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2008-02-29

 

Rão Kyao

Um nome que anda um pouco esquecido, certamente porque desde 1978 se instalou em Bombaim para estudar a flauta de bambu e a música indiana.

Mas será apenas por isso? Permitam - me ter dúvidas.

O nosso país tem algumas singularidades esquisitas. De forma geral, trata mal os seus artistas, os seus escritores, etc, mesmo os muito bons. Ao longo da história se alguma vez tratou bem alguém foram quase sempre os mais próximos do "regime".

Rão Kiao aparece hoje a falar e diz uma coisa fantástica: "Falta consciência histórica à população portuguesa" É verdade. A longa noite do regime fascista é a origem, mas não podemos continuar "a bater no ceguinho".

O que é que foi feito, desde então, em termos de ensino da nossa história? É dificil ter essa consciência histórica sem a conhecer.

2008-02-28

 

Deco e Correios

Francamente estranhei muito a notícia de ontem da Deco sobre os Correios de Portugal, em que se dizia: "Deco avaliou 300 estações de CTT e chumbou todas", na base de um estudo feito relativo a 2007.

Porque estranhei?

Tenho e continuo a ter dos CTT a ideia, confirmada por amigos quadros técnicos dos Correios não directivos de 1ª linha, de um bom desempenho e sempre me falaram da reputação internacional dos correios portugueses como dos melhores da Europa.

Uns até mais fanáticos, face ao meu sorriso algo descrente, até traziam de vez em quando umas revistas especializadas em que se liam de facto essas referências.

Ontem face às notícias dos jornais telefonei a alguns, outros já entraram "na disponibilidade" como eu mas também lhes telefonei e perguntei-lhes como é que é isto? Apercebi-me que estavam espantados, não atingiam as razões de tal notícia. Eles não queriam crer no que liam, ou melhor, dois pelo menos ainda não tinham lido, mas mostraram na mesma muito espanto pela notícia, quando eu lhes dizia a fonte.

Hoje, Luis Nazaré, Presidente dos Correios vem desmentir a Deco e desafiar para um debate.

Vou tomar partido nesta questão. Tudo isto deve ser esclarecido, porque de facto os CTT não são uma empresa qualquer e o nome do País está aqui também em causa, uma vez que o estudo da Deco vem ao arrepio do que se pensa sobretudo no estrangeiro.

Há que averiguar o porquê deste estudo, ou então dizer: tudo estava/está errado. Afinal, até os europeus pensam que somos melhores do que somos.

Acho mesmo que este país não anda bem.

2008-02-27

 

O financiamento dos Partidos Políticos

Parece haver abertura para rever este problema.

Seria interessante um debate sobre o financiamento.

De facto parece pesar, relativamente é evidente, o montante que sai do OE para os partidos. Daí que seja interessante percerber-se o que pensam os Partidos desta questão. Um bom tema para a sTV'S e comentadores.

2008-02-26

 

A primeira cereja


O Tempo das Cerejas, de Vítor Dias, completou um ano de militância blogosférica. Concorde-se ou discorde-se da prestação ou da orientação políticas e ideológicas, continua a ser evidente a elevada qualidade dos textos produzidos, o esforço reflexivo, e a atenção crítica, somadas à admirável veia antológica (cinema, poesia, artes visuais, etc) e à coerência global.

A primeira cereja no tempo delas.

Parabéns e um abraço para Vítor Dias.

 

Em leito-de-cheia (4)


A Ministra da Educação confirmou, ontém, no programa "Prós e Contras" da RTP1, que os professores querem contribuir para a melhoria do sistema de ensino, de uma maneira activa, empenhada e criativa, (não apenas para fazer boa figura na UE); que querem ser avaliados em condições que encorajem a crítica e a reflexão (e não à pressa, com o ano lectivo já começado); que não se resignam quando os seus direitos são postos em causa (como no caso da recusa de reconhecer o tempo das aulas de substituição como horas extraordinárias).

Entretanto, já esta manhã, o Secretário de Estado Valter Lemos, fez deslizar a jurisprudência para o campeonato judicial. Segundo ele, havendo 6 acórdãos favoráveis aos professores (aulas de substituição = horas extarordinárias) e 9 sentenças favoráveis ao Governo (?), estaríamos perante um resultado de 9-6, com o Governo a ganhar.

Como os professores atingidos foram aconselhados a resolver o problema através de um requerimento que deverá invocar as 6 sentenças anteriores, aguarda-se que o Governo passe a defender o seu ponto de vista, requerendo que o despacho a dar aos requerimentos dos professores se baseie, não nas seis sentenças que eles invocam, mas nas nove em que os Tribunais deram razão ao Governo.

Valter Lemos não vê mais do que isto. Aguarda-se que no PS e no Governo, alguém queira ver um pouco mais longe...

Pela sua parte, o Secretário Geral do PCP, deu provas de uma lucidez inesperada. Falando aos media, Jerónimo de Sousa desvalorizou uma eventual substituição da Ministra. (Ver aqui).

Vinda do dirigente de uma força política amiúde acusada de botabaixismo, esta posição não deixa de surpreender. Pensará Jerónimo de Sousa que as "remodelações forçadas", sob a chuva de lutas e protestos, não configuram objectivos políticos consistentes? Que outra saída legítima poderá haver, no imediato, num regime democrático em que o Governo tem a apoiá-lo uma maioria absoluta?

Não enfraquecerá o bom fundamento de uma política a substituição involuntária de sucessivos ministros?


2008-02-25

 

"Renegados?"

Martin Luther King e John F. Kennedy

Muitos, dentro e fora dos Estados Unidos, temem pela vida de Barack Obama. O assunto não é muito ventilado porque, quer entre adversários, quer entre apoiantes, não há maneira de tratar o tema sem deitar a perder alguma coisa. Os apoiantes temem que surja alguma retracção e diminua o entusiasmo ganhador da campanha; os adversários receiam ser confundidos com a América Obscura dos mandantes e assassinos de John Fitzgerald Kennedy e de Martin Luther King.

Ainda assim, no New York Times de hoje, em peça assinada por Jeff Zeleny, com o título "
In Memories of a Painful Past, Hushed Worry About Obama", a questão dos perigos, ameaças e riscos que os candidatos correm é levantada e discutida. Depreende-se, da leitura, que os receios continuam a existir mas que as circunstâncias se alteraram. Visto daqui, de uma Europa distante e pouco conhecedora dos meandros da política dos States, o panorama é nebuloso. Se, por um lado, os receios que existem são contrabalançados por uma atitude corajosa dos candidatos e por novas disposições de protecção asseguradas pelo Estado Federal, já o nome de código que os serviços secretos atribuíram a Barack Obama não deixa de chamar a atenção. Segundo o NYT, Barack Obama é instantaneamente identificado pelos agentes do dispositivo de segurança por "Renegade" (Renegado).

A escolha desta forma de referir o Senador do Illinois, pré-candidato à Casa Branca, pode não afectar a eficácia da protecção que lhe é dispensada, mas não deixa de revelar os mixed feelings da América profunda.

Visto a esta distância, a escolha do nickname até poderia parecer o início de uma conspiração...

 

Rotina.

Acidente provoca fila de 3 quilómetros na auto-estrada... Perdão, não é isto. "Bombista suicida faz-se explodir a 60 quilómetros de Bagdad, provocando a morte de 40 peregrinos que tinham feito uma pausa para se restabelecerem numa tenda a caminho da cidade santa xiita de Kerbala." (imprensa de hoje).

2008-02-24

 

Afinal como é?

Segundo as notícias da comunicação social de hoje, Almeida Pereira, o novo director da PJ do Porto, teve/tem ligações ao futebol.

A ser verdade, embora acredite que há no futebol muita gente séria e decente, não parece "eticamente" muito apropriada uma nomeação com este perfil, tanto mais numa altura em que a imagem da PJ anda mesmo muito por baixo. Uma organização que precisa urgentemente de ser credibilizada tem de ter mais cuidado na escolha dos dirigentes.


 

O PSD de Menezes já está a posar para a História

Frase assassina de Nuno Brederode Santos em DEZ DIAS QUE LHE ABALARAM O MUNDO, no seu artigo dominical.

Mas neste país tudo possa acontecer, porque não é só em Fátima que o sol fica turvo.


2008-02-23

 

Politeia. Aqui ao lado

Há 11 dias que não escrevia aqui. Mas hoje um email do José Manuel Correia Pinto fez interromper a preguiça. É que ele estreou-se no vício dos blogs com o seu POLITEIA onde agora os viajantes da blogosfera podem encontrar a grande política tratada por tu:

AS ELEIÇÕES LEGISLATIVAS ESPANHOLAS
O DEBATE DE AUSTIN
ou as
ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS AMERICANAS

Em boa verdade o Correia Pinto já blogava mas em blog especializado, como no Politeia poderão ver, espreitando o perfil do autor.

Boa sorte ao Politeia. Quanto aos seus visitantes esses têm-na garantida.

 

"Houve um favorecimento terrível"

Manuel Violas é o Presidente da Solverde, a segunda maior concessionária de casinos em Portugal.

Em artigo de hoje do Jornal Expresso, Manuel Violas mostra-se indignado com Santana Lopes pelas afirmações falsas por este proferidas sobre os casinos do Algarve, quando disse no jornal da noite da SIC notícias no passado fim de semana "que os casinos do Algarve reverteram para a posse da concessionária" (Solverde). Manuel Violas diz que Santana Lopes mentiu e explica.

Por outro lado afirma: "a cidade de Lisboa teria ganho muito mais, se o casino fosse a concurso, porque os concorrentes iriam apresentar propostas de contrapartidas muito mais altas do que aquelas que a Estoril-Sol pagou".

Resumindo, estes negócios primam sobretudo pela não transparência e pelos jogos esconsos. No entanto, para Jorge Coelho, tudo está muito transparente pois para ele não há dúvida que o casino de Lisboa deve reverter para a sociedade Estoril-Sol.


2008-02-21

 

Sabedoria Africana

Está a correr este e-mail. Registo-o porque tem pensamento,


Diz o filho preto para o pai preto: - Pai, porque é que europeu tem cabelo loiro e liso? E não tem assim preto e carapinha? - Europeu tem cabelo fino, vem na selva, apanha água da chuva, adoece, Constipa e morre... Preto não, a água cai na carapinha mas não entra. - Pai, porque é que preto tem pele escura e europeu tem pele assim branquinha? - Europeu vem pa selva, leva co sol e queima. Apanha cancro na pele e Morre. - Preto não... Escuro absorve raio solar e não faz nada... - Pai, porque é que preto tem assim cheiro a catinga e europeu não? - Europeu vem na selva e aparece leão e tigre e ataca europeu. Assim Europeu morre... Preto não... Cheira a catinga e tigre e leão não ataca... - Mas pai, porque é que a gente quer isso tudo, pra morar aqui na Amadora?


2008-02-20

 

O Caso: Casino de Lisboa

Há tempos que não "telespectava" a quadratura do circulo, porque ver muitas vezes cansa e chateia.

Três temas serviram hoje de mote: a entrevista de Sócrates, o caso do casino de Lisboa e as cheias.

Vou abordar apenas o casino e na óptica do que se disse na quadratura. Para mim, Pacheco Pereira apresentou-se como o mais descomprometido. Diz que não está esclarecido, que quer saber como se passou um património público para os privados, neste caso o Estoril Sol e, que não compreende como andam os dois governos do PSD/PP a empurrar um para o outro, a responsabilidade, embora dando a bicada em Lobo Xavier ao dizer que, tendo de haver responsabilidade do governo, esta trapalhada tinha sido manobra do PP. Lobo Xavier não gostou e insinua que o que está a transparecer para o público é que este facto é visto como um problema de corrupção e que, na realidade, se anda a empurrar uns para os outros mas na área do PSD e, de forma hábil, insinua que parece estar-se a proteger alguém, falando de passagem de Durão Barroso.

Este caso contém em si um problema grave: ninguém está esclarecido e acreditando na normalidade das coisas, houve aqui um atentado contra o património público.

Mas o que me espantou foi a posição de Jorge Coelho que claramente tomou posição pelos privados. Será esta também a posição do governo?

Não gostaria que o Estado português saisse deste proceso com o património mais reduzido, o que sinceramente depois desta quadratura fiquei sem grandes esperanças.


 

Em leito-de-cheia (3)

1. A Ministra da Educação dá a entender que houve precipitação (alarmismo, diz ela) no modo como os responsáveis do Conservatório reagiram à iminência do encerramento do "ensino supletivo". A Ministra acha um exagero. Diz que isso não "está escrito em lado nenhum" [ver aqui]. A ser assim, a Ministra ainda está a tempo de fazer a demonstração. Passaremos, então, de um país construído em leito de cheia, para uma política desenhada em leito de colcheia. As semi-fusas ficaram para trás, fechando o 1º ciclo de governação. Agora, depois da mini-remodelação, o maestro está claramente interessado numa orquestração mais dialogante, afinada e andante.

2. Rui Ramos escreveu no PÚBLICO de hoje um texto bem desarrincado. "Acabados de nascer" (pág 41 da edição em papel). A fechar, um mote de antologia: "Vivemos todos há muito tempo num mundo demasiado velho. Não nos fica bem disfarçar a idade."



3. Em contrapartida, Teresa de Sousa, no mesmo jornal (pág. 43), num texto intitulado, "Obama ou a (im)possibilidade do sonho", lança: "Nos próximos tempos vamos ver se a magia Obama se vai extinguir ou se pelo contrário vai transformar-se num movimento imparável". O registo conservador é assim: face à mudança esperançosa, não arrisca, não alinha e reserva as previsões para ... depois do jogo.

4. Nas capas de praticamente todos os jornais, (exceptuando o "24 horas" que o passa em branco e o "Correio da Manhã" que, parcamente, lhe oferece a sua orelha esquerda), Fidel Castro retira-se. Uma silhueta que vacila em fundo de sombras. O homem que ao ser julgado em 1953, depois do frustrado ataque ao quartel de Moncada, afirmou estar convencido de que a História o iria absolver, olha à sua volta, mais de meio século depois, e hesita.

Que história o irá absolver agora?


2008-02-19

 

Fidel de Castro resignou

Uma simples interrogação: não terá sido tarde demais? Cuba ainda terá tempo de apanhar o comboio e que comboio?

Quase 20 anos depois da queda do muro é muito tempo! Um mito que cai, que não parece deixar algo com sustento. Nada mudou aparentemente, mas muito se "terá bem desmoronado" lá no interior, sendo visível a perda de vitalidade do regime, as cedências ao investimento externo e bastante impreparação para enfrentar novos ventos.

Será isto assim mesmo?

Se o é, abriu-se mais um espaço para mais cedo ou mais tarde uma deriva de "capitalismo selvagem" poder singrar por algum tempo.


 

Em leito-de-cheia (2)

«A culpa é das autarquias?!»

Nunes Correia deu a entender, em declarações à SIC-Notícias e à TSF [Notícia Aqui] que as piores consequências das cheias se devem à incúria da gestão autárquica em matéria de manutenção das vias de escoamento. A Quercus e alguns autarcas retorquiram que o grande culpado é o Poder Central, porque não investe mais no ordenamento do território, porque não lhes paga o que lhes deve, e porque, em muitos casos, nem sequer os recebe.

O que impressiona mais na postura do Ministro do Ambiente é a ligeireza. Numa hora de dificuldades, em que é necessário lançar mãos à obra e dar resposta aos problemas aflitivos que se perfilam, o Ministro vem entregar-se ao jogo do empurra, como se fosse o momento azado para culpar quem quer que fosse.

Um péssimo exemplo de governação.

Uma lástima de governante.



 

Em leito-de-cheia (1)

Por cima da entrevista do 1º Ministro José Sócrates, e das eleições no Paquistão, e da independência do Kosovo, e das primárias nos EUA, o país grita-nos a partir das urbanizações que parodiam os conhecimentos que os humanos foram acumulando ao longo dos séculos.

Sabe-se que construir, ali, corresponde a uma provável sentença de morte. Pelo menos, a derrocadas certas , a desabamentos em catadupa e a deslizamentos imparáveis.

Vive-se, um dia atrás do outro, à espera de que não aconteça.
Depois, acontece.
E volta a acontecer.















Enterrados os mortos, tratados os sobreviventes, avaliados os estragos, começam as reparações.

Isto é.

Volta tudo ao princípio.

Olhando as 1ªs páginas, percebe-se isso. Num ou noutro caso, tentou-se diminuir a importância das inundações; noutros casos, houve coincidência na escolha da foto principal.

Não há maneira de disfarçar.

Os pobres voltam a enfrentar o perigo de continuarem a viver no mesmo sítio.
Os ricos decidem enfrentar o risco corrido pelos pobres.

Vivemos num país construído em leito-de-cheia.

2008-02-18

 

Espantoso, ou talvez não!!

Para figurar na 1ª dos jornais tudo, tudo pode acontecer. Até explicar o impossível a pessoas de mais de 75 anos!

Santana Lopes, o agora líder parlamentar do PSD (na bicefelia de Menezes), afirmou: "Não ando a dar casinos". Mas, segundo disse, teve de explicar o sucedido ao Pai de 75 anos.

De facto, não deu, decretou, em cooperação com o ministro Telmo Correia do CDS/PP de Paulo Portas. ... Mas Durão Barroso e Carlos Tavares não estão limpos neste caso. Têm de ser mais convincentes. Será que também têm pais com mais de 75 anos?!

Será que não têm de explicar também o sucedido ao Pai? Explicar coisas a pessoas com mais de 75 anos é porque ... a coisa é mesmo muito dificil de explicar. Com tantos anos vividos já não há perguntas difíceis. Pelo menos desta natureza.


2008-02-15

 

Ainda o caso Ricardo Bexiga

Ricardo Bexiga pretende conhecer onde estão as responsabilidades das falhas na investigação e tem todo o direito. E também havendo responsáveis deveria haver penalizações. Espero que a lei preveja essas situações.

Mas há situações interessantes a ver. Dizia hoje o Correio da Manhã que o actual Director da PJ, Alípio Ribeiro, o criador do "segundo caso" Maddie com as suas declarações era na altura do caso Ricardo Bexiga nem mais nem menos que o Magistado responsável do Ministério Público do Porto.

Será que os magistrados do Porto, ao quererem defender a sua honra, face às declarações de falhas no processo de Bexiga, que levaram ao arquivamento do mesmo estarão antes a defender a honra de Alípio Ribeiro?

 

O Paradigma do Gel-de-Banho (2)


Elas tendem a consumir ou, pelo menos, a comprar mais gel-de-banho do que eles. Não sei até que ponto se reflecte nelas a compra eventual de um hipoalérgico (a pensar no bebé) ou de um Dove para partilhar com ele, ou mesmo de um gel mais activo a pensar nalgum dos animais domésticos. De qualquer modo, o Paradigma do Gel-de-Banho indica que, globalmente, elas são mais receptivas à inovação do que eles. Não na condição de "domésticas", mas nas outras posições do mercado de trabalho.

As "domésticas" menos inovadoras do que as empregadas; os estudantes na crista da onda?
(As surpresas não acabam!)

Analisando os resultados com atenção, não restam dúvidas: o país está cada vez mais receptivo à inovação, aos novos modos de operar e de resolver problemas.

Convém não esquecer a questão da distribuição da riqueza.

Tal como se pode deduzir do gráfico do meu anterior poste [O Paradigma do Gel-de-Banho(1)], as embalagens não são propriamente dadas.

O poder aquisitivo e a receptividade à inovação surgem associados.

Porque será?


 

O Paradigma do Gel-de-Banho (1)

A inovação, para lá do paleio de conveniência, implica receptividade a novas práticas e adaptação a novos hábitos. Implica, portanto, atitudes, opções, mudanças. Quem estiver interessado em reflectir um pouco acerca disto, encontra nos resultados de um dos estudos divulgados no site da Marktest, um retrato possível da variação dessas atitudes no espaço, no tempo e nalgumas outras características sociais de uma amostra (quase) nacional. Parece que, bem acondicionado teoricamente, se poderia passar a chamar o Paradigma do Gel de Banho.


Repare-se que a penetração do produto no mercado cresce com uma certa regularidade ao longo de 6 anos (de 38,2% em 2001 a 53,7% em 2006). A esse ritmo, a "receptividade" decresce com o envelhecimento (já se estava à espera); fora dos grandes centros urbanos e com a interioridade (não espanta nada); e com os rendimentos mais baixos (quem diria?).

(Click sobre o gráfico para aumentá-lo)

Exceptuando a distribuição pelas posições face ao trabalho (que os inquiridos declararam ter), a observação é útil e conclusiva.

Nalguns aspectos, até, quase tão velha como o próprio banho.

É para esta fotografia em movimento que deverão estar a olhar, neste momento, atentamente, os membros do Governo.

Devem estar a reparar (de novo) que nem todos os portugueses consomem gel de banho...

2008-02-14

 

"Prends le pouvoir, note ton prof!"

Este é o slogan provocador de um site lançado em França no inicio do mês. O conceito é inspirado numa das recomendações do relatório Attali que defende que não basta que os professores sejam avaliados pela hierarquia e pela inspecção académica, é também necessário que sejam avaliados pelos alunos. Uma variante desta ideia em que aos alunos se substituem os pais deu origem a um debate no puxapalavra.

Este site foi lançado pelo director de campanha do deputado UMP Pierre Lelouche. Mesmo fazendo parte da mesma família politica o ministro da educação desaprova totalmente esta iniciativa.

Desaprovo totalmente esta iniciativa não porque tenha medo da opinião que os meus alunos possam ter sobre mim, mas pela possibilidade de se cometerem enormes injustiças devido à ausência de controlos e à total subjectividade do sistema.

Um interessante artigo do Monde pode ser visto aqui.

2008-02-13

 

O Jogo e as regras (6)


Quando o senador americano Barack Obama anunciou a decisão de concorrer nas primárias do Partido Democrata, o mundo dos analistas de diferentes quadrantes e calibres, encolheu os ombros. De acordo com a perspicácia de muitos comentadores, Obama tinha praticamente as mesmas ideias programáticas arvoradas por Hillary Rodham Clinton (talvez até menos exigente, do ponto de vista social, num ou noutro tópico), tinha carisma, era um fluente e persuasivo comunicador, mas..., mas teria contra ele quase tudo o que é importante para poder vir a ser o candidato efectivo dos democratas?

E o que era, afinal, esse "quase tudo"?

Primeiro, os americanos, no seu conjunto complexo, não estavam preparados para "aceitar" um presidente negro. Esta asserção é curiosa, porque deixa subentender que, mesmo eleito, os americanos poderiam não querer aceitá-lo.

Em segundo lugar, não teria a credibilidade nem a visibilidade do clã Clinton. Hillary tinha a vantagem de ser conhecidíssima como 1ª dama do presidencial esposo, Bill, ao longo de dois mandatos, aos quais se seguiu a carreira de senadora, sempre acompanhada da "espontânea" profecia de que viria a ser a 1ª mulher presidente dos States.

Em terceiro lugar, a mola real. Obama (diziam os doutos analistas) nunca conseguiria o financiamento necessário para uma campanha ganhadora. Os grandes contribuintes que influenciam a sorte da corrida, estavam a apostar, desde o início, decididamente, no clã Clinton.

E agora?, que Barack Obama ultrapassou Hillary Clinton e, mais do que isso, conseguiu imprimir uma dinâmica de esperança na "mudança" e confiança nas próprias forças?

Que explicações vai encontrar a vulgata analítica?

A astúcia arrogante não deixa aqueles que erraram redondamente as previsões com teorias de ocasião, reconhecer a pobreza do seu conservadorismo analítico. Isso corresponderia a reconhecer, por tabela, as bases frágeis em que, frequentemente, assentam os seus hábitos de se deixarem ir com o que parece ser a corrente dominante.

Fazem de conta que não é nada com eles. No fundo, nunca gostaram muito de debates em que pudessem ser contrariados.

Vão ter agora de inventar novas explicações.

E é essa, apesar de tudo, a vantagem que resta: podemos divertir-nos a comparar o que disseram antes com o que sustentam agora.

E isso, só por si, já está a proporcionar alguns golpes-de-rins hilariantes.

2008-02-12

 

Timor de novo... nas primeiras páginas

...e mais uma vez por factos pouco abonatórios.

Não é só preocupante, mas é sobretudo muito nebuloso o que paira por detrás da política timorense. Alfredo Reinado foi um protegido de Xanana e de Ramos Horta e de grande utilidade na crise timorense de 2006. É interessante sobre esta confusão grave ler CINZAS E NEVOEIRO NA POLÍTICA TIMORENSE de Perez Metelo que conhece bem Timor.

Para Leandro Isaac, um ex-dirigente timorense, que esteve até há algum tempo com Reinado, este "ataque foi um acto de desespero" (vamos lá saber porquê (?)) mas é o mesmo Isaac que, numa entrevista ao DN, diz que na crise de 2006 ele (Reinado) era um mandado.

2008-02-11

 

O Jogo e as regras (5)


O último parágrafo do post de Raimundo Narciso, - Confesso, - contém uma proposta assaz curiosa de tipos de motivação para quem andou, como eu, a dizer cobras e lagartos da falhada governança do ex-Ministro da Saúde, Correia de Campos.
João Tunes, do Água Lisa(6) já chamou a este posicionamento Situacionismo em cul-de-sac, por, alegadamente, não vislumbrar o alcance da lamentação pos factum. A maioria dos apoiantes do Governo entendeu as razões dadas pelo 1º Ministro, pois se um Governo, sustentado pela maioria absoluta dos deputados da Câmara, se decide a uma remodelação, não é, em princípio, por lhe faltar força e condições para, se quisesse teimar em manter Correia de Campos, como mantém tantos outros com taxa de popularidade abaixo da linha de água, segurá-lo.

Dá-nos, Raimundo Narciso, 5 (cinco) possibilidades de nos encaixarmos na sua "grelha de análise":

1) Ex-governantes (queremos "regressar depressa ao Governo");
2) Médicos, enfermeiros, utentes e farmacêuticos (não queremos "perder privilégios (dignidade!)");
3) Velhos, conservadores, reaccionários e birrentos (não estamos "para enfrentar os incómodos da mudança");
4) Tontos, seguidistas, miméticos (vamos "atrás da gritaria");
5) Idealistas, utópicos, poetas irrealistas (queremos "um mundo melhor")

Para todo este rol de motivações, segundo o nosso companheiro de blogue, "o pretexto mais óbvio era o da Saúde". Ou seja, com tantas promessas não cumpridas, tantas expectativas goradas, tantos cortes em tanto lado, esta mole humana de descontentes foi-lhe logo encalhar no Ministro da Saúde. Da estranha convergência, retira Raimundo Narciso uma conclusão lógica: havendo outras áreas da governação igualmente más, a escolha das políticas de Saúde como alvo das contestações só se poderia dever a concertações manipulatórias, intenções inconfessáveis e, pois claro, (era mesmo o que estava cá a faltar), aos inocentes úteis.

Parece esquecer que, em nome da precaução que aconselhava a não dar trunfos ao inimigo, coincidindo nesta ou naquela crítica específica, colaborámos todos (por certo em diferentes medidas) numa disciplinada contenção e numa centralizada espera do momento propício que nunca havia de chegar.

Raimundo Narciso deixa claro o que pensa em matéria de tipologia para a oposição à política do Governo de Sócrates mas oferece-nos uma visão necessariamente incompleta em termos de análise social e política. Não se deixou tentar pelo complemento lógico da sua tipologia. Poderia, se quisesse, dar-nos a outra face da moeda, assinalando os descritores das motivações opostas.

Quais as principais motivações dos apoiantes das políticas de Saúde do Governo? As empresas privadas de prestação de cuidados de Saúde? As seguradoras? A Banca? Talvez.

Que faria Raimundo Narciso para convencer Sócrates de que a melhor solução ainda seria manter o Ministro Correia de Campos em funções?

Resta-nos uma espécide de prémio de consolação: na tipologia motivacional de Raimundo Narciso, "os que querem um mundo melhor" ficaram do nosso lado.

Não poderíamos desejar melhor companhia!

2008-02-10

 

Barak Obama o candidato da esperança

O candidato negro atrai brancos e pretos e espalha pela América uma renovada esperança. Desde há dezenas de anos que nunca tantos eleitores, e especialmente eleitores jovens, acreditavam ter tanto a dizer e tanto a esperar dumas eleições americanas.

«Ganhámos no Louisiana, no Nebraska, no Estado de Washington, ganhámos no Norte, no Sul, no meio, e eu creio que podemos ganhar na Virgínia, esta terça-feira, se as pessoas quiserem a mudança», disse o senador do Illinois, após serem conhecidos os resultados naqueles três Estados que ontem foram a votos.

A recuperação de Obama deixa-o apenas umas três dezenas de mandatos atrás de Hillary. No entanto, se os adeptos do burro se mantiverem divididos ao meio a escolha do Partido Democrático pode ser decidida pelos grandes eleitores, patrões do aparelho, o que segundo alguns analistas favoreceria Clinton.

Há também o voto "útil" o voto condicionado pela opinião de que talvez Hillary consiga derrotar mais facilmente McCain do que Barak. A isso responde Obama proclamando que na discussão sobre quem tem mais experiência em Washington (McCain e Hillary) o que interessa saber é quem mais mudará Washington.

 

O Jogo e as regras (4)


Do lado dos defensores do governo (à outrance), aparecem, por vezes, argumentos patuscos. Não fazem propriamente prova de nada. Dão-nos tão somente a medida do inebriamento e do desejo de que todos vejamos no governo um grupo socialmente fotogénico. É por esse caminho que Vital Moreira (Blog Causa Nossa) segue ao creditar boas intenções (e determinação em cumprir promessas) ao Governo de José Sócrates. É assim que, em perda factual, atira, com mordacidade falhada, à cara dos detractores da actual governação, o que seria (será?) Mais uma prova do "esvaziamento do estado social".

Apontando para uma peça do Correio da Manhã, que inclui uma entrevista em que Sintra Nunes se esforça, ingloriamente (pelo visto) em explicar que muitas das empreitadas assinaladas se inscrevem no programa de conservação e manutenção do parque escolar existente, Vital Moreira exulta com as obras em curso e também já com as da próxima década.
Enlevado com esta excelsa prova de zelo social, confunde o cuidado mínimo de não deixar degradar (ainda mais!?) os edifícios escolares, com uma alegada e remoçada (ou serôdia?) paixão pela educação.

Avançando em terreno de confiança e crença, Vital Moreira destaca uma frase promissora contra qualquer veleidade (mal intencionada) de pôr em causa o baixo investimento do governo em matéria de políticas sociais: «332 escolas com Ensino Secundário vão ser recuperadas, remodeladas e modernizadas até 2015».

Até 2015?!

Os mais pobres, quando não têm pão, vão às migalhas; os mais convencidos, quando lhes falta um exemplo real, dão um... virtual.

Sobra um pequeno problema que Vital Moreira não ajuda a resolver. Se o actual 1º Ministro não se notabilizou pelo cumprimento das promessas que fez, que 1º Ministro assegurará, até 2015 (!) as promessas que vão sendo feitas?

A última das linhas argumentativas de um actor político: apostar em promessas de um governo conhecido por não as cumprir.

 

Confesso

Enganei-me. De facto o Ministro Correia de Campos não só quase destruiu o SNS como lançara os serviços de saúde e os de socorro no caos.
O ministro saiu e os hospitais, serviços de urgência, e outras unidades de atendimento às populações voltaram a funcionar bem, como aliás sempre funcionaram em Portugal.
Nunca mais morreu ninguém por falta de assistência na hora ou no minuto. As urgências de "conforto" confortam (se faltarem especialistas sugiro que tenham um padre. Para o conforto). Os bombeiros, nomeadamente aqueles que funcionam com camponeses voluntários (que merecem toda nossa gratidão, isso não está em causa) ficaram automaticamente apetrechados dos meios necessários, em especial meios humanos adequados.
É o que se pode concluir com o fim da gritaria em quase todos os noticiários televisivos e reportagens no Público e não só.
O país agora está bem. E dorme tranquilo. O presidente da Associação Nacional das Farmácias, o Dr. Cordeiro festeja. O bastonário da ordem dos médicos está mais reconfortado. Os médicos que não querem ser ofendidos com a obrigação de cumprir horários consideram-se dignificados.

Um mundo de enganos. É claro que havia insuficiências, por vezes graves. Mas a implementação de qualquer boa reforma na saúde com os meios, materiais e humanos, que o país tem, no panorama da saúde em Portugal é possível levar a termo sem percalços?

Eu sei que todos os que protestaram tinham as suas razões mas quase nunca tinham a ver com a Saúde, nem com Correia de Campos. Uns querem regressar depressa ao Governo, outros não querem perder privilégios (dignidade!), outros não estão para enfrentar os incómodos da mudança, outros vão atrás da gritaria, outros quererão um mundo melhor e... o pretexto mais óbvio era o da Saúde.

 

Telmo Correia e os Casinos

A Sociedade Estoril Sol teria de entregar ao Estado no fim da concessão do jogo o edifício onde está instalado o seu Casino de Lisboa, no Parque das Nações. Mas o Governo de Santana Lopes e o ministro do Turismo Telo Correia, já em gestão e em vésperas da tomada de posse do Governo do PS, em 17 de Fevereiro de 2005, aprovaram o decreto-lei 40/2005 que aplicado ao caso do casino de Lisboa facilitava a entrega do edifício à sociedade Estoril Sol.
É claro que mentes perturbadas e maldosas são de imediato levadas a pensar que a Sociedade Estoril-Sol e o Senhor Stanley Ho não se esquecerão deste seus amigos e que os governantes terão pensado isso mesmo.
No entanto, para que o decreto de Santana/Portas/Telmo produzisse no Casino de Lisboa os seus patrióticos efeitos era necessário um despacho de SExa o ministro do Turismo Telmo Correia.
Inocentemente, Telmo Correia na louca correria que na madrugada que antecedeu a tomada de posse de Sócrates em que assinou 300 diplomas legais, colocou, négligé e en passant, um mero visto, no papel do casino. Não disse que concordava, pôs um visto!
Posta na rua pelo Expresso esta sua governamental conduta o ex-governante e actualmente nosso representante no Parlamento desfez-se, pelas televisões, em indignadas e convincentes explicações. Ele não escreveu no papel do casino que decidia entregar o edifício ao Senhor Stanley Ho, apenas colocou um visto. E que é um visto? É que viu. Viu, pura e simplesmente viu, e a correr e com pouca luz que o sol ainda não raiava. Inocentou-se com tal sinceridade que para mim bastou.
Não bastou foi para o Expresso que veio de novo este Sábado explicar que o ex-ministro e nosso actual deputado estava perfeitamente consciente do que fazia porque nas escutas gravadas a propósito do processo Portucale está lá tudo, a saber:
Mário Assis Ferreira, administrador da Estoril-Sol comunicou a Abel Pinheiro, então dirigente do CDS, que faltava a assinatura de Telmo Correia no parecer.
Diligente, suponho, Abel Pinheiro, telefonou ao seu chefe hierárquico, Paulo Portas (7 de Março de 2005 - diz o Esxpresso) a explicar que no Parecer, Telmo não precisava de dizer que concordava, do ponto de vista legal bastava colocar "o visto". E o mesmo disse Abel Pinheiro ao ministro Nobre Guedes: basta o visto do Telmo! Disse-o também pelo fatídico telefone (nunca se devem tratar assuntos de Estado pelo telefone. É das regras.)
Depois disto tiro duas conclusões:
1) Bem andaram os deputados ao alterar o Código do Processo Penal de modo que os media só possam revelar as conversas apanhadas pelas escutas quando, para além de deixarem de estar em segredo de Justiça, tiverem a autorização dos visados.
2) Fico a recear que possa ser Telmo o tal ministro de que falava o bastonário da ordem dos advogados, Marinho Pinto, na entrevista à RTP e de quem se dizia: "Leva isso ao gajo que ele assina qualquer merda".

 

E o processo Portucale?

Que destino aguarda? Arquivamento por razões processuais?

Relembrando o CM:

"O próprio caso Portucale, um outro inquérito em que é investigada a viabilização de um projecto turístico do Grupo Espírito Santo (GES) na herdade da Vargem Fresca, Benavente, começou com suspeitas de uma operação de branqueamento de dinheiro a partir de um depósito numa conta do CDS aberta numa agência do BES. O facto de a entidade beneficiária dos depósitos ser um partido político em que os seus responsáveis exerciam, à data dos factos, cargos políticos nos governos PSD/CDS, obrigou à abertura do inquérito.

"Na prática, todo o caso Portucale nas suas diversas componentes – submarinos, projecto turístico de Benavente, alteração do PDM de Gaia para viabilizar construções em terrenos de sociedades do GES, Casino de Lisboa e Autodril/Grão-Pará – está relacionado com o financiamento do CDS e a sua relação com eventuais contrapartidas prestadas por membros dos governos PSD/CDS.

"Os investigadores querem saber se o depósito de 1 060 250 (um milhão sessenta mil duzentos e cinquenta euros) nas contas do CDS em montantes que não ultrapassassem os 12 500, entre 27 e 30 de Dezembro de 2004, representou ou não uma vantagem para o partido pelo facto de Paulo Portas, líder do partido e ministro da Defesa à época dos factos, ter entregue o fornecimento dos submarinos ao consórcio alemão German Submarine Consorcio (GSC).

"As notícias publicadas sobre a compra dos submarinos e os indícios recolhidos durante a investigação do Portucale suscitam aos procuradores a necessidade de aprofundar o caso na medida em que “são aproximadas no tempo” aos depósitos em numerário na conta do CDS. Esta dúvida é documentada com duas escutas telefónicas feitas a Abel Pinheiro, empresário e responsável pelas finanças do CDS, e Paulo Portas. As duas conversas escutadas são apontadas pelo Ministério Público como indiciadoras da existência de acordos ou de ‘compromissos secretos’ quanto ao concurso dos submarinos." (Mais desenvolvido aqui: Link)


2008-02-08

 

A direcção da PJ a tentar "corrigir-se"

Hoje, no Funchal, o director adjunto da PJ veio dizer que houve um equívoco na leitura das palavras do Director Alípio Ribeiro.

Demorou a PJ, ou melhor, as suas altas figuras, a encontrar uma saída para a questão que tanta celeuma levantou. Afinal, o que Alípio Ribeiro quis dizer, segundo as palavras do seu sub, foi que a precipitação se referia ao timing do anúncio de arguido dos McCann. Será de concluir, então, que quanto a conteúdo tudo bem.

Ora, esta tentativa de emenda é pior que o original. Nada vem explicar, nem de facto minorar os prejuízos que as palavras de Alípio Ribeiro provocaram nos diversos agentes da justiça: o descrédito, a começar pela própria PJ, mas também na imagem do País, que volta a aparecer nas primeiras páginas dos jornais internacionais pelos piores motivos.

Esta direcção da PJ perdeu a credibilidade e respeito. O que já deveria ter feito era apresentar a demissão. Como não teve essa inciativa (era o mínimo de ética), deveria o Ministro da Justiça tê-la demitido.

Também não o fez. Afinal, há muitos operadores da Justiça, a todos os níveis e âmbitos, a apostar na sua própria desacreditação.

 

O Jogo e as regras (3)


O 1º Ministro e o Ministro das Obras Públicas dizem não compreender a perplexidade em que nos deixam (não é a 1ª vez) quando anunciam uma decisão para, pouco tempo depois, comunicarem que vão encomendar estudos que porão eventualmente em causa a decisão tomada.

Têm a seu favor o argumento básico, segundo o qual, nunca é tarde de mais para anular uma má decisão. É mentira. Às vezes é demasiado tarde. Todavia, este impulso onírico de dois homens da engenharia, põe-me a imaginar o mesmo critério aplicado à legislação do trabalho e a promessa solene que deputados do grupo parlamentar do PS fizeram de anular o Código do Trabalho do nefasto Bagão Félix.

Mas não.

Na perspectiva dos governantes, os recuos e as paragens para estudar melhor, só fazem vencimento do lado das obras públicas e transportes.

Que chatice!

Apesar de tudo, há, ainda, em Portugal, à esquerda e à direita, quem considere a palavra do Governo uma palavra de honra.

É o caso do Presidente da Câmara Municipal do Barreiro, que não esconde a sua estupefacção [notícia aqui]. Acreditando (ainda) que uma decisão do Governo é uma decisão responsável, culminando um processo de análise, ponderação e concurso de competências, Carlos Humberto Carvalho tinha reforçado o anúncio sobre esta decisão do Governo aos munícipes do concelho a que preside, aproveitando o ensejo para se congratular euforicamente com as novas perspectivas de desenvolvimento criadas a partir do traçado da nova ponte Chelas-Barreiro.

Não se apercebeu, o desafortunado autarca, que entrámos na era do "decida agora e estude depois". Prezando muito a sua própria honestidade, terá agora de explicar aos munícipes que a verdade com que lhes mentiu veio de uma mentira que tinha quase tudo para ser verdade.

Não lhe ocorreu que, entretanto, o governo iria mudar tão profundamente as regras do jogo.

 

O Jogo e as regras (2)

António José Seguro invocou o estatuto de objector de consciência para contornar a disciplina que o obrigava, como membro do Grupo Parlamentar do PS, a votar a ratificação do Tratado de Lisboa no Parlamento. Segundo as notícias, Seguro e Pedro Nuno Santos, líder da JS, teriam sido os únicos a dar voz às suas discordâncias, de entre os 7 (sete) que votaram vencidos na reunião da Comissão Nacional do mês passado.

A exiguidade do número dos que entenderam que uma promessa eleitoral deve ser respeitada, surpreende, apesar de tudo. Porém é nestes momentos, contra a adversidade e a claudicação de tantos dirigentes nacionais, que as opções corajosas e decentes fazem a diferença.

Raramente tão poucos quiseram respeitar a promessa de tantos.

Quando voltarmos ao combate incontornável por uma Europa sem receio do escrutínio dos cidadãos, já sabemos com quem podemos contar.

Os restantes, provavelmente, partilham o receio dos seus chefes. Para os lados do Largo do Rato, parece que cumprir uma promessa eleitoral passou a ser um excesso democrático. Preferem pensar que é possível construir a Europa contra os cidadãos, ou apesar deles...

Saliente-se que Manuel Alegre, altaneiro e tonitruante, ficou a meio caminho. Assistiu-lhe, mais uma vez, o direito de se abster. Dá prova de grande clareza de ideais e de uma determinação sui generis: canta alto mas não passa da praia.

Imaginem os povos a votar o tratado.

Que horror!


2008-02-07

 

Olivier Messiaen

Uma das grandes satisfações da paternidade é a descoberta inspirada pelos filhos, com eles somos muitas vezes levados a trilhar caminhos onde nunca nos aventuraríamos sózinhos. Foi exactamente o que me aconteceu com a música de Olivier Messiaen, através do meu filho que estuda ondas martenot, um instrumento electrónico para o qual Messiaen escreveu numerosas obras.

A ornitologia e o misticismo são temas de predilecção de Messiaen, o ritmo é essencial em toda a sua obra. Deixo-vos o quinto andamento da sinfonia Trangalila, com piano e ondas martenot em solistas, e espero que o centenário do nascimento deste compositor dê origem a algum concerto em Portugal.


2008-02-06

 

O Jogo e as regras (1)


O novo programa de debate político da SIC/Notícias, A Regra do Jogo, com António Barreto, José Miguel Júdice e a moderação de António José Teixeira, é fraco. Não por causa de cada um deles, em separado, mas devido a uma má combinação de contexto.

Barreto ataca Sócrates, de leve, pela putativa rendição à "rua" e pela falta de coragem em prosseguir as reformas, tudo em resultado de uma análise impressionista que dá por adquirido que a única coisa que há a fazer é privatizar a prestação de cuidados de saúde.

Júdice acorre em defesa de Sócrates, mas não tem jeito para disfarçar a sofreguidão. A boçalidade dos exemplos que dá, deita tudo a perder. No fundo, estão ambos de acordo no essencial: que o Estado não pode financiar melhores políticas de saúde pública (depois do "pensamento único" assistimos, estupefactos, à era do "orçamento único").

Trauliteiro, Júdice investiu contra o Bastonário da Ordem dos Advogados, a propósito das suas declarações acerca do estado da justiça em Portugal. Ao nível de qualquer peixeirada, apoda-o de "populista", "gordo", "radical", e (ainda) de "próximo candidato presidencial da esquerda" em próximas eleições presidenciais.

Quanto à seriedade, ao rigor da análise e à clareza de propósitos, estamos, pois, conversados.

Barreto, pelo menos neste caso, deu-se conta da argumentação de feira e tentou demarcar-se, ficando-se por uma condenação mais lyonnaise. Marinho Pinto, segundo ele, fora desajustado na forma mais do que no fundo, etc. ...

A Regra do Jogo mete a esquerda pela direita e a inconsistência não cola: nem Barreto convence ao atacar Sócrates pela direita (falta-lhe substância); nem Júdice consegue fingir que Sócrates está, apesar de tudo, bem (soa sempre sarcástico).

António José Teixeira, empenhado em formular algumas questões mais inteligentes, falha.

Ninguém está interessado na profundidade das suas propostas.

A Regra do Jogo é fazer batota!

 

O Imperador da língua portuguesa

Assim chamou Fernando Pessoa ao Padre António Vieira, e quem melhor que ele nos poderia incitar a ler Vieira, a conhecer a sua obra, a conhecer o Homem do Quinto Império.
Nasceu há 400 anos em Lisboa e morreu na Baia em 1697.

Eis um pequeno extrato de um dos seus mais célebres sermões que, como se vê à nossa volta, não perdeu actualidade:

Sermão aos Peixes

"... Antes, porém, que vos vades, assim como ouvistes os vossos louvores, ouvi também agora as vossas repreensões. Servir-vos-ão de confusão, já que não seja de emenda. A primeira cousa que me desedifica, peixes, de vós, é que vos comeis uns aos outros. Grande escândalo é este, mas a circunstância o faz ainda maior. Não só vos comeis uns aos outros, senão que os grandes comem os pequenos. Se fora pelo contrário, era menos mal. Se os pequenos comeram os grandes, bastara um grande para muitos pequenos; mas como os grandes comem os pequenos, não bastam cem pequenos, nem mil, para um só grande.

... Santo Agostinho, que pregava aos homens, para encarecer a fealdade deste escândalo, mostrou-lho nos peixes; e eu, que prego aos peixes, para que vejais quão feio e abominável é, quero que o vejais nos homens." Link

2008-02-05

 

Um tiro no pé...

é a imagem que me ocorre a propósito da revisão da constituição francesa aprovada ontem pelo congresso (reunião do senado e da assembleia nacional) em Versailles. 560 parlamentares votaram a favor, 181 votaram contra e 152 abstiveram-se. Esta revisão tem como único objectivo permitir a ratificação do tratado de Lisboa pelo parlamento sem passar por outro referendo.

Serge Dassault, senador UMP da Essonne resumiu bem a mentalidade dominante numa breve declaração que pude ouvir na rádio esta manhã: "Foi um erro submeter o tratado a um referendo, os Franceses não percebem nada [da constituição], assim perdemos muito tempo". Na minha opinião há dois aspectos chocantes nesta afirmação.

  1. A campanha do referendo foi uma das mais interessantes a que assisti, votou-se na altura um texto que foi largamente difundido, não se tratava de escolher pessoas o que atenuou muito as possibilidades dos conselheiros de imagem. Muita gente leu efectivamente as partes mais polémicas do tratado o que permitiu confrontar os argumentos políticos com a realidade. Pessoalmente li o texto e os excessos da parte dedicada à economia fizeram-me passar do SIM para o NÃO. Atribuir um atestado de estupidez aos eleitores nesta matéria é chocante.
  2. A ideia subjacente de que é necessário corrigir um voto que não vai no sentido desejado pela classe política só serve para alimentar o desprezo pela política, nomeadamente a europeia, que vai avançando lentamente em França.


A posição oficial do PS é: a favor do tratado e por um segundo referendo, a indicação de voto dada aos parlamentares de se absterem não foi respeitada pela maioria dos senadores e deputados socialistas.

O caso Português é menos grave pois a constituição nunca chegou a ser submetida a referendo, no entanto, choca-me que um referendo que fazia parte das promessas do PS seja agora "esquecido".
 

Novo Ultimatum dos bretões




Retomo o tema do poste anterior de João Abel Freitas [Inspectores da PJ discordam de Alípio Ribeiro] para exprimir também o meu pasmo pela forma displicente como dezenas e dezenas de considerações acerca das versões contraditórias dos pais de Madeleine, dos vizinhos e dos amigos da família foram arrumadas pelo Director da PJ. Indícios vários são reduzidos à insignificância com uma ligeira alusão durante uma entrevista...

Não me pronuncio sobre o caso, em si. É demasiado intrincado. Foi objecto de perícias várias, sombrio e sinistro e, além do mais, consta que continua em segredo de justiça.

Porém, depois de Gordon Brown ter anunciado publicamente que ia discutir o assunto com José Sócrates, levando o caso McCann, da investigação criminal, para o tablado da política bilateral UK/Portugal, só nos resta uma conclusão.

Estamos perante mais um ultimatum dos bretões. O caso Madeleine deverá, pois, ser desvalorizado e arquivado.

Portugal, nestes casos, só tem de acatar.

A justiça é mais simples assim...

2008-02-04

 

Inspectores da PJ discordam de Alípio Ribeiro

Alípio Ribeiro é o director da PJ e veio um dia destes admitir em entrevista televisiva que houve uma precipitação em constituir os McCann arguidos no processo Maddie.

Os apoios a esta sua atitude comportamental não se fizeram esperar. Desde logo o apoio do ex-bastonário da Ordem dos Advogados, nomeado, no fim do mandato, advogado dos McCann que, em entrevista "descomprometida", considerou um acto de nobreza esta atitude de Alípio Ribeiro e na imprensa de hoje lê-se em título: Pais de Madeleine pedem para deixarem de ser arguidos.

Será mesmo que Alípio Ribeiro pode tomar, ética e jurídicamente, uma atitude pública destas, sem consequências?

Não terá feito nenhuma infracção legal, pois o caso, apesar do seu grande mediatismo, continua em segredo de justiça?

Para além desta questão que a existir não é de somenos importância, devia lembrar-se de que no processo trabalharam vários inspectores que fundamentaram com a sua investigação este processo e que houve uma intervenção do Ministério Público no caso. Mais um que sozinho tem toda a ciência!!

Não haverá aqui uma "guerra" subjacente PJ/MP? Pelo menos mal-estar no seio da PJ causou. É oq ue diz a imprensa de hoje.

E o que vai agora a PGR fazer?

2008-02-01

 

Farsa

"Nunca briguei com o Governo da República" afirmou ele, sério, em pose de Estado, aqui no contenente aquele que, lá na Região Autónoma da Madeira vemos no meio de histriónica gritaria e carnavalescas palhaçadas debitar insultos contra os órgãos de soberania.

 

Marinho Pinto um anti-bastonário

Um exemplo da Justiça portuguesa "forte para os fracos e fraca para os fortes" definida pelo recém eleito bastonário da OA [e referida pelo Manuel Correia em post abaixo]: enquanto os que roubam milhões ao património público com a cumplicidade de políticos e magistrados andam por aí gozando impunes o produto do roubo "as cadeias estão cheias mas só de gente pobre".
"Em Coimbra estão presos - diz o bastonário, na entrevista à RTP - dois jovens de 22 e 24 anos condenados a 18 anos de prisão por pequenos furtos o mais grave dos quais é punido por lei com 3 anos de prisão."

 

Os ideiais que sobrevivem (1)


António Marinho Pinto, em entrevista a Judite de Sousa para a RTP1, (2008/01/31, 21h), mostrou uma determinação pouco comum nos bastonários dos advogados. Exactamente por serem discutíveis, as suas afirmações alusivas a casos de alegada corrupção, sobejamente conhecidos, desafiam o conformismo de que os responsáveis políticos do centrão são capazes; a capacidade de esquecimento das máquinas mediáticas; e a incompreensível insensibilidade das magistraturas e das polícias.

Sem cair no justicialismo barato, Marinho Pinto veio dizer que não pactua; que perdeu as ilusões mas não os ideais. E isso deve incomodar quem se nutre da passividade cívica para se encher à grande.

Tal como ele recordou "O direito de ficar calado e o direito de elogiar os poderosos, existem em qualquer ditadura". Só agora tive o prazer de ouvir um Bastonário da Ordem dos Advogados reconhecer que a "nossa" justiça é muito forte com os fracos e muito fraca com os fortes.

É um bom começo.

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