2007-12-31
O poeta-filósofo Manuel Gusmão
"De há uns tempos para cá, vozes muito dissemelhantes parecem insinuar, se não explicitamente afirmar, que não há futuro para ninguém ou que vivemos tempos em que ninguém se arrisca a qualquer gesto de protensão ou actividade de prognose. Conheceríamos uma era em que teríamos já desistido ou teríamos de desistir de tentar imaginar ou desejar um rosto para o futuro. Esta situação dever-se-ia a um medo que inibe a própria imaginação e de que padeceríamos para além de todo e qualquer pessimismo individual ou grupal.
E contudo se não houver futuro, se não tivermos futuro, seremos como dizia o outro, “cadáveres adiados que procriam”. Porque aquele medo se torna uma patologia do desejo, uma tão brutal antecipação simbólica da morte que inibiria todo o imaginário, amputaria a capacidade de simbolização e tornaria toda a esperança uma ilusão ou um produto do sono da razão. Ora nós precisamos do futuro como do ar que respiramos." [Artigo completo aqui]
2007-12-30
Descompassados (12)
Li o artigo de José Pacheco Pereira no PÚBLICO de ontem. Intitula-se A cultura de blogue nacional e traz, à guisa de antetítulo, a rotulagem do produto: Mostruário da nossa pobreza, da nossa rudeza, da falta de independência que caracterizam o nosso "Portugalinho". Também pode ser lido no Abrupto [AQUI]. Gostei sobretudo dos últimos parágrafos. Encerram uma reflexão que anula ou relativiza enormemente a porção de texto que vai até às citações de Eça de Queiroz.
Pois como poderia a blogosfera de ancoragem portuguesa deixar de reflectir as culturas, os tiques e os assuntos que cá predominam? Pacheco Pereira, por via disso, parece cair, ele próprio, nessa maledicência que se diferencia da crítica exactamente por não acrescentar nada ao retrato negativo da situação. É verdade que o seu blogue é um exemplo de conjugação de géneros, temas e abordagens que se orientam para a abertura ao novo e para a reflexão livre. Mas o "nível de análise" que escolheu para poder exorcisar os arcaísmos ainda reinantes (os blogues nacionais), sendo o mais cómodo, não parece ser o mais apropriado. A blogosfera portuguesa já não pode ser estudada fora dos "anéis" ibero-americanos.
A invasora contiguidade do objecto faz acudir a 1ª quadra de um célebre soneto de Luis de Camões, que como se sabe viveu uns tempos antes da emergência da internet, mas padeceu do mesmo mal de proximidade.
"Transforma-se o amador na cousa amada,A blogosfera em que a manu portuguesa labora é um pouco mais extensa do que José Pacheco Pereira a pinta, e assemelha-se enormemente a outras.
Por virtude do muito imaginar;
Não tenho logo mais que desejar,
Pois em mim tenho a parte desejada."
Muito a propósito: um bom Ano Novo para todos.
2007-12-29
Al Qaeda niega
" 174 bancos, 34 gasolineras, 765 comercios y 72 vagones de tren han sido incendiados en los disturbios registrados por todo el país." [link]
2007-12-27
Os SMS natalícios
O Paquistão
Chato foi ter dito publicamente
Descompassados (11)
Nas horas de aflição, banqueiros e restantes accionistas, engolem o orgulho empreendedor, calam-se, apoiam (pudera!) e agradecem. Bom. Então vá lá: que o Estado nacionalize, pelo menos, o buraco financeiro que as gestões anteriores deixaram, garantindo que assumirá a responsabilidade dos danos.
De manhã, liberal; à tarde corporativista; à noite, social-democrata.
Seria, porém, injusto, insinuar que estas coisas só se passam em Portugal.
Quem quiser dar uma olhadela ao filme da crise que vitimou o Banco Northern Rock (p.ex.aqui) poderá constatar que além dos benefícios fiscais, os banqueiros podem sempre contar com o Estado nas horas más.
Coisa de que nem todos os portugueses se podem gabar...
Manuel Carvalho da Silva e João Proença terão de compreender.
2007-12-26
Outra opinião
Tony
Por burrice não é porque, diz-me quem sabe, que é espertíssimo.
O drama de D. Policarpo
Descompassados (10)
A quadra natalícia é dada aos grandes pensamentos em torno das distâncias espirituais. O mandatário português da Igreja de Roma evidencia, pois, as suas maiores preocupações, deixando para outros a badalada conversão de Tony Blair ao catolicismo, ou as proverbiais sumptuosidades do Vaticano e as concupiscências dos seus Papas.
Chegam-nos ecos das guerras que devoram vidas e a boa-fé dos que as justificam; os lugares de culto das outras crenças e religiões são reduzidos a cinzas; o clamor contra as injustiças da repartição dos bens eleva-se em todos os continentes, mas o Cardeal Patriarca de Lisboa conduz tudo isso a essa causa maior do "afastamento de Deus".
A esses exemplos de afastamento entre os homens de Deus e os outros homens, veio agora juntar-se o drama do Padre espancado, despido e preso a árvore antes da Missa do Galo (PÚBLICO de hoje, pág. 20).
Dividido dentro de si entre homem de Deus e homem vitimado, nessa noite de injúrias e angústia, o padre Aires há-de ter olhado o firmamento e recordado o desespero de Jesus Cristo na hora nona:
- Pai, porque me desamparaste?
É esta a experiência humana do afastamento de Deus.
Até hoje, não houve forma de lhe dar uma resposta convincente...
No balanço das prendas
A minha curiosidade centra-se no PM, José Sócrates. Não sei em que segmento dos referidos ele se encaixa, mas, de certeza, que pensou nas oferendas de Luis Filipe Menezes, seu principal adversário político do momento.
Que rica prenda aquela de "destruir o Estado em apenas 6 meses". Toda a gente ficou ciente de que estamos perante um "homem rico, cheio" de potencialidades desconhecidas. Com esta entra no Guiness dos disparates. Mas sejamos menos duros e percorrendo o trajecto de alguns PSD encontramos o lapsus linguae, tipo Jaime Ramos.
Outra coisa será a Caixa Geral de Depósitos. Aí aguardemos.
2007-12-24
O FORROBODÓ do BCP
Menesadas (2)
Menesadas (1)
2007-12-22
"Banqueiro" do ano
Espaço Schengen
Sarkozy de trazer por casa Gaia
«Defendo a privatização do ambiente, das comunicações, dos transportes, dos portos, de parte das prestações sociais e
Se não diz nada de bombástico ninguém o ouve. Se fala assim ninguém o leva a sério.
Isto do BCP está para durar (2)
Segundo notícias de ontem e de hoje, o Banco de Portugal terá pressionado os administradores actuais do BCP a não se candidatarem a nova gestão, como se perfilhavam e, agora aparece o actual presidente da Caixa Geral de Depósitos, Santos Ferreira, como indigitado para presidir ao BCP.
Espera-se que a verdade seja convenientemente apurada e atribuídas as culpas, como país civilizado que somos, com os devidos encargos e penalizações normais para situações desta natureza.
2007-12-21
Descompassados (9)
2. Ferreira Fernandes discorre sobre o putativo provincianismo do 1º Ministro. Na sua ideia, Sócatres, "Afinal é menos provinciano do que diz" . Será? Deixaria de o ser só por ter oferecido um GPS a cada membro do Governo? Ora aí está um bom tema de discussão para a noite da consoada. Enquanto os reis magos se guiavam por aquela grande estrela que resplandecia sobre a Galileia, os ministros deste governo poderão fazer excursões ao interior (sem se enganarem no caminho) e testemunhar a desertificação acelerada a que foi submetido o Portugal profundo. Nenhum deles quereria ir viver para qualquer daquelas terras onde a escola e o centro de saúde fecharam. Nesse sentido, Sócrates é mais provinciano do que parece. Dum provincianismo profundo! Aliás, só assim se compreende a ideia de um GPS por cada ministro...
3. "Cavaco Silva só concedeu seis indultos" . A locução adverbial acentua a impressão de escassez. De facto, dos 617 pedidos que lhe chegaram, o Presidente da República, ao conceder o menor número de indultos dos últimos 11 anos, está a fazer prova de uma austeridade impiedosa. Será porque não tinha gravatas para todos?
4. Congratulo-me com a nomeação de Raimundo Narciso para um dos "Cinco escritores da liberdade".
"Escritor da Liberdade" confere um estatuto especial ao autor, e o galardoado veio já, com moderada timidez e irónica modéstia, dizer-nos que aceitou.
Fez bem. O principal fundador e animador do Puxa-Palavra estava mesmo a necessitar da afortunada distinção. Quanto mais não fosse, para compensar aquela carta inamistosa que recebeu do "Ferroviário do Barreiro".
Isto do BCP está para durar
Achei alguma piada das razões "de humor sério" invocadas e até sou levado a concordar em grande parte. Trata-se de uma "rixa" entre o pobre agora rico e o aristocrático que também enriqueceu, num país onde os mecanismos de mercado funcionam muito pobremente. Dois ricos de origens genealógicas diversas à disputa contra um pobre, a economia. Imagem excelente.
Uma questão, no entanto, se nos coloca. Como se passam as coisas nos países que se dizem de economia de mercado?
Qual o papel da regulação?
Pode admitir-se que haja defensores, por exemplo de Filipe Pinhal para que possa encabeçar a nova gestão, pós Jardim Gonçalves quando é ele a pessoa que, ao lado de Jardim Gonçalves, mais responsabilidades tem neste emarinhado que pouco dignifica nacional e intenacioanlemente o sistema financeiro português?
E há que apurar responsabilidades com as penalizações que, em qualquer outro país, seriam normais.
Liga dos Campeões e Taça UEFA
O Braga parece ter um osso mais duro de roer, mas para todos os outros clubes, Porto, Sporting e Benfica, foi mesmo de encomenda. Só não percebi se a Senhora de Fatima lhes apareceu nesta fase, já que anteriormente complicou a vida pelo menos ao Porto e Sporting.
Espanha vai nós não
Diz que não. Pelo menos para já
2007-12-20
Um futuro cada vez mais inseguro
Ferroviário do Barreiro
___________
Exmº Senhor Raimundo Narciso
Antes de mais quero identificar-me: Sou o A... C... cidadão reformado, ferroviário durante 43,5 anos. Tenho actualmente 75 anos e desde muito jovem que abracei os ideais da liberdade. Trabalhador e filho de trabalhadores rapidamente percebi que a sociedade em que vivia era uma sociedade injusta em que os humildes eram votados ao mais miserável desprezo.
O senhor e toda essa gente que cita no seu livro também dizem que foram comunistas.
Li o seu livro "Álvaro Cunhal e a dissidência da Terceira Via" e digo-lhe desde já que o mesmo me merece uma total repulsa.
Muitos foguetes e... pouca "festa"
"Cheira-me a esturro", tantos indícios acusatórios. De terrorismo para cima!
... E ainda o espectáculo de grande desentendimento e falta de cooperação entre os Magistrados do Ministério Público do Porto e de Lisboa. Abro aqui um parentesis para dizer que o Sindicato dos magistrados actuou com algum bom senso, embora me pareça que sobretudo para não fragilizar o Procurador que francamente, como aqui já escrevi, não usou de tacto ao nomear Helena Fazenda. A competência da senhora magistrada não está em causa, mas há sempre formas melhores de não melindrar ou de reduzir ao mínimo os estragos.
Cinco Escritores da Liberdade
Por isso quando a Cristina, uma bloguista que eu coloco lá em cima, nos píncaros, e que faz o favor de ser minha amiga, me nomeia como escritor (e mais! atribui o prémio Escritor da liberdade) eu não me desfaço em explicações de falsa modéstia protestando contra tal mérito. Não. Acho-o merecido. Não por ter balbuciado nuns livros e em alguns blogues umas quantas ideias mal amanhadas, mas porque a minha amiga Lídia Jorge o disse. E se ela o disse...
Cinco Escritores da Liberdade:
Joana Lopes (Entre as Brumas da Memória), Rui Tavares (Pobre e mal agradecido), Fernanda Câncio (Cinco Dias), José Medeiros Ferreira (Bicho Carpinteiro), Rui Namorado (O Grande Zoo).
2007-12-19
Descompassados (8)
Com a quadra das festividades cristãs a impor os seus ditames, o Presidente de todos os portugueses, não esqueceu a proverbial prendinha. Fica sempre bem levar um regalo a quem enfrenta os obstáculos da "reinserção".
Nem bolos, nem sabonetes; nem livros, nem DVDs. O Presidente da República levou-lhes gravatas.
É justamente o que autora da peça destaca, a abrir: "Gravatas - umas verdes, outras vermelhas - para incentivar os reclusos e ex-reclusos a levar "por diante um novo projecto de vida".
Ora esta aparente convicção de que a gravata favorece a aceitação dos engravatados, continua a colocar Portugal na rota do arcaísmo e da piroseira que Alexandre O'neill retratou sofridamente, no seu livro "Feira Cabisbaixa" (1965), com estes dois versos extraídos do célebre poema "País relativo":
"País engravatado todo o ano
e a assoar-se na gravata por engano"
Do mal, o menos. Os ecos do surrealismo português poderão despertar a funcionalidade latente dessa sobrevivência dos gostos medievais. Em último caso, os (in)felizes contemplados sempre se poderão assoar às gravatas.
Paz na terra aos homens de boa vontade.
Luís Pacheco só há um. Ele e mais nenhum
«Somos cinco numa cama. Para a cabeceira, eu, a rapariga, o bebé de dias; para os pés, o miúdo e a miúda mais pequena. Toco com o pé numa rosca de carne meiga e macia: é a pernita da Lina, que dorme à minha frente. Apago a luz, cansado de ler parvoíces que só em português é possível ler, e viro-me para o lado esquerdo: é um hálito levemente soprado, pedindo beijos no escuro que me embala até adormecer. Voltamo-nos, remexemos, tomados pelo medo de estarmos vivos, pela alegria dos sonhos, quem sabe!, e encontramos, chocamos carne, carne que não é nossa, que é um exagero, um a-mais do nosso corpo mas aqui, tão perto e tão quente, é como se fosse nossa carne também: agarrada (palpitante, latejando) pelos nossos dedos; calada (dormindo, confiante) encostada ao nosso suor.»
(Aqui há mais)O desprendimento do poder
"Não pensem que me quero agarrar aos cargos ou obtruir o lugar dos mais jovens." - Afirmou ele, ontem. E deixou o país em transe.
Com tanta celeridade ainda cansam os Juizes
Transparência na política
Uma réstea de bom humor!
- Temos a situação tão degradada com os valores éticos, sociais e morais a ser postos quotidianamente em causa por este Governo, que até universitárias estão a começar a prostituir-se.
- Em primeiro lugar, este Governo não recebe lições de ética, nem quaisquer outras, de ninguém;
- Em segundo lugar e como é apanágio de V. Ex.ª que já nos habituou à distorção sistemática da realidade, o que acontece é exactamente o oposto: a situação é tão boa que até as prostitutas já são universitárias.
2007-12-18
Descompassados (7)
O entrevistador ficou surpreendido por, alguns dias antes do encontro, alguém lhe telefonar a perguntar o que queria para o jantar. Quatremer ficou surpreendido. Não só tinha conseguido a proeza de uma conversa "livre", ao jantar, com o Presidente em exercício da União Europeia (sem limites temáticos nem de duração!), como, ainda por cima, o deixavam escolher a ementa.
Optou pelas amêijoas (de entrada, ao natural, depreende-se ) e, convencido que se arriscava a levar com uma qualquer das mil maneiras de cozinhar bacalhau à la portugaise (que, pelo visto, não aprecia), escolheu pato.
Tão distintamente acolhido, Quatremer pôde, ainda, dar-se ao luxo de entalar no seu texto as frases de José Sócrates, sem ser submetido àquele sensaborão e maçador padrão da Pergunta-Resposta, as mais das vezes com "direito" a revisão por parte do entrevistado.
Fica-se a saber que Sócrates veio (quase) do nada. Um provinciano que hoje vive com uma jornalista do Diário de Notícias, privilegiando a "liberdade", se necessário, em detrimento da "igualdade"; conduzindo o PS ao "centro" e recordando enfaticamente o seu apego (de sempre) à social-democracia.
Já sabíamos que Sarkozy lhe invejava este modo peculiar de ser de "esquerda". Em tom de espanto e desabafo, o Presidente Francês reconhece que se fizesse um décimo do que Sócrates fez, a nação lhe caía em cima, quase em bloco, e o estrafegava.
Quanto à marca social das suas políticas, José Sócrates continua a sublinhar as Leis da Paridade, do Aborto e da Procriação Medicamente Assistida.
Eis, em resumo, o que Quatremer e Sócrates, depois de um bom jantar, resolveram filtrar para a "esfera pública" francesa.
Hoje, o DN, destaca, no topo, à esquerda, uma frase da entrevista. Não encontrando nada de mais assertivo na conversa que Quatremer coou para o Libération - desperdiçando, por isso, aquelas tiradas habituais da "teimosia", da "determinação", de "marcar o rumo e seguir em frente", etc - o jornal dirigido por João Marcelino trouxe esta terna confissão para a capa:
"José Sócrates:
Sou um provinciano"
Depois da aprovação do Tratado de Lisboa (já ratificado pelo Parlamento Húngaro) e da Cimeira Euro-Africana, que muito dificilmente poderia correr melhor do que correu, nada como um toque telúrico de regresso às raízes.
Impecável, Sr. 1º Ministro!
2007-12-17
Poderá a África do Sul cair nas mãos de um populista?
Xanana vexado por Alfredo Reinado
A operação PJ no Porto
Agora há que pensar naquele dito "navegar é preciso". E isto da justiça e da sua administração é um grande barco a cujo rumo é preciso estar muito atento. É preciso não perder a confiança nos órgãos da justiça. É tão fundamental ao país uma justiça célere e bem fundamentada em todas as frentes.
2007-12-15
Tertúlia " madeirenses em Lisboa"- TML
Ontem foi um dia, melhor uma noite, de Tertúlia que acabou hoje. Uma noite onde os sabores madeirenses e os vinhos alentejanos se cruzaram. Digamos um feliz casamento, mas cheira-me por pouco tempo. Os sabores madeirenses são traiçoeiros. Estão logo prontos para juntar os trapinhos com outros bons vinhos de outras zonas. O que é preciso é que sejam mesmo bons. "Bem comer e bem viver" lá diziam os antigos (e se não diziam a gente o diz e passa a ser antigo "por decreto regional") "dá saúde e faz crescer".
Assinale-se que este casamento dos sabores com os vinhos não foi devidamente arregimentado contra o que é costume, por falta de comparência, embora devidamente justificada, do incumbente, apesar de alguns presentes ainda saberem muito dessa poda, mas já não a exercem por decisão própria.
100 milhões para os lobos, sem lobos
É o título de um artigo sobre o custo dos arranjos a mais para que os lobos fossem protegidos na serra de Falperra pelo atravessamento de duas auto a A24 e A7. Tais obras a mais "justificaram-se" na mira (irreal) de haver uma boa circulação dos lobos que afinal, na realidade, acharam por bem dispensar esta dávida dos humanos.
Dói o coração ver deitar tanto dinheiro fora. Mas acredito que seja assim, pois conheço outras obras a mais, públicas e privadas, de menor montante, como a protecção de morcegos e de outras aves que se fizeram por razões "ambientalistas" para nada. Os morcegos evadiram-se e que se saiba a zona nada perdeu e o morcegário está vazio. Melhor seria que fosse desmantelado até por razões ambientais se a estética entra nesse conceito.
2007-12-14
New York is a woman (3)
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New York Woman
It was getting dark in a snow-covered park,
I thought I saw you smiling.
You left town to marry a texas millionaire,
I wonder how you are doing.
You were a
I love you.
I heard him on the air discussing world affairs,
And something about his global vision.
Thats when I wondered if you made the right decision,
I want to know what youre thinking.
You were a
I miss you.
You were a
I miss you.
I miss you,
I miss you,
I miss you,
I miss you, my friend.
I miss you,
Oh, I miss you,
Oh, I miss you,
Oh, I miss you.
New York is a woman (2)
2007-12-13
New York is a woman (1)
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New York is a woman
With her bangles and her spangles and her stars
You were impressed with the city so undressed
You had to go out cruising all the bars
Your business trip extended through the weekend
Suburban boy here for your first time
From the 27th floor above the midtown roar
You were dazzled by her beauty and her crime
And she's every girl you've seen in every movie
Every dame you've ever known on late night TV
In her steam and steel is the passion you feel
Endlessly
And to her you're just another guy
Look down and see her ruined places
Smoke and ash still rising to the sky
She's happy that you're here but when you disappear
She won't know that you're gone to say goodbye
And she's every girl you've seen in every movie
Every dame you've ever known on late night tv
In her steam and steel is the passion you feel
Desperately
And to her you're just another guy
2007-12-12
Descompassados (6)
"PJ sem provas/para prender suspeitos/de crimes da noite."
Mas o desejo, a confiança e a convicção teriam levantado arraiais da manchete do DN. O que é bom para o jornalismo nem sempre é melhor para a emoção. Pior que isto é, sem dúvida, o título da secção económica nas interiores,
"Transportes públicos sobem 3,9% em 2008".
Para uma taxa de inflação prevista de 2,1%, a balizar severamente os aumentos salariais, parece não haver apelo nem agravo. E todavia, fosse outra a mão titular, e a fórmula poderia ter sido:
"Ainda a subida do custo de vida/ Transportes públicos sobem já 3,9% em 2008".
Aqui chegados, os tituladores vacilaram. Confiança, convicção e desejo, desapareceram por completo. As emoções renderam-se diante de notícias sem esperança. O jornalismo das interiores tornou-se mais contido, sóbrio e austero. Euforia por fora, depressão por dentro. Neste caso, contrariamente ao que sucedeu no exemplo da manchete, há provas e culpados, mas ninguém parece correr o risco de ser preso. Dar, com uma mão, 2,1% de aumento, e tirar, com a outra, 3,9% no preço dos títulos dos transportes públicos, apresenta-se como se de uma banalidade se tratasse. Não resisto à tentação de perguntar:
- mas a que título?
Com a Banca bulir o menos possível
Penso que noutro sítio o Banco Central (leia-se no, nosso caso, Banco de Portugal) já se teria mexido e muito e eventualmente gestores como os do BCP estariam certamente um pouco mais desconfortáveis.
A verdade é que num Banco que "perdoa" cerca de 40 milhões de Euros (12,5 milhões ao filho do Presidente e 28 a um accionista) os seus gestores não poderiam estar tão descansados, tanto mais que um dos responsáveis por este processo está na corrida para presidente da instituição. Certamente num processo a sério a corrida estaria a ser feita para uma cadeira bem menos simpática. A nossa realidade é porém a de que estamos num país em que o Banco de Portugal é também um banco central promotor de brandos costumes.A (in) Segurança neste País!
Só que acho que as forças de segurança deveriam estar mais acutilantes e o facto de até agora, passados 4 meses depois da primeira morte, ainda não haver uma única prisão, o mínimo que se pode dizer é admitir uma grande desatenção ao evoluir do "mundo nocturno" que em toda a parte se não tiver "baias" gera violência. Exactamente, em Portugal, há falta dessas baias.
Que discordem entre si tudo bem. Agora que não actuem tudo mal. Ausência de detenções gera mal-estar na Judiciária
2007-12-10
A REPER de Alberto João
Já não me é indiferente que, em simultâneo, seja inaugurada a Casa da Madeira em Lisboa, no mesma vivenda mas sobretudo na "mesma cerimómia", sem qualquer abertura política, sendo confusa a promiscuidade e intimidade entre as duas entidades.
Alguns dados sobre a inauguração/confusão: Quem terá sido convidado para a inauguração? Critérios? Pelo que me contaram só gente próxima políticamente. Certamente uma ou outra excepção de disfarce.
Não seria mais sensato, aceitável, diplomático, intitular-se coordenador ou presidente, por exemplo, de uma comissão de relançamento da Casa da Madeira?
Apesar da má entrada, o deputado Hugo Velosa ainda está a tempo de demonstrar, na prática, o que afirmou.Assim o deseje mesmo.
2007-12-09
A 2.ª Cimeira UE-África
O ministro Luis Amado também foi tentando durante o dia de hoje fazer passar essa mensagem. Mas tão pouca foi a informação credível, veiculada para o exterior, que sou tentado a dizer que nos chegou sobretudo desinformação e faits divers.
Recorrente
O Contrato
Os Portugueses, campeões do tráfico de escravos e da sua exploração intensiva, especialmente no Brasil, até pelo século XIX dentro continuámos a usá-lo em moldes pouco distintos até há pouco. Não era raro - diziam no filme de Joaquim Furtado - ver destes trabalhadores castigados a trabalharem com correntes nos pés. Era o "contrato".
Via o filme e toda aquela nossa acção "civilizadora", "cristã","humanitária", "evangelizadora" eis senão quando surge entre os entrevistados o muito respeitado "empresário africanista" Cardoso e Cunha a dar o seu contributo para o contraditório:
«Nos Cuanhamas, esses povos do Sul [de Angola], fazia parte da sua tradição familiar fazer alguns anos de trabalho [forçado] nessas fazendas. Não recuso que tenha havido algum excesso, mas a maior parte dos contratados eram voluntários.»
Esses Mugabes ainda têm muito que aprender.
2007-12-08
Ditador mais ditador que o outro ditador
Fumar or not to be
A Igreja católica e o sexo
A Bíblia contém, dentro da literatura mundial, um dos mais belos hinos ao amor erótico: leia-se o Cântico dos Cânticos. Desde o início, no Génesis, se diz que a sexualidade é dom de Deus. Segundo a Bíblia, o ser humano não está dividido em corpo e alma, pois forma uma unidade. Na perspectiva cristã, o corpo não é desprezível, pois o próprio Deus assumiu a humanidade corpórea."
2007-12-07
Descompassados (5)
A lista das exigências patronais inclui financiamento do Estado para a "reestruturação de empresas abertas à concorrência internacional". Em geral, querem menos Estado na economia. Neste caso querem recursos do Estado para eles. De onde se pode deduzir a consigna provada: - "Menos Estado para os outros; mais Estado para nós".
Exemplar!
De acordo com o DN de hoje, "Os patrões pretendem a eliminação dos custos da contribuição social sobre as horas extraordinárias e prémios. Exigem também em alguns sectores a "flexibilidade dos horários", "mobilidade geográfica" e a "polivalência de funções".
Finalmente, para destacar o sentimento cristão que os anima, os patrões gostariam de impor " Limites às indemnizações por despedimento". Isto, para conseguirem, como dizem, "induzir maior potencial nos recursos humanos."
Valha-me Deus. Isto tudo só por 450 € !?
Mas que grande negócio!!!
Com tanto "risco", tantas vicissitudes de "mercado" e tamanho "espírito empreendedor", estarão os patrões a tomar para eles, como virtudes, os defeitos que apontam aos funcionários públicos?
Descompassados (4)
Segundo ele, o mundo estava a mudar muito, muito depressa, e os intelectuais franceses (como os restantes, aliás) não se deram conta de que o mundo, visto pelo prisma da "dominação" das "vítimas" (os trabalhadores, as mulheres, os pobres e todo o tipo de excluídos) era um mundo "determinista", sem esperança nem espaço para a acção individual.
Diferentemente, a sua "Sociologia da Acção", faz coro com os que preconizaram "le retour de l'acteur". O sujeito regressava, assim, à análise sociológica...
Touraine tem piada. Procede a um ping-pong intelectual com Marx, referindo amiúde as limitações doutrinárias, mas estribando-se, frequentemente, nos métodos de abordagem e nalgumas categorias de análise criadas ou adoptadas por Marx e Engels.
A inescapável inspiração marxista voltou ao seu discurso quando recordou as ideias gerais em que baseou um dos seus últimos livros, - Le monde des femmes (Fayard, 2006). A condição da mulher como barómetro civilizacional.
Ora quem se der ao trabalho de (re)ler o trabalho de Friedrich Engels, The Condition of the Working Class in England, publicado na Alemanha em 1845, poderá facilmente aperceber-se da originalidade de Touraine.
Pela condição das mulheres e das crianças (de preferência, já agora, as de menores recursos...) pode deduzir-se o grau de civilização de uma sociedade.
Há coisas que mudam e outras que não. Esta parece que se mantem vai para mais de século e 1/2.
É obra!
2007-12-06
De profundis (5)
"A Mário Soares perdoa-se tudo o que a outros nada se esquece."
Baptista Bastos, "O último leopardo", no DN de ontem.
Na íntegra [AQUI]
2007-12-04
Descompassados (3)
Em qualquer dos casos, a atitude que preside à decisão de fazer notícias, - ainda para mais, de 1ª página, - a partir de algo de que se não tem a certeza, revela uma relação excessivamente oblíqua com a profissão de jornalista e um entendimento mirabolante da distinção básica entre a informação que tem carácter noticioso e tudo o resto.
Ao confundir resultados de sondagens, à luz de uma leitura apressada, entrelaçada de palpites e preconceitos, com uma vitória, de facto, sólida e confirmada, o Público não apenas errou, como assestou mais um golpe escusado da sua já tão frágil credibilidade.
A 1ª página do PÚBLICO de ontem, inscreve-se nessa tradição de supremo desprezo pelo código deontológico. A escassez das repercussões tem a ver, muito provavelmente, com o consenso ideológico anti-Chavez que, nalguns dos seus afloramentos, considera justificado desprezar a realidade, tendo por certo que, por uma boa causa, até se pode substituir o jornalismo pela bruxaria.
Mas a extrema criatividade da manchete do PÚBLICO de ontem tem a ver, igualmente, com a sistemática atrelagem à agenda da Casa Branca. Foi assim com o Iraque. É assim com as tentativas mais sérias de emancipação na América do Sul.
Compreende-se finalmente o que Belmiro de Azevedo quis dizer quando revelou que os seus CEO(s) podem, caso ele o entenda adequado, circular de um ramo de negócios para outro. Houve na altura quem se mostrasse surpreendido com a indiferença que o patrão da Sonae evidenciava face às particulares exigências, éticas e legais, que devem reger a produção de notícias. Pois não teriam, os produtos mediáticos, de obedecer a umas quantas especificações que não são aplicáveis a outros produtos?
Para o Público, pelo visto, continua a parecer que não.
2007-12-03
Chávez perdeu o referendo
2007-12-02
O caso Luísa Mesquita
As verdadeiras razões permanecem desconhecidas. Razões de incompetência, desvio político ou ideológico também não parecem plausíveis. Mesquita era competente e ortodoxa quanto baste por isso talvez se trate de questão de «respeitinho». Questão de obediência, que para o caso tanto faz ser sobre assunto de lana-caprina ou não. Género: Alto lá! Mas quem é que manda aqui!!
Ambas as partes se saem mal perante um código de conduta que deveria primar pela seriedade e pelo respeito pelas eleitores.
O PCP fica mal porque obriga os seus candidatos a assinar uma declaração em que põem o seu lugar à disposição do partido ao sabor da discricionariedade do órgão dirigente em desrespeito pelo papel do candidato e pelo voto de quem o elegeu. Porque se é certo que o eleitor vota num partido vota também nas pessoas indicadas por este. Se as pessoas não contassem então as listas poderiam apresentar-se em branco.
Luísa Mesquita fica mal porque se assinou a (inaceitável) declaração só lhe restava respeitar o seu (inaceitável) compromisso.
As razões que invoca, um compromisso verbal com a direcção do partido (mas contraditório com a declaração assinada) que lhe garantia o cumprimento total do mandato são manifestamente a prova de que a má fé estava subjacente nos compromissos assumidos por ambas as partes.
Não há como um outsider
A última palavra sobre o aeroporto
2007-12-01
Descompassados (2)
A ideia geral que os simpatizantes das políticas do governo para a administração central e local querem fazer passar é a de que a "maioria dos portugueses compreende" a austeridade imposta aos trabalhadores da função pública.
O autor do editorial do DN, de onde foram extraídas as duas anteriores citações, - "A greve da função pública e a confiança do governo" - começa por simular equidistância, dando uma no cravo, outra na ferradura. Após a constatação de que a greve dos trabalhadores do Estado é conhecida, compreendida e apoiada pela maioria dos entrevistados, segue-se a interpretação do editorialista. De acordo com ela, "existe uma larga compreensão para o rigor orçamental definido pelo Governo socialista".
Ai é?
Os portugueses "concordam" com os trabalhadores, por um lado, e também concordam com o governo que está a afrontar todos os sindicatos do sector?
Uma leitura mais sensata, revelaria que uma boa parte dos entrevistados confirma o seu apoio ao governo, mas, (como, aliás, não poderia deixar de ser), com algumas reservas. E uma dessas reservas consiste na dedutível "recomendação", - ao governo, - de maior atenção, entendimento e sensibilidade relativamente às injustiças acumuladas, ao longo dos últimos anos, sobre os trabalhadores da administração pública. É, aliás, esse, o sentido em que se têm pronunciado alguns membros do PS. Apoiam o Governo, - é óbvio - mas aconselham-no a virar, pelo menos, um "bocadinho" à esquerda.
O editorialista do DN interpreta de outro modo.
Dirão, alguns, que está no seu direito.
Pois está.
Mas está errado quando imputa à opinião filtrada pelo barómetro da Marktest uma ambivalência de ocasião. Chama-se a isso distorcer os resultados por via interpretativa. Os respondentes, por maioria, apoiam a greve dos trabalhadores da função pública, reconhecendo-lhe o fundamento. O diligente editorialista, ao invés, encontra uma forma de fazer parecer que esses mesmos entrevistados apoiam, simultaneamente e na ocorrência, o governo, contra os trabalhadores do Estado.
Um espertalhaço!