2005-04-30
A conversão de João Cordeiro
Fui mimoseado com alguns comentários "simpáticos" e "picantes", de ignorante para cima, aqui no blog, por defensores da posição do Presidente da Associação Nacional de Famácias, por ter defendido que, embora tardia, a medida deste governo se inseria num processo que tinha de ir muito mais longe que é o da instituição de uma política de concorrência no sector do medicamento.
João Cordeiro vem agora dizer que afinal tudo bem e as notícias apontam já para negociações em curso entre cadeias da grande distribuição e a ANF, bem como entre a Anarec e a ANF sobre a distribuição dos medicamentos a liberalizar.
Não me espanto, negócio é negócio. Apenas lembro que uma política de concorrência tem por objectivo servir, em última análise, o utente/consumidor. Como utente reivindico que este processo traga benefícios a nós utentes, entre eles, preços mais baixos. Um alerta, pois, às entidades intervenientes no processo, designadamente as da concorrência, para que sejam estabelecidos verdadeiros mecanismos de funcionamento do mercado.
Clima Empresarial em Baixa
O indicador de confiança empresarial da zona Euro regista uma nova queda. A Comissão Europeia informa que no mês de Abril este indicador regrediu de 0,19 pontos situando-se em -0,28.
Esta quebra explica a Comissão é devida à má situação da carteira de encomendas para a exportação, ou seja a UE, tal como Portugal está em perda de competitividade nos mercados externos.
Vemos, ouvimos e lemos... (5)
O Medo de Existir (*)
Estou disposto a perdoar-lhe pequenos deslizes, inexactidões, e a fragilidade das teses sobre tudo o que possa parecer exclusivamente da cultura e da mentalidade dos portugueses. Também a sua abordagem da inveja me parece desequilibrada e, apesar de tudo isso, achei-o um ensaio magistral.
A arte de provocar e de interpelar abrindo, ingenuamente, demasiadas portas? Talvez. Parece-me ter sido acolhido com excessiva sobranceria e um silêncio espantoso. Ainda não percebi o que poderá significar o sucesso das vendas. O Vaticano também demorou uma eternidade a ler «Anjos e Demónios» do Dan Brown, apesar de o Vasco Pulido Valente o ter classificado (também tardiamente) como «literatura de aeroporto». Ah!, as instituições lêem devagar...
(*) José Gil, Portugal, Hoje. O Medo de Existir, Lisboa, Relógio D´Água, 2005.
2005-04-29
A Invasão Chinesa (2)
Há tempos li num texto (redigido em 2003) sobre o modelo sueco de sociedade que comparava com a sociedade francesa, o seguinte: ..."Diferentemente da esquerda e de uma boa parte da direita francesas, que olham para a mundialização com suspeição, a social democracia sueca vê nela desde há mais de um século a oportunidade de fazer baixar o preço dos produtos correntes para a classe trabalhadora. A baixa das taxas alfandegárias era mesmo uma reivindicação do movimento operário há mais de um século".
O proletariado queria alimentar-se de forma mais barata, enquanto o patronato batia-se pela protecção do seu mercado doméstico, pelo que o patronato resistiu enquanto pode à introdução das regras da concorrência. Ainda, na última década do século XX, como refere um grande mestre da história económica sueco, Lundqvist, a indústria e o comércio suecos opunham-se à harmonização no mercado comum da política de concorrência.
Com a dita "invasão chinesa" do mercado dos têxteis mundial, está a ressurgir uma posição por parte de alguns países da UE e EUA, semelhante à do patronato sueco durante quase um século.
A situação é agora bem diferente, porque as armas são bem mais fracas. Existem regras (não vou discutir aqui o seu mérito) que, dificilmente, poderão ser ultrapassáveis. A entrada da China na OMC previu cláusulas de salvaguarda que poderão ser accionadas, mas que só adiam a questão por algum tempo (tecnicamente tenho dúvidas de que seja oportuno com tão pouca informação e sobretudo sem que as tendências de evolução sejam claras que se accionem esses mecanismos).
Como referi no último post sobre este tema, pouco há a fazer. Portugal é um dos países mais afectados por esta evolução porque não se preparou em tempo para enfrentar este desafio. Teve dinheiro, teve programas específicos. Faltou-lhe políticas certas e empresários e organizações empresariais à altura e, ao contrário do que é habitual até teve/tem sindicalistas como Manuel de Freitas, coordenador da Federação dos Sindicatos Têxteis do Norte, que como refere o DE de ontem pensa (e este seu pensamento não é de agora) que " a situação que se vive actualmente (em Portugal) era previsível e, por isso, teve fundos específicos para ajudar a transição. Ainda assim realça, temos em Portugal empresas com elevados níveis de produtividade e, ao lado, uma míríade de pequenas e média empresas sem qualquer contributo para a cadeia de valor".
Este governo pouco pode fazer, outros anteriores poderiam ter tidos políticas dinâmicas que "revolucionassem" esta situação. Mas demonstraram não ter capacidade. Jogavam mais no compromisso.
Muito do sector português irá ser destruído. Aquela míriade de empresas de que fala Manuel Freitas que nada acrescentam não faz falta. Trata-se de uma destruição positiva.
O governo deve estar muito atento e em cooperação com os parceiros sociais lançar medidas em várias frentes, desiganadamente em termos de políticas de desemprego, enquadrando-as num plano de fundo que é o de criar as condições de desenvolvimento na mudança da estrutura produtiva. Eis um domínio em que o Plano Tecnológico tem de actuar.
29 de Abril de 1945
Faz hoje precisamente 60 anos que as mulheres francesas, como se lê no le Monde, exerceram pela primeira vez o seu direito de voto numas eleições autárquicas, direito este que lhes tinha sido reconhecido por de Gaulle em decreto de 21 de Abril de 1944, assinado em Argel, no qual se diz:
"As mulheres francesas são eleitas e elegíveis nas mesmas condições que os homens".
Foi um reconhecimento tardio, pois em alguns países como a Nova Zelândia esse direito foi-lhes atribuído muito antes, em 1893.
Uma especificidade parece hoje distinguir o voto da mulher francesa: a extrema relutância em votar na extrema direita. Foi isso o que sucedeu nas eleições últimas para as presidenciais em que o voto das mulheres em LE PEN foi muito menos significativo que o dos homens. Sobre as razões deste comportamento as opiniões dos analistas dividem-se, sendo o factor religioso aquele que apesar de tudo reune mais consenso.
2005-04-28
A Desblindagem dos Estatutos da CIMPOR
Na assembleia geral de ontem foi votada a desblindagem dos estatutos da CIMPOR sob proposta dos franceses da Lafargue - o maior produtor mundial de cimentos e materiais de construção - com a abstenção do maior accionista português da cimenteira, a Teixeira Duarte.
O que significa
esta operação de desblindagem?
Que a Lafargue tem agora ao seu dispor os instrumentos legais para lançar uma OPA sobre a CIMPOR e, assim, integrar no seu domínio, o domínio da CIMPOR que pelo seu desenvolvimento é já uma das 10 maiores empresas europeias do sector.
Como já decorreu o prazo de três anos após a privatização da CIMPOR, tempo durante o qual não se podia processar a venda das acções, a desblindagem agora decidida fornece os instrumentos legais que faltavam para que o negócio possa vir a dar-se.
Só me pergunto: para quê gastar tanta tinta na defesa dos centros de decisão em Portugal, se depois de findo o prazo de aquisição do capital pelos grupos portugueses, quase sempre se segue a venda a grupos estrangeiros? Porquê não os tratar em plano de igualdade?
E um dia destes será a venda do Portucel. Não se está a ver que Pedro Queiroz Pereira venha a ser uma excepção. Os milhões de mais valia tornam-se irresistíveis aos "nossos" empresários que o são muito pouco. E assim se estão a esvair as jóias. Fiquemos atentos que por este andar ainda vai a GALP, a EDP, a PT, etc.
Daqui concluo que o fundamental é o Estado Português saber exactamente as políticas que quer. Só desta forma saberá integrar os operadores, não importa de que nacionalidade, na visão de desenvolvimento que interessa ao País. Só um Estado forte pode fazer isso.
Vemos, ouvimos e lemos... (4)
(Re) começo a ficar preocupado. O Raimundo Narciso já trouxe o assunto à colação, mas não resisto a um pequenito acrescento. Como que por coincidência, sob o recentíssimo papado de Bento XVI, já assistimos, pelo menos, a duas manifestações de guerrilha religiosa contra a aplicação de leis emanadas por órgãos democraticamente eleitos. Os casos de Espanha (com a pressão contra a regulamentação dos casamentos entre pessoas do mesmo sexo) e de Timor (com a laicização do ensino público).
É claro que no Vaticano e na alta hierarquia da Igreja de Roma se pensa de modo a impor ao resto da sociedade a visão do Génesis. É a fé.
Mas os que estão mandatados para executar os programas políticos que viram sufragados em eleições livres e democráticas, têm um capital de legitimidade sobre as diferentes teologias. É uma convicção.
Posto isto, os sinais que me vão chegando, preocupam-me. Telegraficamente: Xanana Gusmão aceita mediar o conflito entre a hierarquia católica e o Governo; Pacheco Pereira sublinha a importância civilizacional que o cristianismo teve na estruturação dos valores que prevalecem no ocidente (inocentemente, confundindo Catolocismo e Cristianismo, por lapso, com certeza) e last but not least o nosso amigo e vizinho João Tunes (Água Lisa 2) apaga um post humorado em que se referia ao Cardeal Ratzinger como o Pastor Alemão.
Não acho boa ideia deixar César e Deus habitarem o mesmo tabernáculo. Não costuma dar bom resultado.
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ADENDA
Nem Xanana, nem Pacheco Pereira, nem Papa se sentiram (para já) incomodados com a minha mansa prosa. Só o João Tunes me deu o gosto de aceitar conversar a pretexto da minha provocação fraternal. A discussão continua no campo dele, [ aqui ], para quem quiser seguir os jogos.
A Invasão Chinesa
O mercado europeu está a ser invadido pelos produtos têxteis made in China. Nada que não se soubesse que poderia/iria acontecer.
De há muitos anos, esta situação era totalmente previsível para as empresas europeias e portuguesas, tendo sido disponibilizados montantes elevados de fundos específicos (vários) para a adaptação das empresas ao novo paradigma resultante da abertura e liberalização do mercado mundial das indústrias têxteis, em 1 de Janeiro último.
Mas apenas um pequeno grupo de empresas portuguesas soube antecipar a mudança e ajustar-se a esse novo paradigma, através de apostas na inovação, por exemplo têxteis técnicos, na distribuição, na segmentação, ou seja aplicaram esses fundos de maneira a responder à nova realidade. É verdade que a adaptação tem de ser contínua porque a China não vai parar no tempo e até não demorará muito em que vai começar a ser concorrenciada por outros actores e, por conseguinte, as empresas mesmo as melhor preparadas não podem descansar. Têm de se manter atentas e activas na evolução dos mercados.
Portugal tem um número significativo de empresas que, tendo investindo recentemente em equipamento tecnologicamente avançado, se encontram em situação crítica, com pouco futuro, porque o seu problema não era apenas o de aquisição de equipamento moderno (não nos podemos esquecer que a China na ultima década tem vindo a adquirir cerca de 70% por cento do equipamento do sector a nível mundial). Era preciso ter ido mais longe e consoante as características da empresa ter tomado as melhores opções de investimento. Em síntese, era preciso ter sabido dar a resposta adequada ao mercado (ter conhecimento do mesmo).
Pouco, sejamos francos. Há as clausulas de salvaguarda que, accionadas, podem aliviar por algum tempo a
situação crítica da nossa indústria têxtil. Mas a sensatez manda não criar falsas ilusões. Não podemos continuar a ter uma indústria baseada em salários reduzidos e baixas qualificações. A desindustrialização neste sector é imparável.
E em minha opinião a falta de selectividade na aprovação dos projectos criou ilusões. Há grandes responsabilidades das anteriores governações. O actual governo não tem instrumentos para resolver. Apenas pode minorar, mas terá de ser bastante claro nessa sua intervenção. O que pode e deve é, se tiver estratégia, apoiar as empresas que ainda têm potencialidades de se afirmarem no mercado. Há que ser decidido e não contemporizar com situções que não levam a lado algum.
2005-04-27
O Lobby Autárquico
O Conselho Geral da Associação Nacional de Munícipios Portugueses, presidido por Mário Almeida, presidente da Câmara de Vila do Conde, eleito pelo PS e anterior presidente da Associação Nacional de Munícipios, rejeitou por unanimidade a proposta do governo de Sócrates da limitação de mandatos.
Argumentos.
Para os autarcas, limitar a duração de mandatos trata-se de "suspeição generalizada" para com os autarcas. Desta forma colocam-se ao lado de Alberto João que também está contra, embora no íntimo penso, gostaria muito que a lei avançasse, pois aquilo lá na terra já não está a correr tão às mil maravilhas. As últimas eleições foram um aviso de descontentamento. E sempre era bom ter uma bengalha ... para a saída.
E já agora porque não se insurgem oa autarcas contra a limitação de mandatos da Presidência da República!!!
Valentim Loureiro ... de regresso
Valentim Loureiro está de regresso aos seus outros postos (de reserva de influência!!) ... Metro do Porto, Liga de Futebol. .... Mal vai a justiça deste país, para que isto possa ser assim.
E ainda por cima entra com toda a arrogância a atacar tudo e todos.
Não consigo entender. Depois de tanto tempo de apito dourado, havia tempo bastante para a justiça ter já funcionado. Mas, neste país, no campo da justiça, pode tudo acontecer. Se até os acusados de assassínio de um elemento da PJ saem em liberdade, porque "houve algo que o cidadão comum não percebe", pois o processo nem foi instaurado !!!.
Muito tem este governo a fazer para endireitar esta justiça. Um cidadão não pode ficar no limbo, ou é culpado ou é ilibado.
Ou será que "no limbo" é que se está bem? Sempre tive a sensação que o limbo é aquele zona de branqueamento, onde se está mais ou menos tempo, consoante a dimensão do pecado, mas em que está tudo no bom caminho, na linha do perdão.
De morte natural...cai a API
A Agência para o Investimento (API), onde tem pontificado Miguel Cadilhe, vai cair. De morte natural, diga-se, em boa verdade. E as últimas notícias apontam para a sua inserção no IAPMEI.
A API é uma daquelas agências públicas que nunca devia ter existido. Foi um produto do ministro Carlos Tavares que, como se sabe, deixou o Ministério da Economia bastante "anarquizado": destruiu-o, não sendo capaz de erguer um Ministério novo, funcional e com objectivos.
Não está em causa a pessoa de Miguel Cadilhe, mas usando uma expressão que lhe é muito cara, "os custos de contexto", acho que a API é um exemplo perfeito de não combate a esse tipo de custos, tão poucas foram as contrapartidas à economia e muitas são as queixas de empresários pelos atrasos na análise e decisão dos projectos.
Aliás, a sua criação não se justificava. Havia Agências Públicas no Ministério (IAPMEI e ICEP) a desempenhar esse papel. O que era necessário era "olear" os mecanismos de articulação, fixar objectivos estratégicos e eventualmente substituir algumas pessoas que parecem perenes (sem nunca ser avaliado o seu trabalho) neste domínio.
Mas a API nasceu "naquele berço" normal à criação das agências e outras instituições governamentais. Como o que existe funciona mal, cria-se algo ao lado, engordando desta forma a máquina do Estado.
Sinceramente, não gostaria de ver este mesmo "berço" a reproduzir-se, mas sinto algumas preocupações. Enfrentar situações difíceis com soluções radicais não está na nossa massa sanguínea.
Uma questão para reflexão e debate. Como pode o Ministério da Economia e Inovação (MEI) ser ágil na implementação do Plano Tecnológico, com agências e organismos, muito desfasados, porque "não habituados" a uma dinâmica de evolução? Quais as transformações a fazer nas Agências Públicas para que o MEI seja dotado de instrumentos idóneos para se conseguir articular com outros ministérios e assim começar a levar a bom porto o Plano Tecnológico?
É evidente que o processo de implementação do Plano Tecnológico tem de correr: as adaptações das Agências devem ser feitas em simultâneo com a produção de medidas.
Espero sinceramente que haja uma estratégia subjacente a dar corpo a tudo isto. Porque de falhanços ....
Timor um Estado teocrático...
parece ser o objectivo da Igreja local desde que, através do bispo de Dili, Alberto Ricardo da Silva e do de Baucau, Basílio do Nascimento, assumiu o papel de partido "putchista" da oposição. E parece ter o apoio do Vaticano tendo em conta o papel militante de incitamento à revolta por parte do núncio apostólico.
O Governo quer apaziguar, propôs o diálogo, mas os bispos que contam com o controlo religioso da população atiram gasolina para a fogueira e exigem "a remoção do executivo"!
Alguns, nomeadamente Ramos Horta, consideram que é porque o chefe do Governo é muçulmano. Mas as acusações de esquerda e a presença nas manifestações de dois elementos da representação diplomotática dos EUA juntamente com as freiras e os santinhos, dão às motivações um carácter tão pouco espiritual que levou o próprio Ministro dos Negócios Estrangeiros, Ramos Horta, insuspeito de antiamericanismo, a dizer que o embaixador norte-americano deveria explicar o incidente.
Vemos, ouvimos e lemos... (3)
O DN de ontém, na Pág. 25 , intitulava assim a notícia meio perdida num quotidiano de referência tão prolixo: «Soyuz com os pés/assentes na terra» seguida de foto (7x4,5 cm) legendada: “REGRESSO. Shapirov sai da nave/que o trouxe da estação espacial”.
São cosmonautas dos Estados Unidos da Rússia e da Itália. O programa é russo. Dois dos chegados estavam no laboratório orbital desde Outubro do ano passado. Uma banalidade. (menos de um quarto de página). Onde vai o tempo do grande entusiasmo com a conquista do espaço? Parece que foi ontém...
Há quem diga que é apenas por se tratar do programa espacial russo. Eu acho que não. Após a queda do comunismo, o DN não iria discriminar o programa espacial russo como no tempo da guerra fria. Aliás, Pacheco Pereira, reconhecido entusiasta de tudo o que é alargamento de fronteiras cósmicas, também não deu pela chegada da missão.
Faz sentido.
Vemos, ouvimos e lemos... (2)
Miguel Pérez, na recensão do livro (1), publicada na última edição do Le Monde Diplomatique, versão em português (2), destaca: «O General Hugo dos Santos recusou-se a participar no projecto [série de entrevistas sobre a preparação das acções militares do 25 de abril de 1974] insistindo na existência de um pacto entre altas patentes do exército, guardado em três cofres, que conterá a verdade dos factos do 25 de Abril de 1974, e também do 25 de Novembro de 1975.»
Parece que estamos diante de um desafio perverso. O Raimundo Narciso que é especialista em História Militar e da Resistência (só a mais desfechada modéstia o impede de justamente o assumir), que o diga. Doravante, sabemos que só depois do assalto aos «três cofres» poderemos produzir uma versão fiável da história secreta do 25 de Abril de 1974. Valerá mesmo a pena?
(1) «A fita do tempo da revolução. A noite que mudou Portugal», Boaventura Sousa Santos (org.), Edições Afrontamento/ Centro de Documentação 25 de Abril da Universidade de Coimbra, Porto, 2004.
(2) Le Monde Diplomatique, nº 73, ano 6, Abril de 2005, pág. 28
Guiné-Bissau - presidenciais em perigo?
Fernando Ká, dirigente da Associação Guineense de Solidariedade Social, considera dramáticas, as perspectivas para as eleições presidenciais, previstas para Maio próximo na Guiné-Bissau.
Eis o que diz ele no Público (2005-04-26):
"... Há manobras nos bastidores políticos e militares que pretendem levar de novo o descontrolado Kumba Ialá à presidência, de uma forma ilegítima.
"... as autoridades do país não têm o poder... por si só [para a] indispensável e urgente reforma das forças armadas tribalizadas e constituídas por gente que apenas aprendeu a matar como o único meio de conseguir a sua promoção e ocupar os lugares de suas vítimas...
"Ora, a profunda reestruturação das forças armadas é... a prioridade das prioridades, sob pena de a Guiné-Bissau voltar a mergulhar-se numa guerra civil tribalizada...
"...As actuais forças armadas guineenses são um mero instrumento de combate político do PRS [partido do ex-presidente Kumba Ialá]...
Vemos, ouvimos e lemos... (1)
Muito provavelmente em resposta ao post anterior do Raimundo Narciso sobre a matéria em apreço (aqui no PUXA), o Grande Oriente Lusitano emitiu um comunicado que, por pouco, não passava despercebido. No DN de hoje, pág. 22 (canto inferior esquerdo) com o título «Maçonaria garante/ter lista de ‘pides’»
A notícia reza:
«O comunicado [da Maçonaria] refuta que o dossier seja constituído apenas por uma lista de correio, afirmando que contém “relações distritais de agentes daquela organização fascista”. Para sustentar as suas declarações, o Grande Oriente Lusitano transcreve o documento, em que se alude a “relações distritais de ‘agentes’ por ordem alfabética de distritos do Continente”.
Estas coisas são mesmo assim. Depois do Expresso lhe ter dado honras de manchete, agora a imprensa quotidiana quase esconde o comunicado desta Maçonaria. Não é com certeza por certos nomes que figuram naquelas listas ocuparem actualmente lugares proeminentes no sistema político democrático. Pode lá ser?! Foi já há tanto tempo...
2005-04-25
E DEPOIS DO ADEUS - A Senha da revolução
Quis saber quem sou
O que faço aqui
Quem me abandonou
De quem me esqueci
Perguntei por mim
Quis saber de nós
Mas o mar
Não me traz
Tua voz.
Em silêncio, amor
Em tristeza e fim
Eu te sinto, em flor
Eu te sofro, em mim
Eu te lembro, assim
Partir é morrer
Como amar
É ganhar
E perder
Letra completa [
aqui]. E, como vivemos o dia 25 de Abril de 1974 [
aqui]A canção de
Paulo Carvalho (música de
José Calvário e letra de
José Niza) foi "posta no ar", no Rádio Club Português, à meia-noite de 24 de Abril de 1974, como indicação de que tudo estava preparado e os militares, em todo o país, poderiam preparar a saída dos quartéis para o derrube da ditadura)
Zeca Afonso:o cantor da revolução
Grândola, vila morena
Terra da fraternidade
O povo é quem mais ordena
Dentro de ti, ó cidade
Dentro de ti, ó cidade
O povo é quem mais ordena
Terra da fraternidade
Grândola, vila morena
Em cada esquina um amigo
Em cada rosto igualdade
Grândola, vila morena
Terra da fraternidade
[A Canção completa [
aqui] e relacionado, o post no Memórias [
aqui]
2005-04-24
Já sei. Vão-se rir
paciência. Mas confesso, li dois Domingos consecutivos o artigo de António Barreto, no Público.
O António, de quem sou praticamente amigo, tendo em conta o seu passado e muitas coisas que escreveu - apesar da completa falta de relacionamento - está, como direi, truculento, feroz, azedo.
António Barreto a propósito das medidas positivas do Governo de procurar limitar os mandatos dos cargos executivos e de fixar na lei os cargos que na Administração caem com os Governos e aqueles que não devem estar ao sabor da conjuntura eleitoral, a propósito destas corajosas medidas tantos anos prometidas e proteladas, António Barreto estraçalha o Governo com o seu artigo arrasador:
"Uma democrática Obscenidade" A tese é simples, fazendo o que fez o Governo não mudou tudo portanto é muito pior do que não mudar nada.
António não deixa de apontar o dedo à hidra: o poder central e aos monstros: os partidos. Em resumo, aos Homens.
A grande reviravolta
Telmo Correia entra vencedor e sai vencido. Ribeiro e Castro soube explorar de forma hábil e descomplexada as fragilidades do seu adversário.
Telmo arca com uma grande derrota
.
A vida de Ribeiro e Castro, como líder do CDS, não vai ser fácil até porque tem contra si a maioria dos presidentes das distritais e do grupo de deputados, onde parece pontificar Nuno de Melo, bem como o presidente da juventude centrista que parece ter votado em maioria em Ribeiro e Castro.
Abriram-se muitas feridas. O CDS partiu-se. Portas se tem projectos para voltar dentro de algum tempo, com a grande responsabilidade por este desaire, vai ter de pensar bem na junção dos cacos.
Ribeiro e Castro pareceu-me...
arrependido.
Foi agora na SIC Notícias, às 14 horas. Nada daquela euforia ou entusiasmo de quem ganha um congresso e tem na mão um partido para virar o país. Não. Nada disso. Falava para o microfone guloso da televisão com o ar desprendido, de "gajo porreiro" como que a dizer, atenção calma aí... No semblante um ar entre admirado com o que lhe aconteceu e o desiludido. Como quem pensa
...mas que raio de ideia a minha a de ter feito aquele discurso. Pus-me para ali com aquela conversa fresca, um discurso descontraído, para animar um pouco a pasmaceira geral, sem grandes pretensões, a contrastar com o ar ora convencido ora mosca morta do Telmo...
Há cada uma! Estava tão bem, descansado, lá em Bruxelas. Que raio vou fazer agora com o aparelho na mão?
No discurso fatídico que virou o congresso Ribeiro e Castro gabava-se
"Estou aqui sem tropas, sem regimento, sem hoste." - talvez na esperança de que um discurso assim informal e sem artilharia pesada não teria as consequências desagradáveis que acabou de ter.
Lição a tirar (pelos políticos inexperientes): quem se mete na política tem de estar a todo o momento, mesmo quando menos se espera, pronto para as maiores surpresas. Para as vitórias ou as maiores desgraças.
Lista de Pides ou lista de Correio?
Isto parece uma história mal contada. Mas é o grande título do Expresso de ontem.
Em 1974, a seguir ao derrubamento da ditadura, o regime democrático devolveu à Maçonaria-Grande Oriente Lusitano (GOL) o palácio do Bairro Alto, que lhe fora oferecido no princípio do século XX, pelo "irmão" Beethoven (José Relvas - o revolucionário da proclamação da República) para sua sede e que Salazar lhe tirara, ao proibir a associação maçónica, e entregara à Legião Portuguesa.
No Palácio um "irmão" encontrou uma lista com os nomes de 3.600 informadores da PIDE/DGS. O "irmão" guardou a lista, entretanto "esqueceu-se" dela durante 30 anos.
No dia 9 de Abril, "durante um banquete num hotel de Lisboa, um "irmão" entregou a "explosiva" lista ao Grão Mestre do GOL, António Arnault que justamente considerou que tal documento não era propriedade da Maçonaria, não poderia ter por destino o seu museu e deveria de ser entregue aos Estado Português.
Agora o Expresso de ontem informa-nos que segundo Pedro Dias, director do Instituto de Arquivos Nacionais/Torre do Tombo a lista dos informadores da PIDE, é uma inofensiva lista de correio da extinta organização fascista, a LegiãoPortuguesa.
A sonegação de uma lista de informadores da PIDE/DGS é um acto da maior gravidade moral, cívica e parece que criminal. Tão condenável atitude dá azo às mais variadas especulações. Protecção de amigos? Chantagem contra inimigos?. Que se pretendeu ao sonegar ao país a lista dos que tiveram tão criminosa conduta? Aliás ainda hoje passível de responsabilização criminal.
Considerando o GOL tratar-se de uma lista de informadores da PIDE estranho que a organização maçónica e o seu mais alto representante, António Arnault, não se tenha sentido obrigado a um vivo e público repúdio pela deliberada ocultação durante 30 anos de tão importante documento constituindo uma objectiva protecção dos informadores da polícia política responsável por inomináveis crimes para com o Povo Português.
Se a lista dos pides é uma lista de endereços de correio... então tudo isto parece uma história mal contada.
2005-04-23
Durão Barroso... mal visto em todas as frentes
Já não bastava umas férias no barco do grego...(por uma amizade de há 20 anos é claro, quem duvida!!! ) uma amizade entusiástica !!! agora que Barroso é presidente e o grego com interesses ligados.
Não bastava e Paulo Portas vem hoje no Congresso insinuar que Durão "traiu" a coligação ao ir para Bruxelas, porque assim a coligação sofre um rude défice de representatividade. Que má altura. Só mesmo Chirac o "entende".
Igreja quer Estado Confessional em Timor Leste
D. Ximenes Belo, Bispo de Dili ( hoje, às 22h, na RTP 2) a propósito das manifestações que a Igreja em Timor organiza há dois meses contra o Governo - aconselhava, numa tentativa conciliatória, uma de duas medidas para resolver a grave situação criada no país pelo clero local.
Uma - O Governo recuava e anulava a decisão (passar de obrigatória a facultativa a disciplina de Religião no ensino público) que está na origem desta última movimentação da Igreja contra o Governo.
Outra - o Governo dividia a disciplina em duas: Educação Moral ou Ética e Religião. Mantinha obrigatótória a primeira e "optativa" a segunda.
Com a primeira o Bispo Ximenes Belo punha-se ao lado da Igreja, contrariando a Constituição que prevê a separação entre o Estado e as religiões e derrotava o Governo democraticamente eleito. Com a segunda o prémio Nobel fazia o contrário. Punha-se do lado do Estado de Direito e derrotava a conspiração do clero.
Porque, na realidade a Igreja em Timor Leste não quer saber de uma qualquer disciplina de Moral ou Ética, quer é o ensino da religião católica obrigatória na escola pública que lhe permita manter e aumentar o controle espiritual (e com ele o temporal) da população.
A Igreja Católica tenta há dois meses vergar ou se possível derrubar com manifestações na rua o Governo eleito nas urnas.
Do jornal Público de 2005-04-20
http://jornal.publico.clix.pt/noticias.asp?a=2005&m=04&d=20&uid=&id=16647&sid=1827
"O primeiro-ministro, Mari Alkatiri, está a ser acusado [pela Igreja] de liderar um regime ditatorial por pretender fazer da Religião uma disciplina facultativa e com menor carga horária nas escolas timorenses. Os cerca de cinco mil manifestantes que ontem se reuniram na Avenida dos Direitos Humanos, em Díli, não gritavam palavras de ordem nem exibiam cartazes. Carregando imagens de Nossa Senhora, rezavam o terço e ouviam as palavras de vários líderes religiosos que organizaram o protesto. "Combatemos o regime ditatorial de Alkatiri", afirmou à multidão o porta-voz da Diocese de Díli, padre Benâncio Araújo, citado pela AFP. O padre apelou a outros membros da Igreja a organizar manifestações para "derrubar o regime antidemocrático"
"o Governo está pronto a abrir o diálogo com a Igreja Católica mas a manifestação não facilita a criação de condições para o diálogo".
"É possível que os protestos se alarguem ainda mais, a julgar pelas projecções da Igreja, que encomendou o fabrico de 30 mil camisolas para distribuir aos manifestantes. O conflito leva já dois meses, recordava ontem a Lusa. A 21 de Fevereiro, uma primeira nota episcopal criticava o projecto do Governo de Alkatiri de, durante um ano lectivo, a cadeira de Religião deixar de ter o actual peso curricular e passar a ser facultativa. O programa seria aplicado a título experimental e apenas em 32 escolas.Um mês depois, o núncio apostólico, Malcolm Raamjiph, desloca-se a Díli e encoraja os timorenses a "confrontarem os que tentam destruir a Igreja".
O Governo reage, afirmando que o núncio apostólico estava a tecer "acusações belicosas" e a exercer "uma indesejável interferência nos assuntos internos de Timor-Leste", lia-se num comunicado assinado pelo chefe da diplomacia timorense, José Ramos-Horta.
Mais tarde, o Executivo acusou os bispos D. Alberto Ricardo da Silva, de Díli, e D. Basílio do Nascimento, de Bacau, de se quererem substituir à oposição timorense. "A Igreja sente-se pequena na sua função evangelizadora", disse então Alkatiri.
Do Público de 2005-04-20
Mari Alkatiri, um muçulmano a liderar um país de católicos:
Cerca de 90 por cento dos timorenses dizem-se católicos. Mas em 2001 elegeram para chefe do Governo um muçulmano, Mari Bin Amude Alkatiri, descendente de emigrantes iemenitas. Quando, nas legislativas de há três anos, Mari Alkatiri foi eleito, muitos à sua volta consideravam-no "casmurro, íntegro e convicto", segundo a descrição do então correspondente da Lusa, António Sampaio. Enquanto ministro-chefe no segundo governo transitório, Alkatiri consolidou a imagem de líder. Os timorenses também conheciam as suas batalhas contra a discriminação religiosa. Mas era claro que nem todos os timorenses apreciavam o facto de ter um muçulmano a governar um país católico (a evangelização começou nos finais do século XVI com missionários dominicanos). Sete meses depois de ser eleito, o primeiro-ministro foi alvo de violentas manifestações - as mais violentas desde a independência. Os revoltosos incendiaram então vários edifícios governamentais de Díli, bem como as casas do próprio Alkatiri e de dois dos seus irmãos. A violência diminuiu. Mas o fosso entre o Governo e a Igreja Católica está a crescer, como ilustram os recentes protestos.
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DEMOCRÁTICA DETIMOR-LESTE
Artigo 45.º
(Liberdade de consciência, de religião e de culto)
1. A toda a pessoa é assegurada a liberdade de consciência, de religião e de culto,
encontrando-se as confissões religiosas separadas do Estado. [sublinhado de RN]
2. Ninguém pode ser perseguido nem discriminado por causa das suas convicções religiosas.
3. É garantida a objecção de consciência, nos termos da lei.
4. É garantida a liberdade do ensino de qualquer religião no âmbito da respectiva confissão
religiosa.
(In http://pascal.iseg.utl.pt/~cesa/Constituicao%20Timor%20Leste.pdf)
"Não há fumo sem fogo"
Este ditado popular tem uma ampla adequação ao processo de colocação de professores. Muitas serão as colocações eventualmente desajustadas e a prejudicar colegas melhor classificados e qualificados pelo simples uso de um atestado médico "de complacência", como agora é de bom tom dizer-se. A Inspecção Geral da Educação em articulação com a Inspecção Geral da Saúde estão a investigar os casos suspeitos que segundo a comunicação social rondam uns milhares.
Quantos doentes não doentes, quantas famílias com doenças não doenças, quantos compadrios ao fim e ao cabo entre professores e médicos!!!. Mais de 500 médicos já estão investigados e suspeitos de terem passado atestados (suspeitos) a docentes.
Os sindicatos de professores pronunciaram-se no bom sentido, exigindo justiça. A ordem dos médicos nem por isso. Procurou antes adiantar algumas desculpas. Não é um bom serviço ao País.
Era bom que a justiça funcionasse com uma penalização exemplar e que as leis se cumprissem. Mas fica sempre uma questão pendente: como ressarcir os prejudicados se os houver?
2005-04-22
Máquina Fiscal precisa de emagrecer e de melhor preparação técnica
Ontem Sérgio Figueiredo no editorial do JNegócios sobre a máquina fiscal portuguesa dizia: " a máquina que cobra impostos em Portugal é gorda, está velha e não foi preparada para a espinhosa missão que lhe foi confiada".
E, de facto, assim o é. Dois números apenas e ficamos com uma ideia da real dimensão do problema. A Direcção Geral dos Impostos (DGI) tem 11 500 funcionários, sendo que 72% não têm formação superior.
Comparando este número de funcionários da DGI com os do Ministério da Economia, temos uma DGI com cerca do dobro dos funcionários de todo este Ministério, cujas actividades do seu âmbito geram cerca de 60% da riqueza nacional (medida pelo PIB). Por outro lado temos uma DGI com muito menos gente que o Ministério da Agricultura (cerca de 2/3) que por sua vez só está ligado a cerca de 5% do PIB.
Esta é a realidade que o País tem. Os grandes entorses da máquina estatal.
2005-04-21
Governo Autorizado pela Assembleia
..... a legislar sobre venda de medicamentos fora das farmácias. O empório das farmácias tem vindo a reagir a esta situação hoje autorizada em sessão plenária do Parlamento.
Ainda ontem o Presidente da Associação Nacional das Farmácias em conferência de imprensa insurge-se contra tudo e todos, inclusive contra Abel Mateus, presidente da Autoridade da Concorrência pelo facto de, no âmbito das suas funções, ter decidido elaborar um estudo sobre o sector.
No entanto, esta ideia enunciada pelo Governo, a quando da sua tomada de posse, já começa a mexer no sector, exactamente pelo lado de quem a contesta. João Cordeiro, presidente da ANF, enunciou algumas medidas positivas a implementar como o alargamento do funcionamento das farmácias para 55 horas semanais, o desenvolvimento de um projecto profissional de cuidados farmacêuticos ao domicílio com entrega de medicação em doses individuais, etc.
Todos sabemos que os problemas dos fármacos, no sentido de uma melhor qualidade ao utente não se fica por aqui, nem pelo fim da exclusividade da propriedade. Tem de ser pensado também mais a montante, ou seja, não se pode esquecer neste processo a indústria farmacêutica e os privilégios de que também usufrui e aqui o presidente da ANF tem razão quando alerta para esta questão.
Assim para o País poupar dinheiro na saúde e para o cidadão ser melhor servido e melhor tratado, ter uma melhor saúde, urge uma estratégia e medidas articuladas ao longo de toda a cadeia de produção.
O Plano Tecnológico
... começa a ficar enroupado o plano tecnológico, uma das apostas chave deste governo. De algumas entidades e personalidades apenas tenho pressentido algumas dúvidas, sobretudo de operacionalização.
Hoje, em Conselho de Ministros, vai ser criada a Unidade de Coordenação do Plano Tecnológico (UCPT) que será coordenada por José Tavares, um jovem professor, economista. Com ele trabalhará uma equipa que, pela informação recolhida, terá um número reduzido de pessoas, máximo de 14. Óptimo e espera-se que, assim, prossiga.
É fundamental dar corpo ao plano tecnológico na perspectiva de relançar o desenvolvimento da economia portuguesa em novos moldes - preparar um novo modelo e implementá-lo.
Hoje também será nomeado em Conselho de Ministros, Nelson de Sousa como gestor do PRIME, sem dúvida uma excelente aposta porque, para além de provas dadas, conhece muito bem os meandros deste tipo de trabalho constituindo desta forma uma mais valia junto de Bruxelas.
Mas... também não escapo a uma ligeira dúvida. Como se vai articular tudo isto? Normalmente a zona frágil. E boas ideias morreram por aqui. Há experiências a ter em conta. Faça-se um balanço do PROINOV para tirar ensinamentos.
Espero francamente que desta vez, tal não venha a dar-se.
Um caso de bradar aos céus
Relacionado com a EDAB, a empresa do Aeroporto de Beja. Um caso típico de práticas de aproveitamento do poder para o saque dos dinheiros públicos.
Tudo isto se passou sob a tutela e nas barbas do impoluto e muito cristão ministro Bagão Félix. Tem fama de honesto. Estaria o ministério já em roda livre e Bagão Félix a Leste?
Este caso não ilustra apenas o santanismo, um barrosismo de Parque Mayer no seu estertor. Ilustra por um lado a corrupção do poder que obviamente não atinge só a direita. Ilustra por outro lado a degradação sofrida pelo PSD, que aplaudiu e acompanhou Durão e Santana, no sentido do populismo e da falta de escrúpulos e ilustra ainda a tradição da direita de se sentir dona do país e a única com verdadeiro direito ao poder.
Está tudo no Memórias, aqui. E tem como fonte a Rádio Pax. Ocupou em Janeiro e Fevereiro deste ano rádios locais, jornais de Beja e blogs alentejanos.
Enfim um problema que só não sobejou para o Puxa Palavra porque Mário Lino ao ir para o ministério meteu licença ilimitada no blog.
Tentarei saber o desfecho deste caso já sob a batuta do PS. Para o expôr aqui.
2005-04-20
A ponta do Iceberg
O insólito, já se sabe, acontece. Mas há-os de todas as cores e este deixou-me gelado. Ia desprevenido e quotidiano a abrir a caixa de correio e que me salta de lá?
Para os que gostam de ver monumentos com aqueles guias muito bons que sabem o ano de nascimento, o nome do pai e da prima do autor, aqui vai: pesa 300 milhões de toneladas (pesado a olho)e para não chocarem com as plataformas petrolíferas, lá para St. Jones, rebocam-nos.
Zapatero, soma e segue!
Ibarretxe (PNV) desceu dos 33 para 29 deputados enquanto Zapatero (PSE) subiu de 13 para 18 e tanto bastou para fragilizar ou inviabilizar de todo o plano Ibarretxe de transformar o País Basco num Estado associado de Espanha.
"El presidente del Gobierno, José Luis Rodríguez Zapatero, ha considerado que esos resultados confirman que "han empezado a correr los plazos para una victoria del diálogo y la unión frente al enfrentamiento" en Euskadi. Por su parte, el presidente del PNV, Josu Jon Imaz, ha reconocido que los
resultados de PNV-EA no han sido "tan buenos" como esperaban y no ha descartado que la coalición inicie esta legislatura en minoría."
"El 'Plan Ibarretxe' fracasa en las urnasLas elecciones vascas han supuesto que el plan soberanista del lehendakari Ibarretxe quede condenado al fracaso. La coalición PNV-EA sí ha ganado las elecciones, sin embargo ha perdido cuatro diputados respecto a 2001, quedándose con 29 escaños, lejos de los 38 que le hubieran permitido gobernar sin necesidad de alianzas y sacar adelante su plan. [
El Pais]
Albert Einstein
Lembro-me de sempre ter admirado não só este Grande Físico como também este Grande Homem.
Há meio século que Einstein morreu, em 18 de Abril de 1955.
Sobre Einstein aconselho uma visita [
aqui] onde fui buscar a fotografia que o Puxa Palavra orgulhosamente ostenta.
Ratzinger o papa alemão
Oxalá me engane mas creio que com a eleição do Papa Bento XVI as tendências retrógradas da Igreja vão-se acentuar. Com tanto Bush em Roma no funeral de João Paulo II até o Espírito Santo terá fugido assustado. Com o campo aberto as "forças do mal" podem ter impedido os cardeais de usufruir as melhores influências.
Pelo menos da má fama não se livra Ratzinger como se pode ver [
aqui] ou [
aqui] .
Branco o fumo
2005-04-19
Francamente
pensei que Fernando Ruas, presidente da Associação Nacional de Municípios, conseguisse descobrir argumentos contra a limitação do número de mandatos dos autarcas mais sofisticados que esse de tomar a medida como uma perseguição aos seus pares.
Não avalia a medida no contexto do reforma do funcionamento dos órgãos do poder mas de mera perseguição aos autarcas.
A alteração é da iniciativa do Governo mas como o 1º Ministro inclui o seu mandato no rol dos cargos que deverão ter número limitados, Ruas atira-se aos deputados. Eles que dêem o exemplo e limitem também os seus mandatos! - exige ele numa conversa de mercearia.
Francamente, esperava uma atitude um bocadinho mais elevada.
Sim ou não à limitação de mandatos?
O Governo ao cumprir a promessa eleitoral da limitação de mandatos mostra que quando há vontade política é possível passar da retórica à acção.
Mas... a decisão, há tantos anos aguardada, para Eduardo Dâmaso, jornalista do Público, não passa de "ilusão"... "é isso que o Governo está a fazer" , "a limitação para ter um efeito real teria sempre de ser mais forte". Teria de atingir os vereadores, e a delegação de competências, e além disso "nenhum político que queira usar o poder em proveito próprio precisará de quatro mandatos para fazer o que pode fazer em um ou dois", ou não passa de ilusão ainda, porque "permanecem intocadas as estruturas internas dos partidos".
Para António Barreto "a lei é inútil, demagógica, contraproducente e despótica", "...corre o risco de promover mais corrupção". António Barreto alerta ainda para o perigo de que a limitação de mandatos "equivale a destituir cidadãos de direitos políticos".
Se Eduardo Dâmaso calha a ter lido o artigo de António Barreto teria evitado o desperdício de jornal porque praticamente tudo o que escreve na página oito já está no artigo de António Barreto, na página seguinte.
Os argumentos parece não atingirem o alvo. Ninguém pensa que a limitação de mandatos prevista pelo Governo pretende acabar com a corrupção. Esta acabará quando deixar de haver poder ou quando deixar de haver homens. A luta contra a corrupção é uma luta permanente entre a lei (incluindo o controlo da sua aplicação e a aplicação da Justiça) e as "habilidades" para a contornar. Por cada arma ofensiva se inventa uma defensiva. O que é preciso é ver se se consegue ir na luta contra os potenciais malefícios inerentes ao uso do poder um passo à frente na prevenção de potenciais abusos.
A limitação a três mandatos favorece a luta contra a utilização do poder para fins diversos do que a lei estabelece, tornando mais difícil a criação e alastramento de redes de cumplicidades e interesses. Limitação a dois mandatos favoreceria mais, é certo, um mandato mais ainda e nenhum mandato seria mesmo a garantia absoluta!
É necessário sopesar as vantagens e os incovenientes e encontrar o melhor ponto de equilíbrio. O mesmo raciocínio se aplica relativamente aos vereadores, às delegações de poderes, aos ministros e secretários de Estado. Já se sabe que oitenta é melhor que oito. Mas não querendo avançar para oito o que resulta é ficar-se onde se está que é zero e não oitenta.
Que o mal radica nos partidos - argumenta-se - se não se mexe na democracia interna dos partidos, na transparência, etc. nada se resolve. Não é verdade. Resolve-se alguma coisa ainda que não tudo. O que não sendo óptimo é, no entanto, bom. Ou melhor que nada.
António Barreto alega ainda que "equivale a destituir cidadãos de direitos políticos". Pois também a limitação a dois mandatos no caso do Presidente da República o é. E a exigência de 35 anos para esse cargo é outra limitação. Vedar certos cargos a cadastrados outra limitação ainda. Cada um de nós pode encontrar dezenas de limitações legais de direitos políticos indispensáveis para salvaguardar outros direitos mais relevantes.
(Não há link para o Público. Agora é pago e mesmo pago às vezes falha, como agora.)
2005-04-18
Já sabia
que o Alberto João Jardim está contra a limitação dos mandatos aos presidentes das Regiões Autónomas. Vá-se lá saber porquê...
O Alberto João Jardim é o exemplo vivo da incontornável vantagem da limitação de mandatos. Só por isso valeria a pena a lei. Mas sem a almofada de mais um mandato.
Porque consegue Jardim abusar impunemente do seu poder e ser reeleito mais ou menos democraticamente? Ora porque, entre outras e não despiciendas razões, tem conseguido, com chatagens várias, levar para a Madeira muito dinheiro do Orçamento do Estado (dos "cubanos") para além do que é justo e legítimo e, usando-o como entende, reparte algum pelo eleitor. E este eleitor importa-se pouco com a democracia, o Estado de Direito, a corrupção, desde que lhe dêem algum. Nisto, este eleitor da Madeira, não é diferente do eleitor do continente ou de outros latitudes.
2005-04-17
Magritte
Le blanc-seing (A Assinatura em Branco) 1965, óleo em tela, 81x64 cm) de René Magritte (1898-1967) pintor belga surrealista.
"Eu crio principalmente o desconhecido com coisas conhecidas" (Magritte, numa conversa com Paul Waldo Schwartz, publicada in "Studio"-1969).
Pode-se revisitar "A Primavera"
aqui.
2005-04-15
Referendo: Chirac faz subir o não
Ontem Jacques Chirac participou num programa televisivo de 2 horas sobre a proposta de constituição europeia. A finalidade era convencer os eleitores a votarem sim. Resultado: a última
sondagem mostra uma subida das intenções de voto do não que passou a 55%.
A emissão televisiva de ontem gerou muita polémica pois foi completamente organizada pelos serviços da presidência que escolheu os entrevistadores e recusou o debate com um partidário do não. A emissão decorreu na presença de um grupo de jovens escolhidos por um instituto de sondagem segundo o método da amostra representativa. Dois jovens que tinham sido seleccionados afirmam terem sido excluídos por serem partidários do não. Os jornalistas políticos, nomeadamente as redacções das televisões públicas, protestaram por os representantes do serviço público escolhidos para a emissão serem animadores de programas de divertimento e não jornalistas.
O AMOR É...Ou não é?
Pois ao que parece uns espíritos tacanhos que mandam na Antena 1 suspenderam, sem aviso, o programa "O Amor é ..." de Júlio Machado Vaz por causa da morte de João Paulo II.
Suspeita-se que para evitar o perigo de, no éter, eventualmente se cruzarem palavras de pecaminoso amor (libido!?) com outras de homenagem ao falecido Papa, muito dado ao culto mariano e ao dogma da Virgem Maria.
Foi à tardinha que, ao dar uma volta pelas redondezas, ao passar em frente do
Causa Nossa reparei numa setinha que apontava para o
Morcon do Machado Vaz.
Até me lembrei da saudosa Natália Correia e do seu poema
Truca Truca oferecidos àquele infeliz deputado do CDS, muito Democracia Cristã, que na Assembleia da República defendia que aquela coisinha, apenas devia ser usada para a procriação.
Hoje até comprei o jornal A Bola
...não sei bem para ler o quê...pois vivi o jogo, do desânimo à euforia. Mas comprei a bola. Há muito mesmo que não lia um desportivo, talvez desde a fase prévia das transferências (aquela curiosidade de quem vai sair e sobretudo de quem vai entrar). Mas hoje tinha de ser. "Uma noite memorável" Beto (1ª pág), ou então, (tb 1ª pg) a criatividade da Bola: Europa rende-se a fantástico sporting. Infelizmente não tem muito mais para se render.
Comprei a Bola e só podia ser a Bola. Aquele jornal de referência. Um passado de respeito, um presente de bons jornalistas, apenas um pequeno defeito vira um pouco para o encarnado. Mas ninguém é perfeito!!!.
E agora já só me falta provocar o João Tunes a quem envio um abraço. Então também viste?
2005-04-14
A casa de todas as Músicas
Finalmente temos, não sei se o Porto reivindica para si dizer que tem uma casa da Música. Porque nestas coisas dos bairrismos há um grande exagero. Ainda hoje num almoço com um amigo, com quem até não estava havia algum tempo, este tema veio à baila porque falamos de um outro amigo comum que, de facto, exagera nessa matéria, um exagero que às vezes ronda o nível do complexo. Mas temos casa da música, isso é que importa.
O Porto tem, o País também, uma grande obra com projecção europeia quer pelo projecto arquitectónico, quer pelas suas funcionalidades e potencialidades. Precisa tão somente de uma gestão com perspectiva estratégica que veja o país na Península e na Europa. Francamente esperamos que seja muito melhor a gestão daqui para a frente do que até agora, pois foi um descalabro de desentendimento entre entidades públicas e que redondou numa deriva de custos a esquecer ou a averiguar? nem que seja para tirar consequências futuras.
2005-04-13
Referendo e Verdes
Os Verdes (partido ecologista) francêses são a favor da constituição europeia, têm, na minha opinião, bons argumentos:
- A carta dos direitos fundamentais é um passo em frente, por exemplo torna constitucional a abolição da pena de morte que era, até aqui, legislativa (em França).
- Reforça os poderes dos orgão eleitos democráticamente (como o Parlamento Europeu).
- Os aspectos negativos podem ser alvo de um processo de revisão constitucional.
Os ecologistas tecem algumas críticas ao texto mas preferem aprovar para depois exigir a revisão dos artigos mais controversos: dois exemplos pedem a inclusão do direito ao divórcio e do direito a um rendimento mínimo.
A posição oficial dos verdes pode ser vista
aqui e um interessante artigo do euro-deputado Alain Lipietz
aqui.
O caso VARIG
A Varig está a passar, desde há uns bons meses, por dificuldades financeiras acrescidas e, como é lógico, esta situação tem impactes perversos na sua operacionalidade. Há uns meses atrás até se ouviu falar de que a TAP estaria interessada em participar na sua recuperação. Só que então o ambiente entre as chefias da TAP não evoluia da melhor maneira. O Ministro Mexia lá mexeu nessa situação e Fernando Pinto passou e bem a ter uma situação mais cómoda e mais operacional. Não sei é se este episódio trouxe algum atraso em termos de posicionamento face à situação da Varig.
Na verdade, o accionista da Varig , Fundação Ruben Berta, lançou um processo de procura de um parceiro que lhe injecte uns quantos milhões de dólares. E seria excelente, dado o carácter estratégico deste mercado para a TAP, que os interesses portugueses não perdessem o pé neste negócio.
Bem, ouve-se dizer que estarão dois grupos portugueses no encalce deste negócio. Só espero que não se digladiem tanto que o negócio vá bater a um terceiro, com todos os efeitos negativos daí decorrentes.
Protestos em todo o País
Estudantes do ensino básico e secundário protestam. Saudável. Uma marca de diferenciação. Um exercício de um direito e de manifestação de um problema de consciência. Nos anos de Salazar e Caetano nunca a direita se manifestou contra algo de mau que ocorresse no campo do ensino, ou se alguma vez alguns se manifestaram, aí iniciaram o seu afastamento do poder.
Saudável esta manifestação. Uma tomada de consciência de que algo vai mal no ensino. Exigir "um ensino público gratuito e de qualidade" nada tem contra o actual governo, consiste em reafirmar o que está na Constituição da República. É sempre uma boa alerta.
As previsões económicas...
da Comissão Europeia analisadas por António Mendonça (Prof Universitário do ISEG
amend@iseg.utl.pt)
"Dos números apresentados quatro grandes conclusões podem ser extraídas.
A primeira, é a de que a União Europeia no seu conjunto, incluindo já os novos membros, continuará a atrasar-se relativamente aos Estados Unidos num processo que, de acordo com os dados disponíveis..."[
artigo aqui ]
SIM ou NÃO...
à Constituição Europeia? SIM! Não porque seja bem à medida do meu gosto. Mas porque o NÃO seria ou será um perigoso retrocesso.
Aconselho a leitura do artigo de
Vital Moreira, no Público de ontem: CONSTITUIÇÃO EUROPEIA E RELIGIÃO:
"Entre os argumentos produzidos em França contra o tratado constitucional europeu está... " [artigo disponível
aqui]ou o que diz
Mário Soares:
"...Trata-se, com efeito, do mais original projecto político do século XX, ... em benefício da paz, do bem-estar dos seus concidadãos, tendo em mira a construção de um modelo de desenvolvimento não excluente, com dimensão social, cultural e ecológica. Um não à Constituição...
Seria um imenso recuo, que só podem desejar aqueles que sempre sonharam com uma Europa que fosse um mero espaço de livre câmbio, ... Seria o fim da Europa política, social e com uma entranhada cultura ecológica. Pior do que isso: seria o fim da União como «potência mundial» capaz de equilibrar as relações euro-americanas e de resistir às pretensões do hegemonismo imperial, que vê a ONU como um empecilho. Os "falcões" que aconselham Bush, seguramente, agradeciam!..." [Artigo completo
aqui]
Jorge Sampaio em Paris
Jorge Sampaio ofereceu ontem à comunidade portuguêsa em Paris um concerto de Rodrigo Leão. A música era excelente e seguiu-se um cocktail que, esse, era mais mundano com as senhoras a quererem tirar o retrato ao lado do presidente, uns militares a pavanearem o uniforme de gala e os agentes secretos todos com o fio do auscultador a entrar pela gola do casaco.
Para reponder a um pedido anónimo deixo-vos um
artigo do Libération sobre a visita do nosso presidente ao parlamento.
2005-04-12
Cyber papabile
Parece que a maioria dos cardeais têm sites na net. Aqui vai uma citação do site do
fan club do cardeal Ratzinger.
As Grand Inquisitor for Mother Rome, Ratzinger keeps himself busy in service to the Truth: correcting theological error, silencing dissenting theologians, and stomping down heresy wherever it may rear its ugly head -- and, consequently, has received somewhat of a notorious reputation among the liberal media and 'enlightened' intellegensia of pseudo-Catholic universities.
Portugal na imprensa francêsa
Um simpático artigo, da France Presse, sobre o museu do pão em Seia pode ser visto
aqui.
Referendo e esquerda radical
A
sondagem do dia dá 53% ao não e 47% ao sim.
A pedido da Ana Esteves deixo-vos aqui algumas informações sobre as opiniões da esquerda radical francêsa em relação ao referendo.
O ponto comum a todas as críticas é o da inclusão das regras da economia de mercado num texto constitucional, essa inclusão retira a margem de manobra ao poder político por falta de meios.
Estes argumentos são comuns aos 3 partidos Trotskistas (LO, LCR e PT), ao PCF e a correntes minoritárias do PS e dos verdes.
O texto chamado
Appel des 200 é um bom exemplo.
Pessoalmente estou cada vez mais indeciso e começo a dar razão a um amigo que me dizia: "se pensas votar sim é melhor não leres o tratado", por um lado sou totalmente a favor de uma constituição europeia, a carta dos direitos fundamentais agrada-me, por outro lado irritam-me os defensores do sim que passam a vida a explicar-nos que não há escolha e, de facto, alguns argumentos dos defensores do não são muito pertinentes.
Investidores preparam defesa de sectores estratégicos
Ao tomar conhecimento desta ideia pela comunicação social de que Jorge Armindo anda a desenvolver contactos no sentido de reunir investidores nacionais dispostos a investir em "sectores estratégicos", o que me veio logo à mente de uma forma muito primária foi: o que pretende esta gente do governo e sob que forma o pretende pressionar?. Ao mexer um pouco no passado, mesmo o mais recente, a experiência, salvo raríssimas excepções, diz-nos que os empresários nacionais se serviram das nacionalizações para a realização de mais valias a prazo (geralmente através da venda a grupos estrangeiros) e muito pouco para consolidar e desenvolver as suas empresas e com isso sustentar o crescimento da economia portuguesa.
Analisando os domínios onde se pretende entrar para que "os centros de decisão" fiquem "em mãos portuguesas" (energia, gás, telecomunicações, águas, etc.), actividades com um "arcaboiço e músculo financeiros" muito fortes, adquiridos graças a um certo proteccionismo, do que se trata é de um património de elevada rentabilidade mesmo com o estabelecimento de regras de uma maior concorrência e boas perspectivas de realização a prazo, quer no âmbito do Mibel quer no âmbito do processo de globalização. As águas, a energia e as telecomunicações podem ser instrumentos poderosíssimos nas mãos de grandes grupos internacionais no sentido da sua actuação nos países de língua portuguesa e daí o seu potencial de valorização a prazo.
Não sou contra "centros de decisão" em Portugal se daí advierem mais valia para o país e prezo muito alguns grupos económicos, porque entendo que pela sua gestão inovadora, pela estratégia, pela reunião de competências deram um grande impulso às suas empresas e à economia deste país. Só acho que o governo não pode deixar-se levar por "palavrinhas mansas".
Pôr do Sol em Saburu Hill, Kénia (foto de Webshots)
2005-04-11
Electrozavodskaya
A estação do Metropolitano de Moscovo que, com as colegas, usei
durante meses, foi pretexto para um "post" no Memórias
[aqui]
Santo, santo subito
Três milagres, ainda que todos na área do cancro, podem conduzir Karol Wojtyla a "santo, santo súbito".
São necessárias condições. 1 milagre dá acesso ao primeiro grau: "Servo de Deus", 2 milagres, Beato, 3, Santo.
Mas é necessário esperar 5 anos que a Igreja não embarca em precipitações. Mas há excepções. Se houver muita pressão dos fiéis.
JoãoPaulo II abriu precedente com Madre Teresa de Calcutá. Se tal decisão fizer jurisprudência celestial podemos regozijar-nos com boas hipóteses de "santo, santo subito".
Vem tudo
[aqui] com sal e pimenta ou seja, pormenores dos milagres.
É isto o que a Justiça pensa da Justiça?
"(...) o que acontece é que neste regime de liberdade as corporações ganham muito peso (...), depois têm tanto peso que não se submetem à lei, fazem eles próprios a lei, percebes? Portanto, é o que se passa com a Judiciária, com o Ministério Público, com os juízes, enfim, são os interesses corporativos metidos e portanto isto não decorre de acordo com a legalidade e portanto sabemos disso."
Quem diz isto? Um juiz conselheiro! Joaquim Lopes de Almeida. Escutado pela Judiciária no processo de Fátima Felgueiras e transcrito
[aqui].
E acusa Cunha Rodrigues, ex-PGR: "Recordando um inquérito relacionado com o antigo Governador Civil de Beja António Saleiro, Almeida Lopes lembrou a Felgueiras [na conversa com FF, gravada pela PJ] que o então PGR, Cunha Rodrigues, "chamou a si" e "mandou arquivar", dando "cabo de dois anos de investigação" da PJ.
Eles andam por aí
O Santana, sibilino, diz que vai andar por aí. O Alberto João ameaçou que vai andar por ali, Borges " o D. Sebastião" (o tal que, na massa, não quer sujar a mão) vai andar por acolá. Coitado do Marques Mendes. Está cercado.
Até Marcelo, na dominical "missa", apontou o dedo ao novo lider: cometeu um erro estratégico, "falta de emoção"!!
Não podendo desancar nos seus inimigos, Mendes diz que vai dar
porrada no PS e no Governo. Apesar de ser um lider pequeno (só 55% dos votos no Congresso) se fosse o Sócrates não subestimava.
O PSD acabou... (desculpem) o Congresso
O congresso mais parecia um funeral. Pelos cantos do recinto apenas se viam as pessoas, em pequenos grupos, entretidas nos despojos. O congresso com esta marca de funeral e com o herdeiro mais premiado a sair algo cabisbaixo, pois embora regressando com cerca de 55% do património, ele é-lhe muito condicionado na sua aplicação pela acção de uns tantos "tubarões" (quantos e que peso?) que não foram capazes de se apresentar de cara destapada.
Desta vez, falhou o espectáculo nestas andanças do PSD. Aqueles duelos de "entretainer" faltaram por completo. O Santana não podia desempenhar esse papel. Mas depois de se cansar de "andar por aí" na companhia de Alberto João, certamente que o teremos de novo. Uma volta digna para animar "a festa", pois isto com Marques Mendes e Ferreira Leite é tudo muito desenxabido/insonso. Aí nos princípios de 2006.
2005-04-10
Referendo: religião
Depois de uns dias de ausência aqui estou de volta com umas reflexões inspiradas no debate francês sobre a Constituição Europeia. A morte do papa tem ocupado nos últimos dias todo o espaço mediático, é agora a boa ocasião para reflectir sobre os aspectos do projecto de constituição ligados à questão religiosa.
É interessante verificar que este tema dá argumentos contraditórios nos dois campos:
- Os partidários laicos do sim dizem que obtiveram uma grande vitória ao impedirem a inscrição da herança católica no texto do tratado.
- Os partidários religiosos do sim dizem que as referências aos valores da religião estão no tratado.
- Os partidários laicos do não criticam o artigo II-70 pois este pode invalidar a lei de proibição do porte de símbolos religiosos nas escolas e administrações públicas.
- Os partidários religiosos do não criticam a ausência de referências explicitas ao cristianismo e a Deus.
Para que cada um forme a sua opinião aqui vai o texto do preâmbulo que refere a herança religiosa:
INSPIRANDO-SE no património cultural, religioso e humanista da Europa, de que emanaram os valores
universais que são os direitos invioláveis e inalienáveis da pessoa humana, bem como a liberdade, a
democracia, a igualdade e o Estado de Direito,e o artigo supra citado:
Artigo II-70.o
Liberdade de pensamento, de consciência e de religião
1. Todas as pessoas têm direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião. Este direito
implica a liberdade de mudar de religião ou de convicção, bem como a liberdade de manifestar a sua
religião ou a sua convicção, individual ou colectivamente, em público ou em privado, através do
culto, do ensino, de práticas e da celebração de ritos.
Um artigo sobre a lei de proibição de porte de símbolos religiosos pode ser visto
aqui.
Fui ver o Chuinga
depois de ler o post do Tunes de que falo aqui em baixo. Dei uma volta pelo Chuinga. Onde se evoca Moçambique que me faz falta não conhecer.
1ª e 2ª classe. E também 3ª
O João Tunes no seu Água Lisa 2 surpreendeu-me com esta fotografia
[aqui]. Julguei que testemunhos vivos como este se teriam já apagado completamente das nossas antigas e tão características estações da CP.
É o testemunho de um mundo revoluido tão distante e afinal ainda tão próximo.
2005-04-09
"Espanha, país irmão do... Brasil?" Observações vindas do Brasil
Acerca do "post" com aquele título que
aqui em baixo coloquei, há dias, recebi de leitor no Brasil a observação de que este assunto está a ser acompanhado com a devida atenção pelo
embaixador português em Brasília, Seixas da Costa, em estreita ligação com o Governo português.
Chama-me ainda a atenção para notícia da Lusa que pode ser lida
[aqui] ou
[aqui] e da qual seleccionei o extracto seguinte:
De acordo com o embaixador, será desenvolvido um trabalho conjunto entre o Icep e a Apex para a assinatura, o mais rapidamente possível, de um acordo bilateral de cooperação entre as duas instituições, onde ficará "expressamente indicada a possibilidade de criação em Portugal de um centro de distribuição, sujeito aos imperativos do mercado".
Manuais escolares - O poder dos lobbies continua ?
O novo governo veio revogar a medida de troca de manuais escolares.
Os argumentos foram: "Técnicamente errado", "não exequivel" e "não foi garantido o investimento necessário no orçamento deste ano".
Admito que possam existir erros técnicos, mas estes não poderiam ser corrigidos ? . A exquibilidade é altamente discutível. Com vontande consegue-se fazer as coisas. Quanto aos custos, não nos enganem. Até admito que não se possa passar directamente para um sistema de trocas universal de um momento para o outro sendo os manuais adquiridos pelo estado, mas muito se poderia pensar e inventar neste aspecto em vez de pura e simplesmente cancelar a medida.
Estamos a falar do governo que foi eleito tentando passar várias mensagens de esperança, de voltar a acreditar e de que não iria acabar com as medidas do governo anterior quando elas fossem correctas (qualquer medida com problemas pode ser melhorada). O mesmo governo que falou em incrementar a utilização de licenças creative commons nos conteúdos (e que poderia ser aplicada nos manuais).
É interessante de verificar que quem mais satisfeito ficou foram as editoras. Pudera.... Temos de chamar o boi pelos nomes e não ficar a falar nos cafés e à boca fechada : Se a revogação não foi originária em acções de lobbie parece, e o facto é que favorece o negócio milionário das editoras em Portugal.
Confesso que tinha estranhado as ausências de propostas concretas sobre os manuais escolares no programa do PS.
Proponho que se tomem várias medidas:
- Investigar ligações dos politicos actualmente com responsabilidade no ME nas editoras e em criação de manuais.
- Mudar, nem que seja gradualmente, em vez de cancelar tudo e dizer que temos de ir estudar.
- A sociedade civil organizar imediatamente iniciando um projecto de criação de manuais escolares livres ao abrigo de licenciamento Creative Commons. Já existe para fichas de trabalho. Pode existir para manuais. Temos é de acreditar.
A Saúde Mexe .... e Bem (2)
Em post anterior sobre este tema, referi que uma das ideias chave que me tinha cativado no pacote legislativo, aprovado pelo Governo para a área da saúde, era o do seu reposicionamento no SNS, designadamente pela decisão de extinguir os hospitais SA até ao final do ano transformando-os em EPE.
Hoje ao ler o editorial do Público de José Manuel Fernandes, intitulado Cosmética e Demagogia (não disponível on line) vejo que ele entende esta mudança como um acto governamental de mera propaganda apenas.
Não posso estar de acordo e vejamos as diferenças. Os hospitais SA regem-se pelo código das sociedades comerciais. Os hospitais EPE não são regidos por este código e, segundo o Conselho de Ministros, "estarão sujeitos a um regime rigoroso de serviço público a nível de orientações estratégicas, a exercer pelos Ministérios das Finanças e da Administração Pública e da Saúde". Não se está a qui a tratar de uma empresa, mas de entidades com um estatuto que lhes dá uma grande flexibilidade face aos hospitais do sector público administrativo, em termos de gestão de pessoal e das compras, exactamente aqueles domínios que no Estado se complexificam pelos procedimentos e trâmites reinantes (burocracia).
Uma excelente iniciativa governamental
Este governo decidiu e bem a limitação do tempo de mandato do eleito (autarquias, governos regionais e primeiros ministros). Pode ser discutível se o tempo indicado é ou não o mais indicado se não se deveria rever o tempo de mandato em alguns casos, etc. Tudo isto é muito secundário. Este governo decidiu sobre uma problema que se arrasta há anos. E como quem decide em definitivo é a Assembleia da República, esta pode e deve, se assim o entender, aperfeiçoar a iniciativa do governo. Mudanças da AR em nada desvaloriza a acção do governo. É preciso ir em frente e o governo deu o sinal de arranque.
Talvez desta vez comecemos a ter uma democracia melhor regulada.
2005-04-08
O Papa espectáculo e o Espectáculo do Papa
A RTP confessional.
A inaceitável omnipresença do Papa, por ocasião da sua morte, nos media do Estado laico, releva principalmente da política espectáculo do audiovisual, mas não deixa por isso de ser intolerável. Esperava-se que pelo menos a televisão do Estado, a RTP tivesse o decoro de ser nacional, pluralista e não se apresentar como uma antena do Vaticano.
Que diferença fará este totalitarismo dos media nacionais em torno da morte do chefe espiritual dos católicos da política de propaganda religiosa do antigo Estado talibã do Afeganistão ou da do Estado confessional do Irão.
João Paulo II
Quando morre alguém, pelo menos entre nós, a tradição leva os amigos a sublinhar o que na sua vida havia de melhor e até os estranhos se inibem de lembrar o que era mau. Mas o que tem estado em causa não é o Senhor Karol Wojtyla, natural de Cracóvia e que naturalmente merece o nosso respeito e em alguns aspectos admiração. Nem tão pouco a fé e a emoção dos (verdadeiros) crentes católicos. Mas do que se tem tratado no essencial é da política. Da política de João Paulo II e da sua influência por via religiosa e cultural. E da sua política o que é mais marcante é o seu carácter conservador e reaccionário.
Do seu Governo da Igreja o regresso ao centralismo autoritário, à imposição dogmática de um pensamento nalguns campos "medieval" como é o caso da segregação da mulher na Igreja e na sociedade (mulher procriadora, mulher em casa para criar os filhos), da recusa dos métodos anticoncepcionais, mormente o preservativo como protector da vida face à sida, contra a interrupção voluntária da gravidez, o estigma contra os homosexuais. Recriação de uma hierarquia conservadora na igreja com a selecção predominante de cardeais conservadores, repúdio e marginalização dos movimentos e ideias mais progressistas saídas do Concílio Vaticano II, o favorecimento de crendices e milagres, especialmente em torno das "Imaculadas Virgens Marias" e de Fátima.
Claro que nem tudo era reaccionário ou conservador em Karol Wojtyla. Também havia coisas boas na sua política, como a oposição à guerra, nomeadamente à do Iraque, a sua atitude contra o anti-semitismo e apaziguamento com os Judeus. E haveria ainda a sublinhar traços do seu carácter dignos do maior respeito, admiração e simpatia.
Mas o que as 24horas em 24 horas de televisão, particularmente imperdoável na pública e supostamente plural RTP, nos impingem tem muito pouco de análise imparcial e visão pluralista.
Apagão de Notícias ou o Grande Circo
- Olá! Então como é que te tens aguentado com a lavagem ao cérebro?
- Bem. Pus em prática uma política de minimização de riscos.
- ?
- Deixei de ligar a televisão.
- Mas... e as notícias?
- Comecei por ligar para os telejornais meia hora depois. Não resultava. Passei a ligar uma hora mais tarde, depois duas, depois três. Deixei de ligar.
O PSD em Congresso
O PSD começa, hoje, em Pombal mais um congresso em circunstâncias muito especiais.
Não sei se Santana Lopes será tido como o culpado de todo o desastre cujo episódio final é a grande derrota nas legislativas. Durão tem um quinhão bem grande em tudo. Só que fugiu nas europeias. Uma boa fuga!!!.
Se assim fôr o PSD não vai longe. Porque na realidade quer Durão quer Santana têm grandes culpas no cartório porque não foram capazes de delinear o caminho da governção quando o poder lhes caiu nos braços.
O PSD é um partido que não se reencontrou, um partido sem "identidade". Ainda hoje numa curta entrevista do DN aos dois candidatos, embora sobre temas bem delimitados, o aborto e as uniões gay, de comum só têm saber estrelar um ovo. Marques Mendes é contra tudo. Filipe Menezes aceita. Sobre uma pergunta se "o seu centro é de esquerda". Marques Mendes responde é de direita e Menezes afirma que é liberal no que toca à organização económica e social -democrata mas bem à esquerda nas questões sociais. E conclui dizendo que esta é a matriz do PSD. Parecem dirigentes de partidos diferentes.
Se a identidade o PSD não fôr alvo de debate, este congresso será apenas mais um no caminho da descaracterização e com a agravante de falta de um líder forte e de personalidade.
Stanislaw Zmija
...Este homem calçou João Paulo II , durante 23 anos, segundo li num jornal. Uma das minhas maiores alegrias, terá dito este sapateiro, era saber se o Papa entrou "no reino dos céus com os meus sapatos". O jornal penso que o Público apresentava a foto deste homem com uns sapatos castanhos claros na mão. O céu já não é o que nos ensinaram para lá se entrar de sapatos, nem o Papa calçava os sapatos que pensávamos. Bem será que o céu e o vaticano se uniram para mudar? Resta saber em que direcção.
A Saúde Mexe.... e Bem
O governo português tomou ontem, dia mundial da saúde, um pacote de medidas legislativas, no campo da saúde, que vão no bom sentido. Um conjunto de medidas estratégicas visando operar mudanças profundas em favor do cidadão e da economia e que a recoloca, de forma clara, sob a alçada do Estado.
A anunciada transformação dos hospitais SA em hospitais EPE (entidades públicas empresariais) é bem um exemplo desse reposicionamento. Mas o governo não se ficou por aqui. Foi criada a comissão para avaliação dos SA, presidida pelo Prof. Miguel Gouveia, um especialista em economia da saúde, com um mandato bem específico e que tem um prazo de 6 meses para apresentar resultados. Foi aprovada uma proposta de lei sobre a venda de fármacos, fora das farmácias, a enviar à AR cuja aprovação fica, assim, dependente da agenda parlamentar. O Ministro Correia de Campos abordou ainda a possibilidade das autarquias poderem participar no capital público dos novos hospitais. A concretizar-se trata-se de uma forma inovadora, muito influenciada pelos regimes de saúde nórdica e com aspectos positivos. Outra novidade é a de que os hospitais de ensino possam ser concessionados às Universidades.
Temos, pois, pacote e ideias claras. A sua implementação exige uma grande agilização com as Finanças e uma grande capacidade de negociação e diplomacia com os diversos actores que entram neste processo.
2005-04-07
As Remunerações da Administração na Banca Privada
Não se trata de uma visão global, mas de exemplos relativos aos três maiores bancos privados nacionais. Esta informação (com base no JN) reporta-se ao ano de 2004.
Exactamente neste ano, o BCP dispendeu a título de remuneração com os seus nove membros executivos do Conselho de Administração 31,323 milhões de euros, ou seja, em média, cada um receberia 3,48 milhões.
Naquele mesmo ano, a remuneração dos sete membros executivos da Administração do BPI totalizou 5,123 milhões de euros, ou seja, em média, cada um receberia 731 mil euros.
Em 2004, o BES dispendeu para remunerações dos seus treze membros executivos de Conselho de Administração 5,723 milhões, recebendo, em média, cada membro 440 mil euros.
Primeira nota. É de registar as grandes diferenças de vencimento entre os bancos mas certamente a distribuição entre pares não terá sido tão linear como a que se apresenta, pelo menos no que toca à presidência. Segunda nota. Certamente terá havido outros rendimentos não contabilizados em remunerações e que podem estreitar esta disparidade aparente de remunerações.
Berlusconi afunda-se
As eleições regionais, provincionais e municipais de Itália, realizadas em 3 e 4 de Abril foram avaliadas na imprensa italiana como um verdadeiro terramoto para o cavaliere Berlusconi.
O centro-esquerda ganhou 11 províncias e o bloco da direita 2.
Se estes resultados se mantivessem nas próximas eleições legislativas, daqui a um ano, em 2006, a União (bloco do centro-esquerda à Refundação Comunista de Fausto Bertinoti) chefiada por Prodi, venceria com uma maioria absoluta esmagadora o bloco da direita de Berlusconi (do centro direita aos pró-fascistas).
Os resultados inverteram-se relativamente à quatro anos.
Correr com Berlusconi é tanto uma desejável vitória política como um imperativo ético.
2005-04-06
Espanha, país irmão do... Brasil?
O perigo está à vista e Filipe Botton, o presidente do Conselho Empresarial da CPLP, lança o alerta.
O Brasil quer criar na península ibérica uma porta de entrada para os seus produtos na União Europeia e se Portugal não se despacha nem apresenta condições concorrenciais atractivas pois a Espanha aí está com Zapatero estreitando laços com a sua América Latina mas cada vez mais com o gigante brasileiro.
Em que cidade criar a base logística que os brasileiros pretendem com urgência? Em Portugal ou em Espanha? As propostas espanholas são aliciantes e Lula teve um excelente encontro com Zapatero.
O Público trata hoje o assunto com grande desenvolvimento em entrevista a Filipe Botton e num trabalho de Helena Pereira, Cristina Ferreira e Anabela Campos que sublinham a falta de estratégia dos sucessivos Governos em relação ao apoio à cooperação empresarial portuguesa com a CPLP e o contraste entre Espanha e Portugal na burocracia administrativa e atractivos ao investimento.
Temos poucas vantagens concorrenciais com Espanha e outros países mais avançados e poderosos que Portugal mas também não cuidamos de tirar partido das vantagens que temos em relação ao Brasil como em relação a toda a CPLP: a língua portuguesa, a presença de portugueses e o conhecimento privilegiado desses países pela nossa Administração, por empresários e trabalhadores portugueses.
Espanha, pois claro, investe no ensino do Espanhol no Brasil.
É a estratégia stupid!
Vá, Senhor Freitas do Amaral, vá Senhor Manuel Pinho, vá Senhor António Costa (Ref da Administração Pública), vá Senhor José Sócrates! É preciso recuperar o tempo perdido!
Virgens de risco
Um estudo feito pelas universidades de Columbia e de Yale, nos EUA, revelou que 88% dos adolescentes que se dizem virgens, têm uma vida sexual activa, embora sem penetração vaginal. Para preservar esta pseudo-virgindade, os jovens recorrem a práticas alternativas, como o sexo anal e o oral, sendo o uso do preservativo quase sempre esquecido.
Um comportamento que contribui para as taxas de doensas sexualmente transmissíveis mais altas.
Título e notícia de Filipa Moroso na Única do Expresso (pág 16) de 2005-04-02.
Ao que leva a o puritanismo religioso, a "religiosidade do povo americano", a cultura bushista da América.
Por cá as coisas eram mais ou menos assim durante o império da cultura católica, apostólica, romana, do Cardeal Cerejeira e do ditador Salazar, na primeira metade do século XX.
Até que enfim que há alguma coisa em que os dados se inverteram. Levamos meio século de avanço sobre os EUA.
Na homenagem a Barros Moura
Em 5 de Abril de 2005, na Biblioteca-Museu da
República e da Resistência, em Lisboa, foram apresentados depoimentos de amigos
seus. Aqui apresento-vos o meu testemunho mas podem ler ainda os de José
Manuel Correia Pinto e Mário Lino : (aqui Link)
[António Mendonça, José Barros Moura
e Raimundo Narciso, em Paris, em 1995)
Intervenção de Raimunde Narciso:
Nesta homenagem a um amigo, permitam-me que evoque dois momentos, que me
deixaram uma marca imperecível da grandeza de Barros Moura.
O primeiro foi quando nos conhecemos, na sede do Comité Central do PCP, em
1974. Regressava ele da Guiné-Bissau, oficial miliciano rodeado do prestígio
que lhe advinha da coragem e inteligência posta na luta contra a ditadura e lhe
valera a qualidade de membro da Coordenadora do Movimento dos Capitães que
libertou Portugal, em 25 de Abril de 1974.
Esse primeiro encontro evidenciou a argúcia política e uma larga visão do
momento revolucionário que empolgava o país, no homem que se batia
intransigentemente por um futuro melhor para Portugal, pelo fim do
colonialismo, pela superação dos estigmas obscurantistas da sociedade
portuguesa de então.
O segundo momento que gostaria de evocar ocorreu uns dias antes da operação a
que José Barros Moura se submeteu, dois meses antes de morrer.
Tínhamos ido à livraria Ler Devagar provar um vinho da lavra de Eurico de
Figueiredo e que ele achou por bem apresentar, em vez de um livro, como é
habitual. Naquela fase do evento em que, já cumpridos os rituais obrigatórios,
só nos resta participar na agitação das conversas com os amigos, o Zé propôs
que deixássemos o bulício e fossemos dar uma volta por aí?
Saímos para o Bairro Alto, deambulávamos pelas ruas sossegadas em conversa
amena, antes de irmos a um chá numa casa que expunha pintura, a gozar o momento
– julgava eu - quando Barros Moura me diz no meio de outros assuntos
"para a semana vou fazer uma cirurgia."
Ia a perguntar mas ele acrescentou que era coisa sem importância e mudou de assunto
tão rapidamente que só uns dias depois meditei na informação. Resolvi então
telefonar. A cirurgia "sem importância" era nem mais nem menos que a um cancro e ele sabia ser práticamente fatal. Quando telefonei já tinha feito aquela operação que tornou insofismável a aproximação
da morte.
O nosso relacionamento manteve-se ao longo dos anos mas estreitou-se no
processo de reavaliação da experiência histórica do comunismo que iria conduzir
à rotura com o PCP.
Nesse processo Barros Moura mostrou como a fidelidade aos ideais humanistas, a
procura da utopia sem se desligar da realidade, deve implicar a rotura com o
que ontem parecia justo mas a realidade desmentia.
As suas tomadas de posição públicas de grande frontalidade e seriedade
política, a sua reflexão sobre as grandes transformações que o mundo vivia com
o desmoronar do Muro de Berlim e o fim do comunismo, arrostando anátemas e
incompreensões, revelou a sua têmpera de lutador inteligente e político
íntegro.
Na sequência da rotura com o PCP em 1991 houve quem considerasse excessivo ter
renunciado ao mandato de Deputado do Parlamento Europeu e devolvido o lugar ao
partido, quando afinal na lista eleitoral o seu nome fora já uma bandeira. Mas
Barros Moura não queria que, num país como o nosso, onde os políticos, com
frequência injustamente, estão sob suspeita, restassem dúvidas de que era o
dinheiro que o movia.
Acrescentou com esse gesto o respeito dos Portugueses e enobreceu a classe
política.
Barros Moura um dos mais brilhantes deputados europeus e um especialista em
Direito do Trabalho, revelou na sua trajectória política e na sua vida
profissional qualidades que o tornaram uma figura de referência. Rigor,
Competência, capacidade de trabalho, combatividade, fidelidade a princípios.
Barros Moura teve um papel central no efémero movimento do INES (Instituto
Nacional de Estudos Sociais) criado em 1989/90 por ex-comunistas ou comunistas
em processo de afastamento do PCP, socialistas e pessoas de várias tendências
de esquerda que se reivindicavam do socialismo.
Nesse movimento que durou até ao início da desagregação da União Soviética,
participaram pessoas ilustres como Piteira Santos, José Saramago, Vital
Moreira, Veiga de Oliveira, José Manuel Correia Pinto, dirigentes da
Intersindical como José Luís Judas, Manuel Lopes, Calidás Barreto, indignes juristas como o professor Orlando de Carvalho ou Joaquim Gomes Canotilho.
Barros Moura foi igualmente com a sua reflexão política uma referência central
no movimento da Plataforma de Esquerda, de 1992 a 95. Movimento de busca de
novos caminhos para os objectivos de sempre: um futuro melhor, mais livre e
mais justo para os Portugueses, densificando os conceitos de Liberdade e
Democracia, não deixando que os sonhos de utopia frustrassem os ensinamentos da
modernidade.
Neste movimento em que se distinguiram, entre outros, José Luís Judas, Pina
Moura, António Graça, José Ernesto Oliveira, Mário Lino, António Teodoro, Mário
Vieira de Carvalho, Miguel Portas, Fernando Castro, Victor Neto, e muitos
outros, Barros Moura foi sempre uma voz indispensável.
Este movimento dividiu-se nas vésperas das eleições autárquicas de 1994 indo
uma parte aproximar-se e posteriormente aderir ao PS e outra parte constituir a
Política XXI que hoje integra o Bloco de Esquerda.
Barros Moura foi figura central da relação da Plataforma de Esquerda com o PS
nomeadamente no encontro com o seu Secretário Geral, Jorge Sampaio, num almoço
em sua casa e algum tempo depois com António Guterres, que lhe sucedeu no
cargo.
Em todas estas movimentações políticas pude testemunhar de perto as raras
qualidades humanas e políticas de Barros Moura que levaram o PS a convidá-lo e
a elegê-lo deputado do Parlamento Europeu nos anos de 1994 a 99 onde prestigiou
Portugal e o PS com o seu empenhado e distinto labor.
Também aí e posteriormente, como deputado e vice-presidente da direcção do
Grupo Parlamentar do PS, na Assembleia da República, na legislatura de 1999 a
2002, Barros Moura se revelou um parlamentar distinto.
Bem revelador do carácter de Barros Moura é a sua renúncia ao mandato de
Presidente da Assembleia Municipal de Felgueiras, quando não lhe pareceram
satisfatórias as respostas do executivo às acusações e suspeitas judiciais de corrupção de
que este era alvo.
A sua atitude vertical foi tomada por alguns como falta de solidariedade
partidária e veio-lhe a custar a sua participação na lista do PS, para as eleições legislativas de 2002, em lugar elegível.
A evolução dos acontecimentos veio dar-lhe razão mas a sua inesperada morte não
permitiu a continuação de uma brilhante carreira política que, estou certo,
voltaria a encontrar novas e estimulantes oportunidades.
Barros Moura, ainda no auge das suas capacidades, com muito para dar à
comunidade, soube enfrentar a chegada abrupta da morte com denodada coragem.
Desde o momento em que me inteirei do verdadeiro tipo de cirurgia que ele me
anunciara, como se falasse de algo banal, fiquei com a sensação que enquanto eu
julgava gozar em comunhão com ele aquela aprazível noite, no Bairro Alto, ele
talvez estivesse já a fazer o balanço da sua vida e a começar a despedir-se
dela.
Raimundo Narciso