.comment-link {margin-left:.6em;}

2010-06-24

 

[1987] Saramago visto por Graça Moura

Toda a gente sabe que não há pachorra para aturar o político Vasco Graça Moura e isso não decorre das suas opções políticas de direita mas do estilo trauliteiro que lhe obnubila completamente a inteligência  mas também muitos sabem que o outro Vasco Graça Moura, o da Cultura, é uma pessoa inteligente e vasto saber e que só podemos ganhar em ouvi-lo quando fala de... cultura.
Por isso foi com gosto que li o seu artigo de opinião sobre José Saramago hoje no DN de que reproduzo o seguinte:
___________

" Para além de inúmeras reacções circunstanciais, a morte de José Saramago trouxe à baila várias questões muito interessantes. Devo dizer que fui amigo dele e prezo grande parte da sua obra, sem subscrever, como é evidente, as suas posições ideológicas e políticas. Isso nunca me impediu de tentar compreendê-lo, nem de admirá-lo naquilo que penso ser a parte mais válida do que escreveu.
............
Um outro aspecto que julgo importante é o de o romance saramaguiano ter regra geral tão pouco a ver com a narrativa proletária (salvo, evidentemente, o caso de Levantado do Chão) quanto com o chamado romance burguês e as suas várias derivas ao longo do século XX. Saramago conhecia muito bem todo o universo romanesco dos séculos XIX e XX. Soube, ele que tanto se inspirou no barroco, ir à picaresca espanhola buscar algumas notas importantes, entre elas a de um humor que levou com frequência a um ponto corrosivo, para caracterizar algumas das suas personagens, figuras e situações. Mas os cenários em que tudo isso se move parecem ter mais a ver com o reencontrar de um fio narrativo muito anterior a qualquer modelo de ficção preexistente, que faz as personagens existirem e agirem como que emergindo e consolidando-se nas próprias pregas do texto que está a ser escrito, entre o absurdo da situação e os possíveis dos seus comportamentos e das suas escolhas quanto a grandes questões da existência, que começam por aparecer de um modo quase anódino até se proporem ao leitor como avassaladoras e intimidantes.

Um escritor assim, para mais racionalista, ateu e empenhado socialmente por via do comunismo, tinha de questionar o Deus da Bíblia e de fazer uma leitura crítica dos seus atributos. Mas as investidas de Saramago contra Deus supõem, quase de certeza, uma contrapartida de aumento do coeficiente de humanidade e de justiça que ele quereria ver instaurado e praticado entre os homens. No seu caso, o problema é que, historicamente, a proposta política que defendia tinha saído furada e a um preço de sacrifício humano absolutamente incomportável. ... "

Etiquetas: ,


Comments:
É um gosto visitar o seu blog e por muitos outros que tenho passado. Gostaria muito de deixar aqui o meu link para divugaão. Um novo blog que tem dado um pouco de falar, com vários temas actuais... Forte abraço e boa continuação. Tornem-se seguidores!

http://quadratura-do-circulo.blogspot.com/
 
Gostos todos temos....

Mas será possível ver o vosso BLOG??
 
Enviar um comentário



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?