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2010-04-26

 

António Barreto, a educação e a justiça (1)

Ontem, o DN publicou o Discurso Directo (DD) com António Barreto (AB).

Vou reproduzir aqui o que disse AB da educação e da justiça, porque entendo que as suas reflexões feitas são deveras importantes. Constituem uma boa base para pensar estes dois sistemas que são estrangulamentos determinantes do progresso deste País.

Para António Barreto é "no sistema educativo e na justiça" que se centram as suas maiores críticas quando olha para a sociedade portuguesa. Transcrevendo as reflexões sobre a educação:

DD - Concretamente, em relação à educação, o que tem a dizer?

AB - Em relação à educação, o que está no haver é a universalização. Todas as crianças, todos os jovens vão à escola, a escolarização é completa, a rede escolar cobre o País inteiro, toda a gente tem acesso à educação e à escola, não há barreiras definitivas. O apoio social é considerável, não é muito grande, mas é considerável, há bolsas de estudo, até mesmo para o ensino secundário e ainda mais no ensino superior. Isto é o que está no haver, está conseguido. Parece um lugar-comum, que é uma coisa simples. Não é. Para Portugal, não é. Portugal puxou o analfabetismo e a falta de educação até muito tarde, só nos finais nos anos 60, meados, nos finais dos anos 60, ainda no regime antigo, é que começou a haver qualquer coisa no sentido de estimular, fomentar a educação. Recordo que o programa do eng. Veiga Simão, quando foi ministro do Marcelo Caetano, era democratizar a educação. A democratização da educação começou ali. Mas, foi depois do 25 de Abril que as coisas atingiram a dimensão que atingiram. O que está no deve? Que os princípios inspiradores - a teoria geral, a estratégia, a organização filosófica, cultural e política da educação - deram errado. As modas efémeras, as modas pedagógicas, a inversão de tantas funções... o facto de hoje se dizer em Portugal - e creio que noutros países, não é um facto só português - "o importante são as competências, não é saber". Isto a meu ver é um erro. Há quem diga que é mais importante uma pessoa saber ler o horário do comboio ou a bula do medicamento do que ler Camões ou Platão. Isto é um erro. A democracia cultural e da educação é dar a toda a gente Platão, Aristóteles, Camões , seja o que for. Isso é saber. Substituir por competências é um erro. Dizer que na sala de aula são todos iguais, professores e alunos, é outro erro. Dizer que aprender é um prazer e não um trabalho e um esforço é outro erro. Estes princípios - dizer que a sala de aula é um sítio de aprendizagem, não um sítio de ensino - são outro erro. São estas inversões nos princípios que presidem à educação que a meu ver deram errado. E deram errado, vejam-se os resultados.
(Os negritos são meus)

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Comments:
Fui professora 38 anos, tive o privilégio de estar envolvida nos dois anos experimentais, "criados" por Veiga Simão, após a conclusão do então chamado 2º ano do 2º ciclo, anos esses que funcionaram em algumas escolas preparatórias.
Tivemos larga e profunda formação, foi uma lufada de ar fresco para professores e alunos.
O pior é que a partir daí nunca mais se acabaram as experiências e nunca mais tivemos conclusões orientadoras para as nossas práticas.
Nas aulas, perante o desagrado de alguma tarefa, costumava dizer aos alunos que eu não estava ali para concorrer a um concurso de Misse Simpatia...
Se gostassem do que estavam a fazer, tanto melhor, se não gostassem teriam que se esforçar mais.
Sem trabalho, sem esforço não se atingiam os resultados desejados!
Acho que A.B. sabe do que fala...
 
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