2010-07-21
Saúde e Educação para quem tem dinheiro
Na realidade, a proposta do PSD de Passos Coelho, no tocante à saúde e educação, equivale, preto no branco, a dizer: aprovem esta revisão constitucional e a partir de agora quem estiver doente paga e quem quiser estudar sobretudo cursos superiores paga.
Estas propostas vêm, contudo, embrulhadas em excelente papel celofane. Entre outras embalagens tenta-se fazer passar que não, que não é para tirar nada aos de menores rendimentos, que é para quem tem maiores rendimentos ser obrigado a pagar mais, etc, etc,.
Então porque será que, em países avançados, onde a saúde a o ensino são tendencialmente gratuitos e em Portugal onde também isto está consagrado se pretende retirar essa claúsula, apesar dos defeitos que persistem nos dois sistemas?
Será que a existência de uma claúsula protectora está na origem do mau funcionamento da saúde e do ensino em Portugal?
Será desprotegendo que se atinge melhor situação? Milagre
Etiquetas: educação, Passos Coelho, saúde
2010-04-26
António Barreto, a educação e a justiça (1)
Ontem, o DN publicou o Discurso Directo (DD) com António Barreto (AB).
Vou reproduzir aqui o que disse AB da educação e da justiça, porque entendo que as suas reflexões feitas são deveras importantes. Constituem uma boa base para pensar estes dois sistemas que são estrangulamentos determinantes do progresso deste País.
Para António Barreto é "no sistema educativo e na justiça" que se centram as suas maiores críticas quando olha para a sociedade portuguesa. Transcrevendo as reflexões sobre a educação:
DD - Concretamente, em relação à educação, o que tem a dizer?
AB - Em relação à educação, o que está no haver é a universalização. Todas as crianças, todos os jovens vão à escola, a escolarização é completa, a rede escolar cobre o País inteiro, toda a gente tem acesso à educação e à escola, não há barreiras definitivas. O apoio social é considerável, não é muito grande, mas é considerável, há bolsas de estudo, até mesmo para o ensino secundário e ainda mais no ensino superior. Isto é o que está no haver, está conseguido. Parece um lugar-comum, que é uma coisa simples. Não é. Para Portugal, não é. Portugal puxou o analfabetismo e a falta de educação até muito tarde, só nos finais nos anos 60, meados, nos finais dos anos 60, ainda no regime antigo, é que começou a haver qualquer coisa no sentido de estimular, fomentar a educação. Recordo que o programa do eng. Veiga Simão, quando foi ministro do Marcelo Caetano, era democratizar a educação. A democratização da educação começou ali. Mas, foi depois do 25 de Abril que as coisas atingiram a dimensão que atingiram. O que está no deve? Que os princípios inspiradores - a teoria geral, a estratégia, a organização filosófica, cultural e política da educação - deram errado. As modas efémeras, as modas pedagógicas, a inversão de tantas funções... o facto de hoje se dizer em Portugal - e creio que noutros países, não é um facto só português - "o importante são as competências, não é saber". Isto a meu ver é um erro. Há quem diga que é mais importante uma pessoa saber ler o horário do comboio ou a bula do medicamento do que ler Camões ou Platão. Isto é um erro. A democracia cultural e da educação é dar a toda a gente Platão, Aristóteles, Camões , seja o que for. Isso é saber. Substituir por competências é um erro. Dizer que na sala de aula são todos iguais, professores e alunos, é outro erro. Dizer que aprender é um prazer e não um trabalho e um esforço é outro erro. Estes princípios - dizer que a sala de aula é um sítio de aprendizagem, não um sítio de ensino - são outro erro. São estas inversões nos princípios que presidem à educação que a meu ver deram errado. E deram errado, vejam-se os resultados.
(Os negritos são meus)
Vou reproduzir aqui o que disse AB da educação e da justiça, porque entendo que as suas reflexões feitas são deveras importantes. Constituem uma boa base para pensar estes dois sistemas que são estrangulamentos determinantes do progresso deste País.
Para António Barreto é "no sistema educativo e na justiça" que se centram as suas maiores críticas quando olha para a sociedade portuguesa. Transcrevendo as reflexões sobre a educação:
DD - Concretamente, em relação à educação, o que tem a dizer?
AB - Em relação à educação, o que está no haver é a universalização. Todas as crianças, todos os jovens vão à escola, a escolarização é completa, a rede escolar cobre o País inteiro, toda a gente tem acesso à educação e à escola, não há barreiras definitivas. O apoio social é considerável, não é muito grande, mas é considerável, há bolsas de estudo, até mesmo para o ensino secundário e ainda mais no ensino superior. Isto é o que está no haver, está conseguido. Parece um lugar-comum, que é uma coisa simples. Não é. Para Portugal, não é. Portugal puxou o analfabetismo e a falta de educação até muito tarde, só nos finais nos anos 60, meados, nos finais dos anos 60, ainda no regime antigo, é que começou a haver qualquer coisa no sentido de estimular, fomentar a educação. Recordo que o programa do eng. Veiga Simão, quando foi ministro do Marcelo Caetano, era democratizar a educação. A democratização da educação começou ali. Mas, foi depois do 25 de Abril que as coisas atingiram a dimensão que atingiram. O que está no deve? Que os princípios inspiradores - a teoria geral, a estratégia, a organização filosófica, cultural e política da educação - deram errado. As modas efémeras, as modas pedagógicas, a inversão de tantas funções... o facto de hoje se dizer em Portugal - e creio que noutros países, não é um facto só português - "o importante são as competências, não é saber". Isto a meu ver é um erro. Há quem diga que é mais importante uma pessoa saber ler o horário do comboio ou a bula do medicamento do que ler Camões ou Platão. Isto é um erro. A democracia cultural e da educação é dar a toda a gente Platão, Aristóteles, Camões , seja o que for. Isso é saber. Substituir por competências é um erro. Dizer que na sala de aula são todos iguais, professores e alunos, é outro erro. Dizer que aprender é um prazer e não um trabalho e um esforço é outro erro. Estes princípios - dizer que a sala de aula é um sítio de aprendizagem, não um sítio de ensino - são outro erro. São estas inversões nos princípios que presidem à educação que a meu ver deram errado. E deram errado, vejam-se os resultados.
(Os negritos são meus)
Etiquetas: António Barreto, educação, Justiça