2008-02-29
Rão Kyao
Mas será apenas por isso? Permitam - me ter dúvidas.
O nosso país tem algumas singularidades esquisitas. De forma geral, trata mal os seus artistas, os seus escritores, etc, mesmo os muito bons. Ao longo da história se alguma vez tratou bem alguém foram quase sempre os mais próximos do "regime".
Rão Kiao aparece hoje a falar e diz uma coisa fantástica: "Falta consciência histórica à população portuguesa" É verdade. A longa noite do regime fascista é a origem, mas não podemos continuar "a bater no ceguinho".
2008-02-28
Deco e Correios
Porque estranhei?
Uns até mais fanáticos, face ao meu sorriso algo descrente, até traziam de vez em quando umas revistas especializadas em que se liam de facto essas referências.
Hoje, Luis Nazaré, Presidente dos Correios vem desmentir a Deco e desafiar para um debate.
Há que averiguar o porquê deste estudo, ou então dizer: tudo estava/está errado. Afinal, até os europeus pensam que somos melhores do que somos.
2008-02-27
O financiamento dos Partidos Políticos
Seria interessante um debate sobre o financiamento.
De facto parece pesar, relativamente é evidente, o montante que sai do OE para os partidos. Daí que seja interessante percerber-se o que pensam os Partidos desta questão. Um bom tema para a sTV'S e comentadores.2008-02-26
A primeira cereja
A primeira cereja no tempo delas.
Parabéns e um abraço para Vítor Dias.
Em leito-de-cheia (4)
Entretanto, já esta manhã, o Secretário de Estado Valter Lemos, fez deslizar a jurisprudência para o campeonato judicial. Segundo ele, havendo 6 acórdãos favoráveis aos professores (aulas de substituição = horas extarordinárias) e 9 sentenças favoráveis ao Governo (?), estaríamos perante um resultado de 9-6, com o Governo a ganhar.
Como os professores atingidos foram aconselhados a resolver o problema através de um requerimento que deverá invocar as 6 sentenças anteriores, aguarda-se que o Governo passe a defender o seu ponto de vista, requerendo que o despacho a dar aos requerimentos dos professores se baseie, não nas seis sentenças que eles invocam, mas nas nove em que os Tribunais deram razão ao Governo.
Valter Lemos não vê mais do que isto. Aguarda-se que no PS e no Governo, alguém queira ver um pouco mais longe...
Pela sua parte, o Secretário Geral do PCP, deu provas de uma lucidez inesperada. Falando aos media, Jerónimo de Sousa desvalorizou uma eventual substituição da Ministra. (Ver aqui).
Vinda do dirigente de uma força política amiúde acusada de botabaixismo, esta posição não deixa de surpreender. Pensará Jerónimo de Sousa que as "remodelações forçadas", sob a chuva de lutas e protestos, não configuram objectivos políticos consistentes? Que outra saída legítima poderá haver, no imediato, num regime democrático em que o Governo tem a apoiá-lo uma maioria absoluta?
Não enfraquecerá o bom fundamento de uma política a substituição involuntária de sucessivos ministros?
2008-02-25
"Renegados?"
Ainda assim, no New York Times de hoje, em peça assinada por Jeff Zeleny, com o título " In Memories of a Painful Past, Hushed Worry About Obama", a questão dos perigos, ameaças e riscos que os candidatos correm é levantada e discutida. Depreende-se, da leitura, que os receios continuam a existir mas que as circunstâncias se alteraram. Visto daqui, de uma Europa distante e pouco conhecedora dos meandros da política dos States, o panorama é nebuloso. Se, por um lado, os receios que existem são contrabalançados por uma atitude corajosa dos candidatos e por novas disposições de protecção asseguradas pelo Estado Federal, já o nome de código que os serviços secretos atribuíram a Barack Obama não deixa de chamar a atenção. Segundo o NYT, Barack Obama é instantaneamente identificado pelos agentes do dispositivo de segurança por "Renegade" (Renegado).
A escolha desta forma de referir o Senador do Illinois, pré-candidato à Casa Branca, pode não afectar a eficácia da protecção que lhe é dispensada, mas não deixa de revelar os mixed feelings da América profunda.
Visto a esta distância, a escolha do nickname até poderia parecer o início de uma conspiração...
Rotina.
2008-02-24
Afinal como é?
A ser verdade, embora acredite que há no futebol muita gente séria e decente, não parece "eticamente" muito apropriada uma nomeação com este perfil, tanto mais numa altura em que a imagem da PJ anda mesmo muito por baixo. Uma organização que precisa urgentemente de ser credibilizada tem de ter mais cuidado na escolha dos dirigentes.
O PSD de Menezes já está a posar para a História
Mas neste país tudo possa acontecer, porque não é só em Fátima que o sol fica turvo.
2008-02-23
Politeia. Aqui ao lado
Em boa verdade o Correia Pinto já blogava mas em blog especializado, como no Politeia poderão ver, espreitando o perfil do autor.
"Houve um favorecimento terrível"
Em artigo de hoje do Jornal Expresso, Manuel Violas mostra-se indignado com Santana Lopes pelas afirmações falsas por este proferidas sobre os casinos do Algarve, quando disse no jornal da noite da SIC notícias no passado fim de semana "que os casinos do Algarve reverteram para a posse da concessionária" (Solverde). Manuel Violas diz que Santana Lopes mentiu e explica.
Resumindo, estes negócios primam sobretudo pela não transparência e pelos jogos esconsos. No entanto, para Jorge Coelho, tudo está muito transparente pois para ele não há dúvida que o casino de Lisboa deve reverter para a sociedade Estoril-Sol.
2008-02-21
Sabedoria Africana
Diz o filho preto para o pai preto: - Pai, porque é que europeu tem cabelo loiro e liso? E não tem assim preto e carapinha? - Europeu tem cabelo fino, vem na selva, apanha água da chuva, adoece, Constipa e morre... Preto não, a água cai na carapinha mas não entra. - Pai, porque é que preto tem pele escura e europeu tem pele assim branquinha? - Europeu vem pa selva, leva co sol e queima. Apanha cancro na pele e Morre. - Preto não... Escuro absorve raio solar e não faz nada... - Pai, porque é que preto tem assim cheiro a catinga e europeu não? - Europeu vem na selva e aparece leão e tigre e ataca europeu. Assim Europeu morre... Preto não... Cheira a catinga e tigre e leão não ataca... - Mas pai, porque é que a gente quer isso tudo, pra morar aqui na Amadora?
2008-02-20
O Caso: Casino de Lisboa
Três temas serviram hoje de mote: a entrevista de Sócrates, o caso do casino de Lisboa e as cheias.
Este caso contém em si um problema grave: ninguém está esclarecido e acreditando na normalidade das coisas, houve aqui um atentado contra o património público.
Não gostaria que o Estado português saisse deste proceso com o património mais reduzido, o que sinceramente depois desta quadratura fiquei sem grandes esperanças.
Em leito-de-cheia (3)
2. Rui Ramos escreveu no PÚBLICO de hoje um texto bem desarrincado. "Acabados de nascer" (pág 41 da edição em papel). A fechar, um mote de antologia: "Vivemos todos há muito tempo num mundo demasiado velho. Não nos fica bem disfarçar a idade."
3. Em contrapartida, Teresa de Sousa, no mesmo jornal (pág. 43), num texto intitulado, "Obama ou a (im)possibilidade do sonho", lança: "Nos próximos tempos vamos ver se a magia Obama se vai extinguir ou se pelo contrário vai transformar-se num movimento imparável". O registo conservador é assim: face à mudança esperançosa, não arrisca, não alinha e reserva as previsões para ... depois do jogo.
4. Nas capas de praticamente todos os jornais, (exceptuando o "24 horas" que o passa em branco e o "Correio da Manhã" que, parcamente, lhe oferece a sua orelha esquerda), Fidel Castro retira-se. Uma silhueta que vacila em fundo de sombras. O homem que ao ser julgado em 1953, depois do frustrado ataque ao quartel de Moncada, afirmou estar convencido de que a História o iria absolver, olha à sua volta, mais de meio século depois, e hesita.
Que história o irá absolver agora?
2008-02-19
Fidel de Castro resignou
Quase 20 anos depois da queda do muro é muito tempo! Um mito que cai, que não parece deixar algo com sustento. Nada mudou aparentemente, mas muito se "terá bem desmoronado" lá no interior, sendo visível a perda de vitalidade do regime, as cedências ao investimento externo e bastante impreparação para enfrentar novos ventos.
Se o é, abriu-se mais um espaço para mais cedo ou mais tarde uma deriva de "capitalismo selvagem" poder singrar por algum tempo.
Em leito-de-cheia (2)
O que impressiona mais na postura do Ministro do Ambiente é a ligeireza. Numa hora de dificuldades, em que é necessário lançar mãos à obra e dar resposta aos problemas aflitivos que se perfilam, o Ministro vem entregar-se ao jogo do empurra, como se fosse o momento azado para culpar quem quer que fosse.
Um péssimo exemplo de governação.
Uma lástima de governante.
Em leito-de-cheia (1)
Vive-se, um dia atrás do outro, à espera de que não aconteça.
Depois, acontece.
E volta a acontecer.
Isto é.
Volta tudo ao princípio.
Olhando as 1ªs páginas, percebe-se isso. Num ou noutro caso, tentou-se diminuir a importância das inundações; noutros casos, houve coincidência na escolha da foto principal.
Não há maneira de disfarçar.
Os pobres voltam a enfrentar o perigo de continuarem a viver no mesmo sítio.
Os ricos decidem enfrentar o risco corrido pelos pobres.
Vivemos num país construído em leito-de-cheia.
2008-02-18
Espantoso, ou talvez não!!
Santana Lopes, o agora líder parlamentar do PSD (na bicefelia de Menezes), afirmou: "Não ando a dar casinos". Mas, segundo disse, teve de explicar o sucedido ao Pai de 75 anos.
Será que não têm de explicar também o sucedido ao Pai? Explicar coisas a pessoas com mais de 75 anos é porque ... a coisa é mesmo muito dificil de explicar. Com tantos anos vividos já não há perguntas difíceis. Pelo menos desta natureza.
2008-02-15
Ainda o caso Ricardo Bexiga
Mas há situações interessantes a ver. Dizia hoje o Correio da Manhã que o actual Director da PJ, Alípio Ribeiro, o criador do "segundo caso" Maddie com as suas declarações era na altura do caso Ricardo Bexiga nem mais nem menos que o Magistado responsável do Ministério Público do Porto.
O Paradigma do Gel-de-Banho (2)
As "domésticas" menos inovadoras do que as empregadas; os estudantes na crista da onda?
(As surpresas não acabam!)
Analisando os resultados com atenção, não restam dúvidas: o país está cada vez mais receptivo à inovação, aos novos modos de operar e de resolver problemas.
Convém não esquecer a questão da distribuição da riqueza.
Tal como se pode deduzir do gráfico do meu anterior poste [O Paradigma do Gel-de-Banho(1)], as embalagens não são propriamente dadas.
O poder aquisitivo e a receptividade à inovação surgem associados.
Porque será?
O Paradigma do Gel-de-Banho (1)
Repare-se que a penetração do produto no mercado cresce com uma certa regularidade ao longo de 6 anos (de 38,2% em 2001 a 53,7% em 2006). A esse ritmo, a "receptividade" decresce com o envelhecimento (já se estava à espera); fora dos grandes centros urbanos e com a interioridade (não espanta nada); e com os rendimentos mais baixos (quem diria?).
Exceptuando a distribuição pelas posições face ao trabalho (que os inquiridos declararam ter), a observação é útil e conclusiva.
Nalguns aspectos, até, quase tão velha como o próprio banho.
É para esta fotografia em movimento que deverão estar a olhar, neste momento, atentamente, os membros do Governo.
Devem estar a reparar (de novo) que nem todos os portugueses consomem gel de banho...
2008-02-14
"Prends le pouvoir, note ton prof!"
Este site foi lançado pelo director de campanha do deputado UMP Pierre Lelouche. Mesmo fazendo parte da mesma família politica o ministro da educação desaprova totalmente esta iniciativa.
Desaprovo totalmente esta iniciativa não porque tenha medo da opinião que os meus alunos possam ter sobre mim, mas pela possibilidade de se cometerem enormes injustiças devido à ausência de controlos e à total subjectividade do sistema.
Um interessante artigo do Monde pode ser visto aqui.
2008-02-13
O Jogo e as regras (6)
E o que era, afinal, esse "quase tudo"?
Primeiro, os americanos, no seu conjunto complexo, não estavam preparados para "aceitar" um presidente negro. Esta asserção é curiosa, porque deixa subentender que, mesmo eleito, os americanos poderiam não querer aceitá-lo.
Em segundo lugar, não teria a credibilidade nem a visibilidade do clã Clinton. Hillary tinha a vantagem de ser conhecidíssima como 1ª dama do presidencial esposo, Bill, ao longo de dois mandatos, aos quais se seguiu a carreira de senadora, sempre acompanhada da "espontânea" profecia de que viria a ser a 1ª mulher presidente dos States.
Em terceiro lugar, a mola real. Obama (diziam os doutos analistas) nunca conseguiria o financiamento necessário para uma campanha ganhadora. Os grandes contribuintes que influenciam a sorte da corrida, estavam a apostar, desde o início, decididamente, no clã Clinton.
E agora?, que Barack Obama ultrapassou Hillary Clinton e, mais do que isso, conseguiu imprimir uma dinâmica de esperança na "mudança" e confiança nas próprias forças?
Que explicações vai encontrar a vulgata analítica?
A astúcia arrogante não deixa aqueles que erraram redondamente as previsões com teorias de ocasião, reconhecer a pobreza do seu conservadorismo analítico. Isso corresponderia a reconhecer, por tabela, as bases frágeis em que, frequentemente, assentam os seus hábitos de se deixarem ir com o que parece ser a corrente dominante.
Fazem de conta que não é nada com eles. No fundo, nunca gostaram muito de debates em que pudessem ser contrariados.
Vão ter agora de inventar novas explicações.
E é essa, apesar de tudo, a vantagem que resta: podemos divertir-nos a comparar o que disseram antes com o que sustentam agora.
E isso, só por si, já está a proporcionar alguns golpes-de-rins hilariantes.
2008-02-12
Timor de novo... nas primeiras páginas
Não é só preocupante, mas é sobretudo muito nebuloso o que paira por detrás da política timorense. Alfredo Reinado foi um protegido de Xanana e de Ramos Horta e de grande utilidade na crise timorense de 2006. É interessante sobre esta confusão grave ler CINZAS E NEVOEIRO NA POLÍTICA TIMORENSE de Perez Metelo que conhece bem Timor.
2008-02-11
O Jogo e as regras (5)
João Tunes, do Água Lisa(6) já chamou a este posicionamento Situacionismo em cul-de-sac, por, alegadamente, não vislumbrar o alcance da lamentação pos factum. A maioria dos apoiantes do Governo entendeu as razões dadas pelo 1º Ministro, pois se um Governo, sustentado pela maioria absoluta dos deputados da Câmara, se decide a uma remodelação, não é, em princípio, por lhe faltar força e condições para, se quisesse teimar em manter Correia de Campos, como mantém tantos outros com taxa de popularidade abaixo da linha de água, segurá-lo.
Dá-nos, Raimundo Narciso, 5 (cinco) possibilidades de nos encaixarmos na sua "grelha de análise":
1) Ex-governantes (queremos "regressar depressa ao Governo");
2) Médicos, enfermeiros, utentes e farmacêuticos (não queremos "perder privilégios (dignidade!)");
3) Velhos, conservadores, reaccionários e birrentos (não estamos "para enfrentar os incómodos da mudança");
4) Tontos, seguidistas, miméticos (vamos "atrás da gritaria");
5) Idealistas, utópicos, poetas irrealistas (queremos "um mundo melhor")
Para todo este rol de motivações, segundo o nosso companheiro de blogue, "o pretexto mais óbvio era o da Saúde". Ou seja, com tantas promessas não cumpridas, tantas expectativas goradas, tantos cortes em tanto lado, esta mole humana de descontentes foi-lhe logo encalhar no Ministro da Saúde. Da estranha convergência, retira Raimundo Narciso uma conclusão lógica: havendo outras áreas da governação igualmente más, a escolha das políticas de Saúde como alvo das contestações só se poderia dever a concertações manipulatórias, intenções inconfessáveis e, pois claro, (era mesmo o que estava cá a faltar), aos inocentes úteis.
Parece esquecer que, em nome da precaução que aconselhava a não dar trunfos ao inimigo, coincidindo nesta ou naquela crítica específica, colaborámos todos (por certo em diferentes medidas) numa disciplinada contenção e numa centralizada espera do momento propício que nunca havia de chegar.
Raimundo Narciso deixa claro o que pensa em matéria de tipologia para a oposição à política do Governo de Sócrates mas oferece-nos uma visão necessariamente incompleta em termos de análise social e política. Não se deixou tentar pelo complemento lógico da sua tipologia. Poderia, se quisesse, dar-nos a outra face da moeda, assinalando os descritores das motivações opostas.
Quais as principais motivações dos apoiantes das políticas de Saúde do Governo? As empresas privadas de prestação de cuidados de Saúde? As seguradoras? A Banca? Talvez.
Que faria Raimundo Narciso para convencer Sócrates de que a melhor solução ainda seria manter o Ministro Correia de Campos em funções?
Resta-nos uma espécide de prémio de consolação: na tipologia motivacional de Raimundo Narciso, "os que querem um mundo melhor" ficaram do nosso lado.
Não poderíamos desejar melhor companhia!
2008-02-10
Barak Obama o candidato da esperança
O Jogo e as regras (4)
Apontando para uma peça do Correio da Manhã, que inclui uma entrevista em que Sintra Nunes se esforça, ingloriamente (pelo visto) em explicar que muitas das empreitadas assinaladas se inscrevem no programa de conservação e manutenção do parque escolar existente, Vital Moreira exulta com as obras em curso e também já com as da próxima década.
Enlevado com esta excelsa prova de zelo social, confunde o cuidado mínimo de não deixar degradar (ainda mais!?) os edifícios escolares, com uma alegada e remoçada (ou serôdia?) paixão pela educação.
Avançando em terreno de confiança e crença, Vital Moreira destaca uma frase promissora contra qualquer veleidade (mal intencionada) de pôr em causa o baixo investimento do governo em matéria de políticas sociais: «332 escolas com Ensino Secundário vão ser recuperadas, remodeladas e modernizadas até 2015».
Até 2015?!
Os mais pobres, quando não têm pão, vão às migalhas; os mais convencidos, quando lhes falta um exemplo real, dão um... virtual.
Sobra um pequeno problema que Vital Moreira não ajuda a resolver. Se o actual 1º Ministro não se notabilizou pelo cumprimento das promessas que fez, que 1º Ministro assegurará, até 2015 (!) as promessas que vão sendo feitas?
A última das linhas argumentativas de um actor político: apostar em promessas de um governo conhecido por não as cumprir.
Confesso
Um mundo de enganos. É claro que havia insuficiências, por vezes graves. Mas a implementação de qualquer boa reforma na saúde com os meios, materiais e humanos, que o país tem, no panorama da saúde em Portugal é possível levar a termo sem percalços?
Telmo Correia e os Casinos
E o processo Portucale?
Relembrando o CM:
"O próprio caso Portucale, um outro inquérito em que é investigada a viabilização de um projecto turístico do Grupo Espírito Santo (GES) na herdade da Vargem Fresca, Benavente, começou com suspeitas de uma operação de branqueamento de dinheiro a partir de um depósito numa conta do CDS aberta numa agência do BES. O facto de a entidade beneficiária dos depósitos ser um partido político em que os seus responsáveis exerciam, à data dos factos, cargos políticos nos governos PSD/CDS, obrigou à abertura do inquérito.
"Na prática, todo o caso Portucale nas suas diversas componentes – submarinos, projecto turístico de Benavente, alteração do PDM de Gaia para viabilizar construções em terrenos de sociedades do GES, Casino de Lisboa e Autodril/Grão-Pará – está relacionado com o financiamento do CDS e a sua relação com eventuais contrapartidas prestadas por membros dos governos PSD/CDS.
"Os investigadores querem saber se o depósito de 1 060 250 (um milhão sessenta mil duzentos e cinquenta euros) nas contas do CDS em montantes que não ultrapassassem os 12 500, entre 27 e 30 de Dezembro de 2004, representou ou não uma vantagem para o partido pelo facto de Paulo Portas, líder do partido e ministro da Defesa à época dos factos, ter entregue o fornecimento dos submarinos ao consórcio alemão German Submarine Consorcio (GSC).
"As notícias publicadas sobre a compra dos submarinos e os indícios recolhidos durante a investigação do Portucale suscitam aos procuradores a necessidade de aprofundar o caso na medida em que “são aproximadas no tempo” aos depósitos em numerário na conta do CDS. Esta dúvida é documentada com duas escutas telefónicas feitas a Abel Pinheiro, empresário e responsável pelas finanças do CDS, e Paulo Portas. As duas conversas escutadas são apontadas pelo Ministério Público como indiciadoras da existência de acordos ou de ‘compromissos secretos’ quanto ao concurso dos submarinos." (Mais desenvolvido aqui: Link)
2008-02-08
A direcção da PJ a tentar "corrigir-se"
Demorou a PJ, ou melhor, as suas altas figuras, a encontrar uma saída para a questão que tanta celeuma levantou. Afinal, o que Alípio Ribeiro quis dizer, segundo as palavras do seu sub, foi que a precipitação se referia ao timing do anúncio de arguido dos McCann. Será de concluir, então, que quanto a conteúdo tudo bem.
Esta direcção da PJ perdeu a credibilidade e respeito. O que já deveria ter feito era apresentar a demissão. Como não teve essa inciativa (era o mínimo de ética), deveria o Ministro da Justiça tê-la demitido.
O Jogo e as regras (3)
Têm a seu favor o argumento básico, segundo o qual, nunca é tarde de mais para anular uma má decisão. É mentira. Às vezes é demasiado tarde. Todavia, este impulso onírico de dois homens da engenharia, põe-me a imaginar o mesmo critério aplicado à legislação do trabalho e a promessa solene que deputados do grupo parlamentar do PS fizeram de anular o Código do Trabalho do nefasto Bagão Félix.
Mas não.
Na perspectiva dos governantes, os recuos e as paragens para estudar melhor, só fazem vencimento do lado das obras públicas e transportes.
Que chatice!
Apesar de tudo, há, ainda, em Portugal, à esquerda e à direita, quem considere a palavra do Governo uma palavra de honra.
É o caso do Presidente da Câmara Municipal do Barreiro, que não esconde a sua estupefacção [notícia aqui]. Acreditando (ainda) que uma decisão do Governo é uma decisão responsável, culminando um processo de análise, ponderação e concurso de competências, Carlos Humberto Carvalho tinha reforçado o anúncio sobre esta decisão do Governo aos munícipes do concelho a que preside, aproveitando o ensejo para se congratular euforicamente com as novas perspectivas de desenvolvimento criadas a partir do traçado da nova ponte Chelas-Barreiro.
Não se apercebeu, o desafortunado autarca, que entrámos na era do "decida agora e estude depois". Prezando muito a sua própria honestidade, terá agora de explicar aos munícipes que a verdade com que lhes mentiu veio de uma mentira que tinha quase tudo para ser verdade.
Não lhe ocorreu que, entretanto, o governo iria mudar tão profundamente as regras do jogo.
O Jogo e as regras (2)
A exiguidade do número dos que entenderam que uma promessa eleitoral deve ser respeitada, surpreende, apesar de tudo. Porém é nestes momentos, contra a adversidade e a claudicação de tantos dirigentes nacionais, que as opções corajosas e decentes fazem a diferença.
Raramente tão poucos quiseram respeitar a promessa de tantos.
Quando voltarmos ao combate incontornável por uma Europa sem receio do escrutínio dos cidadãos, já sabemos com quem podemos contar.
Os restantes, provavelmente, partilham o receio dos seus chefes. Para os lados do Largo do Rato, parece que cumprir uma promessa eleitoral passou a ser um excesso democrático. Preferem pensar que é possível construir a Europa contra os cidadãos, ou apesar deles...
Saliente-se que Manuel Alegre, altaneiro e tonitruante, ficou a meio caminho. Assistiu-lhe, mais uma vez, o direito de se abster. Dá prova de grande clareza de ideais e de uma determinação sui generis: canta alto mas não passa da praia.
Imaginem os povos a votar o tratado.
Que horror!
2008-02-07
Olivier Messiaen
A ornitologia e o misticismo são temas de predilecção de Messiaen, o ritmo é essencial em toda a sua obra. Deixo-vos o quinto andamento da sinfonia Trangalila, com piano e ondas martenot em solistas, e espero que o centenário do nascimento deste compositor dê origem a algum concerto em Portugal.
2008-02-06
O Jogo e as regras (1)
Barreto ataca Sócrates, de leve, pela putativa rendição à "rua" e pela falta de coragem em prosseguir as reformas, tudo em resultado de uma análise impressionista que dá por adquirido que a única coisa que há a fazer é privatizar a prestação de cuidados de saúde.
Júdice acorre em defesa de Sócrates, mas não tem jeito para disfarçar a sofreguidão. A boçalidade dos exemplos que dá, deita tudo a perder. No fundo, estão ambos de acordo no essencial: que o Estado não pode financiar melhores políticas de saúde pública (depois do "pensamento único" assistimos, estupefactos, à era do "orçamento único").
Trauliteiro, Júdice investiu contra o Bastonário da Ordem dos Advogados, a propósito das suas declarações acerca do estado da justiça em Portugal. Ao nível de qualquer peixeirada, apoda-o de "populista", "gordo", "radical", e (ainda) de "próximo candidato presidencial da esquerda" em próximas eleições presidenciais.
Quanto à seriedade, ao rigor da análise e à clareza de propósitos, estamos, pois, conversados.
Barreto, pelo menos neste caso, deu-se conta da argumentação de feira e tentou demarcar-se, ficando-se por uma condenação mais lyonnaise. Marinho Pinto, segundo ele, fora desajustado na forma mais do que no fundo, etc. ...
A Regra do Jogo mete a esquerda pela direita e a inconsistência não cola: nem Barreto convence ao atacar Sócrates pela direita (falta-lhe substância); nem Júdice consegue fingir que Sócrates está, apesar de tudo, bem (soa sempre sarcástico).
António José Teixeira, empenhado em formular algumas questões mais inteligentes, falha.
Ninguém está interessado na profundidade das suas propostas.
A Regra do Jogo é fazer batota!
O Imperador da língua portuguesa
2008-02-05
Um tiro no pé...
Serge Dassault, senador UMP da Essonne resumiu bem a mentalidade dominante numa breve declaração que pude ouvir na rádio esta manhã: "Foi um erro submeter o tratado a um referendo, os Franceses não percebem nada [da constituição], assim perdemos muito tempo". Na minha opinião há dois aspectos chocantes nesta afirmação.
- A campanha do referendo foi uma das mais interessantes a que assisti, votou-se na altura um texto que foi largamente difundido, não se tratava de escolher pessoas o que atenuou muito as possibilidades dos conselheiros de imagem. Muita gente leu efectivamente as partes mais polémicas do tratado o que permitiu confrontar os argumentos políticos com a realidade. Pessoalmente li o texto e os excessos da parte dedicada à economia fizeram-me passar do SIM para o NÃO. Atribuir um atestado de estupidez aos eleitores nesta matéria é chocante.
- A ideia subjacente de que é necessário corrigir um voto que não vai no sentido desejado pela classe política só serve para alimentar o desprezo pela política, nomeadamente a europeia, que vai avançando lentamente em França.
A posição oficial do PS é: a favor do tratado e por um segundo referendo, a indicação de voto dada aos parlamentares de se absterem não foi respeitada pela maioria dos senadores e deputados socialistas.
O caso Português é menos grave pois a constituição nunca chegou a ser submetida a referendo, no entanto, choca-me que um referendo que fazia parte das promessas do PS seja agora "esquecido".
Novo Ultimatum dos bretões
Não me pronuncio sobre o caso, em si. É demasiado intrincado. Foi objecto de perícias várias, sombrio e sinistro e, além do mais, consta que continua em segredo de justiça.
Porém, depois de Gordon Brown ter anunciado publicamente que ia discutir o assunto com José Sócrates, levando o caso McCann, da investigação criminal, para o tablado da política bilateral UK/Portugal, só nos resta uma conclusão.
Estamos perante mais um ultimatum dos bretões. O caso Madeleine deverá, pois, ser desvalorizado e arquivado.
Portugal, nestes casos, só tem de acatar.
A justiça é mais simples assim...
2008-02-04
Inspectores da PJ discordam de Alípio Ribeiro
Os apoios a esta sua atitude comportamental não se fizeram esperar. Desde logo o apoio do ex-bastonário da Ordem dos Advogados, nomeado, no fim do mandato, advogado dos McCann que, em entrevista "descomprometida", considerou um acto de nobreza esta atitude de Alípio Ribeiro e na imprensa de hoje lê-se em título: Pais de Madeleine pedem para deixarem de ser arguidos.
Não terá feito nenhuma infracção legal, pois o caso, apesar do seu grande mediatismo, continua em segredo de justiça?
Não haverá aqui uma "guerra" subjacente PJ/MP? Pelo menos mal-estar no seio da PJ causou. É oq ue diz a imprensa de hoje.
2008-02-01
Farsa
Marinho Pinto um anti-bastonário
Os ideiais que sobrevivem (1)
António Marinho Pinto, em entrevista a Judite de Sousa para a RTP1, (2008/01/31, 21h), mostrou uma determinação pouco comum nos bastonários dos advogados. Exactamente por serem discutíveis, as suas afirmações alusivas a casos de alegada corrupção, sobejamente conhecidos, desafiam o conformismo de que os responsáveis políticos do centrão são capazes; a capacidade de esquecimento das máquinas mediáticas; e a incompreensível insensibilidade das magistraturas e das polícias.
Sem cair no justicialismo barato, Marinho Pinto veio dizer que não pactua; que perdeu as ilusões mas não os ideais. E isso deve incomodar quem se nutre da passividade cívica para se encher à grande.
Tal como ele recordou "O direito de ficar calado e o direito de elogiar os poderosos, existem em qualquer ditadura". Só agora tive o prazer de ouvir um Bastonário da Ordem dos Advogados reconhecer que a "nossa" justiça é muito forte com os fracos e muito fraca com os fortes.
É um bom começo.