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2008-03-31

 

Gama, o homem em foco

... Quantas explicações, quantas leituras?!

Espero que não se utilize aquele argumento, sempre à mão, de que o grande elogio de Gama a Alberto João apenas aparece assim tratado na comunicação social, porque retirado do contexto ...

Que não se diga que Gama falou como Presidente da AR, o que significaria insinuar que, nessa qualidade, lhe seria permitido dizer "tudo" o que disse de Jardim como o "símbolo" da democracia.

Que enfim não se diga Gama emissário de Sócrates para fazer a ponte, embora haja muita gente destacada ou que se destaca para essa missão. Muitos, muitos mesmo!

Gama incomodou toda a gente que minimamente se opõe, politicamente, a Jardim. Incomodou o PS/M que reagiu forte e o PS nacional que ficou mudo.

A Gama só faltou dizer de Jardim que teve uma vida exemplar de defensor da democracia na Madeira. Não esteve muito distante. Gama esqueceu no seu discurso o 25 de Abril. Para a Madeira não foi "preciso" porque tudo foi obra de Jardim. Uma "Bela e Longa História!. "


2008-03-28

 

Como nós (11)


José Pacheco Pereira deu-se ultimamente a um exercício de autovitimação comovente. É, pelo menos, uma boa receita para enfrentar dificuldades. O tom marcial dos seus primeiros textos a apoiar (às vezes até parecia que estava a incitar) a invasão do Iraque, ficou por conta dos excessos de linguagem; o seu grau de convencimento da "oportunidade" que a "guerra global contra o terrorismo", perdeu-se nas metamorfoses cíclicas da terminlogia geoestratégica; a sua incapacidade de levar em linha de conta o que Alan Greenspan aponta como autêntica motivação de guerra, é desvalorizada. Fica-se, até, com a impressão que JPP sabe melhor do que está a falar do que o Chairman da Reserva Federal dos USA...


Todavia, se lerem a entrevista que JPP deu ao Diário Económico [ver aqui] no ano passado, não encontram uma única referência à Guerra do Iraque.


Quer dizer: o autovitimado, de um modo ou de outro, ditou os termos da entrevista. Falaram de quase tudo. Da Guerra do Iraque é que não.


Com vítimas assim, os poderosos tremem.


Reparem que nem mesmo George Bush se pode dar a esse luxo!


2008-03-27

 

Ainda a respeito da descida do IVA ...

... Entendo que esta medida vale mais pelo simbolismo do que pelo impacto real no bolso das pessoas. Considero que as empresas até poderão beneficiar mais que os cidadãos e do apelo do Senhor Ministro das Finanças para que as empresas cumpram as regras de mercado ... enfim, fica o registo. ... não chega. E se o governo não estiver atento. ...

Sempre discordei do aumento do IVA, dizendo que havia outros instrumentos para combater o défice excessivo herdado. O Governo não foi por esse caminho. Agora, que felizmente se gerou alguma folga e margem de manobra, há que retomar um caminho inverso com alguma prudência. O IVA é aquele imposto mais abrangente e como tal mais fácil e até de maior agilidade sobre que actuar. para que o comum dos mortais comece a sentir os impactos. Mas só quando se voltar ai uns17%.de IVA, esse efeito será visível. Então muito caminho há ainda para percorrer. Só que atenção há que aliviar o peso sobre aqueles que suportaram esta redução, com prudência é claro, mas com arrojo orientado por razões de equidade social - onde a recuperação do poder de compra e do nível de vida são condições essenciais a ter como objectivos.


2008-03-26

 

Hoje há muita matéria para conversa

Foi mais um Portugal-Grécia, onde mais uma vez Portugal fez fraca figura não pelo resultado mas porque demonstrou estar muito mal preparado para o Europeu.

Foi o anúncio da baixa do IVA em 1%, onde já se conhecem imensas reacções, na sua maioria a acusar o governo de oportunismo eleitoralista.

É a publicitação do défice de 2,6% em 2007, abaixo e bastante do previsto.

É o governo a dizer que a crise do défice está vencida.

Nada disto é assim tão linear.
Alguns comentários: Mais importante que a baixa do IVA é, sem dúvida, a redução do défice, embora se deva colocar a questão: atingiu-se uma situação sólida?

A resposta passa por se perceber como se atingiu a redução do défice que ao contrário do que tenta fazer passar o governo (reconhecendo que foi introduzida maior racionalidade nas despesas), há que ver que as contas públicas foram equilibradas sobretudo pelo lado das receitas públicas - aumento de impostos, combate à fuga fiscal e não aumento de salários de acordo pelo menos com a taxa de inflação quando não congelamento mesmo dos vencimentos e pensões.

Se não continuar o rigor e a disciplina orçamental, a situação pode ter um reverso. De qualquer maneira é de aplaudir a baixa do IVA e o pais está melhor e com mais margem com este défice.

Mas era bom que houvesse uma mudança de filosofia e que o peso deste custo, por uma questão de equidade social, passasse a ser melhor distribuido.


 

Um artigo interessante a merecer reflexão

Não sei se está disponível para link, pelo menos, não encontrei este artigo de Octávio Cunha que saiu no Notícias Magazine do dia de Páscoa. Encontrei-o num blog com uma ou outra palavra em espanhol e assim transcrevo:

"Ser de esquerda.
Escrito por O observador (---.132.220.18) el 24.03.2008 a las 16.20. (Octávio Cunha, "Notícias Magazine", 23/03/08) Esquerda e direita. Termos demasiado convencionais, talvez ultrapassados, mas que vamos utilizar por uma questão de facilidade. Hoje(HOY), ser de esquerda não é fácil, como aliás (POR CIERTO) não o foi ontem (AYER) e não o será seguramente amanhá. Ser de esquerda é um desafio permanente feito a cada um. É incómodo. Obriga ao movimento, à imaginação, à mudança. Ser de esquerda é muito lutar(LUCHAR) pela legitimidade da diversidade de opinião e por isso mesmo é útil afirmar claramente que a unidade de todas as forças de esquerda não só é um mito como felizmente que é um mito. Por paradoxal que pareça, pensamos que se todas as forças de esquerda se unissem, a não ser em situações meramente circunstanciais, correriam o risco(RIESGO) de rapidamente serem a direita. Os exemplos são por demais conhecidos. Atingido(ALCANZADO) o objectivo fixado e no conforto da unidade conseguida, ficam(QUEDAN) paralisadas, conservam o adquirido, não inovam, sendo inexoravelmente dominadas pela sua componente ideológica minoritaria, mas con mais capacidade de controlo ou, se quiserem, de militância. Onde a esquerda cristalizou na uniformidade das ideias emerge rapidamente uma classe dominante de burócratas que se vai mantendo no poder à custa do controlo dos militares, da polícia, das "igrejas" e em parte dos media. É o fim da esquerda e o princípio da direita autoritária. Daí podemos muito claramente afirmar que em parte alguma do mundo existe ou existiram dictaduras de esquerda. Não há esquerda onde há dictadura. Não há esquerda onde faltam a diversidade e o confronto livre de ideias. Nos países que conheço melhor constato que sempre que a esquerda toma o poder e não demostra capacidade de mudança(CAMBIO) e evolução, a oposição da direita não se faz para(A FAVOR DE) o império e o feudalismo, mas para o espaço ocupado pela esquerda (o centro). A dereita tem tendência a parasitar o espaço possível e que lhe convém, gerado(GENERADO) pela esquerda, passando, em termos políticos, a denominá-lo de centro. Assim, a direita apropria-se do poder sempre que a esquerda abdica de sua identidade e da imaginação que cria(CREA) a mudança(CAMBIO) e o progresso. E tal acontece,entre outros factores, porque a esquerda continua, ainda hoje(TODAVIA HOY), presa na teia(TELA DE ARAÑA) dos fantasmas criados à volta da iedia que faz de si própria e da incapacidade de se libertar de fórmulas feitas e gastas(GASTADAS). Ou então, o que é ainda(TODAVIA) mais grave, face(DE CARA) à complexidade dos novos desafios, colocados a nível global, abdica dos sos princípios -a pluralidade ideológica da propria esquerda, a imaginação, a mudança, o progressismo- e deixa-se arrastrar para essa "coisa" incaracterística que llema o "centro". Esse espaço cinzento(GRIS) onde tudo se compra, tudo se vende e nada se troca(CAMBIA)".
Na transcrição para o blog espanhol falhou esta frase final: "Nem princípios nem afectos".

Nota: emendei, agora, a transcrição do artigo, porque duplicado, conforme foi alertado pelo rproença.<7p>


 

Anda por aí um certo nervosismo!

Não vou bater no ceguinho. ... porque já muita gente bate e bate forte. Daí a bater bem vai alguma distância. ...

Tudo isto a propósito de Valter Lemos, Secretário de Estado da Educação e a resposta ao procurador-geral da República. Valter Lemos tem o direito de discordar do Procurador, de ter uma leitura diferente dos factos que ocorrem nas escolas. Achar que são actos de indisciplina, que os problemas nascem fora da escolla e são carreados para dentro. Como outros, entre os quais o Procurador, parecem ter opinião diferente. Daí a classificar de "lamentável" a intervenção do Procurador é manifestamente um exagero, pouco próprio e revelador de algum nervosismo numa equipa, a da educação, que até entrou bem nas funções, mas que há muito tempo vem a perder terreno e certamente terá perdido todas as hipóteses de o vir a recuperar.


 

Há bastonário e bastonário

à semelhança do que se passa no post abaixo também aqui se revela que não tem nada a ver ser-se o bastonário da Ordem dos Advogados ou ser-se o bastonário da Ordem dos Médicos.
Acabei de ouvir o primeiro na Sic Notícias e apesar de me parecer que Marinho Pinto não terá sempre razão é um gosto ouvi-lo puxar das suas razões.
 

Pedro Nunes

É muito diferente ser o do Nónio ou ser o da Ordem dos Médicos.
 

SemBlog

Há um mês que não escrevo no blog. A princípio receei o pior. Uma catástrofe climática do género Al Gore, uma invasão de país com petróleo, uma desgraça como as que atingem o Benfica.
Esperei um apelo, um abaixo assinado, um levantamento, um clamor, uma indignação.
O país seguiu em frente sem um olhar.
Regresso confuso com a desatenção da Pátria. Pior que isso, sem saber que escrever.

2008-03-25

 

Como nós (10)


O artigo de Vital Moreira hoje dado à estampa no PÚBLICO (pág. 41 da edição em papel) - O "mal-estar" nacional - configura uma atitude intelectual interessante. É uma afirmação da confiança nos aspectos positivos dos nossos adquiridos civilizacionais (mormente em matéria de índices de pobreza, criminalidade e corrupção) com o elevado propósito de "vencer o derrotismo nacional" e debelar a "autoflagelação" crónica dos portugueses.
Não posso estar mais de acordo.
A diligência é meritória.
Como é que Vital Moreira sustenta o seu optimismo moderado? Nas estatísticas que, segundo ele, contrariam muito do que os media registam quotidianamente acerca do que se vai passando no país.
Para respaldar a ideia, aponta a "vulnerabilidade da opinião pública ao enviesamento informativo".


E aqui, o discurso toma aspectos estranhos.


Os media estariam a influenciar negativamente o julgamento dos portugueses relativamente ao estado (estatisticamente comprovado) em que se encontra o país.
A atitude de Vital Moreira, virtuosa à partida, depara-se, assim, ao desdobrar-se em argumento, com três enormes obstáculos.


O primeiro tem a ver com a "suspeita" elitista: os media estão a exagerar o que é negativo; eu dou por isso; darão os outros também?


O segundo liga-se à (i)legitimidade de os media tenderem a funcionar como "válvula" de descompressão dos sistemas de regulação, disparando sempre que há perigo, e remetendo-se ao silêncio quando as situações são corrigidas ou os acontecimentos são de bom agoiro. É de facto assim. Ver nesse esquema de funcionamento uma intencionalidade antigovernamental ou a cultura jornalística submetida às deliciosas teorias da "actualidade", é que faz a diferença.
Uma diferença que conta.


O terceiro vai de encontro à "percepção" das pessoas, dos grupos e dos agentes pontualmente atingidos por flagelos cuja intensidade desumana será mais tarde devorada pela estatística, que os digere com o auxílio das suas gulosas medidas de tendência central.
Os desempregados, um por um, região por região; os professores, escola a escola; os funcionários públicos, incluindo os professores catedráticos; os trabalhadores agrícolas (apesar de serem cada vez menos), etc. No momento em que são atingidos, gritam e desesperam. As estatísticas dificilmente terão qualquer papel tranquilizador junto deles.


Assim, em 2005, quando um dos incêndios daquele malfadado mês de Agosto entrou por Coimbra adentro, [Coimbra invadida pela força das chamas/JN] alarmando justificadamente as gentes de lá, arredores e do País inteiro, deveríamos ter parado para, racionalmente, inquirirmos da verdadeira grandeza dos estragos.
Afinal a área ardida desse ano iria ser inferior à de dois anos antes.
Estava-se, a quente, a exagerar a negatividade do cataclismo.


O Chico Buarque diz numa das suas canções que "a dor da gente não sai no jornal".
Mas é bom que saia, mesmo que vá contra todas as estatísticas.
A dor, o desespero, as injustiças não devem perder o direito à visibilidade.
Alguém saberá julgar se os media estão a exagerar ou não.
É necessário recuperar o lado virtuoso da intenção apocalíptica.


Confiar no julgamento dos portugueses.

2008-03-24

 

A medicina no Trabalho

Às vezes, apetece perguntar onde estão as polícias de investigação, onde está a inspecção de trabalho, ou então em que país estamos ... uma vez que coisas muito graves como a vida das pessoas é espezinhada.
Há pessoas que admitem que agiram contra a lei, como no caso de que se faz o link Médicos avaliam saúde de doentes sem os verem e nada acontece ... vai tudo parar ao caixote do lixo. O DIAP, após investigação, mandou arquivar o caso.

Dir-se-á, disse a médica, sempre foi assim! ... conclusão é então para continuar. ... Ninguém quer por cobro a nada.

O Bastonário da Ordem dos Médicos, questionado, diz: estamos perante um caso de polícia. Mas só agora o diz!!

2008-03-21

 

A França votou na esquerda.

Dez meses após a eleição de Sarkozy com 53% os eleitores franceses deram a maioria, 51%, à esquerda nas eleições cantonais que coincidiram com as autárquicas do passado fim de semana. Nas eleições que decorreram ontem 56 dos 101 departamentos Franceses elegeram presidentes de esquerda.

Hoje decorrem as eleições de grande parte dos presidentes das Câmaras Municipais, como se esperava Delanoë foi eleito presidente da Câmara Municipal de Paris e Gerard Colomb presidente da Câmara Municipal de Lyon.

Em 2007 Sarkozy conseguiu convencer a maioria dos Franceses que após 5 anos de governos RPR-UMP ele, presidente da mesma UMP representava uma ruptura com o passado e um programa de reformas. Menos de um ano depois a popularidade do presidente (medida pelas habituais sondagens) está em queda livre e as recentes eleições só vêm dar razão aos índices de popularidade. O que choca muita gente é serem sempre os mesmos a pagar o custo das reformas, primeiro suprimiram-se cerca de 20.000.000.000€ de impostos para os mais ricos (imposto sobre as heranças, imposto sobre a fortuna, etc), depois veio o presidente explicar que o estado não tem dinheiro e que nada pode fazer em relação à baixa do poder de compra. Entretanto foi explicando que para ganhar mais temos que trabalhar desmantelando aos poucos a lei das 35 horas.

A interpretação do partido no poder do resultado das eleições é, do meu ponto de vista, um excelente exemplo de autismo político, segundo o líder parlamentar do partido no poder os eleitores votaram na esquerda pois estão impacientes, ou seja é preciso continuar e acelerar as "reformas".

2008-03-20

 

A gestão privada do Amadora-Sintra

O Hospital Amadora-Sintra era o único hospital do Serviço Nacional de Saúde gerido por um grupo privado.

Este governo acabou com essa concessão e a partir de 2009, o hospital passará a ter gestão pública.

Concordo plenamente com esta decisão do governo, porque se enquadra na minha forma de ver o SNS.

Apenas acho que deveria ser dada uma informação mais precisa sobre a experiência. Não se acaba com uma experiência "positiva", a não ser por razões de princípios ou de filosofia (que é um pouco o mesmo).

Essa explicação não foi dada e pode alguém deduzir que esta decisão não é de fundo mas originada pelos problemas havidos antes, com a agora actual ministra. Era bom não haver equívocos.

2008-03-19

 

Como nós (9)


O discurso de Barack Obama de terça-feira [Speech on Race] corre o risco de ficar na história como o melhor destas primárias.
À primeira vista, parece estar tudo lá: a identificação das principais dificuldades dos americanos (incluindo os imigrantes); a denúncia das injustiças mais gritantes; e a introdução a um programa de acção política.
Ao contrário do que é habitual, cá e lá, Obama enfrentou a questão racial e disse com clareza qual é a sua abordagem. Para isso teve de contrariar amigos, beliscar apoiantes e abrir o jogo.

A política no seu melhor.




Também em vídeo, no Youtube:
Primeira parte
Segunda parte
Terceira Parte
Quarta parte

Ou no site do New York Times,
na íntegra.

2008-03-18

 

País diferente contestação diferente

Os artigos do Manuel Correia sobre os professores deram-me vontade de vos falar de França.

Hoje é dia de greve dos professores do secundário em França, as razões são aqui completamente diferentes: os professores protestam contra os cortes orçamentais que implicam, segundo eles, a degradação do ensino público.

Estou de acordo com os professores e penso que têm todas as razões para protestar, a redução de efectivos terá no próximo ano lectivo duas consequências: aumento do número médio de alunos por classe (no exemplo que conheço passa de 26 a 29) e do número de horas extraordinárias impostas aos professores.

O discurso político apresenta o problema como a melhoria da produtividade, na prática quem sofre são os alunos, sobretudo aqueles que se distinguem da média: alunos em com dificuldades de aprendizagem ou alunos em dispositivos especiais de ensino (músicos, dançarinos, desportistas, etc).
 

Já ia sendo tempo..

Franco-portugueses começam a marcar posição na política francesa. Nas últimas eleições autárquicas, só na região de Paris, foram 179 os eleitos - 80% em listas de esquerda e, pela primeira vez, um luso português ou melhor uma lusa portuguesa, Alda Pereira Lemaítre, é eleita Presidente de Câmara Franco-portugueses festejam a vitória nas autárquias

 

Uma ausência da escrita

Há um certo tempo que me ausentei do blog. Razões várias. Estive fisicamente fora, embora hoje isso não seja impeditivo. Tenho estado mentalmente noutra, porque estando a preparar um livro sobre a minha terra com muita outra gente, a lançar em Maio, isso absorve muito. E porque não dizê-lo, no meio de tudo isto também me questiono sobre esta minha actividade. Há tantos e tantos "bloguistas" muito melhores que me pergunto se...

2008-03-13

 

Como nós (8)



Um homem transtornado (no mínimo) abate outros dois, à facada, para os lados da Foz, no Porto. A relevância é óbvia (?). Se o hábito pegasse, a nossa demografia periclitante afundar-se-ia num pesadelo desertificador. Por isso, talvez, o assunto foi trazido para o rol de notícias que os nossos matutinos nos servem.


Porém, a atestar que é difícil relatar seja o que for sem contaminarmos a mensagem ideologicamente (sensibilidade, perspectiva, ânimo e estratégia), logo uns descobriram que o homem era irmão das vítimas (choque parental); que as vítimas eram proprietárias de uma padaria conhecida (choque económico); e que o alegado criminoso é professor (choque socio-profissional, ético e político).
As coisas podem ser chamadas pelos muitos nomes que lhes damos e as nossas escolhas podem, eventualmente, ser inadvertidas.
No caso da composição das 1ªs páginas dos jornais, o grau de probabilidade do preconceito falar mais alto do que a estratégia de vendas, é menor.



O Diário de Notícias coloca-o, na qualidade de "irmão", ao canto inferior esquerdo da capa; o Jornal de Notícias aboliu o sujeito (mostrando as mil maneiras de confeccionar um título) e noticia que [alguém] "Assassinou os irmãos à facada"; o PÚBLICO, passa por cima - fala de "faca" mas a propósito de Miguel Esteves Cardoso e de uma intervenção cirúrgica que se avizinha (o que seria de nós se não estivéssemos a par?);o Jornal de Notícias faz uma espécie de zoom out e prefere a fórmula "Duplo homicídio em Gondarém"; o 24Horas, falha este crime e prefere um diferente na sua semelhança "Médico mata dois irmãos por causa de dinheiro"; e, finalmente,
o Correio da Manhã ganhou o campeonato da objectividade: tratando-o por "professor", ampliando-o na sua manchete principal.

Acho que todos compreenderemos porquê.

Não é?

 

Como nós (7)


Paco Ibañez canta, de Gabriel Celaya, "España en marcha"!!!



2008-03-12

 

Como nós (6)


Maria Filomena Mónica, em entrevista ao Diário Económico de hoje, sentencia: "Se a Ministra [da Educação] sair, virá uma igual ou pior". Tomando em consideração que os outros dois títulos principais que o Diário Económico puxou para a capa, são: "Banqueiros assumem crise" e "Operação furacão está comprometida", é fácil depreender que resvalámos para o reino do pessimismo intuitivo.

Pessimismo, porque nenhuma dessas asserções deixa antever um amanhã melhor; intuitivo, porque é impossível adiantar um argumento racional para qualquer delas.

São todas do âmbito da (des)moralização e da profecia.

Ter de, fatalmente, seguir-se a esta Ministra da Educação, uma ministra ou um ministro piores, só lançando as cartas é que se poderia antever; acreditar que os banqueiros "assumam a crise" é a mesma coisa que esperar que Paulo Teixeira Pinto, -- como lembrou, muito a propósito, António Vilarigues, n'O Castendo, -- ex-presidente do CA do BCP, beneficiário de uma pensão por invalidez, venha agora defender uma causa válida; e ainda, por fim, deixar escapar, inocentemente, a revelação de que os poderosos e endinheirados continuam acima da lei, recorrendo a uma adjectivação eufemística ("comprometida"), são manigâncias entorpecedoras que correspondem mais depressa à chancela do fatalismo espertalhaço do que, propriamente, à do pessimismo justificado.

Qual a alternativa? Para Maria Filomena Mónica, não há. Ou melhor, há, mas também é francamente estranha. Aconselha-nos a emigrar.

Reclamando-se uma pessoa de esquerda, parece absurdo, perante as dificuldades, estar a aconselhar-nos a desistir, fazer as malas e zarpar.

Tratar-se-á de uma tirada irónica?

Com a prestação ministerial sempre a piorar, os banqueiros a "assumirem" a crise, e a aplicação da justiça tão "comprometida", teremos mesmo de nos render, desistir, virar as costas e emigrar?

Ó diabo!

Então e a esquerda?!


2008-03-11

 

Como nós (5)

As forças monárquicas acantonaram-se ontem à noite na RTP1. Os republicanos também lá estavam atestando, perante a audiência, que até são capazes de discutir sem perder a compostura.

Bravo.

Paulo Teixeira Pinto, ao lado de Gonçalo Ribeiro Teles, enfrentava António Reis que dava a direita a Medeiros Ferreira.

A direita estava necessitada dos valores requentados das linhagens, das mátrias e do acesso sucessório ao poder, enquanto a esquerda, laica, republicana e socialista, refazia uma larga vénia ao liberalismo e à memória da monarquia constitucional.

Aqueles que iam ser deportados por D. Carlos, estendem a passadeira vermelha aos novos "adesivos".

Perdoem-me: não se adiantou nada.

E mesmo assim há quem se congratule com o que ali se passou.

Só se foi a peregrina proposta de mais um referendo...



 

Como nós (4)


Hillary Clinton aprovou um vídeo de campanha para ilustrar a sua presunção de que, face a uma ameaça nuclear, ela estaria melhor colocada do que Barack Obama para resolver a questão. A pergunta é: se o telefone tocar às 3 da manhã na Casa Branca, quem deveria estar em posição de atendê-lo? Para ilustrar o sono dos inocentes que ao elegerem o Presidente dos Estados Unidos da América estão a colocar a paz e a segurança nacional nas suas mãos, o vídeo montou algumas imagens de anúncios anteriores: crianças dormindo e familiares velando o sono delas.


Uma das crianças filmadas (Casey Knowles) tem agora 18 anos (tinha 8 na altura em que as imagens foram recolhidas).


Casey Knowles antes (imagem da campanha Clinton) e hoje (apoiante de Obama)


Entrevistada no domingo passado pela ABC-
Good Morning America Weekend Edition, afirmou-se, afinal, apoiante de Barack Obama. [Ver Notícia]. Ao que parece, o filme inicial (de onde foram extraídas as imagens das crianças dormindo) tinha sido feito para uma companhia dos Caminhos de Ferro, há uns anos.

É por isso que é difícil jogar com o passado. Uma parte dele pode desligar-se das histórias que contamos.

Quando se torna presente, por vezes, diz o contrário do que pretendemos.

O vídeo mostra o anúncio da Campanha Clinton, (até a Senadora atender o telefone) e inclui a resposta da campanha de Barack Obama (da explosão nuclear em diante).




2008-03-10

 

Como nós (3)


100 mil professores não chegaram para levar o Governo a repensar as políticas públicas da educação. Continua, com picardias sobranceiras, a desafiar as "comunidades educativas".

Seguem-se, portanto, os alunos e os pais.

Alguém dizia, ontem, que os 100.000 manifestantes de sábado não são ainda o correspondente às manifestações na Praça da Portagem da Ponte 25 de Abril que marcaram o início da derrocada do cavaquismo.

Também acho.

Há que saber distinguir uma ponte de uma escola.

E o Governo parece estar empenhado em destruir todas as pontes que lhe restavam com as escolas.




2008-03-06

 

Como nós (2)


Hoje, no PÚBLICO, um intrigante artigo de João Freire. Versa a questão dos professores de candeias às avessas com o Ministério da Educação. Sereno, equilibrado e construtivo, titula o seu artigo recorrendo a uma generalização simbólica de que me ocupei em apontamento anterior: "A rua não tem sempre razão" (pág. 47 da edição em papel).

João Freire, sem recusar o livre direito à indignação ou à alegria que, de tempos a tempos, se manifestam em desfiles, romagens, comícios, festas e outras efusivas modalidades, chama a atenção para o facto de que a decisão política, em democracia, deve estar estreitamente correlacionada com o "voto", sustentáculo de um sistema ponderado e virtuoso.

Não será, muito provavelmente, a última vez que alguém aborda o falso dilema "rua"/"voto", expendendo, a esse propósito, doutas considerações. A questão, no entanto, permanece intacta.

Entre promessas, votos, debates e outras fases do calendário político, vêm à "rua", por vezes, os eleitores insatisfeitos, defraudados e, quantas vezes, frustrados pelo rumo que o sentido do seu "voto" tomou.

Nos regimes democráticos há espaços e atitudes consentâneas com a expressão forte entre eleições. As liberdades conferem aos votantes insatisfeitos algo mais do que esperar pela próxima.

Tal como João Freire titula, "A rua não tem sempre razão".

Claro.

Sempre?

Sempre, sempre, também não.


 

Como nós (1)

"Lamentamos que em Portugal uma classe qualificada seja empurrada para a rua para fazer valer os seus direitos, apresentar os seus argumentos e exigir respeito", terá declarado um professor de Vila Real, numa das numerosas manifestações de protesto contra a intransigência ministerial. [Notícia Aqui]


Convenhamos que isto começa a evocar um filme cujos efeitos especiais têm tanto de surpreendente como de déjà vu.

A "rua", que nos códigos mais conservadores continua a ser o lugar do povo, apoiando caudilhos ou desafiando poderes, é tratada por muitos professores como a última trincheira de um protesto que não deveria ter existido.


Essa ideia de uma "classe qualificada" "empurrada para a rua" deixa entrever que alguns (muitos?) professores se entregaram à onda contestatária com uma evidente relutância. Para "exigir respeito" tiveram, parece, de comungar de uma prática onde não seria de bom-tom ver gentes de uma "classe qualificada".


Na dobra dos slogans, algo vai ficando: a "rua", essa rua onde as gentes furiosas ou eufóricas relembram, de vez em quando, que a expressividade popular também tem lugar na democracia, deveria ser o lugar dos outros.

E os outros, de repente, transfiguraram-se. Começaram a falar e a sentir-se empurrados para a rua, como se, afinal, também fossem como nós.





2008-03-05

 

Em leito-de-cheia (6)

[Fonte: Barómetro da Marktest, e aqui]


Até ao início da primavera do ano passado, a imagem promissora de José Sócrates era amiúde usada como "argumento". Pairava acima dos valores atingidos pelas intenções de voto no PS. O líder dispunha de maior capital de "esperança" do que o partido de onde emanava. Algumas discussões tomavam, então, um recorte patusco. Contra os protestos que se erguiam, os defensores das políticas deste governo atiravam com essa evidência avassaladora: o PS liderava em matéria de intenção de voto, e o líder subia ainda mais acima. Isso "provava" - diziam - que as pessoas compreendiam os sacrifícios que lhe eram pedidos. Em vez de dar ouvidos aos arautos da desgraça, maximalistas e radicais, o povo confiava em José Sócrates.

Depois disso a situação alterou-se.

A imagem do líder foi arrastada para baixo. O argumento, suponho, exauriu-se. E a descida do líder, acompanhando, embora, a flutuação das intenções de voto no PS, subjaz-lhe num mergulho continuado.

Sócrates e o PS parecem demorar-se, hesitando entre libertarem-se dos ministros que mais traduzem o autoritarismo e a arrogância da primeira fase do mandato, e um ajustamento das políticas, quer calendarizando mais racionalmente, quer reorientando aqui e acolá, revendo objectivos. Mas, no fundo, sabem que chegaram já à encruzilhada das grandes decisões.

As vozes dos prosélitos que, não há muito, louvaminhavam, (porque, apesar dos protestos populares, a sua imagem positiva permanecia imbatível), perderam o efeito traquilizante que pareciam ter.

Desfaz-se dos ministros que o arrastam para baixo ou vai ao fundo com eles? Encara a substituição dos ministros e a reformulação das políticas como uma "grande derrota", ou prefere, segurando uns e mantendo as outras, ser derrotado, de facto?

Com o regresso da política, as escolhas começam a simplificar-se. E aqueles que disseram (no período aclamatório) que o povo sabe muito bem o que quer, hão-de arranjar uma maneira mais esconsa de voltar a ter razão.

Só falta mesmo conhecer a nova linha argumentativa.

2008-03-04

 

Em leito-de-cheia (5)


António Vitorino opinou na sua charla semanal com Judite de Sousa (RTP1) o que o Meia Hora trouxe para manchete: "Substituir Ministra seria derrota pesada para o Governo". Estava a referir-se, evidentemente, à Ministra da Educação, e ao horizonte temporal das próximas semanas.

Não perdendo de vista que o actual Governo se sustenta numa maioria absoluta monopartidária, aparentemente sólida e inamovível, o episódio da substituição do ex-ministro da Saúde, e a previsível saída da ainda Ministra da Educação, prestam-se a algumas reflexões que, por uma razão ou por outra, uma parte dos socialistas tem evitado.

A necessidade de reformas não implica cruzadas contra "interesses instalados". Requer a clareza da demonstração (quanto mais simples, melhor) de quais os interesses que serão beneficiados. Se a iniquidade for comprovada e gritante, a dinâmica democrática, aliada ao programa eleitoral sufragado pela força ganhadora, ajuda a fazer o resto. Se não, assistimos à judicialização da política, com os professores e os seus sindicatos a processarem o Ministério, e este a refugiar-se na dilação dos recursos.

Aqui chegados, a Ministra pode ir para casa.

O 1º Ministro vai ter de encontrar alguém que retome a iniciativa das políticas públicas para a Educação. Essa visão espertalhona de fazer a festa de uma escola sempre aberta contra o direito ao horário dos professores, teria de acabar nos tribunais. Quem vier a seguir, terá de dar prova de que a arte da política, em democracia, passa sempre pela negociação e pela persuasão.

Fazer da teimosia um estilo e da imposição um método, só pode levar a um ofendido cerrar de fileiras dos ostracizados.

As políticas públicas, em democracia, carecem de mais abertura e apoio.

Ao contrário do que António Vitorino quer dar a entender, a derrota será muito maior se José Sócrates não souber rapidamente inflectir.

É verdade que mudar de responsável no Ministério, não chega. Porém, não fazê-lo seria, a breve trecho, a teimosia mais desgastante a que um Governo de Maioria Absoluta se poderia dar o luxo masoquista.

Há momentos em que é preciso ver um pouco mais longe do que Maria de Lurdes Rodrigues e Valter Lemos estão a ser capazes.


 

Mais uma acha ...

O que o governo de José Sócrates menos precisava era de problemas internos na área da educação.

O secretário de Estado da Educação, Valter Lemos, mostrou não ter grande habilidade para estes meandros da política.

Vai daí ataca Ana Benavente por esta dizer que a equipa que dirige a educação neste governo "não honra o PS", esquecendo-se de rever quem era o Ministro de cuja equipa ela, Ana Benvente, fazia parte e que, segundo Valter Lemos, tivera então "os piores resultados escolares da Europa". Penso que não foi tiro, foi de bazuca. Logo na Europa. Bom...

Esse Ministro da Educação era Augusto Santos Silva.

Acho que Sócrates ganhou um aliado e pode despachar Valter Lemos que não sendo eu, grande conhecedor do meio da educação, nunca me apercebi que esteja a fazer nada de jeito e a averiguar por esta última saída ...pode dar jeito.

2008-03-03

 
... UM COMUNISTA NUMA ILHA QUE IA TER REI PORTUGUÊS

Uma dupla curiosidade (histórica e actual). Esperemos pelo sucesso sobretudo no que se refere a reunificação dos povos de Chipre.


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