2013-08-31
Quem são os réus na guerra da Síria?
Para o Ocidente, "desfalcado" agora do Reino Unido, porque os deputados dos trabalhistas e 70 outros do partido do próprio Cameron votaram no Parlamento inglês contra, para já, a entrada na guerra da Síria, "o réu" é o regime sírio.
John Kerry, qual falcão à Bush, não tem dúvidas; não precisa das conclusões dos inspectores da ONU. As armas químicas têm sido lançadas das "áreas controladas pelo governo e caíram na área sob controlo dos rebeldes".
Noutras esferas menos ortodoxas, subsistem dúvidas de que não haja também armas químicas no lado dos ditos rebeldes.Aliás existem indícios muito fortes nesse sentido.
O Ocidente, sem Reino Unido mas com a França de Hollande, mesmo com algumas dúvidas de Obama empurrado pelos falcões do seu governo, está de guarda prestes a avançar contras as decisões da ONU que não serão favoráveis a esta guerra, altamente complexa e cujos efeitos são de todo imprevisíveis.
O Ocidente, sem Reino Unido mas com a França de Hollande, mesmo com algumas dúvidas de Obama empurrado pelos falcões do seu governo, está de guarda prestes a avançar contras as decisões da ONU que não serão favoráveis a esta guerra, altamente complexa e cujos efeitos são de todo imprevisíveis.
Não me inclino para o regime sírio, mas menos ainda para a miscelânea dos ditos "rebeldes" onde até alinha a Al Quaeda, segundo algumas fontes que valem o que valem dispõe no terreno 2000 combatentes integrando os rebeldes.
Interessante mas que faz reflectir os EUA emparceirados com os destruidores das Torres Gémeas em 2001.
As voltas que o mundo pode dar por interesses muito perceptíveis, mas sem dúvida grandes interesses.
2013-08-30
Cameron ontem no Parlamento inglês
O primeiro ministro inglês foi ontem ao Parlamento tentar convencer os deputados a apoiarem a sua participação na guerra contra a Síria, ao lado dos EUA e da França.
David Cameron afirmou nas suas intervenções que ainda não estava completamente provado que as forças armadas da Síria tivessem utilizado armas químicas.
Mas como ele estava convencido pedia a devida autorização para entrar na guerra.
De certo modo já entrou, pois vários caças britânicos já foram enviados para a zona ou mais concretamente para Chipre.
Acontece que Cameron levou uma sova e o parlamento não lhe deu luz verde para já.
Os Inspectores da ONU, segundo alguma comunicação social mundial mais isenta, estão em dificuldades de provar que o uso das armas químicas tem sido das forças armadas ou dos ditos rebeldes ou então ambos os lados têm feito uso delas.
Mas para o Ocidente é preto no branco: quer atribuir o uso pelas tropas sírias para justificar a invasão.
O Ocidente considera-se a polícia do mundo com os EUA ao comando.
Afinal, com Obama ou com Bush neste aspecto as diferenças esvoaçam.
A própria decisão do parlamento britânico, apesar de alguns deputados terem actuado de perfeita consciência dizendo aquilo que pensam tem muito jogo escondido e se a guerra avançar como tudo indica ainda vamos ver os trabalhistas a dar a volta e a apoiar a invasão. Foi apenas um compasso de espera para que Cameron averbasse uma derrota..
2013-08-29
Síria. O tema trouxe 1.100 visitas em 2 dias
Potenciado pelo Facebook o Puxapalavra foi muito visitado. 600 visitas a 27/Agosto e 500 a 28. O post sobre a Síria teve no Face 117 (94 + 23) partilhas. A perspectiva de um novo "Iraque" é assunto que desperta muito interesse e... a máxima apreensão.
2013-08-27
Por razões de estupidez, Damasco usou o gás sarin para facilitar a invasão do país
Parece que o mundo livre e o seu
comandante, os EUA, já decidiram invadir
a Síria. Diz o vice-presidente Kerry e diz David Cameron que só falta saber a
hora e como.
Estava anunciado há muito que, se
o regime sírio usasse armas químicas contra os rebeldes, os EUA não tinham
outro remédio senão intervir militarmente, derrubar, o actual governo, em defesa da
liberdade e da democracia.
O governo de Damasco, sabendo
isto, e estando desde há meses na mó de cima na luta contra os insurgentes sírios,
decidiu por razões de estupidez, atacar um bairro dos arredores da capital com
gás sarin e assassinar indiscriminadamente 1300 civis, incluído muitas crianças
que a imprensa, TVs e Internetes de todo o mundo mostraram revoltando contra
Damasco a humanidade (que lê ou vê estas notícias) que em uníssono não só apoia
como exige aos EUA e à UE o derrube de Bashar Al-Assad que sem o parecer é
afinal um Sadan Hussein.
Veio mesmo a calhar porque a
decisão de intervir já estava em preparação mas era necessário ter o apoio da massa
ignara que dá os votos de vez em quando.
Talvez, talvez, talvez, que daqui
por uns anos, quando a administração norte-americana, vencidos os prazos, abrir
à consulta a sua documentação secreta, lá venha a informação que hoje nos
escapa : os serviços secretos israelitas,
a pedido da CIA, forneceram a uma célula da Al Qaeda X doses de gás sarin para ajudar
os nossos amigos, democratas e amantes da liberdade, a verem-se livres do horrível
ditador Bashar Al-Assad eliminando uns 1300 desgraçados, nos arredores de
Damasco. Infelizmente havia muitas crianças mas paciência. Ou tanto melhor, dado
que uma muito bem conseguida campanha de
informação atribuiu a responsabilidade do crime ao presidente da Síria.
Talvez. Talvez. Não é que o campo
oposto não fosse capaz de um crime daquele jaez mas os ideais do imperialismo apenas
se medem em dólares ou euros, petróleo ou outras riquezas naturais. É claro que
já não vivemos tempos tão propícios aos mandantes e poderosos como aqueles em
que aniquilaram milhões de seres humanos para lhes roubarem tudo, como sucedeu,
por exemplo, na conquista das Américas, ao ponto de povos e civilizações
inteiras terem sido totalmente dizimados. Depois a ”nobreza do dinheiro” teve de se ir conformando com as conquistas da
plebe, consequência de grandes e vitoriosas lutas do “terceiro estado” e tem de lidar com essa chatice das eleições e
dos votos. Mas conseguiram, controlando a educação, a comunicação social, corrompendo,
mentindo, falsificando, por vezes de forma tão monstruosa que ninguém de boa
consciência pode sequer admitir que se trate de falsidades.
Na realidade não sei quem cometeu
o crime monstruoso nos arredores de Damasco. É certo que já
em Maio passado, a ex-Procuradora do
Tribunal Penal Internacional e membro da comissão de inquérito da ONU sobre as
violações dos Direitos Humanos na Síria, Carla del Ponte dissera, numa
entrevista à Rádio Suíça italiana que: "De acordo com as provas que
recolhemos, os rebeldes utilizaram armas químicas, fazendo uso do gás
sarin" [Link].” Mas se ele só
aproveitaria a quem quer a intervenção militar, admitindo que Damasco não é um
manicómio, tudo parece apontar para uma operação montada para justificar a
intervenção armada na Síria. Mas seriam as potências ocidentais, cristãs,
democratas, paladinas da defesa dos direitos humanos, capazes de uma monstruosidade
destas, numa atitude de "os fins justificam todos os meios"?
O que se passou com o Iraque, as
provas forjadas, ou apenas enunciadas das armas nucleares que o Iraque tinha,
provas tão evidentes que até Durão Barroso as viu nas mãos de W. Bush deixa
qualquer pessoa no seu juízo de pé atrás com as políticas dos imperialistas.
Afinal o truque se é que esta
chacina é de facto uma armadilha, é velho. Em 1939 Hitler vestiu umas fardas
polacas a militares alemães despejou-os do outro lado da fronteira, na Polónia,
eles dispararam uns tiros para o lado de cá, contra a pátria sagrada dos nazis e
Hitler cheio de razão e apoiado por muitos alemães, justamente indignados com o
traiçoeiro ataque dos polacos, invadiu a Polónia e foi por aí fora acabando a
suicidar-se 6 anos e 50 milhões de mortos depois, no Reichstag. Já antes Hitler
tinha mandado incendiar o Reischtag (o Parlamento) para acusar do crime os comunistas
alemães e assim, com a moral do seu lado, ilegalizar o PC alemão e de caminho
os socialistas.
Os EUA também necessitaram de uma
justificação moral, para iniciar a invasão do Vietnam do Norte. E a justificação surgiu. Em 1964, uns tiros
disparados contra navios de guerra norte-americanos junto à costa
norte-vietnamita, que logo ali ficou provado ser de canhões do Vietnam do Norte “obrigaram” os Estados
Unidos a invadir aquele país. Foi a primeira guerra em que os EUA foram derrotados, mas depois de milhões de vietnamitas mortos e de um país destruído.
As guerras de rapina por vezes,
no curto prazo, dão prejuízo financeiro. Mas é ao país! Os custos são pagos pelo
contribuinte mas os grandes, os gigantescos, os inimagináveis lucros da pilhagem são de quem
investiu… na guerra.
Não sei se a realidade da Síria é
esta que aqui apresento. Mas não me espantaria. Não é nada que não possa ser
feito por quem apoiou a criação do exército taliban no Afeganistão, por quem foi protetor e
apoiante da Al Qaeda (parceria EUA/Arábia Saudita/Paquistão. Os EUA deu a formação, a Arábia Saudita o dinheiro e o Paquistão as bases de treino). Era para combater
o regime de Bashar Al-Assad "amigo dos russos", e lhes permitiu uma base naval no Mediterrânio. O regime sírio é para Washington uma ditadura má muito diferente do da Arábia Saudita que é uma ditadura boa. É certo que o regime sírio, ao contrário do que se passa no reino da familia Saud, eliminou a escravidão das mulheres que podem andar na rua sem a trela de um homem, têm os mesmos direitos que os homens, nomeadamente no ensino, na saúde, podem eleger e ser eleitas. A Síria proibiu na Constituição a lei islâmica da sharia. Mas compra armas aos russos em vez de ser aos EUA, não permite a privatização da única companhia de petróleo síria e pior que tudo não deixa passar pelo seu território o grande gasoduto que devia partir do Qatar para a Europa e libertar esta da dependência do gás e dos gasodutos que vêm da Rússia.
Para derrubar este maldito regime - vá lá compreendam - vale tudo.
Para derrubar este maldito regime - vá lá compreendam - vale tudo.
2013-08-26
David Cameron quer invasão da Síria, já!
David Cameron interrompeu
hoje as férias para exigir, em Londres, a intervenção militar na Síria, já.
"Mesmo sem o acordo da ONU" chegando-lhe como prova da autoria da matança de
1300 civis, nos arredores de Damasco, com gás sarin, pelo governo Sírio, as
certezas que W. Bush, Blair, Aznar e Durão Barroso tinham sobre as armas
nucleares do Iraque. Posição próxima tem a França e a Alemanha coloca como
questão prévia saber se foi de facto o regime sírio o autor da chacina.
O assassínato dos 1300 civis
nas proximidades de Damasco, dos quais grande parte crianças, com o gás sarin
tanto poderá ter sido cometido pelas autoridades de Damasco como por um
qualquer dos grupos terroristas do fundamentalismo islâmico que atua ao lado
dos oposicionistas, incluído a Al Qaeda, talvez, quem sabe, com a ajuda amiga
de serviços secretos de Israel ou dos países do “Ocidente“ mais sensíveis aos
"direitos humanos" .
Não poria as mãos no fogo
por nenhum dos lados. O governo da Síria, o Irão, os xiitas, o Hezebolah, os alauitas,
ou a Rússia tendem à priori a culpar os
rebeldes pelo assassínio em massa do seus compatriotas. Pelo outro lado, os EUA,
o Reino Unido, a França, a Turquia, Israel, a Arábia Saudita e outros países
árabes sunitas, “sabem”, uns mais que outros, conforme os seus interesses, que
foi o governo de Bashar a Al-Assad a usar armas químicas. Do lado desta
barricada está a maior parte da comunicação social a que temos acesso.
Ainda espero que a inspeção
internacional ao local do crime apure a verdade, se é que consegue, se é que
quer. Mas não estou otimista.
No entanto, para se chegar à
mão dos criminosos um bom critério é o de saber a quem aproveita o crime e
quanto a isto… vejamos:
Ainda que sem grande
convicção os EUA, chamuscados no Iraque e no Afeganistão, avisam que o uso de
armas químicas é o limite que transposto pelo governo de Damasco obrigará os
EUA a intervir militarmente.
Neste quadro internacional atribuir
o uso do gás sarin a Al - Assad, vem mesmo a calhar para os rebeldes pressionarem
a intervenção do “Ocidente” no derrube do governo Sírio. Ser este a usar o gás
sarin, numa tal orgia do horror, só poderia ser estupidez ou estado de
necessidade face a forças militares inimigas à beira da vitória, o que não
acontece, pelo contrário.
Notícias da
Reuters (BEIRUTE, 24 Ago )dizem que “a TV estatal síria informou que soldados
encontraram agentes químicos em túneis de rebeldes em um subúrbio de Damasco,
neste sábado, e alguns soldados estavam "sufocando".
“… Um alto funcionário de desarmamento da ONU chegou a Damasco neste sábado
para pressionar pelo acesso de inspetores ao local do ataque e os Estados
Unidos estavam realinhando suas forças navais na região para dar ao presidente
Barack Obama a opção de um ataque contra a Síria.
“Relatos da
oposição síria apontam que entre 500 e mais de 1.000 civis foram mortos por gás
colocado em munições lançadas por forças leais ao presidente Bashar al-Assad.” (Link
)
No entanto, já em Maio
passado, a ex-Procuradora do Tribunal Penal
Internacional e membro da comissão de inquérito da ONU sobre as violações dos
Direitos Humanos na Síria, Carla del Ponte
dissera numa entrevista à Rádio Suíça italiana que: "De acordo com as
provas que recolhemos, os rebeldes utilizaram armas químicas, fazendo uso do
gás sarin", na madrugada de hoje.” (Link ).
O regime sírio está longe de pertencer ao grupo dos países árabes extremistas onde metade dos nacionais - as mulheres - vive em semi-escravidão e a democracia e a justiça é a da sharia. O regime autoritário e corrupto sírio, onde as liberdades estão longe de estar garantidas, , está, no contexto do mundo árabe, entre os menos maus. É uma regime secular, laico, onde as diferentes religiões têm convivido em paz. Uma intervenção militar do Pentágono com o aplauso entusiasta do Sr Cameron visa tudo menos a instauração dos direitos humanos com cuja ausência convivem fraternalmente na Arábia Saudita e noutros países árabes “amigos”, e conduziria muito provavelmente a um regime mais ou menos confessional onde os democratas e os que lutam pela liberdade rapidamente seriam submersos pelo fundamentalismo islâmico, sunita ou xiita.
O regime sírio está longe de pertencer ao grupo dos países árabes extremistas onde metade dos nacionais - as mulheres - vive em semi-escravidão e a democracia e a justiça é a da sharia. O regime autoritário e corrupto sírio, onde as liberdades estão longe de estar garantidas, , está, no contexto do mundo árabe, entre os menos maus. É uma regime secular, laico, onde as diferentes religiões têm convivido em paz. Uma intervenção militar do Pentágono com o aplauso entusiasta do Sr Cameron visa tudo menos a instauração dos direitos humanos com cuja ausência convivem fraternalmente na Arábia Saudita e noutros países árabes “amigos”, e conduziria muito provavelmente a um regime mais ou menos confessional onde os democratas e os que lutam pela liberdade rapidamente seriam submersos pelo fundamentalismo islâmico, sunita ou xiita.
Impõe-se,
isso sim, o uso de todos os meios de pressão políticos não militares que
conduzam a uma negociação com vistas a mais liberdade e mais democracia. No
contexto do mundo árabe toda a prudência não é demais.
_____________________
Síria:
Área: 185.000
Km2 (quase duas vezes Portugal).
População: 22.457.336 (2013). Árabes 90.3%, Kurdos, Armenios e
outros 9.7%.
Idade média da
população: 22,7
anos (Portugal 40,7)
Mortalidade
infantil por 1000 nascimentos: 14,63 (Portugal 4,54, EUA 5,9)
Religião: Sunitas 74%, outros islamitas incluindo alauitas, druzos: 16%,
Cristãos vários: 10%, Judeus: pequenas comunidades em Damasco, Al Qamishli, e
Aleppo.
PIB per capita: 5.100 dólares,
em 2011 (Portugal 23.800 dólares, em 2012)
Serviço militar obrigatório para os homens 18 meses a partir dos 18 anos.
As mulheres podem prestar servico militar voluntário [Link ]
2013-08-24
"Papéis de Trabalho" da IGF. Coitados, ainda não usam computadores...
Os
"papéis de trabalho" da IGF sobre os contratos swaps foram "destruídos".
Papéis? Então as novas tecnologias não chegaram ao Ministério das
Finanças? Os inspetores andaram a escrever à mão em "papéis"? Não há um
computadorzinho? Um disco externo (no mínimo)? Onde está o suporte
informático? Também é destruído ao fim de 3 anos? Ninguém fez um "save
us"? A legislação arquivistica continua em vigor sem ter em conta que já
não é preciso "papéis"?
Sim...e eu, neste momento, estou a escrever numa máquina mecânica de teclado HCESAR e a seguir vou perfurar uma fita de telex.
Pois, quem anda aos "papéis" somos nós, já me tinha esquecido.
_________
A minha amiga Lília esqueceu-se do título para o seu post? Coloquei este que ali está agora. Não sei é se ela o aceita. O remédio é colocar outro :)
RN
Sim...e eu, neste momento, estou a escrever numa máquina mecânica de teclado HCESAR e a seguir vou perfurar uma fita de telex.
Pois, quem anda aos "papéis" somos nós, já me tinha esquecido.
_________
A minha amiga Lília esqueceu-se do título para o seu post? Coloquei este que ali está agora. Não sei é se ela o aceita. O remédio é colocar outro :)
RN
Do preservativo do velho regime aos "briefings" (suspensos) do actual regime de Passos/Portas
Num estudo "Os Segredos da Censura", publicado em 1996, César Príncipe, ilustre jornalista e escritor, apelidou este aparelho de repressão fascista, muito "burilado" por Salazar desde o início do Estado Novo, de "preservativo do regime". É uma designação feliz e de grande humor. Na realidade, como bem refere Irene Pimentel, num ensaio sobre a censura integrado na obra "Vítimas de Salazar", com a censura pretendeu Salazar "fazer de Portugal um país de ficção".
Mas Salazar não se contentou em criar este aparelho de censura prévia. Foi mais além, defendeu a criação de um "gabinete" de informações, uns briefings "escritos", a que os jornalistas poderiam recorrer para melhor desempenho das suas funções de informação. A criação deste gabinete não substituía a censura prévia, complementava-a com uma função de cariz mais ideológico, combate de ideias na defesa do corporativismo como sistema e ataque às ideias de teor marxista.
Se raciocinarmos um pouco não há assim tanta diferença entre os briefings de Lomba/Maduro em termos de objectivos e aqueles que faziam animar Salazar, dar uma imagem virtual do país, onde tudo corre para um futuro risonho.
Ainda ontem o deputado do PSD, Duarte pacheco sobre o descalabro das contas públicas dizia que tudo vai no sentido do programado pelo governo quando a execução orçamental foi um buraco e dos grandes. Só os impostos de confisco aos rendimentos das pessoas aumentam e os impostos resultantes da actividade económica como o IVA caem fortemente e a dívida pública se afunda. Os briefings, embora de má memória para o governo porque só deitaram abaixo ministros e secretários de estado ou então aprofundaram a crise entre PSD e CDS tinham esses objectivos: "dourar a pílula" da situação de Portugal, um Portugal que não existe.
2013-08-14
Toxidependência das finanças públicas
Mário Vieira de Carvalho é musicólogo mas não sabe menos da política. Ei-lo, assertivo e didático, no Público (2013-08-12). A não perder.
Toxidependência das finanças públicas
Toxidependência das finanças públicas
Mário Vieira de Carvalho
"Os cartéis da banca tornaram-se a maior ameaça com que se debatem atualmente países e governos do mundo inteiro. Foi nisso que deu a embriaguez, sem regras, da globalização. Tal como os cartéis da droga, os cartéis da banca geram o tráfico, os traficantes e a toxicodependência.
Já era conhecida a promiscuidade que torna impossível distinguir as linhas de fronteira entre os interesses de uns e de outros (além do mais, a cocaína é coisa que jamais escasseou entre os executivos de Wall Street!). Mas o que está agora em causa é muito mais do que isso: é a transposição para o setor financeiro da mesma lógica que rege o tráfico de droga. Com a agravante de o efeito letal para a humanidade ser muito mais profundo e global. Comparados com os traficantes da banca, os traficantes de droga não passam de uns pobres diabos. Nunca, como hoje, se comprovou tão flagrantemente o verso de Brecht, segundo o qual - considerada a dimensão do - o assalto a um banco nada é, com a fundação de um banco!...
Com efeito, os cartéis financeiros que hoje dominam o mundo conseguiram em poucos anos não só agravar a fome e a miséria onde elas já existiam, como também expropriar do património, do emprego, da esperança de vida, do futuro, milhões de famílias. São os motores de um conceito de crescimento que exaure os recursos naturais, destrói os ecossistemas e compromete perigosamente a longo prazo a viabilidade da própria vida humana. Capturam o poder político e põem-no a trabalhar para os seus negócios especulativos milionários. Forçam-no à suspensão da democracia e das garantias constitucionais, em nome duma nova prioridade absoluta imposta aos Estados: servir os interesses da banca. Eis em que consiste a chamada "crise das dívidas soberanas".
Quem confessa o crime são os próprios cartéis da finança, que encontraram o nome certeiro para o material que traficam: "produtos tóxicos". Inicialmente destinavase a conter os estragos da chamada "bolha imobiliária", mas hoje é claro que se aplica a um largo leque de operações de engenharia financeira.
Transferidos da posição de pequenos e médios funcionários dos grandes bancos internacionais para gestores de empresas públicas, secretários de Estado e ministros, aqueles que ontem vendiam passam agora a comprar. Só o negócio, os beneficiários e os patrões é que não mudam.
Este estado de coisas inscreveu-se de tal modo no senso comum como uma espécie de "segunda natureza" que ninguém - nem mesmo gente acima de toda a suspeita, bafejada pela sorte - assume qualquer espécie de escrúpulo quando é confrontada com a possível incompatibilidade entre as responsabilidades do governo e a suspeita de favorecimento ("capital económico" acumulado graças a "capital social"). Eram operações "normais", dizem, agora apenas salpicadas pela lama da gestão danosa que veio depois... Mas, enquanto os ganhos foram privatizados, os prejuízos foram "nacionalizados", repartidos pela generalidade dos cidadãos... Assim se fazem as coisas.
O próprio Tribunal de Contas não escapa a esta enxurrada que arrasta consigo o que restava dos valores do bem comum e do serviço público. Não perde uma ocasião para lançar dúvidas sobre a sustentabilidade do Estado social - como ainda recentemente se viu a respeito de uma "derrapagem" de 80 milhões na Saúde. Mas não se lhe ouve um balbúcio quando o chamado "Ministério" das Finanças paga 480 milhões de euros aos gigantes da banca pela "ajuda à colocação dos títulos de tesouro" nos "mercados": seis vezes mais do que a "derrapagem" na Saúde e mais de metade do que se pretende cortar nas pensões! Estas é que são as "boas contas" conformes à Constituição da República?"
"Os cartéis da banca tornaram-se a maior ameaça com que se debatem atualmente países e governos do mundo inteiro. Foi nisso que deu a embriaguez, sem regras, da globalização. Tal como os cartéis da droga, os cartéis da banca geram o tráfico, os traficantes e a toxicodependência.
Já era conhecida a promiscuidade que torna impossível distinguir as linhas de fronteira entre os interesses de uns e de outros (além do mais, a cocaína é coisa que jamais escasseou entre os executivos de Wall Street!). Mas o que está agora em causa é muito mais do que isso: é a transposição para o setor financeiro da mesma lógica que rege o tráfico de droga. Com a agravante de o efeito letal para a humanidade ser muito mais profundo e global. Comparados com os traficantes da banca, os traficantes de droga não passam de uns pobres diabos. Nunca, como hoje, se comprovou tão flagrantemente o verso de Brecht, segundo o qual - considerada a dimensão do - o assalto a um banco nada é, com a fundação de um banco!...
Com efeito, os cartéis financeiros que hoje dominam o mundo conseguiram em poucos anos não só agravar a fome e a miséria onde elas já existiam, como também expropriar do património, do emprego, da esperança de vida, do futuro, milhões de famílias. São os motores de um conceito de crescimento que exaure os recursos naturais, destrói os ecossistemas e compromete perigosamente a longo prazo a viabilidade da própria vida humana. Capturam o poder político e põem-no a trabalhar para os seus negócios especulativos milionários. Forçam-no à suspensão da democracia e das garantias constitucionais, em nome duma nova prioridade absoluta imposta aos Estados: servir os interesses da banca. Eis em que consiste a chamada "crise das dívidas soberanas".
Quem confessa o crime são os próprios cartéis da finança, que encontraram o nome certeiro para o material que traficam: "produtos tóxicos". Inicialmente destinavase a conter os estragos da chamada "bolha imobiliária", mas hoje é claro que se aplica a um largo leque de operações de engenharia financeira.
Transferidos da posição de pequenos e médios funcionários dos grandes bancos internacionais para gestores de empresas públicas, secretários de Estado e ministros, aqueles que ontem vendiam passam agora a comprar. Só o negócio, os beneficiários e os patrões é que não mudam.
Este estado de coisas inscreveu-se de tal modo no senso comum como uma espécie de "segunda natureza" que ninguém - nem mesmo gente acima de toda a suspeita, bafejada pela sorte - assume qualquer espécie de escrúpulo quando é confrontada com a possível incompatibilidade entre as responsabilidades do governo e a suspeita de favorecimento ("capital económico" acumulado graças a "capital social"). Eram operações "normais", dizem, agora apenas salpicadas pela lama da gestão danosa que veio depois... Mas, enquanto os ganhos foram privatizados, os prejuízos foram "nacionalizados", repartidos pela generalidade dos cidadãos... Assim se fazem as coisas.
O próprio Tribunal de Contas não escapa a esta enxurrada que arrasta consigo o que restava dos valores do bem comum e do serviço público. Não perde uma ocasião para lançar dúvidas sobre a sustentabilidade do Estado social - como ainda recentemente se viu a respeito de uma "derrapagem" de 80 milhões na Saúde. Mas não se lhe ouve um balbúcio quando o chamado "Ministério" das Finanças paga 480 milhões de euros aos gigantes da banca pela "ajuda à colocação dos títulos de tesouro" nos "mercados": seis vezes mais do que a "derrapagem" na Saúde e mais de metade do que se pretende cortar nas pensões! Estas é que são as "boas contas" conformes à Constituição da República?"
O artigo apanhei-o aqui.
2013-08-09
Este goveno recauchutado em Belém continua em putrefacção continuada
Há uns dias largos que não me tem apetecido mesmo nada escrever. Hoje resolvi falar deste governo que se encontra, apesar da recauchutagem recente lá pelos lados de Belém, em estado avançado de decomposição que até obriga o PM ou pensa ele que o obriga a correr para Lisboa interrompendo as suas certamente ricas férias a tentar colar alguns cacos. Fez mal porque cada vez mais a coisa parece não ter saída.
Mas angustia-me pensar em quem pode pegar na "coisa" e até olhando para as últimas sondagens parece-me que infelizmente não estarei só. O eleitorado ou sendo mais exacto boa parte do eleitorado já percebeu que embora tudo seja melhor sem este governo a nos desgovernar, não vê alternativas credíveis. Daí não mostrar indicações claras. Falar de "governo de esquerda" é um mito. Para romper com o governo da tróika que eu defendo é preciso ter alternativa ou se quisermos duas, uma na tentativa da ruptura continuando no Euro e outra em último caso saindo do Euro que não advogo. Nenhuma destas hipóteses está minimammente conceptualizada de forma que um cidadão normal adira por conhecimento, compreensão. Dizem-se umas palavras aqui e ali sem substância. O PS por seu lado ora namora ora se zanga com o namorado. Esteve "à vista", penso eu a tal "salvação nacional" que acho mais próprio apelidar de funeral. E continua tudo como dantes. Também ninguém vê o caminho do PS para a saída do atolamento em que Portugal se encontra. Daí que nos encontremos numa fase muito crítica da vida do pais.As esquerdas até parece que não fzem esforço em detectar algo que possa ser comum e base de partida. As esquerdas como estão a agir não cumprem os mínimos.
2013-08-05
SWAP - tal ministra tal secretário de Estado
Joaquim
Pais Jorge é o novo secretário de estado do Tesouro, escolhido pela ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, que a decência obrigaria a
imediata demissão de ambos pela sua ligação aos negócios dos swap. Até 27/06/2013 o governo renegociou alguns swap, antecipando o seu fim tendo para tal entregue mil milhões de euros
aos bancos que os impingiram a empresas públicas a troco de nada. Se o contrato
fosse com os eleitores, o governo invocava a crise e, é claro, não pagava,
mas como o governo é o governo dos mercados, pagou. Pagou mas com o nosso dinheiro, obtido com os subsídios que nos roubou , com mais impostos e novas taxas. E a
conta ameaça chegar aos 3 mil milhões.
O
Governo de Passos/Portas/Cavaco ou de Cavaco/Portas/Passos, se preferirem,
resiste a demitir Joaquim Pais Jorge. Em especial a ministra das Finanças e percebe-se bem porquê, ela própria também contratou swap quando esteve na REFER.
Em
Abril deste ano foram demitidos do Governo dois secretários de Estado, Paulo Braga Lino, da
Defesa, e Juvenal da Silva Peneda, adjunto do ministro da Administração
Interna, por terem feito contratos swap quando
diretores na Metro do Porto e na STCP.
A situação deste secretário de Estado é diferente das dos outros? É. Os outros foram compradores e este era vendedor e vendedor que tenta convencer oferecendo ao governo português a oportunidade de uma fraude.
Então é diferente
a situação de Joaquim Pais Jorge? É. Cada caso é um caso e o dele não parece
ser eticamente melhor.
Enquanto os
secretários de estado demitidos tinham nas anteriores funções celebrado contratos
swap com bancos Joaquim Pais Jorge tentou nas suas funções de quadro superior do Citibank convencer
, ainda que sem sucesso, o governo de Sócrates a realizar esses “excelentes” contratos
. Excelentes para o Citibank, claro, e como bónus informava que isso permitia,
como fez o governo grego, esconder aos olhos da União Europeia, parte da dívida
do Estado.A situação deste secretário de Estado é diferente das dos outros? É. Os outros foram compradores e este era vendedor e vendedor que tenta convencer oferecendo ao governo português a oportunidade de uma fraude.
Os contratos de swap
ditos bons são contratos de seguro de juros. A empresa A pede emprestado ao
banco X, a 10 anos, 500 milhões de euros ao juro corrente, digamos 4%. Mas o
juro é variável e pode subir ou descer conforme o spread.
Se a empresa receia que o juro pode subir e subir muito nos anos
seguintes pode fazer um swap pelo qual troca o juro variável por um juro fixo
mais alto que o contratado, mas dentro de um limite que lhe permita pagá-lo. Os
swap se não forem “simples” tornam-se complexos!! e são em geral tóxicos.
Tóxicos para quem os compra e voluptuosamente “salutares” para os bancos que os
vendem. Para isso contratam especialistas financeiros e matemáticos
para inventarem a melhor e mais indecifrável
fórmula que garanta ganhos para o banco
10 ou 20 vezes maiores do que os que possam ocorrer para o comprador se a
evolução dos juros for favorável a este.
A partir de certa
altura, uma análise da situação política na UE tornava claro que a tendência dos
juros na zona euro era para descer. Contratar swaps nestas circunstâncias era
mais ou menos como contratar em Dezembro
chuvoso um seguro contra o risco de
Janeiro e Fevereiro se apresentarem secos como o Saara.
Os Swaps tóxicos e
complexos (para esconder a “toxidade”) são portanto negócios de apostas de
eficácia garantida para os bancos que os inventam.
Por exemplo num swap tóxico mas não complexo para melhor o “vermos” a fórmula e as cláusulas podem incluir:
se chover 20 dias seguidos no deserto do Calaari (um desgraçado de deserto, no sul de África, onde chove 3 dias por ano de 4 em 4 anos) o banco paga 10 milhões ao comprador mas se tal não ocorrer o comprador paga 100 milhões ao banco. Há compradores para um swap assim? Não. Mas se o dinheiro da compra for do Estado e o banco, sempre pronto a tratar bem os clientes, oferecer ao gestor, não uma agenda, mas uma volta ao mundo, nas férias... o gestor recusa e denuncia o caso à judiciária. Ou não, e dá o passeio. Depende do gestor. Cada caso é um caso.
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Nota: hoje, dia 6 de Agosto, vi aqui um vídeo que ilustra o que aqui foidito.
Por exemplo num swap tóxico mas não complexo para melhor o “vermos” a fórmula e as cláusulas podem incluir:
se chover 20 dias seguidos no deserto do Calaari (um desgraçado de deserto, no sul de África, onde chove 3 dias por ano de 4 em 4 anos) o banco paga 10 milhões ao comprador mas se tal não ocorrer o comprador paga 100 milhões ao banco. Há compradores para um swap assim? Não. Mas se o dinheiro da compra for do Estado e o banco, sempre pronto a tratar bem os clientes, oferecer ao gestor, não uma agenda, mas uma volta ao mundo, nas férias... o gestor recusa e denuncia o caso à judiciária. Ou não, e dá o passeio. Depende do gestor. Cada caso é um caso.
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Nota: hoje, dia 6 de Agosto, vi aqui um vídeo que ilustra o que aqui foidito.
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Etiquetas: ministra das finanças., secretário de estado do Tesouro, SWAP
2013-08-03
Não deixemos que nos roubem