2007-08-15
Força de expressão (16)
O camponês renitente
Para começar, devo confessar ao João Tunes que a figura do camponês pobre que resistia a vender a sua alfaia à embrionária cooperativa, protestando contra o que lhe parecia uma socialização abusada de tudo, me merece grande simpatia. É o tipo de pessoa corajosa, que não se deixa ir na onda do conformismo fácil. Pergunta, desconfia, duvida, critica, mostra as suas reservas e não se convence com duas cantigas.
Mais gentes como ele houvera e melhor seria. As decisões tenderiam a ser mais equilibradas, informadas e a reflectir melhor a complexidade dos interesses em jogo.
Os outros tentavam trazê-lo para a cooperativa; ele exercia o direito de só aderir se nisso visse vantagem. Queria saber, tim-tim por tim-tim, até que ponto o seu gesto de adesão alteraria a sua vida e afectaria os seus interesses.
Entre ele e o esforçado Wilson, a dado momento daquela troca de propósitos que ganhou, no contexto actual, recorte humorístico, a mulher de que falámos a propósito das azeitonas, tenta acalmar os ânimos, reconduzindo o que se estava a tornar em gavela, a uma conversa serenada.
Sub-repticiamente, estava a lembrar que, a limite, a adesão à cooperativa não é obrigatória...
Uma cooperativa? Porque não?
Pareceu-me detectar nos principais protagonistas da “Torre Bela” um misto de inquietação e insegurança que lhes confere, mesmo sabendo que estavam a ser observados e filmados, boa dose de autenticidade. Entalados pelas circunstâncias, também duvidam, procuram apoios, rejeitam soluções extremas, tentam entusiasmar-se, mas, aqui e acolá, não escondem o seu desespero.
Em volta, os sistemas de poder estão a ser reconfigurados. Quem manda? Quem manda mais? Deve-se obedecer às leis ou, como sugerem alguns militares, tomar-lhes a dianteira?
A verdade, porém, é que, com a revolução e o constrangimento das suas urgências, não havia muitos modelos de propriedade disponíveis para aquele pessoal assumir responsabilidades, repensar a relação com a terra e o trabalho, encarar a mutabilidade dos seus destinos.
Ressentimento
Fala-se, às vezes, do ressentimento, como de uma reacção negativa que conduz a atitudes insustentáveis. Do mesmo modo, um administrador da CP “aspira” a ter uma piscina como a do seu vizinho, grande accionista do BCP, enquanto um trabalhador por conta de outrem, em regra, “invejará” sempre o carro novo do seu chefe. Esta diferença “social” entre inveja e aspiração, toma, face à noção de ressentimento, um oposto obscuro. Se um ror de injustiças, geração atrás de geração, não provocassem grandes sentimentos de injustiça (outro eufemismo para “ressentimento”) e não destilassem, até, (pasme-se!) algum ódio, em que paraíso celestial estaríamos afinal?
Aqui deixo uma declaração de interesses. Nesta matéria, sigo, de perto, a teorização de Marc Ferro, historiador francês, que revisitou Lisboa em Maio passado, proferindo, na Fundação Gulbenkian, uma conferência a que deu o título de “O ressentimento: força obscura e produto da história”. Deixei, aqui no PUXAPALAVRA, um breve apontamento sobre o evento [ vidé “Para lá do Ressentimento (1)”].
Poder-se-ia, até, dizer, sem a mínima pretensão de ofender ou obsolescer os primeiros parágrafos do Manifesto, que a história, até aos nossos dias, não foi mais do que a história dos ressentimentos e suas efabulações.
análise feita no enterro das azeitonas e a do camponês, pois revelam a tacanhez que ainda impera sempre muito bem embrulhada em papel celofane tamanho europa ! Sempre a querer parecer liberal ! ah, ah ..... Vão a Fátima de joelhinhos!
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