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2007-07-31

 

Num bairro periférico de Bagdad

uma criança que aparenta ter 8 a 10 anos está sentada no meio de lixo, encostada ao que resta de uma parede que terá sido de um prédio. Rosto esquálido, os olhos esbugalhados, descalça, cobre-a uns farrapos. Quase inanimada. Mesmo assim ainda lhe restam forças para segurar outra criança, um rapaz de 5 ou 6 anos esquelético como ela e morto. Diz que é seu irmão. O repórter investigou e ficou a saber, mais ou menos, que o pai era professor na universidade. Um dia foi raptado e descobriram mais tarde o cadáver numa lixeira. A mãe era médica e ficou a sustentar os 5 filhos, 3 rapazes e 2 meninas. Entre os 3 e os 12 anos. Alguns meses depois a mãe foi morta com uma das meninas num daqueles atentados suicidas quando procurava alimentos num mercado do bairro. As outras 4 crianças ficaram a cargo de familiares e vizinhos. Mas hoje, Maliki, só sabe deste irmão mais novo. Os outros estavam com os tios maternos mas dizem que eles fugiram, talvez para a Síria. Têm comido restos que encontram e alguma coisa que lhes dão. Mas agora o mais novo morreu. Há pouco. Ainda está quente e o mais velho parece ter desistido. Já não tem força nem lágrimas para continuar.
Conto isto porque me impressionou mais que as notícias do Comité de Coordenação das ONG no Iraque que correm por televisões e jornais:

- "Há 8 milhões de iraquianos a necessitar de ajuda humanitária de emergência".
- "43% dos iraquianos sofrem de "pobreza absoluta"".
- "40% dos quadros , médicos, engenheiros, professores, saíram do país".
- "4 milhões de iraquianos estão deslocados internamente ou nos países vizinhos."

São números. Diz-me pouco. E além disso aquilo era uma ditadura horrorosa. Enfim é a guerra e como se sabe as guerras acontecem. Não há culpados. Não há nada a fazer para as prevenir. Ou haverá?

______________

Anotação em 2007-08-01: a avaliar por alguns comentários o sentido do post ou não resultou inequívoco ou então é dificuldade de interpretação de alguns comentadores. Decido-me pela primeira explicação. Proponho então dizer o mesmo de forma diferente daquela que é uma conclusão ostensivamente cínica, insensível à tragédia humana, e que tentava interpretar o sentimento frio e distante de tanta boa gente.

Outro final para o post:

São números e os números dificilmente nos sobressaltam para a condenação dos promotores de guerras. E não serve a falsa desculpa de que se pretendia combater uma ditadura horrorosa.
A frieza destes números, não esqueçam, revelam a realidade de milhares e milhões de tragédias como a da reportagem.


Comments:
Também não sei se há :-(

Um coisa sei. Estava-se mesmo a ver que não ia correr bem. Todos os consultores alertaram para o problema do pós conquista.
 
O que "me impressionou mais" foi a parte final:
"São números. Diz-me pouco. E além disso aquilo era uma ditadura horrorosa. Enfim é a guerra e como se sabe as guerras acontecem. Não há culpados. Não há nada a fazer para as prevenir. Ou haverá?"
IMPRESSIONANTE!!!
"as guerras acontecem. Não há culpados".
ACONTECEM? NÃO HÁ CULPADOS?
 
Caro anónimo obrigado. A ideia era mesmo essa, impressionar, porque o quotidiano da Grande Tragédia, embota, embrutece e já quase (quase)nos deixa indiferentes.
 
Pois. A nuance não é imediata. É uma insinuação quase imperceptivel. É necessária uma segunda leitura! Recomendo-a ao anónimo. JoanaC
 
Era uma ditadura horrorosa?
De acordo! Agora são pessoas no meio do lixo, com que democracia o aceitaremos, lá ou às vezes à nossa porta?
Como pertencerei à espécie humana? Que olhos vou pôr nos meus!
O que transportamos em nós!
 
para o Sr anonimo, há culpados sim nós (talvez, como pertence á espécie humana acredite ainda não conheço et's, que olhos põe nos seus os mesmos que eu ponho nos meus, aqueles que tenho.
ass:JN
 
"Pois. A nuance não é imediata. É uma insinuação quase imperceptivel. É necessária uma segunda leitura! Recomendo-a ao anónimo. JoanaC"
Obrigado pelo conselho maternal. A JoanaC vai, com certeza, explicar-me a "nuance".
 
Afinal o autor do post impressiona-se com o caso que descreve e não se impressiona com os milhões de casos dramáticos que toda a gente sabe que haverá? Ou como é?
 
Houve meios de a evitar e voc~e com tantos outros que vêm aqui deixar verborreia, sabem muito bem disso! Ou se andam esquecidos consultem a vidente que lê cartas. a tal Clara,,,,, e não escrevo mais porque o vómito é grande --- uhrrr,uhuurrr
 
houve meios e voc~e sabe muito bem disso! de que lado esteve?
Leio e só vejo verborreia, e recomendações de uma tal Clara vidente de certeza que lê cartas e lê os astros! uhrr , uhrr que vómito!
 
Raimundo,

Há tempos descobri no site da BBC este relato de um funcionário de uma ONG que trabalhava em Bagdad:

"Uma vez fui chamado ao local de uma explosão. Ali vi um rapaz de quatro anos sentado ao lado do corpo da sua mãe, que tinha sido decapitada pela explosão. Ele estava a falar para ela, e perguntava-lhe o que tinha acontecido."

Senti o mesmo que tu.

E escrevi sobre o assunto aqui.
 
Olá Marco. Já não nos "víamos" há uns tempos. Obrigado pela visita e pelo comentário. Já fui ver o teu post. O Iraque é uma tragédia hedionda uma catástrofe humanitária e o mais grave é que podia ter sido evitada não fosse a cupidez, a arrogância, a cegueira e o desprezo pela vida humana do império (que não sendo do MAL também não o é do bem)
 
É claro que a imagem impressiona,o texto que dela fala também. Os números eram suficientes para embaraçar! Não se trata aqui de uma nuance,porque não foi num salão de cabeleireira dos arredores de Lisboa. Não,não é uma matiz de interpretação que é apresentada por alguns ou apenas um alerta para as consequências pós- conquista.... Onde foi o encontro entre o Presidente norte-americano, primeiro ministro espanhol e o português ? QUem esteve de um lado, a favor, ou de outro, contra a ocupação e desenvolvimento da guerra? Quem ouviu a opinião pública europeia ou mundial?
À nossa escala quem se manifestou,
que receptividade houve?
São questões simples,mas importantes para andarem aqui baralhadas em comentários fugídios à consciência individual que não deixa alguns dormirem,insinuo pelo que li, com a língua no petróleo, ou no falso bem -estar! ´Nao me incluo nesse grupo e tenho a consciência limpa: Fui contra e juntei-me aos que eram a favor de uma intervenção no quadro das Nações Unidas! Curiosamente, agora é aprovada uma resolução de intervenção das Nações Unidas. Os EUA, querem sair servem-se do Mundo, num ápice ! Ònde estavam as armas? Falem de forma simples e clara, são capazes! Não se entretenham com fraseado! O Iraque não é um filme de ficção,ou um romance como já vi num escaparate de uma livraria,romance de um cão resgatado em Bagdad ! Talvez se encerrem aqui os comentários e alguém fuja para outra freguesia, eu não ! Eu não, fui contra.....
 
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