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2006-06-29

 

A crise em Timor

Sobre a crise que perdura em Timor e cujo desfecho (?) continua a ser cozinhado por Xanana, vale a pena raciocinar sobre a entrevista, publicada hoje no DN Planos de Alkatiri prejudicariam Territórios do Norte da Austrália de Nuno Antunes, advogado desde Maio da empresa portuguesa de advogados Miranda, Correia, Amendoeira.

Nuno Antunes foi consultor jurídico de Alkatiri, tendo participado nas negociações sobre os recursos do mar de Timor. Certamente, uma pessoa bem informada sobre esta questão do petróleo e das relações de desconfiança da Austrália para com Alkatiri. Como já o dissemos aqui, o petróleo é o motor de toda a movimentação para o afastamento de Alkatiri e do desmembramento da Fretilin. Esta entrevista é só mais uma prova disso e da visão de Alkatiri sobre as condições que ele queria criar para o desenvolvimento de Timor, designadamente, neste caso, em termos de infraestruturas básicas.

A sua leitura ajuda a perceber a posição australiana neste contexto de crise e dos seus amigos no interior de Timor.

Esta entrevista tem ainda 5 outras perguntas, não disponíveis on line, que trata das ligações de Mari Alkatiri com outros países que o DN intitula: Ligações do Primeiro Ministro assustavam Camberra e Jacarta.

Segundo Nuno Antunes, para a Austrália e a Indonésia, Timor só tem duas hipóteses, ou fica na esfera Camberra ou de Jacarta. Como Mari Alkatiri estava numa de independente e tentava recorrer a outos países, isso incomodava muito.
Na opinião de Nuno Antunes e cito: "Com Alkatiri era muito simples: detectado um problema, tentava perceber quem podia ajudar a resolvê-lo. Se fosse Cuba era Cuba. Se fosse Portugal era portugal. Ou o Banco mundial ou o Brasil , a Malásia , o Koweit... Só esta atitude era mais que suficiente para deixar a Indonésia e a Austrália desconfortáveis".

2006-06-27

 

Homogéneas, esperançosas e vazias.



1. À afirmação bem disposta e ufana de que não sofremos, como outros, de angústias identitárias – “Portugal sem problemas de identidade nacional” (DN de hoje, p. 6 e tb aqui) – conviria subtrair o fresco que Raul Brandão nos ofereceu e que, mais do que se pensa, continua a moldar, tensa e contraditoriamente, as nossas identidades.
Portugueses? Sim, mas, antes de mais, pobeiros!
Ao que podemos, sempre, acrescentar:
Portugueses, pois. Mas não se esqueçam que o Porto é uma nação e o Alentejo é um país.
A recente electrificação da primeira linha férrea do sul, (com a carreira do Alfa, Braga-Faro), foi disfarçada, para não se ter de lembrar a sua exemplaridade…
À história que dá cobertura às contradições e à reprodução das assimetrias, há quem continue a preferir a narrativa cómoda que propagandeia a homogeneidade e eclipsa as tensões.
Parece mais conveniente…

2. O Primeiro-Ministro José Sócrates fala em directo para os telejornais do almoço. Repete, mais ou menos, o que os press-release, distribuídos na véspera já destacavam: “Banda larga cobre ‘praticamente’ todo o país” (PÚBLICO de hoje, p. 41, link para assinantes).
A esta nota eufórica que anuncia a execução do Programa “Ligar Portugal”, parte integrante do Plano Tecnológico, subtrai-se a disfórica constatação de que, em matéria de instrumentos básicos da nossa relação com os universos da informação e da comunicação, (o computador), mais de metade dos portugueses está, para já, excluída.
– “Mais de metade dos portugueses nunca utilizou um computador” (TV-Ciência Online, aqui).

3. Por detrás destes dois tipos de distorção que se destinam provavelmente a fazer-nos sentir orgulhosos de qualquer coisa, jaz uma ameaça que se vai desvelando: “Portugal tem de baixar os custos do trabalho” – grita o DN de hoje, em manchete. Dá, assim, gentilmente, eco à "directiva" contida na entrevista de Jean-Claude Trichet, presidente do Banco Central Europeu.
Aí está uma das poucas coisas que historiadores optimistas e governantes eufóricos não podem disfarçar. Quando as crises estalam, são os que mais produzem que têm sempre de pagar mais. E, assim sendo, (lá vem a advertência científica) convém que se portem à altura da identidade nacional (homogénea e pacífica) que alguns historiadores enfatizam, levando em conta os sucessos do Governo que, omitindo os resultados do Eurostat (54% dos portugueses nunca utilizaram um computador e 74% não utiliza regularmente a Internet. Press-release,
aqui), vai semeando banda larga.

À espera de melhores dias?
Certamente.
Mas para quem?

2006-06-26

 

A propósito da Opel Azambuja

... que, entre muitas outras coisas, segundo diz o Raimundo no poste logo antes, o jogo de ontem faz esquecer, pelo menos por uns dias, era bom que se reflectisse profundamente no caso.

Era bom até, apesar do grande gozo que nos deu o resultado final do jogo, que se reflectisse na razão porque só levamos de vencida a Holanda "em jogo de pés" .... Na economia e em termos de Estado Social, a distância é o que se sabe.

Era bom, era bom, ... , era bom pensar o País.

Penso que foi o Eng. João Martins Pereira que fez uma excelente reflexão económica, já lá vão uns bons anos, num livro publicado com este mote: "Pensar o País".

E a propósito da Opel Azambuja era bom pensar se este tipo de investimentos interessa à nossa economia.

A tendência de muitos é o enfoque no número de postos de trabalho. Foi, assim, que se olhou para a refinaria Vasco da Gama de Patrick Monteiro que morreu na casca e ainda bem, porque como investimento económico era negativo em termos de incidência.

É evidente que a Opel Azambuja irá fechar. É bom estar atento ao evoluir da AutoEuropa, apesar de alguma euforia agora reinante. Foi/é um investimento de risco e cada vez mais, apesar de diferenças significativas em relação à Opel.

Não é preciso perceber-se muito da indústria do automóvel nos seus pormenores. Só é preciso pensar-se que se trata de um sector global, detido por grandes multinacionais e que os mercados emergentes não se encontram por estes lados. E segundo que, em Portugal, não está sediado nada de fundamental desta indústria. Na sua cadeia de valor só há fabricação. Uma cadeia de valor muito curta. Atrasamo-nos em alguns domínios que poderiam dar maior sustentabilidade a projectos desta natureza.

Azambuja, para além dos postos de trabalho, teve impactos muito fracos na economia do país. Ao contrário, a AutoEuropa sempre arrastou consigo um conjunto significativo de diversas unidades fornecedoras de componentes, para além das que induziu cá.

Ora, uma unidade fabril sediada na Azambuja, com os fornecedores localizados em Espanha ou na Alemanha, só nos transportes das componentes a integrar tem custos não comportáveis em termos de competitividade e depois há os custos inversos da expedição do produto final. Trata-se, efectivamente, não de competitividade no fabrico (apesar da tecnologia não ser a melhor) mas na logística tanto mais imperando no sector o Just in time.

A Auto Europa está melhor porque criou uma plataforma logística de fornecimentos, o que lhe dá alguma defesa, alguma competitividade e o uso do transporte marítimo na expedição que é mais barato.

Há aqui muito que o país não fez: transportes e logística. Daí que o país deveria ter sido há muito pensado. Já não era cedo quando JMP alertou para o assunto.

Nunca será tarde, mas agora certamente sobre outras bases. Modelos de desenvolvimento ultrapassados, cuidado.

 

Valha-nos ao menos a BOLA

Vencer a Holanda deu gozo mas mais ainda dará derrotar a velha Albion. Depois para compensar-nos do défice, da falta de competitividade, do desemprego, da Azambuja a voar para Saragoça, necessitamos disto. Temos de nos agarrar a qualquer coisa. Nem que seja ao futebol.
A seguir teremos o Brasil pela frente depois dele vencer a Espanha. Dou como certa a vitória sobre os Beefs e de barato a derrota da França frente àquela.
Se não derrotarmos o Brasil paciência. Fica tudo em casa. Admitindo que o Pessoa diz a verdade quando diz que a minha língua é a minha Pátria.
Torcer, já vocês sabem, você torcer pela Itália. Só por causa do golpe de Estado que a Austrália apoiou ou fabricou em Timor por causa do petróleo.

Tenho pena de não fazer parte dos loucos da bola. Andaria, até à próxima decepção, a levitar em euforia. Mas confesso que apesar de todo o comércio, toda a alienação deste "ópio do povo" que gira à volta dos biliões do negócio da bola, me emocionei. Não tanto com a vitória sobre os Holandeses, o golo do Maniche ou o bom desempenho dele do Figo e não só, mas com a comunhão, o magnetismo, a fraternidade que pôs em uníssono e harmonia, por instantes, milhões de almas.


 

Alkatiri Demitiu-se

... E acho que agiu bem. Subiu na minha consideração como Homem e Estadista, pela informação que acumulei a seu respeito até á data. Como já várias vezes aqui disse, cometeu muitos erros, sobretudo no domínio das diversas relações que tinha de gerir, enquanto primeiro ministro de Timor.

Alvo de grande pressão, interna e externa, optou por dar margem a Xanana e à própria Fretilin.

Acima de tudo, é uma atitude de patriotismo. Olhou mais para a "questão" momentânea do País, artificialmente criada por muitos actores internos e externos, entre eles, o Presidente Xanana.

Foi-lhe criada uma situação complexa. Alkatiri sai.

Tenho dúvidas de que se estejam a reunir as condições para uma saida sustentada da crise e para a sobrevivência de Timor-País.

Em minha opinião, Xanana, entre vários fogos, não sabe bem o que anda a fazer e, neste contexto, haverá um aproveitamento interno e externo daquele lobi do petróleo que é quem manobra tudo. Xanana está a ser pressionado e o meu feeling é o de que vai cair no sentido oposto ao dos interesses do povo que agora o sustenta, pelo menos, é o que transparece.

Timor será, no futuro um case - study político. Infelizmente, não pode ser analisado, assim, tão friamente, porque há povo sem condições mínimas de vida e a ser manipulado contra os seus interesses.

 

O centro de todas as atenções




Aos sábados visita-nos. De braços abertos corre para o abraço da avó ou do avô. E assim entra em casa para o dia grande. Vai ao caixote dos brinquedos despeja tudo no chão mas depressa se desinteressa. O que o atrai mesmo é as coisas dos adultos. E mostrar que já sabe tudo. Abrir a televisão, lavar as mãos e molhar tudo à volta, ajudar a pôr a mesa levando as coisas pequeninas, usar as chaves das estantes, folhear Kant, Petrarca ou o último livro do Mário de Carvalho enquanto não acudimos e explicamos que é cedo para tanta Filosofia e Literatura.
Vó, vó, flor, flor! E a avó lá mete meio litro de água no regador e abre-lhe a porta da varanda.
Criado a beijinhos... Depois os pais vão ensiná-lo a ser honrado, solidário e generoso. Ver no outro um irmão e não um lobo. Não será um perigo tal educação?


2006-06-25

 

Histórias de homens...



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Lido hoje. Vai uma chapelada para Frei Bento. Até dá vontade de dizer «Que Deus o ouça!»:

«A História foi escrita por homens e, por isso, em certa medida, só é meio verdadeira. Metade da humanidade - as mulheres - não participou na sua redacção. Quando elas tiverem uma palavra a dizer sobre o destino das religiões, estas serão mais pluralistas, mais verdadeiras e, é de esperar, mais pacíficas.»

Frei Bento Domingues, O.P. "Pior do que a ignorância", no jornal PÚBLICO de hoje, página 16 (Link para assinantes).


 

Portugal-Holanda ...

Primeira boca: Depois de tanto cartão, e logo de início, um cartão vermelho ao árbitro. Não se percebe como um árbitro de tão má qualidade é escolhido. Estragou o espectáculo.

Segunda: Maniche1- Holanda 0.

Terceiro: Figo é de facto um espectáculo de inteligência, de camaradagem e de ânimo.

Quarto: Cristiano Ronaldo que bem estava a jogar. Só espero que recupere porque ficámos sem artilheiros e no caso do Deco, salvo melhor opinião, o árbitro decidiu ao contrário.

É pena, perdeu-se um grande jogo por causa de um mau árbitro.

A grande incógnita: Que clube vai herdar Maniche?


 

TIMOR-LESTE ou a difícil criação de um Estado

A longa mensagem dirigida por Xanana Gusmão ao “ao Povo Amado e Sofredor e aos Líderes e Membros da FRETILIN” em 22 do corrente mês, disponível aqui, é um documento que acentua a imagem de completa inadequação do herói da resistência timorense às suas funções de PR. Só lido. É um longo repositório de quezílias antigas que vêm desde a resistência, passa pelas emigrações, por conversas pessoais, palpites, ajustes de contas, frustrações, arrogância, acusações tremendas, e total desprezo pelo Estado de direito.
Apela a que os

“Espíritos e Antepassados, levantem-se para olhar por este povo! Ossos que estão espalhados por todos os cantos, ponham-se de pé, Sangue que foi vertido por todos os cantos, juntem-se de novo para ver aqueles que querem estragar o povo, que querem ver o povo sempre a sofrer, que querem ver o povo sempre a morrer.
Mostrem-se, mostrem a vossa força! O vosso filho está aqui, que vos implora, para olharem por este Povo, para libertar este Povo do jugo dos sedentos de sangue."

Segundo opinião de alguns Xanana Gusmão tendo sido o heróico chefe de guerrilha e objecto de todos os carinhos nunca conseguiu aceitar a situação de não ser o centro do poder e das atenções no novo regime democrático, que deixa poucos poderes ao PR. O despeito e a falta de estatura política estarão na base dos actuais desenvolvimentos num pano de fundo da grande fragilidade das estruturas de um Estado nascente e de poderosos interesses ligados ao petróleo e gás natural que esbarram na falta de "colaboração" do Governo.

A mensagem referida não é apenas uma mensagem “inadequada”de alguém que perdeu o sentido de Estado. Parece ser o acto culminante de um processo golpista para o derrubamento do poder legalmente constituído.

Não é possível, apenas com os dados que são públicos, conhecer os complexos meandros da crise. Nem avaliar os erros e imprudências do Governo. No entanto o que parece é que Xanana não tem capacidade para ser sequer o promotor e estratego do golpe. Parece antes alguém manipulado que aproveita a situação.

Xanana não presta apoio institucional ao Governo que expulsa 600 militares insubordinados (erro de avaliação de forças por parte do Governo) e que comandados pelo major “australiano” exigem a demissão de Mari Alkatiri com ostensivo aplauso dos media australianos. Xanana pelo contrário junta-se a estes e a alguns opositores do Governo no apoio aos revoltosos. Simultaneamente surge o tiroteio e terror que lança a população da capital em fuga para a montanha, incendeia e destrói edifícios governamentais, ataca ou ameaça residências de membros do Governo incluindo a do Primeiro Ministro. Não se sabe quem nem a mando de quem. Xanana que faz? Dá apoio institucional ao Governo? Não, acusa-o de responsável pelo caos e recebe uma delegação duma manifestação que pede a cabeça do 1ºM e entre abraços e tiradas populistas pede-lhes para não incendiarem mais casas.
A sua Mulher australiana repete semana após semana para os media do seu país que o 1ºM ou se demite ou é demitido.
Depois fala-se de um esquadrão da morte armado pelo ex-ministro Rogério Lobato para matar os dirigentes desafectos ao 1ºM. Xanana confirma mas o chefe do dito esquadrão da morte não só não mata ninguém (felizmente) e a única coisa que faz é aparecer junto de Xanana a denunciar a verdadeira ou inventada tramóia, a receber os seus abraços e ficar na fotografia da exotérica e populista mensagem de Xanana.

A cada atitude destemperada e golpista de Xanana assistimos, em entrevistas à Lusa e à comunicação social internacional, a um 1ºM calmo, a denunciar o golpe, a procurar entendimentos com o PR e a manter o respeito pela legalidade.

O Governo pode ter muitas culpas no cartório, mas foi elogiado pelos países doadores e até, pasme-se pelo Banco Mundial, pela gestão honesta dos recursos doados e de, com a Noruega, ser o exemplo internacional da transparência nas negociações do petróleo.

No Causa Nossa Ana Gomes tem uma opinião muito diferente desta. [Link].

No blog Timor-online:

“Exemplos de projectos concretos em Timor-Leste e abortados pelo golpe de EstadoEssa é que é essa o investimento estava a bom ritmo, havia um interesse crescente dos investidores estrangeiros no país. estava à beira de instalação de fábricas várias - indústria conserveira de peixe, de marisco, componentes electrónicos para diversos fins, entre outras actividades. Tudo isto junto traria milhares de postos de trabalho, imensa formação profissional e muita capacitação nacional. (o texto completo link)”

Também em Timor-online

“b) [Xanana Gusmão] Despiu-se definitivamente do seu papel de Chefe de Estado para se deixar enrolar na teia da animosidade, do ressaibo, do rancor, da aversão, do ódio, e do ressentimento de que resultou uma Declaração 'Presidencial' à Nação em que o Chefe do Estado de Timor-Leste se 'abstrai' da existência do Estado, sai da esfera do Estado, para se concentrar e para limitar-se à esfera do pessoal e do mesquinhoc) Apela emocionalmente ao fim da violência ... para se dirigir ao ‘Povo’ afirmando com voz trémula que “ganhámos a guerra!”. (texto completo link) .


2006-06-24

 

A "guerra" nos preços do Medicamento

Está no "terreno" uma guerra entre o Ministro da Saúde, Correia de Campos e o Observatório Português dos Sistemas de Saúde (OPSS), a propósito dos preços dos fármacos de venda livre.

Era bom que esta guerra tivesse um desfecho. E o desfecho é nem menos do que uma clarificação.

O Ministro lançou dúvidas muito graves sobre os métodos, as pessoas, a independência e o rigor das conclusões do OPSS, apontando dados concretos sobre a descida de preços da ordem de 5%.

Para além do que disse nas TV e rádios, Correia de Campos assina hoje no Expresso um artigo muito contundente.

Quem paga os custos de existência desta instituição somos nós contribuintes. A ter consistência o que diz o Ministro não faz sentido existir um OPSS. Para quê? Para desinformar? Já temos que baste.

Li também no Expresso uma entrevista do coordenador desse relatório, o docente Pedro Lopes Ferreira da Universidade de Coimbra, em que me parece estar numa posição de recuo face ao conteúdo do relatório.

Este docente diz que ficou chocado com a observação do Ministro, que o observatório não faz qualquer grande acusação e espera que o Ministro perceba que não há nele qualquer jogada política.

Sobre os preços diz e cito a resposta na íntegra: "honestamente, não podíamos fazer outra afirmação porque não tínhamos qualquer evidência que esses medicamentos fossem mais baratos. Compreendo que é um tema estratégico para o ministro da Saúde e para o primeiro-ministro, mas ainda não há tempo suficiente para avaliar nesse sentido".

Esta tirada é, no mínimo, "chinês", como diz o povo. Se não tinham qualquer evidência de que não eram mais baratos tinham a de que eram mais caros? E se não havia ainda tempo para avaliar porque razão avaliaram?

É grave que o relatório não fundamente afirmações (bastava a análise de uma amostra dos postos de venda). Assim nada observado.

O Ministro avança com os dados do Infarmed para defender a sua posição.

Não acho suficiente. Mas é fácil e barato clarificar isto em pouco tempo. Qualquer Centro Universitário de Investigação da especialidade faz isso em meia dúzia de dias, até porque os postos de venda ainda são em número reduzido, cerca de 170. Ou então encomende-se este mini- estudo a dois centros e confrontem-se resultados.


2006-06-23

 

Isabel Magalhães


O REINO DO OURO. Técnica mista e acrílico sobre tela - 60 x 100 cm [Aqui]

Mais quadros de IM, no seu Memórias


2006-06-22

 

Dias dramáticos em Timor Leste

Ao drama que se vive em Timor, esta carta do Presidente Xanana Gusmão a anunciar a sua decisão de demitir o Primeiro Ministro Mari Alkatiri, com base num programa da TV australiana não ajuda a prestigiar as instituições.



Do [DN 2006-06-22]:

"O hipotético afastamento de Mari Alkatiri é, para as autoridades portuguesas, a confirmação de que esteve em curso um golpe institucional com o patrocínio do Governo australiano - e com o apoio do Presidente da República, Xanana Gusmão, e do ministro dos Negócios Estrangeiros e da Defesa, Ramos-Horta. Recorde-se que a Austrália está contra o modelo institucional timorense, feito sob influência portuguesa. O Governo australiano considera que nem a Constituição nem o sistema de justiça timorenses são os correctos e, em sede da ONU, já propuseram a sua alteração."


 

TIMOR: da Confusão à Precipitação

Até ontem, reinava a grande confusão em Timor, com vários indícios de que interesses escusos manipulavam as coisas. Informação e contra informação eram "o pão nosso" de cada dia. Uma simples visita aos jornais portugueses e dava ... para se ver.

Desde ontem, reina a grande precipitação com a manifestação de vontade pública de Xanana em demitir Alkatiri . Que havia vontade, era evidente. Mas pensava eu que Xanana não iria trilhar esse caminho.

Não vou pelo caminho da constituição timorense permitir ou não esta posição de Xanana. Aí não sei.

Acho é que o Estado timorense está em crise profunda e correrá ainda maiores dificuldades se esta solução avançar: não sei mesmo se não se precipitará para uma situação de "Estado comatoso".

Respostas? Culpados?
Muitas dúvidas. Mas também muitas certezas. Erros evidentes houve muitos e de todos os lados.

Aquele político de que menos gosto (nunca gostei, nem nos períodos áureos) Ramos Horta mostrou-se de um oportunismo galopante, como aliás é seu timbre, a oferecer-se para tudo: candidato a substituir Xanana a quando das eleições à presidência; era (é) candidato a substituir Alkatiri; enfim, só não se candidata a substituir os australianos. O presidente Xanana também não se tem portado bem "nesta guerra" com as forças de segurança, resolve não resolve e tudo se ia arrastando e, lá por casa, nada ajuda: a alimentação da contra informação funciona mesmo. Alkatiri tem uma situação complicada, fez erros sobretudo de pouca mestria. Um braço de ferro com a igreja há tempos atrás, agora alguma confusão com Rogério Lobato, erros na relação com as forças de segurança, também dificultados pela actuação do Presidente.

Tudo muito complexo. Mas se não houver um esforço para algum entendimento entre as diversas instiuições e pessoas, a situação será pior e pode questionar-se onde ficará o poder democrático? Nos militares estrangeiros?

Há uma pressão forte do exterior no sentido da decisão de Xanana. Mas poderá ser um começo complexo de uma situação pouco controlável.

Ponderação é o que se precisa. Não há dúvidas, o petróleo transtorna muito as mentes. É muito dinheiro...em jogo.

 

A Escola, os Professores, a Ministra e os Sindicatos

A ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues deu hoje, às 12 horas, à Antena 2, uma entrevista onde procurou esclarecer alguns pontos que mais polémica tem suscitado:
"- A avaliação dos professores pelos pais?
- Os pais não vão avaliar os professores.
- Vão avaliar em parte.
- Não. Vão participar na avaliação.
- Como assim?
- Só vão participar os pais que vão a todas as reuniões previstas na lei de pais com o director de turma. E as suas opiniões serão filtradas pelo presidente do conselho executivo da escola no sentido de detectar motivações inadequadas.
- Tem acusado os professores.
- Nunca acusei os professores nomeadamente pelos maus resultados do nosso ensino. Nunca acusei ninguém. É a escola a que se chegou.
- Não estou satisfeita com os resultados do ensino. Procuro detectar os problemas e dar-lhes solução”
- Mas os professores estão muito descontentes.
- É natural, estão a ser-lhe pedidos sacrifícios para melhorar o serviço prestado pela escola. Para além dos sacrifícios com o aumento da idade da reforma de toda a função pública, vão estar na escola mais que as 8 ou 10 horas anteriores, para que estas estejam abertas até às 17 horas. Foi suspensa a progressão automática na carreira.
É indispensável distinguir os bons dos maus professores. Há professores no décimo escalão com um ou dois anos de aulas, há mais de 28 anos fora da escola, sempre com a avaliação de bom. Quero mudar uma escola que nos últimos 10 anos não conseguiu evitar que 400 mil jovens abandonassem o secundário, para além de milhares que não completam o básico.


No Telejornal (canal 2) a ministra disse que vai baixar de 450 para 300 o número de professores pagos pelo Estado destacados nos sindicatos. Mais uma perseguição aos professores dirão alguns sindicatos e alguns professores.

Não me lembro de os sindicatos terem alguma vez feito uma greve, ou mesmo uma manifestação por causa de uma medida para melhorar o ensino (pessoalmente acho que isso é matéria do Ministério e da Escola) mas quando a ministra pôs à discussão pública o Estatuto da Carreira Docente em Maio e abriu as negociações com os sindicatos a FENPROF começou a discussão com uma greve em véspera de exames, entre feriados e anunciou o seu propósito de tudo fazer para demitir a ministra.

Têm a FENPROF e outros sindicatos toda a legitimidade para procederem como procedem e toda a liberdade para explicarem que os motiva a melhoria do ensino e que a ministra se guia pelo ódio aos professores, os persegue, humilha e se recusa ao diálogo.

Talvez. O caso é que não dá para entender.


2006-06-20

 

A Saúde que temos

O Observatório dos Sistemas de Saúde, no seu relatório, diz que esperam por uma operação 257 mil portugueses. Mais 57 mil que há um ano. Que 45% aguardam a operação cirúrgica há mais de um ano e pelo menos 12 mil doentes há mais de dois. Não sei se contaram com os que entretanto terão morrido.
Que se passa com as operações cirúrgicas em Portugal? Não deverá ser falta de dinheiro pois a Saúde é o principal sorvedouro do Orçamento. Serão incompetentes todos os sucessivos ministros da Saúde? Muitos dos que por lá têm passado parecem pessoas competentes e esforçadas. Cada vez que entra novo Governo e novo ministro da Saúde logo apostam e se empenham no ataque ao monstro.
Será maldição? Claro que há todo um lastro de dificuldades e carências do país que somos mas não é possível deixar de assacar sérias responsabilidades a sucessivos Governos e respectivas políticas de Saúde.

 

THE NEW YORK REVIEW Of BOOKS

Quem é que não conhece a excelência desta revista a comprovar que na grande América, a nossa Roma, poderemos encontrar não apenas o pior (os Iraques) mas também o que de melhor há?
Sobre a revista, José Victor Malheiros, no Público, a propósito do falecimento de Bárbara Epstein, sua fundadora, em 1963, e “alma” da conceituada publicação, dá-nos excelentes argumentos para que não dispensemos umas visitas ao seu site ou mesmo a sua assinatura.
Pronto. Confesso a parcialidade. A Revista é de tendência liberal. O que na Europa se traduz por de esquerda.

 

A liga dos Bastonários

um artigo de Vital Moreira, no Público de hoje. Como sempre às terças-feiras. Trata das ordens profissionais dos seus deveres e também dos seus abusos. A não perder. Em breve estará na Aba da Causa um blog de apoio ao Causa Nossa.
 

Me llamarán, nos llamarán a todos!


Blas de Otero



...porque la mayor locura que puede
hacer un hombre en esta vida es
dejarse morir, sin más ni más...
SANCHO
(Quijote, II cap. 74.)


1

Me llamarán, nos llamarán a todos.
Tú, y tú, y yo, nos turnaremos,
en tornos de cristal, ante la muerte.
Y te expondrán, nos expondremos todos
a ser trizados ¡zas! por una bala.

Bien lo sabéis. Vendrán
por ti, por ti, por mí, por todos.
Y también
por ti.

(Aquí no se salva ni dios, lo asesinaron.)

Escrito está. Tu nombre está ya listo,
temblando en un papel. Aquél que dice:
abel, abel, abel...o yo, tú, él...

2

Pero tú , Sancho Pueblo,
pronuncias anchas sílabas,
permanentes palabras que no lleva el viento...

(Blas de Otero)
 

A Azambuja aqui mesmo ao pé de Saragoça!



Soube, à hora do almoço, que os trabalhadores da Opel/Saragoza estão a realizar uma greve (duas horas por turno) de solidariedade com os trabalhadores portugueses da Opel/Azambuja, em luta contra o encerramento da fábrica.
A General Motors tenciona deslocalizar a unidade da Opel da Azambuja, juntando-a à fábrica de Saragoça.(Ver notícia do Diário Digital,
aqui).


A resposta dos trabalhadores de Saragoça, opondo-se à manobra e expressando apoio aos trabalhadores portugueses, constitui uma comovedora lição. As fronteiras que não se fecham à circulação atrabiliária dos capitais têm de permanecer abertas à entreajuda dos trabalhadores.
Sabemos que a permanência da Opel na Azambuja depende de muitos outros factores, de entre os quais se destaca a posição negocial do Governo Português. Todavia, a acção dos trabalhadores de Zaragoza, independentemente dos resultados imediatos, traz para a luz do dia, algo que, às vezes, parece permanecer aprisionado nos livros do século passado. Algo que é possível mas raramente se concretiza.

Me llamarán, nos llamarán a todos, tu y tu y yo...



 

Estalou a polémica! Alegações Finais.



1. O meu amigo Raimundo Narciso adoptou uma táctica curiosa nesta troca de propósitos. Fez aquilo que nas nossas brincadeiras juvenis equivalia ao «toca e foge». Quando ele argumenta, os céus e a terra rejubilam de entendimento e sintonia; quando é o interlocutor que se adianta, então o pobrezinho (eu, neste caso) não dá uma para a caixa, não atina, completamente a leste “do que interessa”. Nesse passo, RN, condescendente, puxa pela cumplicidade do auditório: “(…) percebe-se que ele não está a contestar argumentos”; “MC não está a responder a mim”.

Em tudo o resto, RN é relapso.

2. Não desmonta a minha “acusação” dos três truques; acha que governar não é (apenas?) moderar lobbies ou corporações; continua, convenientemente, a expulsar os professores da reflexão qualificada acerca do ensino, retirando-lhes a competência de se pronunciarem acerca do que é melhor para os alunos e dando-a, total e exclusivamente, à Ministra da Educação. A passagem em que RN exprime esta hierarquização merece ser recordada. Escreve ele que

"A ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, tem a responsabilidade do ensino e por conseguinte a sua acção deve ser posta ao serviço dos alunos ou seja, de todos os portugueses. Os sindicatos dos professores, diferentemente, têm a obrigação de defender os interesses profissionais dos professores."

3. Então os professores e as suas organizações não estão preocupados com as questões do ensino? Essas preocupações não são parte integrante das competências profissionais dos professores?
Eu respondo que sim. RN dá a entender que não.

4. Esta é de facto uma das maiores divergências que tenho com o Raimundo Narciso. E dela derivam quase todas as outras. Na minha perspectiva, professores, educadores, auxiliares, alunos e pais, devem respeitar-se e compreender o âmbito de intervenção de cada um, aperfeiçoando as respectivas prestações, abertos à crítica, concorrendo para definir melhor objectivos pedagógicos que estão (quase sempre) mal definidos num mundo em que os processos estão em constante mutação.

5. Esta tarefa ciclópica (e utópica, a muitos títulos) encontra nos professores um manancial de experiência que não deve ser desprezado, desvalorizado ou equivocado. Sem a inclusão dos professores na estratégia de reforma do ensino, adeus minhas encomendas. O RN supõe que o estilo farfalhudo da Ministra da Educação se justifica porque a sua legitimidade política passa por cima de tudo o resto. Neste ponto, estou convicto de que governar em democracia com método e estilo autoritários, não pode trazer nada de bom. Mais tarde ou mais cedo, com esta Ministra ou não, o Governo será obrigado a inflectir, chamar os professores e as suas organizações a participar mais, revendo algumas propostas desgarradas e disparatadas, melhorando outras, discutindo, negociando e reconhecendo o lugar prestigioso dos professores no sistema educativo.

6. Os três truques que a Ministra da Educação e o meu amigo Raimundo Narciso utilizam para “deitar poeira para os olhos da opinião pública” – a expressão é dele e inaugura uma nova época nestes tipo de estudos – são uma perda de tempo. No fundo, ninguém acredita que 1) a autoridade institucional da Ministra lhe confere razão em tudo o que faz, diz e teima; 2) que os professores e as suas organizações não têm, de entre as suas competências profissionais, legitimidade para intervir qualificadamente na discussão das políticas públicas; e 3) que todas as estratégias (e agendas) são legítimas, salvo a da Fenprof.

7. A polémica pode ser estimulante, sobretudo se for travada de boa fé. Estes três truques, não.


2006-06-19

 

ESTALOU A POLÉMICA - tréplica a Manuel Correia

Lendo as respostas de Manuel Correia ao meu post A FENPROF e o radicalismo da sua estratégia sindical e à minha réplica Estalou a polémica percebe-se que ele não está a contestar os meus argumentos mas a responder a afirmações que que eu deveria ter feito para que as suas considerações fossem pertinentes. Uma interpretação mais benevolente pode concluir que, apesar do título do seu post, (Estalou a Polémica! (Resposta a Raimundo Narciso) ) MC não está a responder a mim, ou só a mim, mas ao que se opina por aqui, nas caixas de comentários ou se opina por aí.

Vamos então ao que interessa.

As minhas afirmações (1º post citado) de que a ministra da Educação tem como prioridade da sua política o ensino e os alunos e só em segundo lugar os interesses dos professores e que os sindicatos tem como prioridade a defesa dos interesses dos professores e só em segundo lugar os alunos, suscitou a observação do MC (último post citado)

"peço-te para meditares, para já, apenas nesta postura perigosamente simplificadora. Sempre que o Estado se arvora em paladino de interesses não representados, fá-lo por uma de duas razões: ou quer usurpar o direito de representação (neste caso, os alunos do ensino básico e, pelo visto, os respectivos pais); ou quer diminuir a importância de interesses mais estruturados e organizados (neste caso, os sindicatos dos professores). Falar em nome de quem não está organizado de modo a poder fazer-se representar é um velho expediente. Tem o seu quê de demagógico e populista. E é decepcionante."

Meu caro Manuel salvo o devido respeito e consideração parece-me teres mergulhado nalguma confusão quando dizes que o Estado se arvora em paladino de interesses não representados...etc. Maria de Lurdes Rodrigues não está na 5 de Outubro a "falar em nome de quem não está organizado (alunos) e assim a utilizar "um velho expediente... demagógico e populista". Nada disso. O Governo português, este como qualquer outro legitimamente sufragado, foi eleito para governar e não para ser um moderador de lóbis ou corporações por mais legítimas que sejam (e os sindicatos são-no).

Melhor ou pior a ministra da Educação está a governar sem cedências "populistas" e muito bem. Sem se deixar intimidar com as ameaças e a campanha de ódio particularmente da FENPROF, que se vangloria de a conseguir demitir. Cujos dirigentes mais exaltados garantem ser a ministra uma megera apostada na destruição da Escola pelo ódio vesgo que supostamente nutre pela classe dos professores que permanentemente humilharia. FENPROF que não se inibe de marcar greve em período de preparação para exames entre dois feriados e propiciar umas férias de uma semana em véspera de exames.
Que eu saiba a ministra não acusou os professores de todos os males do ensino. Disse que também cabe aos professores uma parte da responsabilidade pelo estado do ensino.

Tratar-se-á de algum mal entendido entre ministra e profs? É um problema de comunicação? Todos sabem que não e todos sabem que a reacção dos sindicatos e de muitos profs resulta da perda de "direitos adquiridos" e alguns mal adquiridos como o de progredirem automaticamente na carreira e chegarem ao topo sem avaliação que mereça tal nome, quer se seja um professor excelente quer se tenha andado por ali a atrapalhar o ensino e a prejudicar os alunos.

A posição radical da FENPROF e de alguns profs resulta estritamente da perda de vantagens pessoais e pouco ou nada tem a ver com a sua preocupação com o ensino como supostamente querem fazer crer. Noutros casos os professores sentem-se molestados por sacrifícios acrescidos, com a restrição de mobilidade para que os alunos não tenham todos os anos outro professor. Isso é "injusto" e traz grandes sacrifícios a quem tem de ficar deslocado 3 anos a 100 ou 200 kms de casa. O descontentamento resulta ainda de terem de ser avaliados e de no conjunto a classe passar a ganhar menos devido a mais lenta e não automática progressão na carreira e a "injustas" mas lógicas e necessárias quotas para o escalão mais elevado.

Ora a FENPROF e muitos professores estão, a lançar areia para os olhos da opinião pública justificando a sua luta com falsas questões. Parece-me que não escolheram o melhor caminho. Pelo menos para o ensino.

Dizes ainda que:

"... face à oposição de vários sindicatos, a Ministra da Educação, e tu [eu RN] com ela, acusam a FENPROF de ser detentora de uma agenda política, para além de a cobrirem com os mimos relhos (kitch) a que me referi no meu poste anterior"

E a isto que digo eu? Que deixo a resposta a assunto tão picante para uma próxima oportunidade.


2006-06-18

 

São Vacas...Senhor!

Acabo de ver as vacas que o Pedro Ferreira nos traz de Paris e não resisto a contar como consegui "adquirir" estas vaquinhas que aqui em baixo vos apresento.
Foi aí pelas onze horas. Fui à bica do café do bairro. Aconselho todos a terem um café de bairro. Permite-nos ter uma identidade e se for um como este, onde o nível cultural e científico não é assim por aí além, é garantido gozarmos de singular reputação e usufruirmos de boa dose de auto-estima.
Já la estava aquele Sr. sexagenário engravatado a quem todos tiramos o nosso chapéu (em sentido figurado, claro) mas a que não damos muito troco. Diferente é quando aparece a Teresa, jovem doutora e... muito acima da média, que o Sr. Antunes convida sempre para a mesa mas ela nunca aceita. E ali estava ele com a mulher e já dois vizinhos. Também me sentei. Ia ele a meio de uma história algo exotérica relacionada com as vacas do Pedro. Que aquilo estava ligado a uma conspiração oriental, hindu, relacionada com as vacas sagradas, que era a verdadeira pan-mania (ou seria pandemia?) de que muito se falou e que a das aves era só para vender o Tamiflu. Que a seguir viria a epidemia dos Budas e depois as da Virgem mas que isso (e aqui a conversa começou a resvalar para a vulgaridade) era mais complicado porque não havia assim tantas... A Srª. Eulália, dona do café atalhou, oh Sr. Antunes, o Sr. anda a ler muitos livros desses, do género Código Da Vinci, não anda? Foi então aí que o Sr. Antunes tirou do bolso, solene, um papelinho já um pouco amarrotado e esticando o braço na minha direcção disse, tome lá que lhe ofereço eu. Da internet, garanto-lhe!. Agradeci enquanto se levantava com a esposa e saía.
A Srª Eulália, que não sabe de computadores esclareceu:" isso", e apontava para o meu bolso, onde guardei o papel do Antunes, é ele a armar-se, que de internetes ele não percebe nad. É ele que pede ao filho.

E aqui estão, mesmo a propósito, os links que o Sr Antunes me deu. [Vacas de Portugal], [vacas de todo o mundo]

CALÇADA PORTUGUESA, de Paula Santos, Prª do Município, Lisboa.



COWPYRIGHT , de Paulo Marcelo, Campo Pequeno, Lisboa.



PESSOANA, de Agostinho Santos, Largo do Rato, Lisboa



VACAMÕES, de Joana d'Eça Leal, R. do Carmo, Lisboa.


2006-06-17

 

Vaca das nações.


 

Concentração bovina

Deixo para mais tarde a minha achega para a polémica que agita o puxa palavra. Para o Manuel Correia vai a notícia de que as inquietantes vacas gaulesas se concentraram para o fim de semana na esplanada da "Défense". Mandem notícias da manada lusitana...
 

Estalou a Polémica! (Resposta a Raimundo Narciso)





... desta água não beberei.

Promessa de Polémica: os 3 truques de Raimundo Narciso no apoio à Ministra da Educação

(ainda o regresso do kitch à análise política) (1)


Caro amigo Raimundo Narciso,

Já exprimi no PUXA-PALAVRA (aqui e aqui) o que acho desconchavado e preocupante na actuação do Governo para as políticas da educação. As medidas acertadas não nos devem inibir de criticar o conjunto, – as propostas disparatadas e o estilo de cruzada anti-professores – nem de discutir os traços negativos do ambiente que se está a criar em torno de reformas cuja viabilidade depende, acima de tudo, do trabalho empenhado dos professores.

Quando te citas a ti próprio, sustentas que por a acção da Ministra da Educação dever ser posta ao serviço dos alunos (suponho que te estás a referir ao processo pedagógico que decorre na comunidade educativa e não dispensa nenhum dos intervenientes) e os sindicatos do sector exprimirem somente os interesses profissionais dos professores, a autoridade da Ministra é mais virtuosa porque está ao serviço de «todos os portugueses».

Como não quero abusar da paciência de ninguém, peço-te para meditares, para já, apenas nesta postura perigosamente simplificadora.

Sempre que o Estado se arvora em paladino de interesses não representados, fá-lo por uma de duas razões: ou quer usurpar o direito de representação (neste caso, os alunos do ensino básico e, pelo visto, os respectivos pais); ou quer diminuir a importância de interesses mais estruturados e organizados (neste caso, os sindicatos dos professores).
Falar em nome de quem não está organizado de modo a poder fazer-se representar é um velho expediente. Tem o seu quê de demagógico e populista. E é decepcionante.

Depois, face à oposição de vários sindicatos, a Ministra da Educação, e tu com ela, acusam a FENPROF de ser detentora de uma agenda política, para além de a cobrirem com os mimos relhos (kitch) a que me referi no meu poste anterior.

Tendo as outras forças sindicais também expresso desagrado e desacordo com muitos aspectos das propostas do Ministério da Educação (Estatuto da Carreira Docente, e outras), seria bom apurar se tu e a Ministra estão de facto convencidos de que a Federação Nacional dos Sindicatos da Educação (UGT), o Sindicato Nacional dos Professores Licenciados, o Sindicato Nacional dos Profissionais da Educação, e a Federação Nacional do Ensino e Investigação, são completamente virginais e desprovidos de agenda política (ou político-partidária).

Seria caso para rir se respondessem que sim, mas não deixa de ter uma enorme piada que só acusem a FENPROF de ter agenda...

Fazer equivaler os alunos a «todos os portugueses» (à Nação?) que a Ministra deve servir com um desvelo despojado de toda a tentação ideológica; recusar aos sindicatos dos professores a titularidade do interesse, da competência e da capacidade de ajudarem a melhorar as propostas do Ministério, separando os interesses profissionais dos professores da prestação pedagógica que lhes está intimamente associada; e descobrirem que, de entre todos os sindicatos que se opõem à Ministra, apenas a FENPROF tem agenda própria, são três truques que, sem embargo do que de acertado tem também sido feito no sector, dão demasiado nas vistas.

Não me parece que tais truques estejam a contribuir para uma abordagem séria e construtiva dos desafios que se colocam às comunidades educativas dos nossos dias...


Bom fim-de-semana e um abraço largo.


2006-06-16

 

Estalou a polémica!

Se o Manuel Correia disser que este seu post aqui em baixo "O regresso do kitch à análise política?" não tem nada a ver com o meu, que está imediatamente antes, fico muito desapontado por não poder ter assim uma tão estimulante polémica.
Diz o Manuel:

"Continua a parecer-me demasiado simplificador colocar a ministra e as políticas do governo para a educação, de um lado, juntamente com os «bons professores»; e, do outro, os sindicatos afectos ao PCP e os «maus professores». Não cola"

O que te parece parecerá a qualquer um, mas se tal afirmação respeita ao que eu disse - como tu dizes - "não cola". É que tais afirmações ou juizos não existem lá. E então o "demasiado simplificador" acabará por ter o efeito perverso e indesejado de qualificar, isso sim, quem o invoca. Como se pode verificar o meu post não qualifica nem toma partido pela proposta ministerial de Estatuto da Carreira Docente. Diz coisas simples como:

"A ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, tem a responsabilidade do ensino e por conseguinte a sua acção deve ser posta ao serviço dos alunos ou seja, de todos os portugueses. Os sindicatos dos professores, diferentemente, têm a obrigação de defender os interesses profissionais dos professores."

Quando dizes:

"Finalmente, o papão comunista/soviético na argumentação de suporte ao Governo, decepciona. É o kitch da análise política? É o ranço ideológico? Ou será apenas a epidemia das generalizações a propagar-se, deitando pela janela, a água do banho, o bebé, e a banheira? Não sei, ao certo. Mas lá que gostava de saber, – gostava!"

Todas estas angustiadas e cidadãs interrogações têm uma resposta também simples: não têm qualquer conexão com o que escrevi e em tal contexto não fazem qualquer sentido a não ser o de predispor o incauto leitor a uma leitura benévola. Que disse eu quando disse comunismo e soviético? Eis o que escrevi:

"A tradição sindical portuguesa, particularmente a dos sindicatos mais poderosos, criados e dirigidos pelo PCP, é uma tradição revolucionária que se fortaleceu na luta contra o regime fascista e depois, na revolução do 25 de Abril, para a tentativa programática de conduzir a revolução democrática à revolução socialista, de modelo soviético, que era o único que havia. 30 anos depois da revolução portuguesa e 15 depois do fim da União Soviética não faz sentido manter a velha estratégia, os mesmos radicalismos, que tinham como objectivos imediatos metas laborais mas tinham como objectivo último a desestabilização e destruição da sociedade capitalista ao serviço da vitória do "campo socialista" "

Deixa, caro amigo, recompor-me, com tempo e vagar, do efeito desse pedregulho "o papão comunista/soviético na argumentação de suporte ao Governo" projéctil que me arremessas como argumento e que, após impacte tão devastador, me obriga, parafraseando Eça, a procurar diligentemente pelo chão os pedaços de mim mesmol

O defunto comunismo? O defunto regime soviético? Já não são papão nenhum. Agora sim, como diziam sem razão os chineses do imperialismo americano, são um tigre de papel, ou de peluche. A tal ponto que o "inimigo de classe" após a queda do muro de Berlim começou a achar Álvaro Cunhal, seu figadal inimigo da véspera, pessoa muito estimável, a aplaudir a sua coerência e depois, volvido Carlos Carvalhas, a achar imensa piada a Jerónimo de Sousa cuja popularidade e cujo comunismo de sociedade recreativa elogia.

E por aqui me fico. Sem vivas a Maria de Lurdes Rodrigues que lá vai empenhada em seu trabalho, nem vivas à FENPROF que lá vai empenhada em sua guerra.

Com aquele abraço e o desejo de um bom fim de semana.

 

O regresso do kitch à análise política?



Quem vai reformar as escolas?



Continua a parecer-me demasiado simplificador colocar a ministra e as políticas do governo para a educação, de um lado, juntamente com os «bons professores»; e, do outro, os sindicatos afectos ao PCP e os «maus professores».

Não cola.

Li vários anúncios e comunicados de professores que não aderiram à greve chamando, apesar disso, a atenção para o facto de a sua não adesão não dever ser confundida com qualquer tipo de apoio à actual ministra, seu estilo e suas políticas.

O governo vai perder muitíssimo, a médio prazo, com estas simplificações grotescas e dicotomizações apatetadas. Não haverá nenhuma reforma eficaz sem envolvimento e adesão activa do «factor humano» que assume nas escolas a principal tarefa do ensino. Sem professores, as reformas não serão possíveis. Afrontá-los e diminuí-los não me parece inteligente... nem eficaz.

Por outro lado o cíclico deslustramento do papel dos sindicatos na discussão e negociação das políticas sectoriais, preocupa-me. Sobretudo nesta fase em que o Governo, recorrendo à estafada táctica das generalizações, está a empurrar todos para o mesmo lado.

Finalmente, o papão comunista/soviético na argumentação de suporte ao Governo, decepciona. É o kitch da análise política? É o ranço ideológico? Ou será apenas a epidemia das generalizações a propagar-se, deitando pela janela, a água do banho, o bebé, e a banheira?

Não sei, ao certo. Mas lá que gostava de saber, – gostava!

2006-06-15

 

A FENPROF e o radicalismo da sua estratégia sindical

A ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, tem a responsabilidade do ensino e por conseguinte a sua acção deve ser posta ao serviço dos alunos ou seja, de todos os portugueses. Os sindicatos dos professores, diferentemente, têm a obrigação de defender os interesses profissionais dos professores.
A ministra para atingir os seus fins necessita do apoio dos professores (que não é exactamente o mesmo que o apoio dos seus sindicatos) mas não pode para isso fazer-lhes concessões que ponham em causa o seu objectivo. As boas graças dos professores fica pois em segundo lugar.

Os professores, não todos (porque muitos estão na escola sem a menor vocação e por não terem alternativa profissional) mas a maioria certamente, também querem o bem do ensino e dos alunos mas em segundo lugar o que torna natural, desencontros, debate, oposição e negociação. Mas não é desejável que o Governo faça tais cedências que a governação passe do governo que foi escolhido em eleições para as corporações que ninguém elegeu.

A tradição sindical portuguesa, particularmente a dos sindicatos mais poderosos, criados e dirigidos pelo PCP, é uma tradição revolucionária que se fortaleceu na luta contra o regime fascista e depois, na revolução do 25 de Abril, para a tentativa programática de conduzir a revolução democrática à revolução socialista, de modelo soviético, que era o único que havia. 30 anos depois da revolução portuguesa e 15 depois do fim da União Soviética não faz sentido manter a velha estratégia, os mesmos radicalismos, que tinham como objectivos imediatos metas laborais mas tinham como objectivo último a desastibilização e destruição da sociedade capitalista ao serviço da vitória do "campo socialista".

Os sindicatos dirigidos pelo PCP e são, em geral, os mais importantes (a FENPROF no caso dos professores) não tendo de momento nenhum modelo de sociedade credível para contrapor ao capitalismo, irão paulatinamente perdendo posições se não substituirem a estratégia que visa a ruptura política por uma estratégia mais modesta e mais útil para o país, uma estratégia mais cingida ao âmbito profissional e social.

Sintomas do radicalismo obsoleto: são a ruptura com negociações construtivas em clima de respeito, a declaração de greve na fase inicial de negociações, expressões como: "ataques inqualificáveis do Governo à classe e ao sistema de ensino", "fartos do discurso da ministra, que diariamente humilha e ofende a sua dignidade", (Paulo Sucena, secretário- geral da FENPROF). "A ministra não tem a mais pequena ideia do que é uma sala de aulas, de quem são os alunos, de onde eles vêm e de onde vêm os pais."

A ministra, tanto quanto julgo saber, independentemente do maior ou menor acerto da sua proposta de estatuto da carreira docente, o que fez não foi ofender a classe dos professores mas a denúncia de casos, práticas e situações da responsabilidade de alguns professores ou do sistema escolar em vigor e reiteradas afirmações de que o objectivo central do ministério é o ensino e os alunos. Teria sido muito mais prestigiante para a FENPROF ter sido ela a denunciar esses casos ou situações em vez de se indignar até à histeria e ir imediatamente para a greve para mais em período de avaliação de alunos.


2006-06-14

 

Para quem está o mundo mais seguro?


...

O New York Times publica, hoje, resultados de um estudo de opinião realizado pelo Pew Research Center, dando conta do modo como a imagem dos EUA é considerada pelos próprios americanos e pelos inquiridos de outros 14 países aliados.

É uma boa oportunidade para refrescarmos as noções de «anti-americanismo» e de «vergonhas nacionais» que circulam entre os inquiridos dos países seleccionados para a amostra.

O relatório pode ser lido na íntegra aqui.

 

Em Timor todos a favor da GNR...menos a Austrália

O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, reconheceu que a ONU se retirou de Timor muito antes do prazo necessário e que os capacetes azuis terão de regressar a Timor-Leste. Mas ao dizer que não estarão lá antes de seis meses que pretende então? Que sejam os australianos a resolver a crise como entenderem?

A GNR mercê do apoio manifestado pelo Presidente da República Xanana Gusmão, pelo Parlamento, pelo primeiro-ministro Alkatiri, pelo ministro dos Negócios Estrangeiros e da Defesa, Ramos Horta e por populares, parece ter, para já, vencido o braço de ferro com as tropas australianas ultrapassada a intimidatória desautorização inicial por estas infligida.

O Estado de Timor-Leste criado à la minute era algo insipiente e fragilíssimo. A Austrália apressou-se a chamar-lhe "Estado falhado" usando a terminologia, de mau agoiro, da actual Administração norte-americana. A democracia instituída, apesar de estimável, é algo artificial e ainda estranho numa sociedade pré-capitalista. O seu funcionamento, com pouco dinheiro, só seria possível com uma forte unidade dos órgãos superiores do Estado e daquilo que é o seu núcleo central, a força armada. Ora reside aí, precisamente, outra das grandes fragilidades da nova república publicamente exposta por ocasião da invasão do Iraque. Então um jornalista ao confrontar o primeiro-ministro sobre qual das posições valia, se a dele ou a do ministro dos Negócios Estrangeiros que oficialmente apoiara a invasão, obrigou aquele a dizer que Ramos Horta terá emitido tal opinião na qualidade de prémio Nobel da Paz. O que, se não deixa de ter a sua ironia, revela a desunião dentro do próprio Governo.

Por outro lado, ao distanciar-se da Fretilin, com todo o direito, como é óbvio, Xanana Gusmão ficou com a sua grande popularidade mas sem nenhuma força organizada e ficou sempre muito descontente com os poucos poderes do cargo de Presidente da República.

Os ataques e incêndios a edifícios do Estado e a casas de habitação e o pânico criado entre a população, que se seguiram à sedição militar não são seguramente apenas nem principalmente actos de vandalismo de marginais porque atingiram selectivamente habitações de elementos governamentais, de dirigentes da Fretilin e visaram concretamente o primeiro-ministro. Saquearam nomeadamente a Procuradoria-Geral da República donde fizeram desaparecer os dossiês que incriminavam diferentes responsáveis indonésios.

Houve sem dúvida crimes de marginais, aproveitamentos que parasitaram a confusão, mas parece inegável haver movimentos subterrâneos organizados, em coordenação com os militares sublevados, para conseguir o derrubamento do Governo, desejado pela Áustrália, pelas companhias de petróleo australianas perdedoras do concurso público e internacional para a exploração do petróleo, pela Igreja Católica que queria um Estado confessional, figuras de destaque da oposição e dos negócios.

A desestabilização do governo também não desagradou a Xanana Gusmão , cuja mulher, australiana, "aconselhava" em entrevista aos media do seu país "que Alkatiri se demitisse para não ter de ser demitido". E também não desagradou a Ramos Horta que já se mostrou disponível para ocupar o lugar do primeiro-ministro se este se demitir.

A comunicação social australiana, secundando o seu Governo conservador, não se tem cansado de referir o Governo de Timor-Leste como um mau Governo. E apenas uns meses depois de, juntamente com todos os dadores internacionais ter reconhecido a competência e seriedade do Governo (coisa raríssima em jovens países do terceiro mundo) nomeadamente na gestão dos recursos doados.

Opinião diferente da do governo australianao têm os eleitores de Timor-Leste que deram 57% dos votos para o Parlamento, há três anos, e a maior parte das autarquias, nas eleições do ano passado.

A imprensa australiana estimula a divisão em Timor-Leste aplaudindo o Presidente da República e diabolizando o primeiro-ministro. "Que o PR todos aplaudem e que o primeiro-ministro está completamente isolado".

Mari Alkatiri, pouco à vontade em abraços e beijinhos a populares, parece que só tem o apoio dos eleitores!


 

O fute-nacionalismo bacoco

Gosto de futebol. De jogar (quando a idade o aconselhava) e de ver. Se os horários o permitirem irei ver todos os jogos da selecção portuguesa e os mais importantes do campeonato.
Mas não sou um doente da bola. E desde há muito que ganhei aversão ao "negócio" do futebol, à corrupção a ele ligada, às néscias, empanturradas e caricatas "figuras nacionais", "presidentes" de clubes e SAD's, e à alienação promovida por interesses espúrios ao desporto.
Como nunca necessitei do futebol para ganha pão nem como meio de promoção política ou outra faço mesmo questão de ignorar a vida familiar, os vícios, as taras, seja de que jogador, treinador, ou patrão de que clube for.
Por isso, pelo kitch e demais razões sou contra o nacionalismo bacoco da bandeira alçada em antenas de carros ou a afeiar varandas.

 

A "JUSTIÇA"

"Karl Rove, chefe de gabinete da Casa Branca e o mais fiel conselheiro do presidente George W. Bush, foi ilibado de ter participado na alegada conspiração para a exposição pública do nome da agente secreta da CIA Valeri Plame" (Público de hoje) .
O marido de Plame, o ex-embaixador Joseph Wilson, caiu no desagrado da Casa Branca ao esmagar os argumentos daquela para invadir o Iraque. A presidência ter-se-á vingado pondo na rua que a mulher, era da CIA, (concluo que tal função não arranca aplausos na via pública, nos EUA) o que a provar-se levaria os autores a ser abrangidos pela pena de 20 anos de cadeia (para quem denuncia um agente secreto).
A "Justiça" de lá não é muito diferente da de cá. Daquela que começou a tratar do caso do "Apito Dourado" afastando os dois inspectores da Polícia Judiciária que denunciaram o caso, "um para Cabo Verde outro para o Brasil."
 

Mulheres nas empresas

Uma interessante estatística sobre o número de mulheres nos conselhos de administração das 300 maiores empresas europeias foi hoje publicada.
A média europeia de 8.5% de mulheres nos conselhos de administração esconde enormes variações, desde a Noruega com 28% até Portugal com 0%. A leitura do artigo deixou-me com dúvidas se não há aqui um erro. Parece-me incrível que não haja em Portugal nenhuma mulher nos conselhos de administração das grandes empresas. Aliás esta estatística contradiz outras como a feminização do ensino universitário, tanto no que respeita aos estudantes como no que respeita aos professores. A única explicação que posso imaginar é a de uma amostra não significativa.

Se algum leitor tiver mais informações agradeço.

2006-06-12

 

Sob o fogo da CAP

O ministro Jaime Silva está sob o fogo da CAP e tudo indica vai continuar, a não ser que ceda e, neste caso, para mal da agricultura portuguesa. Há que fazer rupturas, embora com custos políticos, quando essas rupturas vão no caminho certo.

Não apreciei a referência de Cavaco Silva na feira de Santarém a esta contenda. Achei-a infeliz porque dá a entender que a contenda é entre o ministro e os agricultores deste país, o que para mim é colocar mal a questão, porque embora não dispondo de informação da representavidade das organizações de agricultores, a CAP não é a única representante nem assegura uma representação maioritária. Era talvez a que acedia a montantes de fundos mais elevados. Mas isso é outro assunto.

Jaime Silva, pelo que li na entrevista ao Expresso, quer mudar o rumo da Agricultura, preconiza mudanças na política agrícola e, por conseguinte, reorientações do investimento e, neste contexto, novas práticas na aplicação dos fundos comunitários.
Jaime Silva apontou sectores prioritários, como por exemplo o vinho e o azeite e referiu outros sem qualquer viabildade como os cereaiss de sequeiro, que não justificam os milhões de euros que se gastam com essa cultura. Uma posição assim tão clara não é usual ouvir-se de um ministro. Erguer a competitividade agrícola como a nova base das orientações a seguir é um bom indício de que algo pretende mudar. É um bom empurrão na subsídio dependência.

É esta nova orientação que lhe está a trazer a contestação, porque uma política agrícola selectiva vai limitar o acesso de alguns aos milhares ou mesmo milhões de euros que até aqui, por norma, recebiam.


 

Bac de philo

Um dos aspectos do francês que não aprendemos no liceu em Portugal é a mania de abreviar tudo. Este foi, sem dúvida, o aspecto pelo qual muitos amigos me reconheceram facilmente como não tendo vivido a minha adolescência em França. Nos outros aspectos, pronúncia, domínio da gramática, conjugação, etc. quase todos os representantes da minha geração que aprenderam francês no liceu fazemos boa figura.
Hoje é o dia de uma instituição da maior importância na sociedade francesa: o "bac de philo", o que quer dizer: "bacalauréat de philosophie" que é o equivalente ao exame do 12º ano no sistema nacional, com a diferença que em França a filosofia é obrigatória para todos os candidatos.
Este ano entre outras questões os jovens (e menos jovens, já que as idades variam de 14 a 78 anos) tiveram direito a dissertar sobre temas como, por exemplo:



A comunicação social trata abundantemente o assunto, aconselho-vos a leitura do Libé (abreviatura de Libération, claro).

2006-06-11

 

Será que nos devemos indignar?

... Não, para quê?

Lembram-se? Em Julho de 2000, duas escolas de Guimarães receberam cerca de 900 atestados médicos para justificar faltas a exames.

Na altura, um escândalo nacional. Hoje uma proeza a registar. Engano absoluto. O país equivocou-se.

Toda aquela gente estava mesmo "muito doente". Dos médicos, o juramento de honra e a absolvição da justiça.

E um dos autores da proeza, médico de profissão, até proferiu para a história da (in)dignidade nacional a seguinte afirmação:

"A decisão é justa, ficou salvaguardada a dignidade dos médicos".

Peça completa. Só falta embrulhar em papel especial e encerrar o acto dizendo: Portugal com esta justiça e estes médicos vai longe.

Correcção a este post. A frase "a decisão é justa...." , acima referida por mim, foi erradamente atribuída a um médico quando o devia ter sido a um advogado de um dos arguidos.


 

Vem aí uma semana de feriados ...

Aliás, hoje, enfim, ontem, porque já passam uns tantos minutos da meia noite, foi feriado. O 10 de Junho. Não me pareceu ter havido algo de especial digno de registo. Só me apercebi da data por muita coisa estar fechada e pelo esforço para perceber o porquê.

Um tanto quanto de estratoesfera. Timor cá na mente às voltas. E sem querer ligar as duas coisas, a selecção nacional estacionada lá pelas alemanhas também.

Tudo isto me cheira a esturro. A selecção porque me parece mal preparada e Timor porque me parece em processo de anexação.

Aceitar tudo isto é complexo.

Alguém/alguéns "venderam" Timor e a Austrália atenta não hesitou. Agarra a oportunidade, ameaça e provoca. As Nações Unidas, desatentas e burocráticas, atrasam-se e ajudam a complicar a situação.

Ramos Horta sempre em movimento. De candidato a substituir Xanana nas próximas eleições a candidato a primeiro ministro com "um encontrões de todo o tipo a Alkatiri", tudo vale e o seu entusiasmo com a Austrália é imparável (certamente, com alguma assessoria da mulher de Xanana) porque como se lia ontem no Público - palavras de Ramos Horta - "enquanto do lado português, sempre mais sensível, se levantam dúvidas em relação aos australianos, nunca destes ouvi em on ou off, nada de negativo em relação a Portugal". Será então que ouviu de Portugal algo contra a Austrália ? Outra conclusão é difícil.

Certamente, por isso, assinou com esse país o comando das forças de segurança presentes no terreno. Uma bofetada de Ramos Horta aos outros convidados. Há aqui algo a explicar.

2006-06-08

 

Uma bofetada que vale uma entrevista

Num ambiente de fundadas suspeitas de maus tratos a crianças na Casa do Gaiato um jornalista da Lusa entrevistou hoje o seu director-geral, padre Acílio Fernandes. Quando dava o jornalista, assim, oportunidade a uma exposição menos negra da realidade eis que o director enquanto explicava a falta de fundamento das públicas acusações deu uma chapada a uma criança de cinco anos que teimava em se aproximar. O acto e as circunstâncias não podiam ser mais eloquentes. E valeu a entrevista.

As explicações que o director-geral deu a seguir provaram que nem se apercebeu do que fazia. E é lícito imaginar que se as coisas são assim na cúpula o que não serão nas "bases" longe dos olhares exteriores.

Inspecções do Estado à Casa do Gaiato nos últimos anos, na sequência de denúncias de espancamentos e castigos intoleráveis revelaram que a instituição fundada na década de quarenta pelo Padre Américo para o apoio e a protecção de crianças abandonadas se transformara num depósito de crianças e jovens condenados a um regime de violências físicas e psicológicas e à exploração do seu trabalho.

Os processos relativos à Casa do Gaiato são mais de uma dezena (a maior parte deles arquivados), entretanto foi proibida de receber mais crianças e vários responsáveis correm o risco de graves penas de prisão.
A protecção que o Estado dá às crianças desvalidas ficou claro com o caso Casa Pia. A protecção de uma instituição da Igreja também não é exemplar.

 

Crónica desesperada





Vivemos tempos estranhos e ninguém pode fingir que não se dá conta apesar de muitos não quererem admiti-lo. A nossa guarda republicana, destacada em Timor, detém um meliante mas não encontra maneira de prendê-lo. As tropas australianas que ocupam o território não aceitaram o detido, nem reconhecem a autoridade da republicana guarda. Ninguém percebe porque o meliante não foi encaminhado para uma unidade das forças de segurança timorenses. Alô? Timor? Ainda aí estão? Prenderam a nossa guarda republicana?!

Os incêndios, indiferentes ao calendário ministerial, irromperam. O ministro da administração interna, que tinha prometido o imprometível no ano passado, ensaia explicações técnicas e intimamente agasta-se por não ter também o controlo da metereologia. Todo o poder é limitado. Bolas!

Entretanto a ministra da educação avança com a primeira reforma realmente radical: os tpc vão passar a ser feitos na escola. Passam, por isso, de tpc’s para tpe’s, visando, com o acompanhamento qualificado de alguém do corpo docente, suprir os défices de competências que as diferenças sociais fazem supor. Daqui a uns anos, o país, penhorado de gratidão, organizará uma grande homenagem à ministra. Os professores esquecerão, comovidos, as pequenas atribulações do aparente antagonismo destes dias. Rolo Duarte será amnistiado e a sua coluna no DN de há dias, esquecida, também.

O medo regressou em força. O desemprego tempera-o a preceito, e a precariedade desenfreada, travestida de polivalência futurista, assenta arraiais no terreno e nas ideologias que parecem andar à procura de novas fronteiras. Fronteiras do quê?, pergunta-se. Provavelmente trata-se das fronteiras entre a realidade e a ficção. Os funcionários públicos (a mais) vão digladiar-se contra os seus congéneres (a menos); os novos mandarão os velhos reformar-se mais depressa, enquanto o governo indexa a idade da reforma à esperança de vida. Poderá ainda haver esperança? Sim. Pode. Se aumentarmos as exportações e formos mais competitivos que os chineses e os albaneses. Porém, as coisas estão a tomar um rumo inesperado. A cidade foi invadida por uma grande manada de vacas estranhas que se imobilizaram nas principais praças e ruas. Não sabemos ainda o que virá a seguir.

2006-06-07

 

Os bons pais e o mau jornalismo


"Bons" e "maus" alunos de "boas" e "más" escolas.


Ao ler atentamente a crónica de Rolo Duarte na contra-capa do DN de hoje (ler aqui), deparamo-nos com um expediente retórico muito corrente. A simpatia do jornalista pela ministra (ou pelas medidas do ministério) começa por ser apresentada do avesso.
Rolo Duarte acordou a “odiar a ministra”.

Em seguida faz uma coisa espantosa. Vai ler o projecto de Lei. Lê-o apressadamente, pelo visto, pois não detecta nem uma das imprecisões ou lacunas que já foram objecto de discussão aqui no PUXA.
Porém, o que mais desilude num texto que parecia prometer uma reflexão sobre o “desportivismo naïf” – para usar a expressão do João Abel dois postes antes – é a análise primária do articulado e a utilização de uma ganga estereotipada que não costumo detectar nos seus textos.

A simplificação é chocante.


Diz Rolo Duarte que

Não são portanto os pais que vão decidir quem são os bons e os maus professores - os bons pais apenas vão contribuir, à sua pequena escala, para uma avaliação global.”

Ora a verdadeira cortina de fumo é esta. A dicotomização de “bons” e “maus” pais a avaliar “bons” e “maus” professores.

Se fosse um expediente normativo visando a aproximação dos pais à escola, seria débil. Mas, assim, pré-instintuindo-se como critério de discriminação básica de pais e professores, é desastroso.

Rolo Duarte, adormece, finalmente, a “gostar da ministra” e a gostar menos dalguns dos seus colegas. A moda da generalização pegou. M. M. Carrilho conseguiu infectar o “melhor jornalismo”.

Quantos jornalistas acordarão amanhã a “gostar menos” de Rolo Duarte? Não se pode saber, não é? Porque ele há os “bons” mas também há os “maus”.

Em contrapartida, já se sabia que o bom jornalismo também tem destes (maus) momentos.

 

Chegaram os Incêndios

Não vou escrever nada sobre se se "combatem" bem ou mal os incêndios. Tenho uma opinião baseada naquela que os governos vão deixando de um ano para outro: no próximo é que é. Depois, esse próximo, pouco próximo, depende sempre das temperaturas que se fizerem e eis uma boa desculpa.

Pouco percebo da arte, mas qualquer cidadão comum, minimamente familiarizado com as questões de programação de gestão e da respectiva gestão funcional e estratégica intui que algo continua a não correr bem neste país nesta matéria.

Mas o que me preocupa agora são os presumíveis incendiários.

Ainda ontem mais uma vez ouvi na TSF declarações de um comandante dos bombeiros a dizer (não sei a propósito de qual incêndio - mas isso pouco interesse tem) que aquele incêndio tinha mão criminosa.

E a minha questão ainda é mais primária: não consigo entender a incúria dos diversos agentes da justiça: investigação, tribunais, penas, etc. Um país, assim, não pode existir, mas existe e diz-se desenvolvido!!

 

"O fumo e o fogo"

Esta crónica do jornalista Rolo Duarte O fumo e o fogo questiona um certo "desportivismo naif" de como se faz comunicação social hoje.

Independentemente de como se pensa o processo de avaliação que este governo pretende levar aos professores um facto fica registado: o empolamento e a distorção no tocante ao papel dos pais que a ministra Maria de Lurdes Rodrigues preconiza. Tudo isto se ficou a dever à abordagem feita pela comunicação social. Penso que, como muitos outros, se trata de um sector em crise à procura de contexto. Aliás é um bom espelho do País.


2006-06-06

 

As voltas da paridade



Ai!, se não fossem as "quotas" onde andaria o atletismo!...


A “paridade” é um ideal justo para muitas das pessoas que se têm pronunciado publicamente. Mesmo que, em certos casos, o número de mulheres viesse, porventura, a sobrelevar o de homens, não faria mal nenhum. A disposição de princípio é pois, como se vê por tão ampla boa vontade, favorável a que as mulheres participem na vida política em pé de igualdade com os homens.

Como consegui-lo? Se 32 anos depois da Revolução de Abril isso ainda não foi possível, importa fazer algo ou não?
Sim. Desde que o Estado não se intrometa na vida interna dos partidos, sancionando-os por não conseguirem incluir nas suas listas a percentagem "mínima" que a Lei aponta.
Sim. Desde que as “quotas” não sejam atentatórias da dignidade feminina, assim ferida pela discriminação positiva que as coloca em posição de “favor”.
Sim. Desde que a evolução seja gradual, geralmente aceite, paciente e contempladora dos critérios de selecção em vigor, uns mais informais do que outros.

Todos estes “sins” querem dizer “não”. Um “não” redondo, pesado e conservador. Porque em nome destes “sins, mas…”, a discriminação negativa da mulher no seio da maioria das organizações políticas, continua, matreiramente aboletada.

Em contrapartida, os candidatos nomeados por virtude da “quota” dos secretários gerais, acham-se perfeitamente legitimados; os da “quota” dos presidentes, também; idem aspas, para os da “quota” do Secretariado ou da Comissão Política.

Só as candidatas da “quota” da decência e da determinação ( mínimas) se deveriam sentir desconfortáveis.

Está-se mesmo a ver onde este argumento leva.

Francamente!

 

Nova versão da "Lei do tabaco"

Não sou fumador nem fundamentalista.

Mas esta, da nova versão da "lei do tabaco" (à discussão durante um mês) não responsabilizar os donos dos estabelecimentos onde não é permitido fumar, muito francamente não me convence.

Passar para o cliente a multa se fôr apanhado a fumar, é uma porta aberta para que mais ou menos se vá permitindo fumar, é "uma transigência algo encapotada" com o princípio da proibição do fumo nos locais de turismo e restauração, com eventuais efeitos nefastos porque pode originar algumas animosidades e inconveniências (esperemos poucas) entre clientes, entre clientes e proprietários...

Não sou adepto desta solução. Manter ficticiamente a proibição é tipicamente português.

Era preferível, mais educativa e organizada uma legislação clara optando por estabelecimento com ou sem fumo. É uma prática existente em países como Espanha. Ninguém entra ao engano.

Continuo a achar de muito mau gosto, como já aqui escrevi a propósito da primeira versão, alguns dos dizeres e símbolos que vão figurar nos maços de tabaco.

Acho muito positiva a introdução da prevenção do tabagismo nos curriculos escolares.


2006-06-05

 

O PS anda de facto a reduzir a margem de manobra do PSD

... e lá veio o dia do cão. ...

E se reduzir de forma eficaz, ou seja, executando medidas de simplificação, racionalidade e eficiência, muitas delas já anunciadas, não vem daí mal nenhum ao mundo.

Mas é expectável que não se esqueça de que é um governo PS com obrigações de solidariedade social, domínio em que, de certeza, não se cruza com o PSD.

Mas no campo da economia e, exactamente fazendo funcionar o mercado, (que não parece apanágio da direita, embora por alguma timidez da esquerda, o mercado apareça como sua coutada) pode tomar medidas de fundo em que se distinguiria do PSD com grandes ganhos para o todo nacional.

A energia é um caso desses.

Portugal nunca teve uma política energética a sério. Pode defini-la e concretizá-la. Pode nessa política incluir um vector que é determinante para o bolso de todos os portugueses a concorrência no sector. Pode definir novas regras para a construção de edifícios que levem a uma redução e racionalidade de consumo doméstico. Pode iniciar um novo tipo de reordenamento do território que torne menos dispendiosa e menos necessária a utilização dos transportes (o grande "buraco" do nosso consumo energético e de emissão de CO2) . Pode criar mecanismos de incentivo ao uso mais intensivo dos transportes colectivos. Pode pensar numa redução da dependência do petróleo, designadamente pela eficiência nos consumos e diversificação das fontes primárias de energia. Pode até, como dizia Agostinho de Miranda, nos debates que o DN/TSF vem fazendo sobre energia "lançar taxas sobre os lucros das empresas petrolíferas e aproveitar esse dinheiro para investigação".

Se o governo seguir alguns destes caminhos, seriamente e não com refinarias Vascos da Gama, as diferenças entre PS e PSD surgirão e que bem seria para o País. É uma questão de vontade, embora com resultados muito a prazo, pois como se vê, recuperar o que de mal se fez no reordenamento, nestas últimas décadas, não é tarefa fácil ou mudar projectos de construção civil tornando-os mais amigos do ambiente também não.

2006-06-04

 

E o Dia Nacional do Gato?

"No Dia da Criança, [diz o Correio da Manhã] o PSD entregou (na AR, 2006-06-01) um projecto de resolução a propor o Dia Nacional do Cão, a 6 de Junho. A iniciativa foi subscrita por vários deputados do partido, entre eles Montalvão Machado, que justifica a proposta, com génese numa petição."

Oiço para aí que o PSD antecipou a inauguração da silly season ou que se o maior partido da oposição quer o dia do cão e como quem não tem cão caça com gato, aos partidos mais pequenos só lhes restaria o dia do gato.

Não estou de acordo com as hilariantes manifestações de escárnio que por aí reboam de Norte a Sul da pátria com a bem apanhada iniciativa parlamentar do PSD, do dia do cão. Que é que Marques Mendes mais podia fazer? Pressionado por Belmiro de Azevedo, n' Os Prós e os Contras a deixar o PS aplicar em paz o programa do PSD, Marques Mendes lembrou-se de se concentrar num assunto "humanitário"... fora da política.


 

Bento XVI em Auschwitz

Vasco Pulido Valente [Público de 2006-06-04] acha que o Papa andou mal ao ""perguntar “onde estava Deus” e por que “ficou silencioso” [perante os crimes de Auschwitz], quando a pergunta necessária e certa é, evidentemente, e ele não ignora: “onde estava a Igreja” e por que “ficou silenciosa”?" [O texto aqui]

2006-06-03

 

Três anotações de fim-de-semana


As coisas nem sempre são o que parecem...


1. O patrão da Sonae “descobre” o jogo. É verdade que está contente com a situação actual. Cavaco e Sócrates satisfazem-no ao ponto de expressar publicamente o agrado com a conjuntura político-institucional que chega a exceder, num ponto ou noutro, as suas expectativas.
O que o preocupa agora, para além da sorte da OPA lançada sobre a PT, é a Constituição da República Portuguesa. Sustenta que um movimento de empresários deveria encabeçar uma frente política, vasta e crescente, para impor à Lei das Leis os amanhos que a óptica empresarial aconselha.

Estamos a ver a vitalidade com que Belmiro de Azevedo defende os seus pontos de vista e os seus interesses; o eco que encontra na imprensa do seu grupo empresarial e na comunicação social adjacente; a compreensão, receptividade e apoio de que tem beneficiado por parte deste Governo.

Para perceber melhor o filme da situação, basta reparar no modo como estão a ser tratados os outros “parceiros sociais”.


2. A solução que o Governo propõe para dar resposta aos chamados “excedentes” da Administração Pública é de facto “melhor” da que Marques Mendes alvitrava. Sem cuidar dessas velharias da civilização que são os direitos, os contratos, e a decência, Teixeira dos Santos encontrou uma maneira de despedir progressivamente quem entender, sem ter de pagar indemnizações (pelo contrário, com reduções progressivas das remunerações) e remetendo para depois os critérios de selecção, reconversão e recolocação.
Moral da história: com Marques Mendes, os funcionários públicos considerados a mais, negociariam uma indemnização, caso a caso; com Sócrates, são despedidos a pouco e pouco e, ainda por cima, vão “indemnizando” o Estado, recebendo cada vez menos, e pagando prestações sociais mais altas para não serem (ainda) mais prejudicados no cálculo da reforma.
Na ocorrência, Marques Mendes deve sentir-se, de facto, traído e envergonhado. É compreensível.


3. O CES (Conselho Económico e Social) criticou o Governo pelo “esquecimento” do desemprego. O Governo não coloca nas GOP (Grandes Opções do Plano) o combate ao desemprego como um “eixo prioritário”.
Vendo bem, após conferir a substância das duas anotações anteriores, o CES não deveria surpreender-se.
Belmiro de Azevedo tem, de facto, razões para estar satisfeito. Os trabalhadores, não.
Começam a divisar-se melhor (ainda) as medidas programáticas da auto-intitulada “Nova Esquerda”. São quase todas mais directas e abjectas que as da “Velha Direita”. Com a particularidade perversa de serem avançadas em nome do “Socialismo Democrático” em resultado de profundos debates e luminosas conclusões sob a égide das “Novas Fronteiras”.

Novas Fronteiras???


Se ainda for possível, depois disto tudo, seja:

Bom fim-de-semana.


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