2013-06-27
Barroso visto de Paris
A diatribe do Le Monde contra o
presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, não terá sido uma
arrogância “chauvinista” contra uma figura afinal originária de um pequeno país
da união. As acusações do jornal francês , de camaleão, oportunista, terão razão de ser?
Vejamos.
Mário Vieira de Carvalho num artigo no Público de 2013-06-26, trata este
assunto de forma assertiva e esclarecedora (Ver
link no fim deste post. Não deixe de ler).
Diz MVC,
indo lá atrás: “Em Outubro
de 2005 a Assembleia Geral da UNESCO reunida em Paris aprovou quase por
unanimidade - votos contra apenas de Estados Unidos e Israel - a Convenção para
a Proteção e Promoção da Diversidade das Expressões Culturais…”
A UNESCO e a
preservação da cultura dos diferentes povos saiu assim vitoriosa contrariando a
política de colonização cultural norte-americana prevalecente na Organização
Mundial do Comércio que pretendia acabar com toda e qualquer proteção nacional
à respetiva cultura, em especial nos audiovisuais.
"Que a administração
W. Bush – diz Mário Vieira de Carvalho no Público – tenha lançado mão de todo o
tipo de pressões para evitar tão universal consenso não é motivo de surpresa.
Que o povo de Israel se tenha deixado arrastar como aliado único nessa desesperada
tentativa também o não é, apesar das perseguições de que foi alvo ao longo da
História e que, não raro, ameaçaram de erradicação total a sua cultura.”
Mas que
razões “culturais” motivaram e motivam tanto empenho dos EU em derrubar tais
defesas das culturas nacionais? Ampliar o negócio milionário das suas
multinacionais, particularmente no audiovisual, invadindo a Europa com a subcultura alienante dos empacotados e outras subespécies de igual quilate.
Que tem
Barroso, afinal, a ver com tudo isto? É que, há dias, na véspera de negociações entre a UE
e os EUA e após longas conversações que levaram os 27 membros da UE a uma
plataforma comum que contempla, contra a posição dos EUA, o direito da UE a defender
a diversidade das culturas nacionais dos seus povos, o direito de defender “a
Alma da Europa”, face à ameaça do “mercado livre” exigida pelos States para
facilitar a invasão mercantil não da grande cultura norte-americana mas da “cultura” de pechisbeque, ora - dizia eu - nesse preciso momento, o presidente da
Comissão Europeia em vez de defender a posição da organização que devia
representar vem acusar a França de política “reacionária” por se ter batido
pela conclusão a que a Europa chegara.
Le Monde concluiu que Barroso, próximo do
fim de mandato, não teve pejo de trair os interesses da UE, que devia
representar, para bajular o governo dos Estados Unidos. Quis Barroso, na opinião
do Le Monde, mostrar assim que os EUA, podem
contar com ele em troca de um cargo bem pago, NATO ou ONU que ele está pronto a
desinteressar-se dos valores ou interesses da Europa ou do seu país. É uma questão de
dinheiro. Para Durão, se tal estiver na sua mão - a ”Alma da Europa” ou os bens
culturais nacionais são “valores” perfeitamente transacionáveis por dinheiro.
São ou deviam ser, meras mercadorias como aliás, ele próprio.
Le Monde atreveu-se a tais juízos em primeiro lugar porque Barroso não é alemão mas seguramente porque
está lembrado de que no passado Durão Barroso, quando 1º ministro de Portugal,
se postergou perante Washington, na cimeira das Lages, nos Açores, em 2003, quando apoiou
incondicionalmente W. Bush, contra o interesse de Portugal e das suas relações
com o mundo árabe, na invasão do Iraque e ter dito até, ter “visto” as provas
de que o Iraque possuía armas nucleares. Não terá sido tal comportamento alheio
às diligências norte-americanas para a sua ascensão a presidente da Comissão
Europeia quando fracassou como 1ºM de Portugal.
Le Monde não poupa qualificativos no seu
editorial a Durão Barroso “camaleão”, “oportunista”. Afinal o jornal parisiense
sabe que Barroso tanto pode ser um exaltado seguidor de Mao Tsé Tung, como quando
esteve, ao que constou, no cerco e incêndio da embaixada de Espanha em Lisboa, promovida
pelo MRPP, no verão de 1975, como um entusiasta prosélito de W. Bush.
É a estatura moral "stupid". [Link Artigo de Mário Vieira de Carvalho]
Etiquetas: A Alma da Europa, camaleão., DURÃO BARROSO, Presidente da Comissão Europeia