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2011-11-23

 

Reflexões sobre a crise na Europa... que veio por longo prazo

Natixis: Portugal e Grécia precisam de solidariedade


"O que deve ser feito com a Grécia e Portugal?" É este o título de um trabalho de análise económica do Natixis, que sublinha que as políticas correctivas aplicadas em Dublin, Paris, Madrid e Roma não funcionam em Atenas e Lisboa e que tem de se aceitar a ideia de federalismo - leia-se "solidariedade".
“Quanto maior é a espera pelo efeito das políticas correctivas de redução dos défices orçamental e externo na Irlanda, Espanha, Itália e França, maior é a dificuldade de acreditar que a Grécia e Portugal possam conseguir o mesmo”, sublinha uma nota de “research” do banco Natixis.

Segundo a análise, assinada por Patrick Artus, estes dois países têm um problema estrutural que existe há muito tempo, nomeadamente a incapacidade para equilibrarem o seu comércio externo devido à pequena dimensão do sector da exportação (mesmo incluindo os serviços ligados ao turismo e ao imobiliário). Esta situação, sublinha o estudo, levou ao endividamento privado e ao actual excessivo endividamento público.

A análise sublinha que os “remédios” propostos não são eficientes: o cancelamento de parte da dívida não evita que se acumule de imediato mais dívida; além disso, reduzir a procura interna (através de políticas orçamentais restritivas e corte de salários) de modo a eliminar a necessidade de empréstimos externos também seria, muito provavelmente, insustentável.

“A União Europeia terá de acabar por aceitar a ideia de que apoiar os Estados-membros através da transferência de rendimentos – ou seja, federalismo ou solidariedade – é a única solução”, defende Patrick Artus nesta sua análise económica.

Ao passo que se prevê que França, Espanha, Itália e Irlanda consigam reduzir ou eliminar os seus défices externos, o mesmo não se pode esperar da Grécia e de Portugal, salienta o “research” do Natixis.

“Há muito tempo que a Grécia e Portugal têm um problema com os seus défices externos e orçamentais, sendo que o problema fundamental é o do défice externo”, lê-se no estudo, que acrescenta que o défice externo surgiu nos dois países na segunda metade da década de 90 e que este se tem, tendencialmente, deteriorado desde então.

“O problema de base destes dois países é que o sector exportador (no sentido lato: indústria, turismo, serviços exportáveis) é demasiado diminuto em comparação com as suas necessidades de importação. Os excedentes no turismo ou noutros serviços estão muito longe de compensarem o défice de bens”, salienta a nota de análise.

Dado os juros pagos sobre a dívida externa, “podemos ver que a balança de transacções correntes deverá deteriorar-se tanto quanto a balança comercial”.

A condição de “periferia geográfica” destes dois países face ao centro da Zona Euro, a crónica escassez de inovação e a abundância de trabalhadores não qualificados, bem como o fraco nível de capital produtivo, não lhes permite equilibrar o comércio externo, refere o estudo.

Europa mantém "a ilusão de que a Grécia e Portugal conseguirão solucionar os seus problemas"

“Os líderes da União Europeia continuam a manter a ilusão de que a Grécia e Portugal conseguirão solucionar os seus problemas. Trata-se de uma ilusão. Os remédios apresentados não funcionam”, sublinha o autor do “research”.

Para Patrick Artus, a saída do euro por parte destes dois países e a desvalorização das suas novas moedas nacionais só iria agravar os seus problemas em matéria de défice externo. A procura interna nestes países teria de ser reduzida. “Atendendo ao peso das importações, o consumo interno teria de diminuir mais 30% na Grécia e 26% em Portugal, o que teria, obviamente, efeitos insustentáveis sobre o emprego”.

O estudo critica assim esta abordagem – como a procura nestes países supera a sua produção interna, devem reduzir essa procura para o nível da produção para eliminarem o défice externo - que tem vindo a ser sugerida pelas autoridades europeias e economistas alemães. “O custo social desta política seria inaceitável”, garante.

“Espanha, França, Itália e Irlanda têm de eliminar os seus défices excessivos e dispõem de meios para o fazerem. Mas é muito difícil imaginar que esse seja o caso na Grécia e em Portugal, atendendo à estrutura das suas economias. Os remédios habitualmente referidos (“haircut” sobre a dívida, desvalorização, melhoria da competitividade, redução da procura) não são suficientes e não permitirão que estes países se financiem”.

Qual poderá ser, então, a solução? O Natixis diz: “atendendo aos modestos requisitos para empréstimos nestes países, uma pequena dose de federalismo (solidariedade) seria suficiente para evitar uma materialização” da diminuição do poder de compra e dos subsequentes riscos políticos. “Esta é a solução usada para as regiões pobres e desindustrializadas em todos os países”, remata a análise.

Transcrito do "Jornal de Negócios"

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