente humilharia. FENPROF que não se inibe de marcar greve em período de preparação para exames entre dois feriados e propiciar umas férias de uma semana em véspera de exames.
Que eu saiba a ministra não acusou os professores de todos os males do ensino. Disse que também cabe aos professores uma parte da responsabilidade pelo estado do ensino.

Tratar-se-á de algum mal entendido entre ministra e profs? É um problema de comunicação? Todos sabem que não e todos sabem que a reacção dos sindicatos e de muitos profs resulta da perda de "direitos adquiridos" e alguns mal adquiridos como o de progredirem automaticamente na carreira e chegarem ao topo sem avaliação que mereça tal nome, quer se seja um professor excelente quer se tenha andado por ali a atrapalhar o ensino e a prejudicar os alunos.

A posição radical da FENPROF e de alguns profs resulta estritamente da perda de vantagens pessoais e pouco ou nada tem a ver com a sua preocupação com o ensino como supostamente querem fazer crer. Noutros casos os professores sentem-se molestados por sacrifícios acrescidos, com a restrição de mobilidade para que os alunos não tenham todos os anos outro professor. Isso é "injusto" e traz grandes sacrifícios a quem tem de ficar deslocado 3 anos a 100 ou 200 kms de casa. O descontentamento resulta ainda de terem de ser avaliados e de no conjunto a classe passar a ganhar menos devido a mais lenta e não automática progressão na carreira e a "injustas" mas lógicas e necessárias quotas para o escalão mais elevado.

Ora a FENPROF e muitos professores estão, a lançar areia para os olhos da opinião pública justificando a sua luta com falsas questões. Parece-me que não escolheram o melhor caminho. Pelo menos para o ensino.

Dizes ainda que:

"... face à oposição de vários sindicatos, a Ministra da Educação, e tu [eu RN] com ela, acusam a FENPROF de ser detentora de uma agenda política, para além de a cobrirem com os mimos relhos (kitch) a que me referi no meu poste anterior"

E a isto que digo eu? Que deixo a resposta a assunto tão picante para uma próxima oportunidade.


Comments:
Mas será que na agenda dos males do ensino, os professores são a prioridade e o mais importante?
Ou não será a via mais fácil e populista?
Esta "doença" requer um bom clínico geral, ou melhor um internista!
 
Os "postes" do Sr. Raimundo confirmam ou retratam a vontade de alguns:

Os profes deviam no final de um dia de trabalho, recolher a uma Cela na Prisão de Alta segurança. Ao fim de semana e nos periodos de férias dos alunos, os Profes seriam utilizados em trabalhos forçados, tipo limpeza de matas, recolha de lixo, limpeza de fachadas de edificios publicos e privados, varrer praças e pelourinhos, apanhar beatas e colaborar na limpeza das Praias.
Os profes poderiam ser utilizados como Railes de protecção em todas as autoestradas e IPês assim passariamos a ter em vez de vitimas de acidente de viação apenas "danos materiais". Todos os pneus seriam substituidos por Professores e dessa forma deixaria de haver Profes sem "colocação".
Os descendentes dos profes seriam também automaticamente recrutados a partir dos 18 anos para as dignas funções de professor nas condições acima descritas!
Nos 15 dias de férias a que teriam direito os profes, para poderem descansar, fariam "voluntariado civico" em centrais telefonicas de hospitais, Inem e quarteis de Bombeiros.
O sr Raimundo deve ter tido um trauma qualquer com um professor quando era pequenino?!...
Nem sei como o MC teve tanta pachorra para contra-argumentar "fantasmices" descabidas.
 
Na Agenda dos males do ensino, os profs são de facto o busilis da questão. Não querem ser avaliados. Querem subir na carreira contra todas as regras e a isto chama-se privilégios obtidos via sindical. Poder-se-á perceber que um prof com duas negativas no antigo 5º ano (português e matemática)chegue ao topo da tabela a ganhar ilíquidos 3000€? (há muitos ainda) e os novos atendendo à qualidade do ensino não vão longe. Há gente licenciada e com provas dadas que nunca lá chega. Isto deve-se dirão alguns ao poder reivindicativo "lobbi" sindical. Exacto. Foi por estas e outras cedências que o ensino caiu na reivindicação salarial e nunca na defesa da qualidade. Por isto somos este país que temos.AB
 
Acho que o Sr. Raimundo tem muita pachorra para aturar o sr. Correia que não argumenta mas cria argumentos fantasmas, dando uma no cravo e ...E mais pachorra ainda para aturar o sr. netwalker que essa de traumas era melhor talvez olhar se não tem alguns escondidos. Esses argumentos são de parvoice. E a mesma coisa direi deste meu comentário.É uma resposta ao "nível". Parvoice só vai com parvoice. Argumente seriamente e lá vamos.
 
Outra "pérola" deste Estatuto:

"Na avaliação efectuada pela direcção executiva são ponderados, em função de dados estatísticos disponíveis, os seguintes indicadores de classificação:
a) Nível de assiduidade;
b) Resultados escolares dos alunos;
c) Taxas de abandono escolar;"

Sendo desejável a existência de uma avaliação do trabalho individual do professor que seja justa, objectiva e imparcial, esta deverá incidir sobre as variáveis que dependem da sua acção.
Pretender ligar esta avaliação a factores externos e que ele não tem hipótese de controlar é, no minimo, absurdo.
O abandono escolar precoce é endémico em muitas regiões do país, mais do que noutras (vale do Ave, vale do Sousa, região Castelo de Paiva/Resende/Cinfães, etc) e tem causas sociológicas muito complexas. Sabe-se que a maior incidência é durante o 3º ciclo do ensino básico. O prof. que tenha o azar de ir ter a uma destas regiões terá sempre uma avaliação negativa independentemente da qualidade das aulas ou da sua preparação cientifica e pedagógica.
Relativamente ao item dos resultados é dificil descortinar qual o indicador que vai ser utilizado. Actualmente(e não consta que isto seja alterado)os alunos que frequentam o ensino básico (até ao 9º ano) não podem ser reprovados por faltas e podem transitar de ano mesmo que tenham negativa à maior parte das disciplinas. Como estão em plena "crise da adolescência" e neste idade há sempre coisas mais interessantes do que estudar já perceberam como se podem safar com a maior facilidade. Como só no 9ºano existe um simulacro de exames esta medida está feita para pressionar a inflação das notas nos 3 ciclos do ensino básico.

Quem defende a participação dos pais na avaliação dos professores deveria também defender por analogia a mesma medida no ensino superior. Por exemplo um reprsentante dos alunos nos juris das provas de doutoramente e de agregação a catedrático. Havia de ser bonito aplicar isto no ISCTE.

E muito mais haveria para dizer...

José Manuel
 
"a ministra da Educação tem como prioridade da sua política o ensino e os alunos"

è uma afirmação duma candura enternecedora, mas que é mais do domínio da fé e da crença do que da evidência dos factos. Era para isso necessário demonstrar qual onexo causal em que esta proposta de estatuto concreto levará à melhoria da qualidade do ensino. Nuno Crato (não é nenhum sindicalista)em recente entrevista notou em que nunca se falava neste documento em ensinar como a principal tarefa do professor. É sintomático do tipo de escola que se pretende.

Mas este assunto levava-nos muito mais longe do que um simples comentário.

José Manuel
 
O José Manuel tem razão no seu comentário mais acima. Não é legítimo avaliar os professores através dos resultados dos seus alunos, das suas notas, assiduidade, ou abandono escolar. Os resultados escolares dos alunos dependem, antes de tudo, da sua inteligência e aplicação, e também do apoio e estímulo que a família lhes dá. (Este último fator peca muito entre os portugueses, o que explica o superior sucesso de muitos filhos de famílias estrangeiras, mesmo com problemas linguísticos, nas nossas escolas.) O professor é um fator muito secundário no sucesso da aprendizagem. Não é legítimo transformar a avaliação dos alunos em avaliação do professor.

A única maneira de avaliar um professor é observar as aulas dele. Não há outra. Só aí se vê se as aulas são bem dadas e bem preparadas, e se o professor sabe daquilo de que fala, ou não.

Mas, é claro, essa forma de avaliação, a única que seria válida, não está prevista na lei.

Luís Lavoura
 
Para além da subida automática na carreira, outra coisa que os professores muito apreciam é a aproximação progressiva ao seu local de residência pré-escolhido. É por isso que os sindicatos lutaram tenazmente para que os professores pudessem continuar a, todos os anos, candidatar-se a uma colocação numa escola diferente. Trata-se de um dos grandes vícios dos professores, e não só, neste país. Decidem a priori que querem viver numa grande cidade, e pretendem depois ir, em sucessivos passos, aproximando a escola em que são colocados dessa cidade.

Este tipo de privilégios não se encontra em mais nenhuma profissão. Quando uma pessoa aceita ir trabalhar num certo local, fá-lo em geral com caráter definitivo, e muda-se para o seu novo local de trabalho. Os professores recusam, com tenacidade, esta lógica que se aplica à generalidade dos profissionais, e pretendem ter sempre o direito de, a longo razo, acabarem a lecionar numa escola de Lisboa ou Porto.

Foi excelente que a ministra não tivesse cedido neste ponto.

Luís Lavoura
 
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Tento compreender a contribuição de todos (que, pela minha parte, agradeço). A questão que me interessa tem a ver com a discussão das políticas públicas em democracia. Não adianta diabolizar pessoas, classes, organizações ou estatutos profissionais, para fazer passar uma medida política. É uma perda de tempo. Geralmente há sempre algo a aproveitar da contribuição de todos os intervenientes. Às hesitações de Guterres não se deveria seguir um autoritarismo bacoco. Há-de haver um meio termo em que a eficácia não sirva de pretexto para silenciar as oposições.
Quanto à «Polémica», faço as minhas alegações finais no próximo poste.
Um abraço a todos
 
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