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2007-03-12

 

O Couço terra de heroísmos


O Movimento Cívico NÃO APAGUEM A MEMÓRIA surgiu como reacção à transformação da sede da ex-PIDE/DGS em condomínio de luxo. Várias pessoas que sofreram o fascismo ou consideram indispensável não apagar da História de Portugal a memória da ditadura que durante 48 anos subjugou o país desenvolveram várias acções, nomeadamente contactos com o Governo, o Parlamento, câmaras municipais, no sentido de preservar a memória da resistência e da luta do povo português contra o fascismo.

Trabalha-se neste momento a criação de uma sala-núcleo museológico no futuro condomínio de luxo que substituirá a antiga sede da PIDE face à falta de apoio institucional para mais, um museu na antiga prisão do Aljube, junto à Sé de Lisboa. Criaram-se grupos de trabalho de recolha documental, criação de roteiros da memória, etc. fazem-se reuniões e plenários com quem queira colaborar. O Movimento não tem sequer estruturas hierarquizadas, tem funcionado com a maior democraticidade e abertura e é uma espécie de reunião de boas vontades.

Uma parte maior da memória a preservar diz respeito à luta dos comunistas organizados no PCP, por isso era natural que este movimento de origem não partidária nem telecomandado por qualquer partido, onde se encontram pessoas como o "Capitão de Abril", agora Almirante, Martins Guerreiro, ou o arquitecto Nuno Teotónio Pereira dos "católicos da capela do Rato" ou o historiador António Borges Coelho, tivesse o apoio ou a simpatia dos partidos de esquerda e não só, e particularmente daqueles que têm um passado de luta contra o fascismo.

Tem havido apoio ou simpatia de várias instâncias de poder ou partidárias que se têm revelado em diálogos ou facilidades mas não da parte de quem mais seria lógico esperar, da parte do PCP.


Segundo algumas fontes, o PCP terá considerado que essa Memória é sua propriedade. E dela deverá ter o monopólio. E que o PCP ou controla ou não colabora. Que podia simplesmente alhear-se mas ao contrário tenta criar dificuldades. Custa-me a crer. Ou então não mudou!

Vem isto a propósito da comemoração do dia da Mulher pelo movimento NÃO APAGUEM A MEMÓRIA que além de um colóquio muito interessante na Biblioteca Museu da República e da Resistência, no dia 8 de Março organizou uma excursão a Coruche e ao Couço com passagem pela igrejinha símbolo de resistência ao fascismo, no tempo dos padres holandeses, na Azervadinha. António Melo fez do evento um excelente relato.

A excursão tinha uma motivação central: visitar o local mais emblemático da luta heróica dos operários agrícolas e em especial das operárias agrícolas pelo pão, pela sobrevivência, pela dignidade, contra a exploração dos latifundiários, contra a ditadura. Uma visita guiada pela aldeia, pelos locais símbólicos das greves, das manifestações, dos choques com a GNR e a PIDE, por Paula Godinho, uma antropóloga que viveu no Couço 14 meses, onde ganhou grandes amizades e a simpatia (para dizer o mínimo) de toda a aldeia, para melhor fundamentar a sua tese de doutoramento (Memórias da Resistência Rural no Sul (Couço 1958-1962) Celta Editora, Oeiras 2001).

Da parte da Câmara Municipal de Coruche (PS), em particular do seu presidente Dionísio Mendes (independente), houve um apoio e simpatia exemplares à iniciativa. Da parte da Junta de Freguesia do Couço houve a expressa e chocante recusa de qualquer colaboração ou sequer contacto.

Interrogo-me sobre que partido terá ganho a Junta de Freguesia do Couço. E também se se terá tratado de uma decisão local ou de uma ordem de Lisboa.

(O post inicialmente publicado sofreu, entretanto, umas ligeiras correcções de estilo.)


Comments:
Caro Senhor
Sabe o Sr. ou devia saber que o Couço, nunca reclamou nem participou em heroismo, isso é para outros que tudo fazem para esticar o pescoço. No Couço lutou-se e luta-se por um país mais justo.
A Junta, ao contrário do que disse não se opôs nem nunca se oporia à realização do evento simplesmente foi dito aos promotores que a programação para esse dia já estava preenchida e que, caso entendessem poderiam, como é óbvio assistir e participar. Tal não aconteceu nem tão-pouco foi comunicado o horário da visita.´
Se não percebeu nunca irá perceber.
Cumprimentos
Luis Ferreira
 
Caríssimo Sr. Raimundo Narciso,

É com vincada tristeza que leio estas palavras que escreve. Foi com estranheza que percebi que nutre um ódio irracional, num registo manifesta e obsessivamente patológico, contra os órgãos e os cidadãos democraticamente eleitos na Freguesia do Couço, mostrando que não gosta da democracia. Não só demonstra ignorância activa, falta de respeito e desconhecimento da realidade local - como por exemplo do que a Assembleia e Junta de Freguesia projectam para as comemorações do Dia Internacional da Mulher todos os anos e, do apoio da população local a essas mesmas comemorações - como decide escrever afirmações falsas e sobre as quais não tentou sequer apurar a verdade dos factos, pois se tivesse optado por tomar uma atitude séria teria indagado. É FALSO que a Junta de Freguesia do Couço tenha recusado contactos, tendo recebido uma delegação do Movimento Não Apaguem a Memória e explicado das dificuldades em apoiar esta iniciativa, uma vez que a duas semanas do evento já estava tudo a postos para as comemorações na Freguesia. Seriam bem vindos a participar nas nossas comemorações caso o entendessem, não poderíamos era “apagar” o nosso trabalho de meses, o nosso investimento pessoal, colectivo e emocional, na preparação do nosso programa para apoiar exclusivamente o projecto do Movimento. Enfim, não me parece que tenhamos de nos explicar a alguém (a si) que julga que o Couço, a sua população, a luta que projecta no futuro e o esforço dos seus autarcas sejam de alienar em função daquilo que se apelida de “heroísmo”. Parece-nos, isso sim, justo para quem por aqui passa a ler sobre o Couço não ficar apenas com uma imagem pervertida, facciosa, equívoca e falsa acerca deste povo, desta terra e destes autarcas. Apenas acrescentar que o Couço não é aldeia é uma Vila, não de “heroísmos” mas, de muita Dignidade. Cumprimentos. Liliana B. de Sousa
 
Ao anónimo que assina Luís Ferreira e também ao outro anónimo que assina Liliana B. de Sousa
:
O Movimento Não Apaguem a Memória quiz comemorar o Dia da Mulher com uma visita a Coruche e ao Couço. Para isso contactou as autarquias respectivas para saber se haveria receptividade à visita e eventual possibilidade de algum acto em conjunto.
A CM Coruche foi receptiva. Proporcionou uma reunião de Boas Vindas, ofereceu uns livros relacionados com o concelho, o presidente da Cãmara arranjou disponibilidade (era um Sábado)para nos acompanhar a uma visita ao museu, a uma exposição sobre o Zeca Afonso, ofereceu um almoço e por fim da parte da tarde teve a gentileza de nos acompanhar ao Couço onde nem o presidente da Junta nem ninguém em sua representação tinha disponibilidade de agenda nesse dia para nos dizer sequer "bom dia! Sejam bem vindos ao Couço".
Claro que houve contactos prévios e desses contactos resultou o que acabo de expôr. No Couço nem a Junta nem qualquer representante seu tinha a mínima disponibilidade de agenda. Nem um minuto.
Não vem nenhum mal ao mundo por isso. Nem a Junta passa a ser melhor ou pior por causa de coisa de tão pouca monta. Nem é caso para zangas nem muito menos, que disparate! para ódios como diz o anónimo que assina Liliana B. de Sousa.
Agora que o facto é no mínimo insólito e naturalmente leva a inscrevê-lo num conjunto de outros casos do mesmo jaez, isso leva.
Aliás, o estilo e a falta de compostura, especialmente do prosélito que faz o segundo comentário, só vem em apoio do que afirmo.
 
Terra de heroísmo sim! O Couço faz para sempre parte dos percursos pela história da resistência, em virtude de muitos que, em condições tremendas, estiveram dispostos a dar o melhor de si numa luta que não se sabia quando terminaria. Recordo-os e admiro-os, tive o privilégio de respirar o mesmo ar durante algum tempo, de aprender com eles de que fibra se fazem os revolucionários, aqueles que em duros tempos se recusavam a «viver habitualmente». Recordo os que já morreram, com Isidro Fino, João Camilo ou Joaquim Castanhas e os muitos com que ainda posso conviver e que me merecem um respeito e uma admiração sem limites, que creio ter deixado expressa no que sobre eles escrevi. É também por eles que lamento a atitude do presidente da Junta e agora, as suas palavras e as de Liliana B. de Sousa. É pela prática, muito mais que pelo discurso, que os indivíduos se definem. Não houve qualquer tentativa por parte do presidente da Junta de fazer uma contra-proposta em relação à homenagem proposta pelo movimento «Não Apaguem a Memória!». A mim, aos meus sucessivos contactos, nem se dignou responder. Lá saberá porquê.
 
Olá Paula Godinho
Mais que as minhas valem as suas palavras.
Obrigado.
 
http://jn.sapo.pt/2007/06/09/pais/busto_ministro_levanta_polemica.html
 
http://jn.sapo.pt/2007/06/09/pais/busto_ministro_levanta_polemica.html
 
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