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2007-05-31

 

Meu deus! Uma greve geral?...

Eis-nos chegados a um tempo em que muitos socialistas enrolados no PS acham por bem acusar os bloquistas (frequentemente), os comunistas (sempre), os sociais-democratas (às vezes) e, ainda, os solitários de esquerda e de direita (uma chatice para os identificar...) de terem feito uma greve geral que não terá dado os resultados que os seus promotores esperavam.

Cada um dos que decidiu fazê-la tornou-a um pouco maior do que seria, presumo, sem a sua participação.

Com o medo e a intimidação repostos pelos paladinos da “esquerda moderna”, é estranho ver quem ontem se empinava por causa do caso Charrua, ficar agora impávido, fingindo supor que aquilo não tinha nada a ver com o tentacular posicionamento dos novos comissários políticos.

Tanta ingenuidade confrangeria se não fosse fruto de um safado disfarce...

Bom.

Ficam as percentagens.

A greve não foi geral porque não paralisou tudo.

Quando o ponto de partida para a análise é deste tipo, bem se lhe pode juntar, a seguir, aquele outro julgamento, potentíssimo e arrebatador, segundo o qual as organizações sindicais (a CGTP, sobretudo) não adiantaram reivindicações concretas mas sim causas (por favor não riam), propostas irrealistas, etc.

Chegámos a um tempo em que os trabalhadores e as suas organizações não têm razão porque são como são, o desemprego sobe, e este governo, que se reclama de um socialismo pós-social, está a esfrangalhar-lhes os direitos.

Quando o PS está no governo é sabido que os trabalhadores começam a ficar tontos, são atirados para maus caminhos e perdem toda a razão.

Os trabalhadores que fizeram greve ontem, tiveram a coragem de, ao lado de muitos outros que recearam (com razão) perder o emprego ou, de algum modo, ser desfavorecidos em próximos contratos e acertos, mostrar que o exercício da liberdade sindical também se testa nos momentos menos auspiciosos.

Fazer supor que só quem não fez greve é que estava banhado em lucidez e pôde exercer os seus direitos é um expediente retirado de uma despensa ideológica que cheira a mofo.

E depois desta greve?

Sim! E depois?!

Ah! Bom.

Estava a ver que ninguém perguntava...


 

A Greve de ONTEM

Não vou perder tempo (porque leva a pouco) sobre se a greve é geral ou parcial, nem sobre as Percentagens, embora neste aspecto haja uma questão de fundo. É preciso que quem decide fazer greve assuma isso mesmo. E não é o caso em termos de descontos reais. Há uma elevada percentagem que não vai ao trabalho em dia de greve arranja mil e uma maneira para a posteriori justificar a falta. Isto é grave. Admito muitas razões para esta atitude sendo, penso eu, determinante a necessidade de não DESCONTAR o dia de greve.

Nesta greve o objectivo essencial consistia na contestação ao governo das suas políticas económicas e sociais.

Muitas "classes" sociais têm múltiplas razões para estar descontentes com muitas das medidas deste governo: estão a perder poder de compra, estão em perda de regalias adquiridas no passado, independentemente da sua adequação às condições do País, a saúde está mais cara e não mais eficiente, a educação caminhe para melhor, embora com medidas como os exames de aferição que não se percebem... e tudo isto leva a um grande descontentamento. ...

Se juntarmos ainda essa "qualidade intrínseca" deste governo, que é a de não nos passar cartão, ficam reunidas as condições para esta "revolta". Por outro lado, há quem sustente que este governo é reformista, quer mudar o país ainda em rampa descendente economicamente. E assim temos um país em dois, ou dois em um. "Bem" dividido.

E desta greve saiu o quê?

Alguma proposta válida? Alguma alternativa?

Não vislumbro. O que significa que hoje acordamos exactamente no ponto de partida de anteontem. Governo e CGTP de costas um para o outro.

E o Zé povo?

Em situação pior, sem expectativas. E a culpa?!

 

Parcialmente geral

A greve geral foi parcial, diz o Governo. E Carvalho da Silva responde que parcial é a estimativa do Governo.

2007-05-30

 

GRITOS contra a indiferença

"Gritos contra a indiferença" é o seu livro de protesto, uma obra polémica e contundente que reúne artigos publicados e textos de conferências dadas ao longo dos últimos dez anos... Fernando Nobre foi administrador dos Médicos Sem Fronteiras na Bélgica e fundador da AMI – Associação Médica Internacional, em Portugal, à qual ainda preside.
...Nestes "Gritos contra a Indiferença", Fernando Nobre comunica-nos a sua visão do mundo, a sua revolta e a sua luta por um novo paradigma humano e societário. Da debilidade das democracias à degradação contínua do planeta, das tragédias em curso na Palestina, no Afeganistão e no Iraque ao aniquilamento do Direito Internacional, da possibilidade do confronto atómico ao esmagamento dos Direitos Humanos, Gritos Contra a Indiferença é a denúncia de uma geopolítica do caos e da fome e um apelo a uma Cidadania Global Solidária.
..."Como não me inquietar quando vejo a paz global tão ameaçada e os Direitos Humanos tão espezinhados? Como não interpelar quando assisto à degradação contínua do nosso planeta Terra e ao seu esgotamento, provocado por uma ganância louca, sem freio nem nexo? Como não me assustar quando penso nas tragédias em curso na Palestina, no Afeganistão e no Iraque (e em breve no Irão) e assisto ao aniquilamento do Direito Internacional, impotente perante as espúrias situações de Guantánamo... [Link]

 

Madeira corre no Kremlim?

Pois ... pois.

Dionísio Pestana é "colega" de José Sócrates no jogging de Moscovo (primeiro plano da foto - vai ter "conversar" com AJ, no regresso), com direito a que a Praça Vermelha fechasse.

Uma visita a Moscovo muito curiosa, onde José Sócrates foi extraordinariamente bem recebido por Putin.

O que resultará desta visita, só "os deuses" poderão lá chegar. Empresários lá havia. Mensagens cruzadas também: nacionais e europeias. Sócrates portou-se "demasiadamente" bem. Nesta caso levava a lição bem estudada. Não será certamente o que diria José Manuel Fernandes. Mas querer dar lições de ética e de moral a toda a gente quando não a temos, teve a resposta adequada.

Portugal vai ter a Presidência Europeia e seria bom que contribuisse para aliviar um pouco a subserviência da Europa face aos EUA, nesta questão das relações com a Rússia e não só.

Ou muito me engano ou Putin quis dizer a Sócrates: mostre lá o que vale na Europa. Esta estratégia europeia não serve.

Mas quem é que se sente bem com pistolas para si apontadas? Só quem nunca teve esse cenário. Eu já as tive e o medo foi medonho. Só que não tinha como me defender e a Rússia tem.

 

12 ou 14 salários

Na 2ª feira, no programa prós e contras levantou-se uma questão sobre a qual tenho vindo a pensar: A questão de pagar 12 ou 14 salários por ano.

Fiquei muito surpreendido por ver que nesta questão os patrões e os trabalhadores se encontram em diferentes lados da barricada.

De facto nunca percebi porque razão se pagam 14 salários actualmente em Portugal. Parece-me ser uma questão histórica tendo sido uma forma de em determinada fase da vida do País conseguir um aumento substancial dos salários através da introdução de mais dois pagamentos.
Também compreendo que o subsidio de férias, no tempo em que o acesso aos bancos era difícil (para fazer depósitos, levantamentos, gerir o dinheiro) e que desta forma se incentivavam os trabalhadores para que gozassem férias. Já o 13º mês me parece que é apenas uma forma de aumentar o consumo idiota na altura do natal (conheço pessoas com ordenados baixos se vêm com mais um ordenado e uma enorme pressão dos media para comprarem prendas e que o gastam todo nesta prática).

Este sistema (dos 14 meses) é um sistema complicado uma vez que dificulta numa série de questões: na comparação com os salários de outros países ; na organização da tesouraria das empresas ; nas contas pessoais de cada um (que não consegue avaliar imediatamente a sua capacidade de consumo) ; na forma irracional como cada um muitas vezes gasta os recursos adicionais recebidos naqueles meses (as contas anuais como seguros não são necessariamente pagos em Dezembro).

Actualmente ocorreram mudanças indiscutíveis na sociedade : O funcionamento do sistema bancário ; o aumento das habilitações literárias dos trabalhadores ; existência de organizações de apoio ao consumo.

Desta forma não vejo porque razão não se há-de mudar para um sistema de 12 salários, obviamente sem qualquer perda de rendimentos anuais. Gostava de perceber também a perspectiva das organizações sindicais uma vez que sendo o debate dedicado a outro tema (a greve) não se esgrimiram argumentos.
 

Diz que é uma espécie de solidão...

João Tunes, nosso blogovizinho do Água Lisa (6), escreveu um poste com muita piada e outra tanta profundidade, perscrutando as razões que levam as pessoas a mudar de tribo política.[A paz dormente na dissidência].

Atirou-se às alegações idealistas que Mário Lino proferiu por ocasião da sessão de lançamento do livro de Raimundo Narciso, Álvaro Cunhal e a dissidência da terceira via, e divisou nelas algumas inconsistências.

Recusando, de igual modo -- e bem! -- as profecias ortodoxas de acordo com as quais toda a heterodoxia está predestinada à “traição de classe” (uma teleologia cómoda), João Tunes não deixa de suspeitar da boa fé dos que, agora no PS, proclamam prosseguir na defesa das mesmas causas genéricas que defendiam no tempo em que eram militantes do PCP.

A observação é pertinente.

Todavia, gostaria de desenvolver um tópico que João Tunes apenas aflorou.

Aquelas pessoas que João Tunes enrola na capa de uma espécie de “solidão de esquerda”, e entre as quais muito provavelmente se considera, prefiguram, porventura, a nova relação que os partidos, para sobreviverem, deverão estabelecer com os indivíduos susceptíveis de os apoiarem, no futuro, caso a caso, causa a causa, passo a passo e voto a voto.

Os militantes ligados aos partidos por laços legionários, meio militares meio sociedades secretas, impedidos de criticarem os líderes, de condenarem os erros mais espalhafatosos, obrigados a remeterem-se a um silêncio comprometedor ou ao discurso tolo das justificações forçadas, estão a desaparecer.

As organizações políticas, incluindo os partidos, não. Vão transformar-se. Os perfis dos “militantes” estão a alterar-se velozmente. Orquestrando a nova moda dos partidários mais descomprometidos, alguns comentadores têm ensaiado uma demonstração, ainda frágil, mas sugestiva.

Dir-se-ia que uns pensam pelas suas cabeças e os outros também..., só que não o podem revelar...

As liberdades e os direitos individuais foram deixando de caber nas relações partidárias tradicionais.

As pessoas sem obediência partidária estrita estão, em numerosos casos, a jogar papeis determinantes. Poderão, muito provavelmente, dar uma contribuição para alterações efectivas nos partidos.

Por experiência própria e elevada atenção aos desaires alheios, atrevo-me a alvitrar que esta postura poderá ser mais eficaz do que a de quem continua a pensar, insistentemente, que é “por dentro” que as comunidades partidárias se reformam.

É uma questão simples: a afirmação da cidadania torna o vínculo partidário menos privado e a obediência partidária mais problemática.

Por isso, os partidos estão a ficar reduzidos, a pouco e pouco, aos votos que conseguem conquistar e a um aparelho clientelar cada vez mais fechado.

Se procurarmos com atenção, vem tudo nos jornais.


 

O Grande Canal (Veneza)




Canaletto: um dos quadros sobre o Grande Canal (Veneza)


2007-05-29

 

O Editorial do Público

O director do Público, José Manuel Fernandes, vem alertar para os "poderes excessivos" da ERC, dando como exemplo esta ter resolvido "monitorizar a imprensa económica com base numa queixa - que o PÚBLICO editou como texto de opinião e da qual se distanciou em editorial - de um grupo de economistas". São palavras de José Manuel Fernandes (JMF).

Como um dos signatários desse texto, sentir-me ia, "retribuido", se a nossa opinião colectiva tivesse desencadeado esta inicitiva da ERC. Para mim não é líquido que assim seja ... até porque já lá vão uns bons meses.

Não vou discutir os poderes da ERC. Não me sinto habilitado nem com reflexão suficiente sobre o tema.

O que me espanta é a posição defensiva de JMF. Não precisa de tanto cuidado. Ninguém ousaria pensá-lo na qualidade de coautor.

E já agora que JMF termina o editorial a dizer que Vital Moreira não fez o trabalho de casa porque expressa num artigo de hoje sobre a OTA opinião diferente da sua, também acho que JMF cometeu o mesmo pecadilho mas para pior. Não se trata de opinião: trata-se de domínio de informação porque erra ao afirmar que o nosso texto é de um grupo de economistas. Há economistas ao lado de outras profissões e alguns bem mediáticos que não são economistas.


 

27 anos depois

Os EUA e o Irão tiveram ontem o primeiro e histórico encontro oficial, desde 1980, data do corte de relações diplomáticas após o assalto à embaixada dos EUA pelo então novo regime confessional dos Ayatollas. Os embaixadores discutiram o Iraque durante quatro horas.

Com atrasos, tergiversações e muito parcialmente Bush lá vai, que remédio, seguindo os conselhos do Relatório Baker-Hamilton para ver se os republicanos ganham fôlego e alguma esperança para as próximas eleições presidenciais. [NYT]

 

Petróleo democrático


No Memorial Day, Washington, chora o noivo, James John Reagan morto no Iraque.
(John Moore/Getty Images/AFP)
 

Contra Capa



A Cristina, uma amiga da blogosfera, quiz mostrar que é minha amiga. E disse palavras que só os amigos podem dizer. Eu agradeço. E se o que a meu respeito diz não serve para me dar a conhecer serve no entanto para a conhecermos a ela. Obrigado.


 

I Wanna Be Famous

Na sequência do tema iniciado pelo Raimundo - a vida - este pequeno clip é uma excelente abordagem ao problema das armas nos EUA.
Vale a pena ver.


2007-05-28

 

O que é a vida!

Vim para a política por acidente. Estava a tirar o curso de engenharia electrotécnica no IST (suponho até que viria a inscrever-me na ordem dos engenheiros, se bem que só até há coisa de um mês é que isso é preciso para se ser engenheiro). Depois, por isto e aquilo, fizeram-me uma "proposta que não pude recusar" tão atractiva ela era, passar à clandestinidade. Lá se foi a engenharia e os sonhados futuros profissionais. Nunca me recompus totalmente dessa perda mas as contrapartidas foram compensatórias (a sério!)

Toda esta parra para dizer a seguinte uva:

hoje um jovem vai para a política (para uma jota) como quem escolhe um futuro profissional. Até aqui tudo bem. A política pode ser uma profissão. Mas depois, dentro do partido gere a sua concordância ou discordância com a linha política conforme as oportunidades de subida que lhe dão ou, no seu entender, ilegitimamente lhe recusam. Pode ir por aí fora até tornar-se independente ou apalpar terreno noutro partido.
Espanto-me, sem razão nenhuma, mas espanto-me, pronto, é assim. O político X do partido Y grita e berra contra a orientação e a direcção do seu partido não por causa da valia delas mas para subir um degrau, obter uma nomeação, um cargo ou um "job".
Sei que é assim já desde o tempo de Salazar. Nesse tempo sempre com o devido respeito, contricção e muitas missas. Provavelmente é assim desde Tutankamon, há 3300 anos, no antigo Egipto. Mas não consigo fazer como deve ser. Julgam que me estou a elogiar? Não, estou candidamente a revelar a minha incapacidade "política". Um defeito. Uma fraqueza.

Por isso eu digo: não nasci para a política.


 

Ainda não são 4 horas da tarde!!

... E este blogue já lá vai nas 800 entradas. É um "dia de festa" ... A nossa média das 300/400/entradas/dia já lá foi.

Tentei perceber e não cheguei lá. Socorri-me do amigo e gestor do blogue Raimundo Narciso e afinal era ele o culpado. Para o que lhe deu. Escrever coisas inoportunas e lá vai disto. O PUXA só pode estar-lhe grato. Falo por mim.

O PUXA puxou no Correio da Manhã.

Não fizemos nada por isso mas se puxou com um impacto destes, há pelo menos uma curiosidade em relação à obra do Raimundo. Ainda bem. Vale mesmo a pena ser curioso.

Aliás, há tanta coisa sobre as quais as pessoas deviam escrever, para suscitar a curiosidade, por exemplo sobre a situação da Câmara de Lisboa.

 

A Ota e o ministro Mário Lino

A Ota e o ministro Mário Lino continuam a dar pano para mangas. No plano humorístico até acho piada. Porque acho que o MOPTC, qualquer ministro, Sócrates ou Cavaco Silva não estão acima do humor. Até eu já coloquei aqui abaixo um post beduino com o "deserto" da Margem Sul.

A OTA

O que penso sobre a campanha partidária de Marques Mendes (MM) sobre a Ota e também de alguns grandes interesses incomodados com a política do ministério de Mário Lino já expliquei aqui mais abaixo.

O MINISTRO

São obviamente infelizes as afirmações de Mário Lino. Ele já explicou o que tinha a explicar e que toda a gente, mas toda, já sabia. Ontem o professor Marcelo naquele seu programa que "é uma espécie de Magazine" em que explica aos portugueses como devem "ler" as notícias e como devem interpretar o mundo, foi ao ponto de exigir ao ministro mais uns quantos pedidos de desculpa.
No mundo da comunicação os políticos estão expostos à gula mediática que se guia pela exposição não do que é a verdade, o essencial, a sua obra mas o que garante mais venda de jornais ou maior share de telespectadores. Valorizaram, por exemplo, não o papel de Bill Clinton no governo dos EUA mas a relação do homem com a estagiária Mónica Lavinski nos corredores da Casa Branca. Campanha que quase o levou à demissão. Valoriza o dedo no nariz mas não o que o político faz ou não faz. Não culpo os capitalistas que governam os media por isso. É assim. O homem meio-macaco que ainda somos gosta disso e os donos dos media impôem aos jornalistas a venda de tal mercadoria. E todos têm uma agenda de interesses opacos ao leitor, ao telespectador, ao eleitor.
Mário Lino é um político que não se apresenta em público com a suprema preocupção de obedecer ao paradigma do politicamente correcto. E paga por isso. Procura explicar o que pensa e o que faz, com rigor, com verdade, sem ceder à ansiosa gula dos que pululam e espreitam os muitos e grandes interesses ligados às empresas que tutela e aos poderes de adjudicação de enormíssimos negócios que detem. Preocupa-se mais em explicar as decisões do seu ministério a quem o ouve e preocupa-se menos com o facto de que alguns órgãos dos media e alguns adversários, nas comissões da Assembleia da República ou nos fóruns televisivos, não querem saber absolutamente nada do que ele diga, mostre ou comprove de substancial mas apenas de uma qualquer gafe, de alguma frase desajeitada, de algum trejeito menos adequado.

Talvez a opinião pública, os eleitores, saibam distinguir o trigo da palha-retórica, saibam ler a realidade por si próprios em vez de lerem a "realidade" que alguma comunicação social, alguns políticos, e o "tarólogo" professor Marcelo lhes impingem.


 

Na Antena 1 com Maria Flor Pedroso

Quem tenha o gosto de se meter na vida dos outros e tenha suficiente paciência para me ouvir à conversa com Maria Flor Pedroso, no seu programa das manhãs de Sábado (2007-05-26), sobre um livro pouco ortodoxo e ainda menos recomendável pode ir aqui.

2007-05-27

 

RN na feira do livro

Dei um saltinho à feira do livro, aproveitei e comprei o livro do Raimundo.

Lá estava ele refastelado numa cadeira em amena cavaqueira com o José Jorge Letria com o seu neto mais velho.

Nos minutos em que lá estive apareceram bastantes pessoas a pedir assinatura e dedicatória.
Aparentemente não é só na FNAC que o livro se vende bem.

E nem sinal de míssil dos lados das edições avante.

Só não mostro uma fotografia porque não estou configurado para tal. Deve ser receio de eu publicar algo menos decente ;-)
 

Este país "passou-se"?

Quando a contestação formal oposição/governo está em aceleração, quando alguns sinais de choque PR/Governo parecem vislumbrar-se no Horizonte, o povo coloca-se um pouco a leste desta borrasca. Ou então não, está num outro registo e troca as expectativas nas sondagens.

Não sei, mas algo não dá certo, o que nos faz pensar.

Não é que, quando tudo está em polvorosa, as sondagens vão noutro sentido?

O Ps reforça a maioria; Sócrates melhora, nas sondagens, o seu desempenho. Como é que tudo isto se articula?

Será mesmo que a população percebe que a fase que o país atravessa é mesmo crítica? E que acredita que este governo tem uma postura de mudança?

Será que muitos, como eu, pensam que isto poderá ainda não ter batido no fundo?

Ver/identificar as nossas forças para sair desta crise, deveria ser um objectivo. Perderam-se muitos anos e não estamos bem de saúde. É preciso mudar e muito. Mas também é preciso encontrar o bom caminho.

Parece-me que, em algumas áreas, o caminho poderá estar encontrado, mas em outras corremos para o abismo.


2007-05-26

 

Uma boa entrevista

Raimundo Narciso, hoje ao meio-dia, em entrevista [aqui] a Maria Flor Pedroso, na Antena Um, fez três coisas dignas de nota, numa conversa interessante acerca do livro – Álvaro Cunhal e a dissidência da terceira via -, sobre as razões que o levaram a aderir ao PS após a expulsão do PCP e, por fim, sobre o modo como vê o mundo actualmente.

Em destaque, os sete anos que mediaram a sua saída do PCP da adesão ao PS; a ideia de que as injustiças sociais são insuportáveis e de que o capitalismo não é o fim da história; que Nelson Mandela é uma das figuras políticas que mais admira; e finalmente, numa inexcedível homenagem ao líder histórico do PCP, que só teria ido ao seu funeral se Cunhal pudesse estar vivo nessa ocasião.

Onde muitos, provavelmente, vão deter-se para rábulas de humor barato, eu vejo, tendo conhecido ambos, uma homenagem, das mais sentidas, à grandeza de um líder, e a decepção sublimada do entrevistado.

A não perder.




 

Um circo no deserto (3)

Dado que o “grau de popularidade” das instituições e figuras políticas se presta a frequentes utilizações destinadas a substituir a argumentação pela autoridade dos números, (inclusivamente neste blogue em que estou a escrever), atente-se nos resultados do barómetro da Marktest, publicado nos jornais de ontem.

O PS lidera as intenções de voto (47%) a larga distância do PSD (27%) e, ainda mais, dos restantes partidos PCP e BE (8%) e CDS-PP (6%).

Isto quer dizer que o PS, se fosse a votos na data das entrevistas, tinha assegurado um resultado que poderia repetir a maioria absoluta.

Porém, o que vemos em provas eleitorais parciais (regionais da Madeira, autárquicas e, provavelmente, na próxima futura de Lisboa) é um partido que ganha em abstracto (ideias gerais para o país) e perde -- ou ganha menos -- no concreto (soluções específicas para os problemas das pessoas).

Lendo com atenção os índices de popularidade, é essa mesma ideia que se desprende das estatísticas.

O 1º Ministro José Sócrates obteve um score de 2% que é o resultado médio de 42% de popularidade negativa (eufemismo para o conceito de impopularidade) e 44% de popularidade propriamente dita.

Porque será que “ninguém” reparou, agora, que o resultado do 1º Ministro ficou abaixo dos valores atingidos pelo seu partido? E que 6 (seis) dos seus ministros se apresentam com taxas negativas, três deles com saldos da ordem dos dois dígitos (Agricultura, Educação e Saúde)?

Todas as contas feitas, temos um governo que deprecia, em passo de corrida, as expectativas dos portugueses que lhe deram e gostariam de continuar a dar uma larga maioria para governar... melhor, pelo visto.

Posto isto, porque não ser mais exigente com os governantes?

Porquê o reflexo condicionado de correr a defendê-los mesmo quando as asneiras, erosivas da confiança depositada no PS, saltam a olhos vistos e urge dar-lhes solução?




 

E AO 22.º DIA MADDIE

"Agora vem a mea culpa. Conhecemos o mecanismo, já vimos isto antes. No Reino Unido, o pontapé de saída foi dado no The Guardian, numa coluna em que se qualificou a cobertura mediática do "caso Maddie" como "absurdamente para lá dos limites" e "inacreditavelmente entediante e voyeurista". Em Portugal, num debate com responsáveis dos canais nacionais, Ricardo Costa, director da SIC Notícias, admitiu "algum excesso", mas justificou-se com "a grande pressão".
....
Fernanda Câncio no DN ou aqui e aqui no Puxa.
 

Ourtras Viagens

Por Este Rio Acima

(com Fausto e Fernão Mendes Pinto)

O barco vai de saída
Adeus ó cais de Alfama
Se agora vou de partida
Levo-te comigo ó cana verde
Lembra-te de mim ó meu amor
Lembra-te de mim nesta aventura
P'ra lá da loucura
P'ra lá do Equador

Ah mas que ingrata ventura
Bem me posso queixar
da Pátria a pouca fartura
Cheia de mágoas ai quebra-mar
Com tantos perigos ai minha vida
Com tantos medos e sobressaltos
Que eu já vou aos saltos
Que eu vou de fugida

[A entrevista com Maria Flor Pedroso]

[A letra]


2007-05-25

 

Passageiros...

... a caminho do novo aeroporto de Rio Frio.

 

Barómetro Marktest

Num mês dominado pela crise na Câmara de Lisboa, o PS recupera a nível nacional a maioria absoluta... 47%. E o próprio primeiro-ministro consegue, segundo o barómetro deste mês da Marktest para o DN e a TSF, melhorar em dois pontos...
O PSD, que atinge os 27%, menos um ponto percentual que no mês passado, tem-se mantido estável desde o início do ano.
A coligação, liderada pelo PCP de Jerónimo de Sousa, desce 5% relativamente a Abril. O que não deixa de ser um dado muito relevante sobretudo num momento de forte contestação social ao Executivo, expressa na greve geral decretada pela CGTP para dia 30 de Maio e que os comunistas apoiam de corpo e alma.
A outra força à esquerda do PS, o BE fixa-se nos 8%, um limiar que tem repetido ao longo de vários meses. [link]

 

O PR pede consenso

Cavaco Silva quer um "consenso técnico e político" sobre a localização do novo aeroporto. Que «seria altamente benéfico para o país que a Assembleia da República realizasse um debate aprofundado sobre este projecto com base em estudos realizados por organizações e instituições competentes, dado o impacto para gerações futuras». [link]

A questão da Ota é, pela evidência de factores negativos da localização e pela dificuldade da avaliação dos aspectos globais conexos, um assunto excelente para a demagogia política, para a guerrilha partidária, para o desgaste do Governo com base não em verdadeiras mas em falsas razões. Marques Mendes viu na Ota uma tábua de salvação para mostrar que existe e que faz oposição, ao país e à forte oposição interna.

Mas o aeroporto na Ota que teve a aceitação dos Governos Barroso e Santana (inclusivamente apresentaram o pedido de comparticipação financeira em Bruxelas) e que nunca suscitara qualquer reserva de Marques Mendes enquanto governante, tornou-se, sem dados novos, para ele, uma hidra nacional.

Cavaco Silva quer um consenso técnico? Não há nem pode haver consensos técnicos sobre tal assunto. Os técnicos o que fazem é dar uma resposta aos problemas técnicos que a obra levanta e esses, os da Ota a engenharia portuguesa sabe resolver. Sobre isso há unanimidade de opiniões.

Consenso político? Só se promover a substituição deste Governo, que foi eleito com Ota no programa, por um Governo do PS e do PSD ou então o Governo do PS fazer o que lhe ditasse o PSD.

"Um deputado do PS explicou hoje que o colóquio que a Assembleia da República tem agendado sobre a localização do novo aeroporto internacional de Lisboa corresponde ao debate aprofundado que foi pedido hoje pelo Presidente da República."

É um sofisma inteligente. Mas é precisamente essa a resposta que o PR está a pedir.
(Alterei dois pequenos pormenores: "Um deputado do PS" em vez de "PS" para ser mais rigoroso e adjectivei de modo diferente o "sofisma" ;))

 

Tenho consenso


O Presidente da República veio hoje exigir consenso técnico e político sobre o novo aeroporto de Lisboa. Vendo as coisas difíceis mas desejoso de corresponder ao apelo do PR, o PUXA PALAVRA pôs-se rapidamente em campo e é com orgulho que pode desde já apresentar uma pré-solução.

Não obtendo resposta de nenhum partido português - que apenas repetiam o que já disseram, com uma gravação rouca pior do que quando pedimos uma informação à PT - virámo-nos para os espanhóis. PSOE e PP, passada meia hora que pediram, para pensar, responderam com... Badajoz.

Mais logo, às 8 horas vou levar o consenso a Belém.


 

É estalinista e nazi

Ao considerar estalinista e nazi a ideia da direcção do PSD de que os autarcas arguidos se devem demitir, Santana Lopes estava a chamar estalinista e nazi a Marques Mendes. Por isso, e com toda a razão, Marques Mendes exigiu um pedido de desculpas a... Mário Lino. Pelas suas declarações sobre a Ota.

 

Lusoponte ganharia milhões

Num jantar promovido pela Comissão Pró-Aeroporto na Ota, na terça-feira, em Fátima, Vital Moreira lembrou que o novo aeroporto internacional de Lisboa na Margem Sul daria lucros milionários à Lusoponte:
"Fala-se que o aeroporto construído na Margem Sul do Tejo seria mais barato, mas o problema é que o barato sai caro. Uma coisa é a construção do aeroporto, outra coisa é a sua utilização durante décadas. Imaginem 20 milhões de pessoas a terem de pagar portagens à Lusoponte. Dá seguramente centenas de milhões de euros por ano. Se fosse administrador ou accionista da Lusoponte estaria disponível para dar uma pequena percentagem dessa quantidade a todas as campanhas destinadas a desqualificar o aeroporto da Ota", ironizou.
O jantar juntou 380 pessoas de diversos distritos da região Centro e de todos os quadrantes políticos.

 

Quero outro País. Direito à indignação

Se tiver um azar, por exemplo, partir a porta de entrada do andar, por um acaso qualquer, tenho de assumir o risco. Ou tenho seguro e negoceio os custos com a companhia ou então estou lixado, se não tiver, pago eu. E nenhuma senhora de Fátima me vale.

Não percebo porque razão os agricultores têm de ser subsidiados quando caem umas geadas e as suas lavouras vão à vida. Esta ladainha é apoiada e politizada pelos presidentes de Câmara junto dos governos.

Os agricultores sabem que podem/devem fazer seguros de colheita e até para isso são subsidiados. Não o fazem. E depois vêm junto da "senhora de Fátima", o governo, pedir esmola. E a "senhora de Fátima" é tão boazinha, bem mais benemérita que "a verdadeira" que até concede esses benfícios.

Não pode ser ... Porque razão quem paga impostos tem de pagar para esses agricultores que não se defenderam, não pagam impostos e gozam de elevadas benesses fiscais e até não cumprem minimamente as regras básicas de defesa? Já se pensou numa empresa sem seguro? Ser agricultor é estar no mercado.E estar no mercado exige regras


2007-05-24

 

Uma música para desanuviar

Desde que fiz 41 anos ouço mais esta música ;-)


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Ticking away the moments that make up a dull day
You fritter and waste the hours in an off hand way
Kicking around on a piece of ground in your home town
Waiting for someone or something to show you the way

Tired of lying in the sunshine staying home to watch the rain
You are young and life is long and there is time to kill today
And then one day you find ten years have got behind you
No one told you when to run, you missed the starting gun

And you run and you run to catch up with the sun, but its sinking
And racing around to come up behind you again
The sun is the same in the relative way, but youre older
Shorter of breath and one day closer to death

Every year is getting shorter, never seem to find the time
Plans that either come to naught or half a page of scribbled lines
Hanging on in quiet desperation is the english way
The time is gone, the song is over, thought Id something more to say

Home, home again
I like to be here when I can
And when I come home cold and tired
Its good to warm my bones beside the fire
Far away across the field
The tolling of the iron bell
Calls the faithful to their knees
To hear the softly spoken magic spells.


 

Um circo no deserto (2)

As reacções, não se fizeram esperar:
Ricardo Araújo Pereira, "Deserto ao Sul"

 

Ministra da Educação é tão corporativa como os professores

A posição da Ministra da Educação ao achar que não tem razões para duvidar da DREN não me surpreende.

Na realidade ela só tem coragem para se atirar aos professores.
Mesmo com estes, o resultado obtido foi obrigar a trabalhar mais aqueles que já o faziam.
Na verdade quem trabalhava tem agora de trabalhar horas adicionais em casa devido à falta de meios na escola . Quem não trabalhava foi apenas obrigado a ficar mais horas na escola (normalmente sem fazer a ponta de um chavelho).

No estatuto da carreira docente separou e muito bem as carreiras, mas em vez de dar acesso a professor titular aqueles que através de provas mostrassem ser mais capazes, antes o fez por tempo na profissão o que injectou para a carreira (muito importante na gestão das escolas) um monte de incapazes, deixando de fora excelentes profissionais cujo defeito é serem mais novos.

Quando os seus serviços mais próximos falharam nos exames ela apoiou-os e sujeitou-se a um vexame público em vez de (como um líder deve fazer) apurar responsabilidades e agir em conformidade (era óbvia a demissão da responsável dos exames).

Agora, quando uma directora age de forma reprovável (e não precisava de muito tempo para o perceber) é capaz de declarar aos meios de comunicação social afirmar não ter razões para duvidar do seu funcionamento.

Todo este comportamento me leva a concluir que a Ministra age em função da protecção daqueles que lhe estão mais próximos (professores do seu ministério, chefias dependentes e nomeadas e professores de idade próxima da sua).
 

Um circo no deserto (1)

Vamos lá! Mário Lino exagerou.

O deserto, de facto, começa um pouco mais abaixo, passadas a colónia britânica de Gibraltar, Tarifa, e o estreito que liga o Atlântico ao Mediterrâneo. Apesar de Portugal ser relativamente pequeno, ainda são uns bons quilómetros até à costa africana, e mais uma jornada até ao deserto propriamente dito. Até há pouco, o sul de Portugal, desértico, povoado de mouros, com turbantes exóticos e trajes brancos, era piada sinuosa reservada ao imaginário dos indígenas da invicta e arredores.

“Ai que temos mouro na costa” – pronuncia-se com sotaque de entre o Douro e Minho, fazendo prova de uma malícia benigna.

As declarações de Mário Lino, e o aproveitamento que delas tem sido feito, não impressionam.

Depois das historietas da licenciatura de Sócrates, do processo pidesco contra o Professor Charrua, das ondas de entusiasmo que se elevam da administração pública com a prolongação do congelamento das progressões na carreira, faltava apenas esta graçoleta colada com goma arábica.

Um autêntico circo (como o meu companheiro de blog, Raimundo Narciso, sinalizou [aqui] há pouco), sim, mas nesse deserto que vai alastrando em volta do Governo.

Não perdendo seguramente de vista aqueles tempos remotos em que o actual Presidente da República, então 1º Ministro, via os frutos da sua governação transformar Portugal num “oásis”, o Ministro Mário Lino foi agora acometido pelas miragens do deserto.

É evidente que se tratou de uma liberdade poética.

Olhar o país não deve ser fácil para os governantes.

Ver um oásis ou ver o deserto é apenas uma questão de ajustamento do ponto de mira.

Um circo no deserto até me parece uma ideia melhor!


 

800 crianças e jovens, depois de Maddie, desapareceram no Reino Unido

... É o que nos diz a comunicação social de hoje.

Ontem os pais de Maddie, desaparecida no Algarve, foram a Fátima. Li também que vão deslocar-se pela Europa para divulgarem o desaparecimento. Li ainda que o pai de Maddie esteve no Reino Unido a tratar de várias coisas. Do fundo que se está a criar (será que se estão a criar mais 800?). Confidenciou com a polícia britânica, etc.

Os pais não se cansam de referir o bom trabalho das polícias no trabalho de investigação.

Mas algo me deixa um tanto quanto confuso. Se assim o é, então porque todo este aparato?

É legítimo, humano e está nos sentimentos que cada pai/mãe, perante um acontecimento destes, faça tudo.

Mas mais "solidário" não seria aplicar o fundo numa obra que apoiasse um trabalho no sentido de reduzir estes casos que afinal são bem mais frequentes do que se pensa?

Voltando ainda ao Reino Unido, todos os anos são dadas como desaparecidas mais de 210 mil pessoas.

 

O Grande Circo

Já não tens mais argumentos para discutir a Ota? Então discute o ministro!

O ministro das Obras Públicas, Mário Lino, num almoço na ordem dos Economistas, disse ontem que faraónico era construir o aeroporto na margem Sul, construir um aeroporto num deserto para o qual era necessário levar tudo, estradas, hospitais, escolas, hotéis e as pessoas, construir lá uma nova cidade. Citava aliás um especialista, insuspeito de simpatias pelo Governo.

Estava-se a discutir a alternativa à Ota de Rio Frio-Poceirão que fica num "deserto". Mas o PSD e a oposição em geral achou que à mingua de argumentos para discutir a localização do novo aeroporto de Lisboa talvez tirasse mais lucro de um fait-divers, de um facto político e montou o circo. O ministro não conhece a margem Sul!! Convocam-se jornalistas, fazem-se comunicados, mobilizam-se as Juventudes (a JSD de Setúbal manifestou "o seu profundo repúdio" e exigiu a demissão do ministro) as comissões políticas dos partidos, e os autarcas, o que levou o assessor do ministro a explicar ao país que ele já mesmo antes do alarido sabia da existência de Setúbal, Almada, Barreiro, Montijo, e mais umas quantas cidades e aldeias na margem Sul mas que o que se discutia era o local do aeroporto - Rio Frio, Poceirão. O CDS pela voz do seu candidato à CML Telmo Correia aproveitou o tempo de antena na TV para se ofender com o caso, exigir o aeroporto bem quieto onde está, por causa do turismo (daquele que não poderia vir com o esgotamento da capacidade da Portela.) e o seu colega deputado Nuno Gonçalves (não é o dos Painéis de S. Vicente) ficou-se por exigir a presença do ministro no parlamento. O radical juvenil, deputado porta voz da Comissão de Economia do PSD, Luís Rodrigues, garantiu que o ministro "fez um insulto a toda a população da margem Sul", elevou a parada e exigiu a demissão do ministro. Deixando talvez para Marques Mendes o pedido de demissão do primeiro-ministro. Os autarcas do PSD e do PCP da margem Sul, contrariando os autarcas do PSD e do PCP da margem Norte, vieram indignar-se, exigir explicações e o aeroporto nas suas terras.

Até ao momento, em 24 horas, o país parou para assistir, maravilhado, pela televisão, pelas rádios, os jornais, a internet e os blogs à discussão por alguns políticos de um não-facto. Para assistir ao circo. Da não-política.


2007-05-23

 

O Sinédrio de ressentidos

Baptista Bastos, "um dos maiores prosadores da língua portuguesa" diz Maria Lúcia Lepecki que sabe do que fala, acaba de publicar o romance As Bicicletas em Setembro (Ed.ASA). Mas além de grande prosador é um dos grandes vultos do jornalismo português. E sou eu que o digo, que disso também sei.


Por isso transcrevo do DN este saboroso extracto:

"O CDS-PP não se reuniu em congresso: juntou um sinédrio de ressentimentos. Paulo Portas, na funesta infelicidade de falar para audiência escassa, advertiu que se tratava de "tendências". E esclareceu os incautos: essa preciosidade política "fortalecia o partido" e animava-o para lutas tenazes, vislumbradas no horizonte. Ninguém percebeu nada. No interim, Manuel Queiró e Narana Coissoró, entre outros, criticaram a "totalização do poder" e a confusão ideológica amassada no almofariz de Torres Novas.

É a segunda vez que Portas não sai em ombros pela entrada principal. A vitória obtida tem mais a ver com Pirro do que com Midas.

... "Portas não decifrou os sinais do tempo."... (Texto completo aqui)


 

O salazarismo que permanece em nós. E na DREN

Que disse afinal o professor Fernando Charrua? No DN informa-se que terá dito: "agora quem precisar de um doutoramenteo, manda um certificado por fax." Coisa verdadeiramente inóqua. Mas o Correio da Manhã relata que o que o professor disse foi: "Estamos num país de bananas governado por um filho da p. de um primeiro-ministro". A ser assim o caso muda de figura.
Na minha forma sumária de fazer justiça, não era a directora, como disse aqui, que devia ser objecto de processo disciplinar. Não. Devia ser demitida e o professor que lhe foi fazer queixinhas objecto de severa censura.
Se Charrua viesse dizer que o P-M é filho da p. numa aula, na televisão, num acto público isso era absolutamente inaceitável. Mas parece que ele disse isso no seu gabinete para dois colegas.
Ora eu, que não simpatizo com a truculência de adjectivos deselegantes contra quem quer que seja em público, já disse, intramuros, o mesmo, deste P-M e deste PR e de todos os outros que os antecederam conforme o momento ou a queixa. Numa sociedade livre, num regime democrático, necessitamos como de pão para a boca, de ter a garantia de que podemos sem perigo, não apenas pensar, como na ditadura salazarista, mas também dizer, desabafar, o que nos vier à cabeça, desde que no nosso gabinete com os colegas, mesmo de outros partidos!, em nossas casas com a mulher os filhos e os amigos, com o vizinho no patamar do prédio, ou nos corredores da AR. Desde que não em acto público, ou actividade oficial.
A directora deveria ter dito a quem fez queixa, que desta vez passava em claro o acto de bufaria mas que para a próxima o bufo levaria com um processo disciplinar. Pelo menos moral, se o regulamento não comportar tal medida.

 

Saúde - Vamos ser mais "moderados"

Parece que o ministro da saúde e sua equipa querem que as crianças vão menos vezes às urgências dos hospitais.

Só desta forma se explica a vontade de aplicar também a eles as "taxas moderadoras".

Ou então afinal o erro está no nome e deviam chamar-se apenas "taxas" ou "taxas de utilização". Seria talvez mais corajoso por parte de um ministro que gosta de passar a imagem do homem frontal quando na realidade é tão cobarde (politicamente falando é claro) quanto os seus predecessores.

É que impostos associados à utilização ou consumo já existem em Portugal há muito tempo. Por exemplo o IA, as portagens das auto estradas (estas estando "vendidas" aos concessionários) ou ao imposto sobre o tabaco.

Admito que o dinheiro não chegue e tenham por isso de ser aumentados os impostos.
Mas porque razão um governo com maioria absoluta se deixa enterrar num pântano semântico em vez de "chamar os bois pelos nomes" ?.
 

Em 7º no TOP FNAC


Apesar de desaconselhado pelo Avante há quem compre o livro Álvaro Cunhal e a dissid... No Top Fnac é o 7º entre os 10 mais vendidos. Ver aqui . Tudo sobre as reacções ao livro aqui.


2007-05-22

 

Wanna Work Together?

3 min de filme introdutório às licenças Creative Commons.

Vale MESMO a pena ver.


 

"Pai" do software livre em Lisboa

Na 5ª feira, pelas 14 horas vai ocorrer no auditório 2 do Fórum Picoas um evento acerca da nova versão (3.0) da licença de software livre GPL (GNU Public Licence).

Estará presente Richard Stallman, conhecido activista da causa do software livre e fundador da GNU Software Foundation.

A maioria do software livre usado é licenciado de acordo com a versão anterior (ou dela derivada) desta licença, nomeadamente linux, openoffice, firefox, etc.

O tema não é técnico mas sim político. Richard tem o dom da palavra e é um orador notável apesar da sua imagem algo alternativa.

Aconselho vivamente a presença neste evento, mesmo a quem não é da área das tecnologias de informação. Não irão dar este tempo por perdido.
 

Troca de Bússola

...Manuel Pinho, ... um ministro naïf.

Nada a estranhar. É um habitué. Afinal, houve uma "razão"!!! O Senhor Ministro pairou em Bruxelas desfasado da realidade portuguesa. Tinha o reporte de Janeiro. E, ai, porque não? Até a Delphi podia criar aqueles 100 postos de trabalho já criados.


 

Um acto inútil? ...

Os exames (?) de aferição de hoje para que serviram?

Aparentemente para muito pouco. Não serviram para avaliar os alunos, não serviram para avaliar os professores, não serviram para avaliar se o sistema de ensino ensina, pois há quem admita que face aos exames os professores enviezam os métodos de ensino, preparando os alunos apenas para ter um desempenho razoável no exame.

Ao contrário de tudo o que está a acontecer, estes exames poderiam servir exactamente para avaliar e de forma exigente.

Como pode ser exigente quem não sabe para ensinar?

 

Arguido por arguido...!

Afinal, na Câmara Municipal de Lisboa, Marques Mendes deita abaixo um arguido para lá meter outro arguido.
De facto Fernando Negrão afinal também é arguido. Há seis anos. Já se vai percebendo que ser arguido não é ser crimininoso nem culpado de nada. E que se pode ser arguido, e isso sucede com frequência, sem mesmo haver qualquer indício seguro de crime. E no caso de Negrão a única coisa que vai mal, a expensas da Justiça que temos, é ser arguido há 6 anos num caso (apoio à directoria da Judiciária de Faro) sem importância.
Já o mesmo se não pode dizer da imagem que dele ficou quando foi afastado de director da PJ. Apesar de ter a juiza arquivado o processo deste juiz, por "falta de provas", contra a opinião do Procurador Geral da República, a "certeza" que ficou é que uns dias antes, numa entrevista a jornalista do DN, Fernando Negrão, informou que a polícia que dirigia iria fazer buscas à Universidade Moderna. O que para a opinião pública passou e ficou, apesar da "falta de provas" foi que o director da polícia de investigação avisou os eventuais crimionosos da UM de que iriam ser objecto de buscas. O caso conduziu, aliás, à sua demissão da PJ.
Paula Teixeira da Cruz, presidente da Assembleia Municipal de Lisboa, garante em entrevista ao DN (2007-05-21) que Fernando Negrão o candidato à CML pelo seu partido é "CANDIDATO FORTÍSSIMO".
Talvez... mas...

 

Música para as horas mais difíceis (2)

O poema é de José Saramago, mais conhecido por outros géneros de escrita. Chama-se “Ouvindo Beethoven” (seria a 5ª sinfonia?). A música e a voz são de Manuel Freire. Ouvi-o primeiramente no Barreiro, em 1969, de uma das vezes que Freire lá foi cantar. Continuo a ouvi-lo hoje. Acho-lhe piada, porque continua a anunciar que “chegará o dia das surpresas”!
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2007-05-21

 

Já não há nem para o papel higiénico

Hoje recebi a seguinte mensagem com origem na escola de um dos meus filhos :


AOS PAIS

A escola dos nossos filhos depende do orçamento da Câmara Municipal de Lisboa para fazer face a despesas tão elementares como a compra de papel higiénico, sabonete líquido e toalhetes secos para as casas-de-banho. A quantia que foi disponibilizada para este ano há muito que se gastou e, dadas as actuais circunstâncias, não parece que ainda recebamos mais alguma. O Conselho Executivo do Agrupamento já disponibilizou € 500,00 de outra verba para estes gastos e, mesmo assim, o material acabou.

Assim, de acordo com o CE, Coordenação e Associação de Pais, solicitamos que tragam um rolo de papel higiénico, um maço de guardanapos de papel dos grandes e uma embalagem de recarga de sabonete líquido. Distribuída por todos, a despesa é mínima e resolve o assunto até final do ano lectivo.

Todos agradecem, muito em particular as crianças.


Os nossos filhos já nem para ca.g.. e lavar as mãos têm os meios disponíveis nas escolas.

Há dinheiro para túneis, carros no dakar e flores na Av da Liberdade mas parece que para o essencial ele não aparece.

Já agora ... A escola é a Nº 57 de Telheiras, mas acredito que ainda seja pior noutras de Lisboa.

 

Música para as horas mais difíceis (1)

…E se estiveres chateado com o rumo que as coisas estão a levar (o que não é difícil), com os sacrifícios que te pedem (para, depois, te pedirem ainda mais), com as promessas que te fizeram e não apenas não cumpriram como lhes deu exactamente para fazer o contrário do prometido; se te insurges contra os apelos à delação que foram introduzidos nas normas de conduta do bom funcionário público, e como o Raimundo Narciso, em anterior poste, contra a chanfradice nacional que gerou o caso Charrua; bom, então, minha gentil amiga, meu prezado confrade, só te resta mesmo (mesmo, mesmo!) o Coltrane.


2007-05-20

 

Acabou o campeonato

E acabou bem ... tudo certinho. Acho que o valor das equipas acabou por ficar bem ordenado, sobretudo, porque esse valor depende muito das ópticas dos treinadores. Não tenho bem a certeza disto. Talvez. Mas não será que os treinadores de vez em quando fazem uns jeitos aos directores? Ou será que me engano?

Só vou falar do meu clube. Tenho grande consideração pelo Paulo Bento, embora ache que devia ir treinar um pouco o contacto com o público. Tudo se aprende e o Sporting podia pagar-lhe um curso. Sei que anda mal de finanças, mas isso custa apenas uns tostões. Um curso na Glória de Matos. Se até o nosso PR por lá passou ....

Não percebo porque Paulo Bento insiste em substituir um dos melhores jogadores.. o Romagnoli .... Jovem, inteligente. Será que tem "ordens" para isso? Ainda hoje, nesta final, Romagnoli estava a jogar muito.

 

Falta de humor na DREN suspende professor

Não sei o que se passa nos intervalos para café das reuniões do conselho de ministros relativamente a dichotes sobre as vantagens de uma boa inscrição na ordem dos engenheiros ou da superioridade do email sobre o fax para efeitos de prestação de provas de Inglês mas não excluo que Sócrates entre na paródia.
Por isso essa de um processo disciplinar a um professor que gozou com o que se tornou um gozo corriqueiro parece-me sinal de gravíssimo mais papismo que o do papa e digno, esse sim, de um exemplar processo disciplinar.

 

Educação - Condições não chegam às escolas

Fui um daqueles que apoiou a política de educação iniciada por este governo.

Achei muito bem quando se pretendeu que os professores trabalhassem na escola durante todas as horas.

Esta medida serviu para que aqueles que após as suas aulas não trabalhavam mais na preparação das aulas e testes optando antes por outros empregos, explicações ou pura e simplesmente não fazer nada.

Estas medidas, na altura foram acompanhadas por promessas de criação de condições nas escolas.

Passados longos meses o que se passa no terreno é que aqueles que dantes trabalhavam em casa usando os seus meios informáticos e outros, agora têm de ficar horas na escola durante as quais não conseguem fazer nada e depois em casa trabalham horas a fio, muitas vezes até às tantas da noite.

Impõe-se medidas para fazer chegar os meios aos professores. Os meios informáticos parecem ser aqueles que são mais deficitários. É nesta altura impensável os professores trabalharem sem eles. Nas escolas eles existem em número imensamente insuficiente.

Não existindo gabinetes de trabalho para os professores terão assim de ser adquiridos computadores portáteis e instaladas redes que lhes permitam impressões remotas nas impressoras que também não existem.

Uma forma de o resolver poderia ser o abatimento nos impostos a computadores portáteis adquiridos por professores.
 

À ganda Benfica

Em Inglaterra já ganhámos ( eu privilegio o Mourinho, que vale o 11 todo, em vez do Ronaldo, apesar da excelência, porque é 1 em 11).
E mais logo vamos ganhar em Portugal. Não digo é quem. Se a "cambada" do Norte, se a detestável lagartagem ou se a malta fixe do Glorioso. Ainda que... é claro... dois milagres... não é fácil mas... "prontos".
 

Telmo Correia?

Manuel Queiró receia que Portas, ainda desasado pela "excelência" dos governos em que participou esteja a pensar num acordo pós-eleitoral com Sócrates. Não sei o que Sócrates pensa disto e a esta distância das legislativas não deve pensar nada. Mas o versátil Portas ai já pensa já.
Por outro lado Pires de Lima gostaria de ser tomado por chefe de uma tendência liberal, sexy mas não fracturante. Os facciosos de Ribeiro e Castro querem Democracia Cristã e como pedir não custa pedem para o CDS os votos de quem votou contra a despenalização do aborto. E Marques Mendes ficava com quê?
E foi assim que para candidato a Lisboa vai o pobre do Telmo.
Mas com que carisma Senhor!

 

As novas datas para a CML

"O requerimento apresentado pelo Partido da Terra foi, assim, aceite pelo Tribunal Constitucional."
Agora as listas podem ser entregues até 4 de Junho e as coligações até 28 de Maio. A campanha eleitoral - encurtada de 12 para 8 dias por se tratar de eleições intercalares - é agora de 6 a 13 de Julho.

 

É a 15 e não a 1

Que a 15 de Julho está muita gente de férias e abstenção subirá.
Que atrapalha a presidência da UE, exercida por Portugal, no segundo semestre deste ano.
Que atrasa a urgente necessidade de pôr Lisboa em movimento. Etc.
E com estas boas desculpas os partidos optaram quase todos por 1 de Junho. Percebe-se porquê.
A Rosa teme o efeito Roseta. Que também assombra Jerónimo de Sousa e Louçã e Marques Mendes teme o efeito Carmona.
Mas a lei contempla listas de independentes e contempla coligações e se as contempla tem de contemplar as condições que as permitam.
Ganhar na secretaria é mais fácil mas feio e traz sempre maus efeitos colaterais à democracia.
Por isso, eu que estou por António Costa, saúdo a decisão do TC.

 

“The worst in history”

Esta Administração [a de Bush] foi a pior da história [dos EUA], tão má quanto o impacto negativo que provocou nas relações internacionais em todo o mundo - afirma o ex-presidente dos EUA e prémio Nobel Jimmy Carter - que culpa Tony Blair pela sua relação de lealdade com Bush. [NYT]

 

O túmulo de D. Afonso Henriques

Na base do que tenho lido, o Ministério da Cultura parece recear que o D. Afonso Henriques não esteja em "habitação" própria. E, caso isso sucedesse, seria assim tão grave para a "nossa história"?

Mas, a ser verdade que aquelas ossadas não são as do nosso primeiro rei, não seria caso único no mundo. Daí não se entender os argumentos usados pelo Ministério para negar o acesso aos investigadores que pretendem pura e simplemente apurar a questão.


2007-05-19

 

No blog: A Grande Dissidência


Aqui ao lado as novidades sobre o livro
ÁLVARO CUNHAL E A DISSIDÊNCIA DA TERCEIRA

Só as últimas:

A apresentação do livro [fotos] Quem foi e quem não foi.
O que disse um alto dirigente do PCP, no Avante, sobre o livro que não leu.
O que disse Mário de Carvalho na apresentação do livro.
E uma história antiga que eu conto de Mário de Carvalho.
O que disse o João Tunes.

 

Cerveja livre

Depois do início da libertação do software (movimento do software livre) e da sua generalização para a cultura (através da utilização de licenças Creative Commons) agora um grupo de estudantes criou uma receita de cerveja que pode ser usada livremente.

Pode assim a receita ser usada para fazer cerveja e(ou) para criar receitas derivadas.

Vai na versão 3.0 e pode ser acedido em http://www.freebeer.org/blog/ .

Dado o mediatismo obtido este projecto deu um importante contributo ao movimento que pretende ver cultura livremente disponível para utilização ou criação de trabalhos derivados (ver reportagem na CNN).
 

Para lá do ressentimento (3)
















Sessão de lançamento. Fnac Chiado 17/05/2007


No seu mais recente livro "Álvaro Cunhal e a dissidência da terceira via", [Blogue do Livro aqui] Raimundo Narciso descreve e analisa a acção e as repercussões do movimento cujos contornos, propostas, e evolução levaram os principais protagonistas à fundação do INES, depois à criação da associação política PLATAFORMA e, finalmente (?), à distribuição dos seus membros por destinos partidários diferentes, do BE ao PSD, tendo a maioria dos elementos mais proeminentes ficado pelo PS, enquanto outros, parece que em menor número, nem isso...

Passam, muito em breve, duas décadas sobre a data da publicação do 1º documento de reflexão que esse grupo elaborou e pôs a circular. Numa altura em que alguns dos “actores históricos” referidos pelo Raimundo Narciso, se agitam entre o enxofrado e o desmemoriado, parece-me da mais elementar decência deixar aqui duas palavras de apreço por um documento político que fornece aos leitores interessados uma perspectiva quase desconhecida e provavelmente pouco reflectida sobre aspectos marcantes da cultura política, dos estilos dominantes e das contradições que existiam nesse tempo no PCP.

Sou sensível e creio compreender algumas das reacções vindas do PCP. Apesar de transcorridos vinte anos, os actuais dirigentes daquela organização política prevêem que a leitura do livro de Raimundo Narciso poderá prejudicar, por pouco que seja, a imagem e a influência de uma força política fundamental quer na resistência ao fascismo do Estado Novo, quer na fundação do regime democrático saído da revolução de Abril de 1974.

Têm razão.

As memórias de um ex-dirigente expulso com base na diferente apreciação acerca do golpe de Moscovo prende-se directamente com uma injustiça política de triste memória. O PCP veio, mais tarde, a corrigir a sua avaliação e apreciação acerca da ilegitimidade e ilegalidade do golpe que apeou Mikhail Gorbachev do poder. A pouca importância atribuída a esta peripécia revelou externamente a indiferença que grassava no interior daquela organização pela importância da ideologia.

O direito à memória, que Raimundo Narciso exerce com vantagem para quem não conheceu, ou conheceu mal os paradoxos que ele refere no livro, pode e deve ser complementado ou contrariado com o direito a perspectivas necessariamente diferenciadas.

Diabolizar ou discutir, continua a ser, parece-me, o dilema que afasta o despotismo ideológico do debate informado. Para lá de qualquer ressentimento.


 

Para lá do ressentimento (2)




















Panteão Nacional

Um punhado de monárquicos ressentidos tenta travar a iniciativa do Parlamento que consiste em levar os restos mortais de Aquilino Ribeiro para o Panteão Nacional. Motivo: o autor de “Quando os lobos uivam”, teria estado implicado no regicídio de 1 de Fevereiro de 1908.

Os contos, a este respeito, são largos.

Como já aqui referi [neste poste], os braços de ferro em torno das memórias do passado, fazem pouco mais do que tomar pretextos para influenciar estratégias do presente.

Semi-perplexa, a memória de Guerra Junqueiro, (ao lado de outras) deveria agitar-se incomodada.

É que o autor de “Os simples”, com o seu funesto poema “O caçador Simão”(*), prevendo-o, incitou também ao assassinato de D. Carlos.

Porém, Junqueiro, que ocupa há muito o seu lugar, de direito, no Panteão Nacional, parece repousar já para além de qualquer ressentimento...


(*) [Aqui] reproduzido pelo nosso vizinho "Livre e Humano"

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