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2006-08-06

 

A Desumanização da Política (2)


Dispositivo de lançamento de rockets do Hezbollah.

Os media chamados de referência, que são, em todo o caso, aqueles que os restantes media navegam à vista, balizando por eles muito do que noticiam, têm dispensado um tratamento de excepção à causa Israelita, atentos e compreensivos.

João Tunes, aqui ao lado, no Água Lisa (6), sustenta, num dos seus postes, (aqui) que a exploração das imagens de horror, sobretudo as televisivas, favorecem a dramatização das causas palestiniana (Hamas) e Libanesa (Hezbollah), em detrimento do impacto, também horrendo e sangrento, das agressões contra Israel.

À primeira vista, João Tunes tem razão. As notícias que nos chegam enfatizam o alarme humanitário, o número de baixas, a destruição sistemática de infra-estruturas, relativamente a um dos lados. Vida por vida, o horror equivale-se. Porém, o desequilíbrio em matéria de potencial militar e de destruição sistemática de redes de comunicação e estruturas produtivas, continua a pôr Israel, apesar de tudo, no lugar do ganhador antecipado, que tritura metodicamente os meios de sobrevivência de libaneses e palestinianos.

Olhando mais de perto, divisa-se uma outra explicação para o tratamento que aparentemente desfavorece Israel na guerra das imagens.

O Estado Hebraico debate-se com uma contradição insanável em matéria de gestão da informação. Visando a percepção da «rua árabe», minimiza as suas perdas, sustentando que o seu poder retaliatório continua intacto e temível. Com o intuito de desencorajar agressões presentes e futuras, gere as imagens de modo a dar uma ideia geral de que permanece inexpugnável, apesar de uma ou outra vulnerabilidade pontual. Nessa linha, os poderosos não podem conservar um tal estatuto simbólico sem abdicarem dos lamentos, da denúncia da brutalidade dos combates, dos corpos desfeitos e da execração da guerra.

Neste aspecto, a globalização das imagens joga contra Israel. A percepção do conflito apodrecido com os palestinianos, e das invasões cíclicas do Líbano, através das mesmas imagens, surte um efeito desastroso na «rua europeia» e na «rua americana». O que nós vemos é aquilo que Israel promove, autoriza e deixa passar. Ora quase tudo aquilo que tem como propósito intimidar os vizinhos, horroriza o mundo.

São essas as duas razões principais porque Israel está a perder apoios. A cada escaramuça responde com um massacre, ampliando o raio de destruição retaliatória. Já se sabia, é certo. Fechava-se os olhos, mas só não sabia quem não se interessava.

Israel não está interessado em expor as suas feridas em público.

Não se publicam mais imagens sobre os impactos de foguetes e mísseis lançados pelo Hezbollah sobre Israel, porque Israel não quer.
Partilhar com o resto do mundo as suas dores, os seus mortos e as suas feridas, torná-lo-ia demasiado humano, frágil e vulnerável, na «rua árabe». Ora, tal como confessam alguns defensores da continuação da guerra,

O que não pode acontecer é o esvaziamento da política, em nome do humanitário.

Comments:
Acaba por ser de uma tristeza doentia, alguém afirmar que as imagens horrendas
da destruição humana acabem por favorecer uma das partes.
 
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