2005-10-31
Faz amanhã 250 anos
"Amanheceu o dia, em que a Igreja celebrava a festa de Todos-os-Santos, que era em um sábado, sereno, o sol claro e o céu sem nuvem alguma. Pouco depois das nove horas e meia da manhã, ... correndo um pequeno vento nordeste, começou a terra a abalar com pulsação do centro para a superfície; e, aumentando o impulso, continuou a tremer, ...l com estragos dos edifícios, que ao segundo minuto... começaram a cair, ou a arruinar-se, não podendo os maiores resistir aos veementes movimentos da terra, e à sua continuação. Duraram estes, segundo as mais reguladas opiniões, seis para sete minutos fazendo neste espaço de tempo dois breves intervalos de remissão este grande terramoto. Em todo este tempo se ouviu um estrondo subterrâneo, por modo de trovão, quando... [
Continua, aqui, no Memórias]
2005-10-30
Direitas militarizadas
«Tem o meu apoie!»
À direita, Cavaco Silva, desmemoriado, enverga as vestes do tecnocrata que apenas quer o bem da pátria. Os unanimismos (no PSD) e as maiorias suadas (no CDS) demonstram que a cultura política da direita absorveu com facilidade as unicidades e os centralismos democráticos que ainda recentemente eram apontados como fraquezas concentracionárias das esquerdas. Na linha de Manuel Monteiro, que fazia política dizendo não ser, de facto, político, Cavaco Silva suscita o apoio hipócrita de todos os que, não há muito, o designavam por «Sr. Silva» e o ostracisavam por se ter recusado figurar nos cartazes do PSD na campanha das últimas legislativas.
Quando as direitas escondem as suas diferenças é porque o desespero ronda. Quer dizer que Cavaco Silva, apesar de proclamar o contrário, é o candidato que se apoia num conjunto de procedimentos opostos aos que são necessários para o aprofundamento da democracia: redução da dimensão cidadã pelo apelo à hipocrisia ideológica, ao apagamento da história, ao disfarce das diferenças e à supressão da discussão e do debate.
Ainda estamos a tempo.
Campanha de apoio à vítima
Apoio às vítimas
As esquerdas vêem-se assim repartidas pelas candidaturas tácticas de Jerónimo de Sousa e Francisco Louçã; pela candidatura que tem o apoio oficial do Partido Socialista; e pela candidatura de alguém que pactuou longamente com o soarismo até se tornar vítima desse tão perito republicanismo democrático e laico. É compreensível que conte com a simpatia de muitos dos que acham que as práticas políticas são passíveis de muitos e urgentes aperfeiçoamentos.
Amigos de Peniche
Amigos, amigos...
Soares afirmou publicamente apoiar Manuel Alegre no caso de este vir a candidatar-se. Mais tarde, deu o dito por não dito e, com o seu estilo perversamente bonacheirão, anunciou que se candidatava para Cavaco Silva não fazer das presidenciais um passeio na Avenida. Além de desrespeitoso para Alegre (o velho amigo) que levou, assim, com um atestado de insuficiência eleitoral pela troncha, mostrou que o seu estilo político continua a obedecer a princípios eminentemente privados.
Evitar as perguntas difíceis
Desmemórias
Soares marcou pontos ao recordar que Cavaco Silva é um político que diz ter nojo da política, mas está a receber a reforma do cargo político que ocupou durante dez anos e do qual se afastou misteriosamente. Se António Guterres tivesse sido candidato, deveria ter explicado a razão porque abandonou o navio da governação em 2001. Cavaco Silva está a ser dispensado de explicações de carácter semelhante. Porquê? Porque o nosso jornalismo político ainda não elaborou a lista das perguntas difíceis a fazer aos candidatos?
2005-10-28
MST e a Justiça
Miguel Sousa Tavares no Publico de hoje [link]"Democraticamente" absolvida nas urnas, como era de esperar, a D.ª Fátima Felgueiras está agora em vias de se ver alijada dos seus problemas judiciais, como também era de esperar... "Dei uma lição ao país!", exclamou ela, triunfante, na noite de 9 de Outubro. E deu mesmo.
O Tribunal da Relação de Guimarães liquidou, de facto, o processo de Fátima Felgueiras, mandando refazer o essencial da instrução
"... para a justiça portuguesa, a fórmula é tudo, a substância é um estorvo.
"... uma magistratura passou aqui um atestado de incompetência à outra... Mas, juntas e unidas nas suas lamentações, ambas as magistraturas estão em greve contra o "desprestígio" que o Governo lança sobre elas.
Parece que a redução das férias de Verão dos magistrados de dois para um mês e a supressão do regime especial de saúde de que beneficiavam, em troca do regime geral, afectam gravemente as "condições de independência" da classe e indiciam mesmo uma tentativa de controlo político sobre a justiça.
2. Preparada "durante um ano", ensaiada ao pormenor, de véspera e por mais de 60 pessoas envolvidas, a "mega-operação" "deflagra" sobre a banca cobriu-se de ridículo à nascença.
...Digamo-lo tranquilamente: num país a sério, o senhor procurador-geral e a senhora procuradora adjunta que dirigiu a operação teriam apresentado a sua demissão ou estariam demitidos no dia seguinte.
3. Nomeados pelo governo PSD, alguns administradores da CP e outros da Refer descobriram a fórmula genial de se porem ao abrigo das flutuações políticas e garantirem um emprego de futuro...
Mas eu aposto, infelizmente, que, por irregularidades processuais ou qualquer outro pretexto espúrio...as vítimas hão-de ver a razão ser-lhes reconhecida por algum tribunal e tudo isto há-de acabar na conta dos contribuintes. Salve-se, ao menos, o desabafo: que país sem vergonha!
As Presidenciais ...e a Esquerda
A situação não está (não é) fácil para a esquerda no seu conjunto. Não vamos chorar o passado. Os candidatos poderiam ser outros, certamente, não porque esteja em causa nenhuma das personalidades candidatas em si, mas porque, de facto, o povo português estava à espera de um outro figurino. A sucessão de acontecimentos não deu aso (mal em meu entender) a uma situação que fosse de encontro àquilo que o povo mais esperava.
Falando claro. Era necessário ter surgido atempadamente um candidato agregador, prestigiado, da confiança de vastos segmentos da esquerda e mobilizador da mesma. Este processo exigia tempo e a esquerda "acordou" tarde e teve de se socorrer do stock usado.
Neste contexto, continuo a não ter dúvidas sobre o melhor candidato à esquerda para uma segunda volta. Já aqui o referi várias vezes: Mário Soares.
Há de facto um trabalho enorme a desenvolver por todas as esquerdas para uma segunda volta e uma estratégia para se sair vitorioso nessa segunda volta. Há que valorizar os pontos comuns entre a esquerda (se os há), clarificar muito bem o modelo de desenvolviemnto económico e social para este país que se preconiza, uma postura bem clara de como enfrentar a crise, onde a questão do emprego e a forma de ser do Presidente, dentos dos limites constitucionais, são determinantes. Numa palavra, a esquerda plural em que se distingue entre si e em que se distingue do candidato que agrega a direita e que se esconde nos discursos sobre a crise económica, com um pendor de intervencionismo, embora o negando, nas esferas da governação e sem clarificar os modelos económico e social que defende.
É fundamental a "luta ideológica/clarificação" nestes domínios, até porque os argumentos do candidato federador da direita vão no sentido de que não há diferenças de modelo e que, quem sabe de economia nos seus pormenores, é que tem "as virtudes" para ser Presidente.
2005-10-27
Quem não se dá ao respeito...
Parece-me intolerável que um membro de um órgão de soberania minta. É inaceitável num regime democrático que o PR, um ministro, um deputado, um juiz, minta.
Por causa duma mentira Clinton ia sendo afastado da presidência dos EUA. E tratava-se de uma mentira para se defender de uma intolerável devassa da sua vida pessoal.
Ora hoje o presidente da associação sindical dos juizes veio mais uma vez às televisões, vitimado, jurar que é falso que a greve tenha por motivo a perda das tais regalias, de tão impopular defesa. Que não senhor, que é uma calúnia. A greve é motivada pelo ataque do Governo à independência da magistratura!
Esclareça então sobre que casos, ponto por ponto, nas várias reuniões que teve com o Ministro não foi possível chegar a acordo.
Foi sobre o código penal? Sobre o código do processo penal? Sobre a acção executiva? Sobre os poderes dos juizes nos tribunais? Sobre a reforma dos tribunais? Sobre o processo da Casa Pia? Sobre o processo da Moderna? Sobre o caso de Fátima Felgueiras? Sobre o processo do apito dourado?
Quem não se dá ao respeito não pode ser respeitado. E não se trata do porteiro. Trata-se do juiz.
O Discurso Certo no Lugar Errado
Hoje e amanhã decorre no Porto o congresso da Ordem dos Economistas. Para além dos problemas específicos dos economistas, o congresso analisa as grandes questões que afectam o país: a competitividade e o modelo de desenvolvimento.
Cavaco Silva, hoje também no Porto, apresentou o seu manifesto de candidatura à Presidência da República. Ouvi-o com atenção pela TV e senti-me numa secção do Congresso, onde estivessem em discussão as questões da economia portuguesa: competitividade e modelo de desenvolvimento. Tratou-se, não está em causa, de um diagnóstico extenso, detalhado em vários domínios, bem ensaiado em termos de leitura, que a grande maioria dos economistas subcreveria. Aliás, como primeiro ministro durante 10 anos e professor de economia não havia razões para não elaborar aquele discurso.
Só que Cavaco Silva não estava no Porto como candidato a Bastonário da Ordem.
A Cimeira Europeia de hoje
Como anunciado há bastante tempo, na cimeira europeia informal de hoje, um dos pontos fortes a tratar seria o modelo social europeu. No entanto, o debate tenderá a extravasar para questões menos "quentes" como a competitividade, os desafios da globalização e, eventualmente, o envelope financeiro.
De certeza, pouco se discutirá sobre o modelo social, porque toda a gente está na disposição de evitar a discussão de um tema dificil e pleno de melindre, até porque não há apenas um único modelo social existente na Europa.
Muitos economistas falam de cinco capitalismos no mundo. Assim, haverá, também, pelo menos cinco modelos sociais, pois a cada capitalismo é associado um modelo social. E na Europa não é diferente.
Daí que discutir este tema na Europa, onde claramente existem sistemas de previdência bem distintos, onde a pressão sobre estes sistemas é, presentemente, muito forte quer pela evolução demográfica (envelhecimento) quer pelo fraco crescimento da economia, se torne uma tarefa altamentedelicada. E a juntar a isto dá-se a situação de que alguns países (nórdicos) já empreenderam mudanças muito profundas neste domínio, como no modelo social democrata que choca quer com o modelo anglo-saxónico (mais de cariz liberal), quer com o modelo europeu continental e com o modelo mediterrânico onde Portugal se integra.
Este é de facto um tema quente. A discussão deve colocar-se antes a diferentes níveis, sendo o primeiro e principal o nível de cada país. Cada cidadão necessita de perceber porque razão "lhe estão a ir ao bolso". E até pode perceber e alinhar na sustentabilidade de um modelo social em que se ponha ênfase na redução da pobreza, na criação e ajuda à obtenção de emprego, no combate às desigualdades sociais, na maior dinâmica da economia do país.
Ora esta questão não tem sido debatida entre nós. Há uma falha de debate diferenciador entre modelos sociais relativamente, por exemplo, aos cortes orçamentais de Ferreira Leite e Teixeira dos Santos. É evidente que o equilíbrio das finnças públicas é necessário mas é um instrumento para se caminhar para onde? Qual o modelo social em perspectiva? E então é de questionar se não tem havido debate interno profundo como pode haver o debate europeu?!
Soares
Mário Soares na apresentação do manifesto eleitoral, no Hotel Rtitz, em 2005-10-25.
Do Público de ontem seleccionei:
"Resolvi candidatar-me. Porquê? Porque as circunstâncias mudaram. Os desafios - numa União Europeia à deriva e sem rumo seguro - tornaram-se mais perigosos.
Aproveitando o descontentamento provocado por medidas impopulares, mas necessárias, está a surgir à direita, batida nas urnas, um certo messianismo revanchista e vozes, com peso político, que reclamam abertamente a subversão do regime constitucional, utilizando para isso a eleição presidencial.
Sou a favor das mudanças racionais que a experiência torne necessárias. Não sou, nem nunca fui, situacionista. E também compreendo, com todo o realismo, que o modelo social português não pode abstrair do grau de desenvolvimento do país.
O Presidente da República (...) é ainda, por assim dizer, o "ouvidor" dos portugueses, assegurando a voz das minorias, dos mais fracos, dos desprotegidos e dos excluídos.
Tenho condições únicas para evitar a crispação política e a grande conflitualidade social. Todos os portugueses sabem que, comigo em Belém, podem dormir tranquilos, passe a expressão, quanto às suas liberdades, direitos, garantias e haveres.
Sou pela estabilidade com solidariedade e sem exclusão. Isto é muito importante. Se o prof. Cavaco Silva vier dizer que é por isto, felicito-o.
Eu estou habituado a más sondagens. Não deixei de ganhar algumas eleições por isso. Também perdi outras. Ganhar e perder é próprio da democracia.
O meu lema é que só é vencido quem desiste de lutar.
Um desígnio nacional importante é explicar aos portugueses que eles têm que fazer sacrifícios para haver sustentabilidade do nosso sistema social.
Eu sei que tenho um laço afectivo com o povo português, mas há as novas gerações que não conhecem o meu passado. Quero discutir com os jovens, percebê-los, explicar as minhas ideias.
Vou percorrer o país inteiro a falar com pessoas, em pequenos e grandes grupos (...). Uma campanha de esclarecimento e de debate, mas também de afectos.
Para mim, o Presidente Bush não é um demónio. É apenas um Presidente da República que não tem servido bem os interesses dos Estados Unidos da América. É legítimo, não me fica mal, não vou destoar de 60 por cento dos americanos.
Perda de direitos adquiridos na REFER e na CP
Isto disse eu há tempos, quando o escândalo rebentou. Escândalo é talvez excessivo. Habitual e justa combinação! - para qualificar de acordo com as vivências no meio.
Ora Braamcamp Sobral um dos "perseguidos" tem toda a razão. Eram direitos adquiridos!
O presidente do Conselho de administração da REFER veio já pelo menos duas vezes à televisão explicar que o ministro é "mentiroso", "o ministro não deve estar mas é bom da cabeça". "O ministro julga que está no PREC" ( para a juventude: PREC=processo revolucionário em curso, na gíria do "verão quente", em 1975), "o ministro se calhar pensa que está a escrever no Avante". Que emendaram a mão e depois "estava tudo legal". Cito de memória.
Realmente é um despautério. Estas coisas faziam-se, era um direito adquirido. Se ainda o dinheiro fosse do ministro! Mas não, o dinheiro é do Estado, não é de ninguém. "Isto não fica assim". Vai com certeza recorrer ou mexer-se!
2005-10-26
Para lá do bom senso
António Cluny (SMMP) foi ontem a Genebra entregar ao relator especial das Nações Unidas para a Independêndcia do Poder Judicial e da Advocacia uma carta a "explicar" os perigos que a independência do poder judicial corre em Portugal. Nâo é uma anedota é a realidade!
A associação sindical dos Juizes e o sindicato dos magistrados do MP, num acto insensato, quiseram tornar bem visível no estrangeiro a forma indigna como se têm comportado e a falta de sentido de Estado que devia acudir a membros de um órgão de soberania, ao justificar uma greve que podiam (mas não deviam) fazer com uma ignóbil mentira a de que a fazem por o Governo cercear a independência das magistraturas quando todos sabem que é porque os senhores magistrados intransigentemente se recusam a aceitar o corte de alguns (de momento) excessivos, ou injustificáveis privilégios, como já sucedeu com os deputados que já perderam a pensão vitalícia, os ministros que perderam a acumulação de pensões e regimes especiais de saúde, ou os generais (perda nos regimes especiais de saúde) ou administradores de institutos e empresas públicas.
As remunerações dos Juizes
Os Juizes e os magistrados do MP têm para além da remuneração base, tal como os deputados, ministros, PR, administradores de empresas públicas várias outras remunerações acessórias que elevará, como àqueles o vencimento base em uns 40 ou 50%.
Até à primeira metade dos anos oitenta a sua remuneração era idêntica à dos professores universitários e aos oficiais generais. Mas depois Cavaco cedendo às pressões dos juizes atirou com a sua remuneração lá para cima o que se tornou motivo de queixa (em surdina) dos oficiais das FFAA cujo lóbi foi perdendo poder em relação ao daqueles (Valores obtidos no
Câmara Corporativa)
Os Juizes portugueses vão à frente"
Os Juizes não são, em Portugal, os maus da fita, nem têm remunerações escandalosamente altas. Ninguém contesta os vencimentos dos Juizes ou dos magistrados do Ministério Público. Mas não têm razão de queixa. No contexto da Europa parece que estão na linha da frente. Parabéns.
Comparando as remunerações brutas dos juizes em cada país da Europa com os salários brutos médios do respectivo país os juizes portugueses (e os magistrados do MP) têm os vencimentos relativos maiores da Europa como se pode ver neste quadro obtido a partir do blog
Câmara Corporativa cuja fonte é a CEPEJ, criada pelo Comité de Ministros da Conselho da Europa em 2002".[
link em inglês,
link em francês]
Assim um juiz português tem uma remuneração (bruta e sem incluir outras remunerações acessórias) que é 4 a 9,7 vezes maior que a remuneração média dos portugueses.
Repartições de Finanças não dominam Questões Fiscais
Um teste feito pela DECO junto de 126 repartições de finanças permite concluir que a maioria dos funcionários não se econtra preparada para responder a dúvidas fiscais das mais comuns, porque as respostas dadas estavam, na sua maioria, erradas ou então a demora da resposta era muito longa.
Os resultados do teste merecem uma reflexão profunda e é de se interrogar. Que critérios presidiram à admissão destas pessoas, porque se vê nas repartições muita gente nova? E que formação é dada a estes trabalhadores para os tornar aptos?
Uma situação destas só é prejudicial ao cidadão, às empresas, à economia do país e não contribui para o prestígio e boa imagem do País.
Orçamento do Sector Saúde
A gestão do sector saúde, em Portugal, desde há muito tempo, é um caos. Para além da sistemática suborçamentação, a gestão no passado tem sido tudo menos transparente e exercida de forma bem amadora.
Difícil pois a tarefa de Correia de Campos para pôr ordem no sector. Um primeiro passo está dado. Foi instituída a transparência com a reposição da verdadeira situação das contas do sector. Não sou eu que o digo. Neste aspecto, todas as bancadas parlamentares elogiaram ontem na discussão do Orçamento na Assembleia este esforço de pôr na mesa a verdade das contas da equipa de Correia de Campos .
Apesar disto as medidas para "revolucionar" o sector são complexas. Para além das políticas há quer encontrar equipas de gestão e de uma gestão profissional, sem o que a prazo (e é de um problema a prazo a mudança) os progressos não cheguem.
Um défice acumulado no final de 2006 de 1 100 milhões de Euros e milhões de Euros não cobrados de serviços prestados (cerca de 238 milhões) e, por conseguinte, não pagos é obra, que urge atalhar sob pena do "Estado Social " que se ambiciona, comecar, de todo em todo, a estar cada vez mais lá muito longe....
De homem para homem (4)
Cortesia de Piero Pompini/World Focus, do site italiano da War News
As novas tendências que justificam a relativização dos direitos com um entendimento enviezado e curto da austeridade, esforçam-se por diluir, no seu tacticismo imediatista, as fronteiras entre o respeito pelos direitos e a necessidade de adaptá-los às exigências dos novos tempos.
A história de Toko e Likola fornecem uma excelente oportunidade de reflexão. Se a civilização se consolida e humaniza com o reconhecimento de direitos inalienáveis, não devemos deixar passar em claro o nosso protesto e oposição às simplificações que se vão acumulando.
Sem direitos, fica-se à mercê de qualquer despotismo. Gigantes ou pigmeus, brancos, amarelos, negros ou vermelhos, perdemos, com os direitos, a razão fundamental pela qual aprendemos a respeitar-nos uns aos outros. Passado o limite, não há civilização que valha!
Adenda
Os postes, ao fim e ao cabo, pertencem a quem os torna melhores. O João Tunes, Blogger com créditos firmados (já vai no Água Lisa 4, depois de preencher até ao limite o saudoso Bota-Acima), ao ler esta série, tornou-a muito melhor (aqui). Agradeço-lhe a referência, é claro, mas aconselho sobretudo a leitura do seu poste acerca da Rosa Parks (aqui). Advirto os curiosos de que se trata de um registo coloquial bem acrisolado, que provoca dependência. Lê-se e, depois, volta-se lá repetidamente. Como diria o Rodrigues Guedes de Carvalho, «É a vida!».
De homem para homem (3)
Cortesia de Piero Pompini/World Focus, do site italiano da War News
Suponho que qualquer pigmeu que visite Edimburgo, nos dias que correm, não despertará muito mais que uma compreensível curiosidade pelo acentuado contraste da sua altura com as estaturas da maioria dos escoceses. Com excepção de alguns eventuais empedernidos racistas, ninguém os culparia pela morte dos animais de criação ou pelas más colheitas desse ano. Dir-se-ia que as coisas melhoraram muito. Ganhámos (os pigmeus e nós) o direito (fundamental) de sermos considerados em pé de igualdade com todos os outros homens e mulheres do mundo inteiro.
Deixámos de ser considerados apenas como portadores de algo que os poderosos julgavam perdido. E isso, por escasso que pareça, constitui, quase sempre, uma vantagem.
De homem para homem (2)
Cortesia de Piero Pompini/World Focus, do site italiano da War News
O olhar mais atento (menos acorrentado aos preconceitos científicos da época) do Dr. Jamie Dodd, discerniu nos comportamentos de Toko e Likola (que eram os nomes dos dois pigmeus) características claramente humanas, apesar das diferenças culturais que dificultavam a comunicação e o interconhecimento. A partir daí, os três amigos desavêm-se, atraiçoam-se, e o desfecho é trágico. Toko acaba por ser abatido, e Likola, grávida, regressará à sua comunidade de origem. Isto de os mais poderosos andarem à procura de algo que julgam perdido, supondo que somos nós os possuidores de tal coisa, torna-se sempre muito complicado. Geralmente começam por nos não reconhecer quaisquer direitos. E, desse jeito, a história acaba invariavelmente mal.
De homem para homem (1)
Cortesia de Piero Pompini/World Focus, do site italiano da War News
Não vai muito tempo (estávamos em 1870) o Dr. Jamie Dodd levou para a Escócia um casal de pigmeus capturados durante uma das suas expedições a África. Para ele, e para os seus associados, - os antropólogos Fraser e Alexander, - tratava-se de um grande feito científico, pois acreditavam que aqueles hominídeos correspondiam ao famoso «elo perdido» na transformação evolutiva que teria levado do macaco ao homem. As peripécias correlacionadas entram na tessitura do filme de Régis Wargnier, Man to Man, - De homem para homem, na tradução portuguesa (nas salas).
Depois das observações da praxe, instalou-se a dúvida: se já não eram macacos e não podiam ser ainda considerados homens, como classificá-los? Entretanto, começaram a exibi-los em público, primeiro nas Academias e depois no Jardim Zoológico. Eram tratados como trofeus (do conhecimento e da superioridade imperiais) trazidos de África, seres vivos, sim, mas não-humanos e, portanto, sem quaisquer direitos.
2005-10-25
"No fio da Navalha"
Mais assustador que a gripe das aves talvez só o prognóstico de Medina Carreira, hoje no público, com aquele título. [link só para assinantes]
A conclusão é a de que o país está ingovernável e caminha para o precipício.
Falar verdade e criar um consenso nacional para a aceitação de medidas drásticas muito para além das medidas de contenção orçamental postas em prática por este Governo parece ser o remédio que propôe.
Os dados que alinha são pesados e desanimadores mas resta-nos o quê? Um presidente "forte" num regime tornado presidencialista sem revisão da Constituição à maneira truculenta de Nuno Morais Sarmento?
É imprescindível, como diz MC, falar verdade e em torno desta criar um consenso nacional para as medidas necessárias. Estas e os objectivos que se pretendem atingir com elas têm de ser bem explicadas e os sacrifícios distribuídos equitativamente.
Não me parece que o perfil "financeiro" e autoritário de Cavaco possa ajudar.
Talvez Mário Soares possa dar uma boa contribuição. Sem excessivas rupturas. Como afirmou hoje no seu Manifesto.
Bode espiatório
Hoje foi o presidente da Associação Nacional de Municípios, Fernando Ruas, a reivindicar para si o cobiçado atributo de "bode espiatório".
Ruas acha que não é menos "bode espiatório" que os juizes, os polícias, os militares, os professores, os funcionários públicos em geral.
"O Governo está a fazer dos autarcas os bodes espiatórios"!
Fátima Felgueiras... absolvida
Ainda não mas a coisa começa a ter pés para andar. Se o povo já a absolveu!
"O Tribunal da Relação de Guimarães anulou, ontem, um conjunto de provas contra Fátima Felgueiras, acusada da prática de 23 crimes no âmbito do processo do alegado "saco azul" da Câmara de Felgueiras. Os juízes desembargadores consideraram como nulas algumas escutas telefónicas - entre as quais se incluem conversas entre a autarca e o juiz - conselheiro Joaquim Almeida Lopes - assim como as declarações prestadas na Polícia Judiciária por três ex-colaboradores. Caberá agora a um juiz reformular o despacho de pronúncia.
Todos os cenários estão em aberto [sublinho eu] quanto ao futuro do processo. O julgamento, marcado para 30 de Outubro, deverá ser adiado."
[DN aqui]
Alarme falso
Diz Vital Moreira no seu blog:
"Com chamada de 1ª página, o Diário de Notícias de hoje proclama que os «partidos permitem que autarcas mantenham privilégios até 2009» (notícia que ecoou noutros media).
"Mas não é assim". (Porquê? Ver Causa Nossa)
Canotilho defende revisão profunda da Constituição
"Eu penso que há problemas de organização do poder político, - diz o constitucionalista no Público de 2005-10-23.- mas que não são estes que são agitados"
"É preciso aprofundar a ideia da transparência das instituições, introduzir esquemas de combate eficaz à corrupção. É todo um conjunto de esquemas que hoje fazem parte da chamada "excelência da governação" que não está a ser introduzida no país"
"É um controlo que está a ser experimentado em tudo, que as empresas privadas têm, que está em curso nas Universidades, mas que devia ser alargado a todos os sectores do Estado, inclusive do Governo".
"O engenheiro Sócrates anda a dizer que ele próprio devia ser avaliado [enquanto primeiro-ministro], mas isso deve ser feito com esquemas mais profundos, mais institucionais e formais".
Em termos de avaliação e responsabilidade no sistema actual, dá como exemplo o sector da Justiça:
"O juiz presta contas a alguém? E o procurador? Quem é que responde perante o povo".
"temos de inovar, introduzindo um sistema de perguntas que há no sistema americano. Cá está uma dimensão presidencialista".
No próprio aparelho de Estado, Gomes Canotilho considera - diz a entrevistadora - que é preciso mexer tanto a nível central como local e regional, desde o regime de financiamento das autarquias aos objectivos do Conselho de Estado.
"O Parlamento não precisa de um staff melhor para exercer as suas funções de controlo, mesmo que seja à custa da diminuição do número de deputados
"Tudo o que se tem falado para Portugal [como p.ex. o PR presidir ao conselho de ministros] está testado na França e as conclusões muitas vezes vão em sentido contrário às que estão a ser agitadas na imprensa portuguesa"
"É precisamente o problema do regime francês, onde o PR tem esse poder, bem como o de dinamizar duas pastas, (as política externa e a segurança e defesa), o que tem dado imensos problemas de coabitação"
2005-10-24
Câmara Corporativa - um blog a visitar
Trata-se de um blog
[link] aparentemente de juizes com posições contrárias à da Associação Sindical. A informação é muita e relevante por vir de meios que em geral o público não frequenta. Como nele o contraditório é muito activo através dos comentários pode o cidadão futrica observar posições contrárias e espreitar a convivialidade "judicial".
Não é possível saber quem são os anónimos que comentam. Nem todos são magistrados, mas o conhecimento do meio e os interesses que revelam consentem a conclusão de que muitos o serão. A linguagem de alguns opositores é soez, a argumentação reles, as acusações infamantes, o ambiente malsão. Parece vir de magistrados. Custa a crer. Recuso-me a crer. Senão teria de crer que são pessoas daquelas que têm o poder de nos julgar. Poder não escrutinável, poder que não prestas contas a ninguém. A ninguém!
Caso Fátima Felgueiras
Caso Fátima Felgueira, exemplo da "deficientíssima" investigação e da maior ineficácia da magistratura pública.
O processo, neste momento, voltou à estaca zero.
Imaginem que um médico, depois de operar um doente, é contestado porque as bases que o levou a operar não serão aquelas. Tudo anulado. O diagnóstico não é aquele. É preciso voltar ao princípio para encontrar as raizes da questão.
Comentários dispensam-se.
Como se avalia o desempenho desta gente que reage a ser avaliada?
Farsa
O presidente da Associação Sindical dos Juizes, Batista Coelho foi agora aos telejornais insistir na patranha dos atentados do Governo à independência dos tribunais como justificação para a greve dos juízes convocada para a próxima 4ª e 5ª feira.
Quanto mais "explica" mais se desprestigia, a si, à Associação Sindical e consequentemente a toda a magistratura judicial.
O povo à conversa
- Tá! Tá lá? Tão-me a ouvir?
- Sim, sim, estamos a ouvi-lo. Fale faz favor.
- Ah! Tá bem. Bom dia Srª Eduarda Maio. Queria dizer que sou um ouvinte da Antena Aberta e dou-lhe os parabéns pelo seu programa.
- Muito bem, vamos então ao tema de hoje.
- Sim Sr. vamos então ao tema mas não queria deixar de cumprimentar todos os senhores ouvintes. Bem sobre o vírus das aves... bem no fundo o que eu queria dizer é o seguinte eu sou distribuidor de café e oiço a rádio todo o dia, vou ouvindo as notícias...
- Vamos então ao assunto.
-Bom é sobre o assunto, oiço todo o dia as notícias das aves e o que tenho a dizer é que assim não sei onde é que isto vai parar...
- Muito obrigado Senhor Martins
- mas eu queria aind...
- Vou passar à Srª Odete Santos professora primária de Alcotim. Faça o favor Srª D. Odete.
- Muito obrigado Srª Drª Eduarda Maio. Estou muito preocupada com isto do vírus das aves. Eu tenho um canário que deixava sempre à janela e agora estou com medo...
- O nosso tema é mais a gripe das aves e o perigo da pandemia...
- Claro é isso mesmo por isso é que não sei se o vírus também pode atingir as aves caseiras, e por causa das correntes de ar puz um cobert...
- Com certeza, Srº D. Odete muito obrigado mas estamos a ficar perto do noticiário das 10 e dou a palavra ao Sr. Dr. Carlos Antunes historiador, da Amadora. Faça o favor Sr. Dr.
- Muito bom dia Srª Eduarda Maio e senhores telespectadores, ai desculpe, queria dizer senhores ouvintes. Sobre o enorme perigo que a propagação do vírus wx15rv está a provocar queria lembrar um caso que se passou com a doença dos bovinos, a encefalopatia espongiforme bovina, mais conhecida pela doença das vacas loucas e que quando se transmite aos humanos se denomina Creutzfelt-Jacob.
- Com certeza Sr. DR. mas estamos com pouco tempo pedia-lhe que resumisse e fosse directo ao assunto.
- Ah peço desculpa, com certeza. Ora ia eu dizendo. A gripe das aves não deve assustar assim tanto porque... só para para acabar o raciocínio... a doença das vacas loucas que ao contrário do que se diz foi descoberta na 1ª guerra mundial porque dada a falta de feno começaram a dar a carne das vacas mortas aos bois o que os transformava em antropófa...
- Peço desculpa mas o tempo... estamos sem tempo. Por favor Sr. Amélia Santos, doméstica, do Cartaxo, tem a palavra. O tema é a gripe das aves e vá por favor directa ao assunto... Faça o Favor.
- Está, estão-me a ouvir?
- Estamos a ouvi-la mas tem de desligar o rádio por causa da interferência.
- Da interferência? Mas assim não oiço...
- Mas tem de desligar para se ouvir bem
- Com certeza Srª Eduarda Maio. Vou directa ao tema. Já sei que há pouco tempo. Começo por dizer que gostei muito do que disse o Sr. Dr. que falou antes de mim, Acho que era Sr. Dr.?... Bem é que eu sou vegetariana e agora estão a matar os bichos todos. É uma carnificina. Pobres das aves que não tem culpa nenhuma. E não é só isso. O que é que as pessoas agora vão comer. Sim porque não são vegetarianas. Sem carne ainda se viram para nós e sei lá ainda nos comem a nós...
- Estamos quase no sinal horário, peço desculpa, tem a palavra o Sr. Jerónimo da Silva, empregado do comércio, de Sacavém.
- Bom dia Srª Eduarda Maia, muito obrigado por me dar a palavra o que eu queria dizer é muito simples, isto da impedemia das aves, até li hoje no jornal o caso do papagaio no Reino Unido, mas isso é lá para China ou coisa assim, a culpa é do Governo, porque não tomou medidas, os outros governos já tomaram medidas e só o nosso é que não...
- Sr. Jerónimo seja sucinto e cinja-se ao tema do Canal Aberto, por favor.
- Por favor não me interrompa, Srª Eduarda Maia, só queria dizer o seguinte o perigo do vírus , esse vírus que para aí todos falam, falam falam e não falam no que é preciso eu voto no professor Cavac...
- Peço muita desculpa mas o Sr está a fugir ao tema e eu não poss..
- desculpe não estou nada a fugir o profess...
-Tenho de lhe cortar a palavra está em cima do sinal horári...
Piiii, piii, pip!
Oh Nelson você é mesmo brasileiro não é?
- ?
- E o referendo agora no Brasil aprovou a continuação da liberalização do uso indiviual de armas, logo você deve ter aí uma pistola ou um rev...
- Claro que tenho. Oh, tenho aqui um P-188 que é uma limpeza.
- Então faça-me um favor, dê-me aí um tiro no rádio, mas em cheio, se faz favor.
2005-10-23
Os pássaros (4)
Temos, assim, aves migratórias potenciais portadoras de uma estirpe de vírus altamente perigosa; uma pandemia em perspectiva; o aumento do desemprego; e uma associação sombria entre ameaças (contágio dos humanos pelas aves, extinção de mais postos de trabalho) e flagelos (pandemia e desemprego). Nada de novo. Ciclicamente, as pandemias originadas pela influenza, e o desemprego motivado pelo abrandamento da actividade económica, revezam-se para nos infernizar a vida. Porém, tal como os referidos filmes de Hitchcock e Gavras aludem, depois de as aves sobreviventes levantarem voo e seguirem as suas rotas migratórias, contam-se as que jazem por terra; depois das pandemias, as estatísticas informam acerca das grandezas dos estragos; porém, quanto ao desemprego, não há maneira de calcular a devastação humana que provoca. Costa Gavras ensaia uma aproximação burlesca. Torna-se interessante apenas porque fica entalado entre o desespero, o suicídio e homicídios impunes.
É a natureza, justificam uns; é o mercado, clamam outros. E devem ter razão. Os sobreviventes só têm que ir contando as baixas.
Os pássaros (3)
Antes de qualquer pandemia, os cuidados profilácticos que rodeiam as medidas que vão sendo tomadas, poderão ter como consequência o aumento do desemprego. Milhares de postos de trabalho relacionados com a criação, transporte e venda de aves, estão em risco. Talvez nunca mais voltemos a olhar as aves com a mesma despreocupação prazenteira. Isto porque o desemprego pode igualmente gerar serial killers espantosos. De Hitchcock e do seu filme «Os Pássaros», para Costa Gavras, com a sua última película, «Le Couperet» (nos cinemas de cá traduzida por «Golpe a golpe» ) somos colocados perante um quadro médio que enfrenta a condição de desempregado como uma guerra de morte contra os seus concorrentes de sector. Assim, o pior que há nos pássaros alia-se ao pior que poderá haver no desemprego. Mortalmente, em ambos os casos. Tudo isto, é claro, enquanto discutimos acerca da próxima pandemia.
Os pássaros (2)
... não é novo. Já Hitchcock nos tinha alertado, lá pelos idos de 1963, que as avezinhas, de aparência inofensiva, simbolizadoras da paz e dos ambientes bucólicos, podem subitamente tornar-se uma ameaça letal. O seu filme The birds tratava exactamente disso. As aves vão-se tornando ameaçadoras. Agrupam-se e atacam os humanos, em enormes bandos, numa fúria inexplicavelmente assassina. Já então, dada a irracionalidade que projectamos nas outras espécies terráqueas, tentávamos adivinhar a causa. Na sua inocência original, as aves não poderiam senão ser vectores de algo. De uma raiva primordial? De uma vingança irada contra os consumidores de aves?
Os pássaros (1)
Vêm dos confins do planeta, fazem escala ali para os lados do Samouco, nos aluviões do Tejo e, sob a aparência pacífica e uma espécie de serenidade que a capacidade de planar lhes empresta, constituem uma ameaça terrível: podem ser portadores da estirpe viral H5N1. Por interpostas e mediatizadas razões, associaram-se às manchetes dos jornais e revistas, à abertura dos telejornais, conquistando um lugar nobre em todos os alinhamentos das redacções. Mobilizaram ministros e directores gerais, comentadores políticos, biólogos, ornitologistas, veterinários, empresas da indústria farmacêutica, especialistas em comunicação, higienistas, polícias, realizadores de cinema et j’en passe. Não podem ser considerados propriamente culpados. São vectores do vírus, mas isso...
Vai uma aposta
em como a mega-investigação aos bancos ficará em águas de bacalhau?
Estes é que são os verdadeiramente poderosos, não são aqueles que estão acusados no processo da Casa Pia. Aqui as coisas fiam mais fino.
Estou com o Ricardo Salgado. Pode ter havido alguns deslises mas fuga fiscal, lavagem de dinheiro, aos milhares de milhões não.
Souto Moura foi peremptório "o Ministério Público procederá criminalmente contra as grosseiras violações do segredo de justiça que lamentavelmente e mais uma vez se verificaram à roda deste caso."
Agora Cândida Almeida, directora do DCIAP, revela no DN
[aqui] que "foi o Ministério Público que revelou [por lapso] ao Banco Espírito Santo a identidade das demais entidades bancárias que estavam sob investigação por indícios de evasão fiscal, fraude fiscal e falsificação de documentos.
O aviso foi dado na 2ª feira passada e o BCP, o BPN e o Finibanco iam ser alvos de buscas ao longo da semana, bem a tempo de limparem a casa."
Incuria, negligência, amadorismo? Com justiça a sério alguém acabaria na cadeia. Mas em que país estamos? Naquele país em que um director da PJ informa, através do DN, a Universidade Moderna (com Paulo Portas à pega) que limpe a casa pois a sua polícia vai lá investigá-la daí a uns dias. Fernando Negrão foi preso? Foi eleito deputado e escolhido para ministro pelo governo do PSD e do CDS/PP.
2005-10-21
Raríssima a...
unanimidade na Assembleia da República. Para duas coisas boas: Transformar a Região
Autónoma da Madeira em um único círculo eleitoral em vez dos actuais 11, melhorando a proporcionalidade. Reduzir o número de deputados de 68 para 47. Economizando no orçamento sem prejuizo político.
Assim enquanto cada 1 dos 230 deputados nacionais representa em média cerca de 43 mil cidadãos, na Madeira, agora, 1 deputado regional passa a representar cerca de 5.000 madeirenses.
Talvez chegassem 180 deputados no país e 25 deputados na Madeira, no paraíso, aqui em baixo.
Cavaco a Belém. E... a S. Bento!
A direita portuguesa julga possuir o "direito natural" a governar. Algo imanente à sua condição. Tendo perdido a oportunidade nas legislativas quer ganhá-las nas presidenciais.
A Constituição não o permite, no entanto... tendo em conta a grave crise económica e social que se vive, um presidente "forte" pode encontrar terreno fértil para tripudiar sobre a Constituição e forçar os portões de S. Bento.
Ninguém de boa fé vê o Professor a meditar em Belém sobre o futuro de Portugal e a cingir-se constitucionalmente a um magistério de influência. Ele quiz passar essa mensagem de tranquilização ontem no CCB. Se fosse um desconhecido ter-me-ia impressionado favoravelmente. Só que a sua cara, a sua figura hirta, o seu estilo, trouxe-me à memória a indisfarsada imagem do 1º ministro que conhecemos durante dez anos.
Apesar da bem estudada mensagem, ela traía sibilinamente a sua incontível vontade de "ajudar" o Governo a governar. A governar bem. Mas governar bem para quem? E aí não serão as suas palavras que convencerão (a mesnos que do seu passado se tivesse em tempo demarcado) mas os seus actos durante uma década: governar bem intransigentemente para os poderosos.
Seis grandes pensamentos de Cavaco Silva
Estes seis grandes pensamentos de Cavaco Silva foram retirados do seu discurso de ontem. Imitando o autor António Feio eis os seis pensamentos bomba, lançados a este país:
Não me candidato para satisfazer uma ambição pessoal. Candidato-me porque tenho orgulho de ser português: Francisco Louçã, Jerónimo de Sousa, Mário Soares e Manuel Alegre são uns frustrados na sua pátria, uns vendidos a Marrocos .
O meu compromisso é exclusivamente com Portugal, com o bem dos portugueses, de todos os portugueses. Pergunta-se: quem assina pelo lado de todos os portugueses esse contrato. Eu não delego.
Candidato-me como homem livre. Louçã, Jerónimo, Alegre e Soares candidatam-se em cativeiro .
Conheço bem as dificuldades que se colocam a qualquer governo em tempos de mudança. Para quem foi dez anos primeiro ministro de Portugal, esta tese de doutoramento, em regime de avaliação permanente, teve mais bolas pretas do que brancas. Cavaco avalia não se deixa avaliar.
Não prescindo do poder que a Constituição me dá para dissolver o parlamento ou demitir o governo. Que grande golpe de asa!!!
Portugal precisa de estabilidade política para resolver os graves problemas. Um pensamento deveras profundo.
Buscas policiais estendem-se....
Lendo as notícias de hoje, alarga-se o espaço das suspeitas de cumplicidade. As autoridades policiais, diz o Público, "suspeitam que haja escritórios de advogados cúmplices de muitos dos negócios de fraude fiscal e de branqueamento de capitais agora sob investigação". E refere também que o valor de 2200 milhões de Euros em investigação - que ontem noticiou - pode vir a aumentar.
A Primeira Grande Inverdade
Cavaco quebrou o Tabu. Quebrou é uma maneira de dizer. Fez render o "peixe" antes de vir à TV anunciar aquilo que, desde algum tempo, toda a gente sabia e a comunicação social ia alimentando. Até os mandatários já eram conhecidos. O que faltava mesmo era conhecerem-se os trapinhos que o candidato Cavaco e seus acompanhantes iriam usar no dito dia.
Mas Cavaco para além do "refrão" da estabilidade (não sei se se referia às manifestações da Ponte 25 de Abril) deu-nos uma novidade. Eu sou um CANDIDATO NÃO POLítICO.
Cavaco Silva, com este conceito, estará a dizer que deita fora a sua experiência de 10 anos como primeiro Ministro, todos os anos como Presidente do PSD, a experiência da sua candidatura fracassada a Belém e estes últimos 10 anos da sua vida em que andou por todos os meios a preparar a candidatura que ontem consumou, com toda a legitimidade? Se isto não é ser político!!. Pergunta-se, mas ser político é mau, apesar da mediocridade da grande maioria dos políticos? Ou será que se quer "diferenciar" com esta Inverdade e uma veste de salvador? O Homem com o desígnio de endireitar as Finanças do País.
2005-10-20
Código de Ética
Foi distribuida hoje com alguma imprensa económica, uma brochura intitulada "Código de Ética dos empresários e gestores". Nada mais a propósito nos tempos que correm.
Esta brochura, editada pela ACEGE - associação cristã de empresários e gestores - é bem apresentável, lê-se bem e até se concorda em quase tudo. É tão genérica que dá para tudo em termos de acordo. Em termos da sua prática, parece-me que a maioria dos empresários cristãos e os outros porá esta elegante brochura na prateleira para a esquecer.
Vou justificar a afirmação do parágrafo anterior. Do capítulo mais substancial do código, mais substancial em páginas da brochura e conteúdo "Obrigações Éticas na Acção Empresarial" citarei apenas algumas passagens do ponto 2.1 - Funcionamento da economia de mercado:
cumprir com respeito as leis do país onde a empresa opera.
respeitar os são princípios da concorrência da economia de mercado.....evitando a fixação de preços e acordos "informais" de partilha de mercado.
promover uma concorrência leal e honrada...
não abusar de uma posição dominante no mercado...
lutar activamente contra todas as formas de corrupção, activa ou passiva, eliminado....favores ou cumplicidades no sentido de obter vantagens ilícitas....
....
optar nas decisões de investimento....pelas soluções ...que salvaguardem a justiça social.
Comentários para quê? Basta olhar à volta...de boas intenções ... está o inferno cheio.
Algo vai mal no Reino da Dinamarca
Parafraseando o ditado, direi que algo está podre neste reino. Mas o véu mesmo muito ao de leve tende a deixar espreitar algo lá para dentro.
A Autoridade da Concorrência começou a mexer. Já aplicou umas coimas pedagógicas. Agora serão as "casas grandes" dos advogados que vão embolsar uma grande maquia para tentar impugnar ou no mínimo atrasar o mais possível a concretização da decisão da AdC.
O inquérito em curso sobre branqueamento, apesar de todas as incorrecções e fugas, indicia que algo pode mexer. Aliás todas estas artimanhas, com ou sem fundamento, são "vox populi".
Há indícios de bom trabalho no combate à fraude fiscal mais descarada, a conhecida.
Mas o País está muito longe de reunir as condições para travar este combate.
Medidas de fundo precisam-se: uma PJ forte e com meios, um Ministério Público também forte e com meios e a trabalharem em sintonia. Tudo isto enquadrado por uma vontade política, onde a criminalidade e o branqueamento de capitais seja um objectivo a sério e não meramente uma teoria.
A Banca e o Inquérito em curso
É público, a PGR informou, que está em curso um inquérito envolvendo alguns bancos que visa o apuramento de responsabilidades criminais num esquema de fraude fiscal e branqueamento de capitais.
Entre eles estão dois bancos de peso no panorama português: BES e BCP que, segundo o meu amigo Raimundo em post abaixo "o bom e o mau", em santidade não ficam a dever nada um ao outro.>P>
Mas, para além da actuação das entidades públicas de investigação neste processo a configurar uma actuação mais próxima de um ambiente de país onde o direito é letra morta e a informação no mínimo ambígua, ficamos sem saber muita coisa.
Já agora que fizeram a fuga de informação, poderiam ao menos dizer se a suspeita recai sobre os próprios bancos que estão a ser inquiridos, ou se estão a ser inquiridos como suspeitos de terem propicionado todo o esquema de fuga e branqueamento a clientes. São, apesar de tudo, aspectos muito diferentes, até em termos de imagem e confiança no sistema bancário.
Um aspecto fundamental em tudo isto e aqui fica a questão de fundo: sendo o Banco de Portugal o supervisor deste sector, como tem exercido essa função na Banca e na Zona Franca da Madeira?
Em política, o Ministro é sempre o responsável. Não há justificação para que se este inquérito for conclusivo em termos de matéria criminal que o BP não assuma a responsabilidade da sua ineficácia.
A imagem do BES
Mais uma vez, o BES anda nas bocas do mundo. Não por uma causa simpática, mas porque na companhia de outras instituições bancárias, está a ser inquirido, conforme informou a PGR, num processo que visa apurar responsabilidades criminais ligadas ao branqueamento de capitais e fraude fiscal com prejuízo de milhões de Euros para o Estado Português .
A vida nestes últimos tempos tem trazido alguns sobressaltos, em termos de imagem pública, tantos os casos com contornos pouco nobres que têm ocorrido, ao grupo financeiro liderado por Ricardo Salgado.
Ricardo Salgado é, até agora, o único banqueiro a dar a cara, publicamente, em entrevista à RTP. Ricardo Salgado admitiu eventuais situações pouco claras, reduzindo-as a " alguma negligência", para depois atacar a "quebra do segredo de justiça". Neste aspecto, mais uma vez a descoordenação PJ ministério Público fez accionar a fuga. E a fechar tenhamos presente aquele velho ditado "não há fumo sem fogo".
2005-10-19
Morreu o "papa" do "design" português
Faleceu com 75 anos de idade o grande arquitecto de interiores justamente rotulado como o "papa" do design português, Daciano da Costa. Testemunhos dos seus elevados dotes artísticos são, entre muitos outros, os interiores da Aula Magna da reitoria da Universidade de Lisboa, do casino do Estoril, da Fundação Gulbenkian, da bancada VIP do estádio do Benfica. Sobre exposição de Daciano da Costa nos Açores, em Dezembro de 2004/Janeiro 2005 ver [link]
O bom e o Mau
No meio da desgraça que é termos de pagar, com aumento de impostos, milhões para tapar o buraco do défice (eu queixo-me do aumento do IRS, do IVA, do IP, do... sei lá que mais, são tantos!), no meio da desgraça que é as aves andarem para aí a voar sem rei nem roque, ao menos há algumas boas notícias:
* a Autoridade da Concorrência estar a funcionar a sério. Pela primeira vez contra o cartel dos 5 laboratórios farmacêuticos ( Abbot, Bayer, Menarini Diagnósticos, Roche e Johnson & Johnson ) que roubaram ao Estado (a nós) uns 10,4 milhões de euros.
* a Inspecção-Geral da Saúde ir investigar eventuais responsabilidades dos hospitais nos concursos públicos onde se provou ter havido cartelização.
* o ministro Correia de Campos ter pedido à Inspecção-Geral da Saúde para investigar outras situações de compra de medicamentos e material hospitalar.
* a Autoridade da Concorrência aplicar coimas de cerca de 9 milhões de euros a dez empresas de moagens de farinhas (abrangidas quase todas as companhias do sector, incluindo os dois grupos líderes de mercado a Cerealis, grupo Amorim - 4,5 milhões de euros e o seu principal concorrente grupo formado por três companhias (Germen, Ceres e Granel), 1,3 milhões de euros.
[link]* a PJ estar a actuar contra o branqueamento de capitais com investigação no BES e empresas a este banco ligadas tendo, nomeadamente, feito buscas em casas de administradores (Público de hoje, link reservado a subscritores)
P.S.: A Investigação conduzida pela DCIAP do MP envolve não apenas o BES e empresas do grupo mas também o BCP, o Finibanco e BPN. Por agora. Criação de empresas fictícias em paraísos fiscais para branqueamento de capitais e fuga ao fisco. Serão muitos milhões de euros "subtraídos" ao Estado.
Ricardo Salgado, presidente do BES afirmou-se tranquilo e que "poderá haver aqui ou ali alguma negligência, mas a lei fundamental está a ser cumprida". Na entrevista ontem à RTP alertou contra o perigo de, com estas fugas ao segredo de justiça, pelos media, nós irmos a correr meter o dinheiro nos bancos estrangeiros. Então acha que o pagode não sabe que quanto a lavagem são todos diferentes e todos iguais.
Já o BCP, apesar de não ser do espírito santo mas todos sabemos que em santidade não perde com o BES, garantiu a máxima cooperação e que "tem um órgão próprio transversal (!) para zelar pelo cumprimento das normas".
Depois destas garantias estou quase tão tranquilo como o Ricardo Salgado. E Você?
Luís Noronha da Costa
Uma das três obras de Luís Noronha da Costa da Colecção Berardo. LNC nasceu em Lisboa, em 1942. Pintor e cineasta experimentalista. Mais [aqui] e [aqui].
"Turismo de Descoberta Económica"
Acerca do Plano Estratégico Nacional do Turismo (PENT), em princípio, a divulgar até final deste ano, referi que as expectativas vão no sentido de que o Plano seja fortemente inovador em termos de conteúdo e de reformas do sector público respectivo, tanto mais que o governo está a apostar no sector (e bem) como um eixo estratégico de desenvolvimento.
É, neste contexto, que me questionei sobre se o segmento "Turismo de Descoberta Económica" será uma dessas inovações. Não disponho de qualquer informação sobre o respectivo Plano.
O que é o Turismo de Descoberta Económica?
Primeiro dizer que é uma tradução literal do françês "le tourisme de découverte économique", com a sigla já bastante usada em França de TDE.
Trata-se de uma nova designação para um determinado segmento de turismo que, no meu entender, goza de grandes potencialidades de desenvolvimento futuro em Portugal pois integra uma "riqueza extrema" pelos impactos económicos, sociais e culturais numa região ou mesmo no País.
Esta designação visa contrapor um tipo de turismo de base técnico- científica a um outro já mais conhecido, o cultural artístico.
Apesar de recente (15/20 anos) já arrasta, em França, cerca de 20 milhões de visitantes.
Este tipo de turismo reune três pólos: o turismo de empresas em actividade, o turismo de património industrial e o turismo científico.
É uma designação ainda não totalmente consolidada, que tem vindo a ganhar relevo e terreno face a outras designações como a de turismo industrial, turismo de empresa, ou a de turismo industrial, científico e tecnológico, etc.
Tem vindo a ganhar consistência, quase diria "natural", no discurso dos especialistas, no jornalismo especializado, nos colóquios e agora nos Administradores de Empresa e Câmaras de Comércio e Indústria.
O primeiro pólo desta fileira corresponde em abrir as empresas ao exterior, permitindo a sua visita organizada. O segundo pólo consiste em utilizar e organizar, para disponibilizar, sob formas diversas, ao público, o património industrial de actividades que, entretanto, foram tornadas obsoletas mas que foram base de progresso. O terceiro pólo pode dizer-se que está mais relacionado com o futuro, como os laboratórios de investigação, as cidades da ciência, etc, também organizados e disponibilizados das mais diferentes maneiras.
A EDF deu um grande impulso a este tipo de turismo ao começar por abrir a visitas às suas centrais nucleares.
Este tipo de turismo incorpora uma grande "riqueza" de conhecimentos. Por isso o seu público alvo é bastante alargado como a juventude ansiosa de se familiarizar com novos conhecimentos e profissões. Mas é exigente em termos de qualificações das pessoas que integram e dinamizam esta fileira. Por exemplo, são necessários investigadores, historiadores, arqueológos, economistas, engenheiros, etc para montar um projecto desta natureza, seja de nível local ou regional.
Até parece que isto nada tem a ver com o turismo. Mas tudo isto requer apoio de hotéis, restaurantes, agências de viagens, tradutores, guias de visitas de elevada competência, etc.
Trata-se de um domínio em que as parcerias público-privadas têm muito espaço para florescer.
Um inquérito de 2004 sobre as empresas francesas que abrem as suas instalações a visitas (pólo um), 99%avaliam que essa abertura ao público lhes foi benéfica em termos de imagem e notoriedade.
Trata-se de um segmento turístico exigente, mas em que vale a pena apostar na base de um projecto sólido, integrando os actores que nele tenham funções a desempenhar.
2005-10-18
Plano Estratégico Nacional de Turismo
Até final de 2005, o País terá um Plano Estratégico Nacional de Turismo (PENT), segundo Bernardo Trindade, Secretário de Estado para o sector. É uma boa notícia. Ficamos apenas a aguardar as ideias inovadoras quer em termos de conteúdo quer em termos de reestruturação das instituições do sector público.
Neste último aspecto, há muito para rever. Há uma grande sobreposição de instituições, a nível regional, com funções nesta área, pelo menos 4 tipos de instituições. Só uma análise fina nos pode dizer o desperdício financeiro que esta teia de instituições acarreta para o país, não aplicado, por exemplo, na promoção.
Serão dez os pontos básicos do PENT. Sinceramente, esperam-se ideias inovadoras designadamente o lançamento da avaliação de novos segmentos que na Europa começam a ter relevo significativo, como por exemplo, o turismo de descoberta económica (designação francesa), em que Portugal está a zero e, no meu entender, disfruta de grandes potencialidades em algumas zonas como o Barreiro, Marinha Grande, Vale do Ave, etc.
O mundo é a nossa forma
[Hands, Sculpture Park, Budapeste]
O mundo é a nossa forma de estar no mundo, e fomos nós quem inventou essa forma. Chamemos-lhe escultura. As mãos são doces e rebarbativos instrumentos e, num sentido mais próximo da sua dinâmica natural, são o acto de formar concretamente o espírito na matéria do tempo.
[ Herberto Hélder, Retrato em movimento, Lisboa, Ulisseia, 1967, p. 19 ]
Por razões que só a intertextualidade e os cruzamentos de sensibilidade e solidariedades podem explicar, este poste passou a ser tambem uma homenagem ao Carlos Gomes. O texto da homenagem está no Blogue do João Tunes (aqui).
Represália do Governo contra os Juízes?
O Programa "Os prós e os contras" de 3 de Outubro, dedicado à Justiça, mereceu 3
posts aqui no Puxa Palavra e motivou um debate vivo na caixa dos comentários, como se pode ver
[aqui],
[aqui] e
[aqui].
O debate levou-me na altura a iniciar um quarto post de que desisti por me parecer no momento excessiva a concentração no tema.
Hoje no Público o advogado António Marinho e Pinto trata em artigo o que então suscitara o meu interesse mas não subscrevo as suas conclusões por irem na mesma linha do que ele justamente ataca. E que condena o articulista? A inaceitável atitude, naquele programa, do presidente do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público, António Cluny ao dizer que as medidas de redução do défice tomadas pelo Governo que extinguem mordomias dos magistrados eram uma represália do Governo pelo facto de a Justiça ter atingido certos altos dirigentes do partido que governa. Faltou dizer os nomes mas todos percebemos que se referia ao processo da Casa Pia, a Paulo Pedroso e a Ferro Rodrigues.
A inaceitável atitude de Cluny era infamante para todo o Governo que, na pessoa do ministro da Justiça, ali presente, respondeu com justa indignação.
Se as medidas de contenção orçamental fossem exclusivamente dirigidas aos magistrados, enfim ainda se podia admitir que o Governo estivesse à unha com a Justiça por alguma conspícua razão mas todos sabemos que não é assim e que os magistrados padecerão muito menos com a moralização das suas regalias que o comum dos funcionários públicos ou todos os portugueses que menos podem e terão, como eles, de suportar o iva a 21%.
Cluny que é, aliás, um magistrado de que tinha boa opinião e é uma pessoa afável reparou em como se atingia a si próprio com tal despautério, tratando o Governo de Portugal (seja ele de que partido for) e as magistraturas portuguesas como uma choldra. Por isso foi repetindo em pior emenda que o soneto que não era a sua opinião mas a dos magistrados que representava o que levou o presidente da Ordem dos Advogados a gozar com ele: pronto, está bem, já percebemos não é a sua opinião, é a dos magistrados do MP, de todos menos a sua!
Ficou tristemente patente o que se passa nas cabeças de alguns magistrados que têm a responsabilidade e o poder de, a todos nós, ministrar Justiça.
Orçamento 2006 (1)
Este OE 2006 goza de uma grande qualidade: seriedade, leia-se transparência. Não recorreu a receitas extraordinárias, nem a desorçamentações abusivas no SNS, nem a cativações exageradas. Como diz o MFinanças: é um OE "sem truques".
Por outro lado, os pressupostos do Cenário Macro são prudentes, designadamente o preço do petróleo. O mesmo não direi sobre a taxa de exportação, acima de 5%, porque me parece muito ambiciosa no contexto das economias europeias, nosso principal mercado cliente. Todavia é possível, estando na mão das empresas realizar esse objectivo. O papel do Estado, nesta matéria, é o de desbloquear situações que favoreçam as exportações, informar sobre negócios e mercados e influenciar, a chamada diplomacia económica, que bem poucos frutos tem dado em Portugal, ao contrário de outros países.
Uma área de que se falou pouco tem a ver com as condições de dinamização do investimento empresarial, embora esta questão deva merecer um tratamento especial e preferencial, pois é a partir daqui que se projecta a criação de riqueza do país. Pode dizer-se que reformando-se a AP se vai nesse caminho. Pode ser. Mas vejo que se dá ênfase em demasia à óptica da contenção da despesa (sem dúvida fundamental), sem contrapartida de uma outra, a óptica da eficiência, sem o que o crescimento económico não arranca nem se consolida. Há que dar sinais de boa orientação das políticas. A decisão sobre projectos de investimento não pode esperar anos, por muito complexos que eles sejam, até porque as condições de mercado mudam, ocupando alguém o espaço de negócio surgido.
Sobre esta matéria há um reencontro a fazer com o País e no País.
O último OE é o pior
Na minha aldeia a influência da Igreja era assim como, como... O povo era muito beato e Igreja, sacristia, padre-nossos, água-benta, o regedor, o cardeal Cerejeira e Salazar era tudo manifestações da mesma santidade. E era aqui que eu queria chegar, lá na terra, o último padre era sempre o melhor.
Lembrei-me disto porque o líder parlamentar do PCP, Bernardino Soares, afirmou hoje na Assembleia da República que o Orçamento de Estado "confirma as piores expectativas". No PCP, desde o Governo de Vasco Gonçalves, que o último orçamento é o pior.
Os prós e os contras dos direitos adquiridos
José Ernesto Cartaxo: dizem que atacam os privilégios mas o que atacam é os direitos dos trabalhadores.
Os direitos adquiridos!Silva Lopes: o bom seria nivelar tudo por cima mas é impossível. Direitos adquiridos...
também a nobreza francesa tinha direitos adquiridos antes da revolução e veja-se o que lhe sucedeu.
2005-10-17
"GOLPE DE ESTADO"
Agora temos aí o Orçamento de Estado. Mas já já a seguir vem aí a grande batalha das
PRESIDENCIAIS
"Mas perante esta espantosa entrevista de Morais Sarmento, é agora imposssível ignorar o que vai na alma da direita. Com a brutalidade a que nos habituou como ministro, MS [Morais Sarmento] diz as coisas preto-no-branco: o Presidente da República (quer ele dizer Cavaco Silva, que ele já dá como eleito) deve sobrepor-se ao Governo, definir-lhe balizas e dissolver a maioria, se não for obedecido! De duas, uma: ou Cavaco Silva desautoriza convincentemente esta proposta de golpe-de-Estado, ou temos de começar a temer que a eleição de CS pode constituir uma efectiva mudança de regime..."
Transcrevo do Causa Nossa [Link] que continua a análise da entrevista em mais dois posts.
Diz o roto ao nu...
O caso de Luís Santos, o co-piloto português detido preventivamente há um ano em Caracas, sob a acusação de tráfico de droga, foi um dos temas abordados no encontro bilateral entre Hugo Chávez e os líderes portugueses, à margem da XV Cimeira Ibero-Americana, que decorreu em Salamanca. - disseram os jornais em notícias escandalizadas com a lentidão da Justiça Venezuelana.
Se não soubéssemos da "rapidez" da nossa Justiça era caso para nos surpreendermos mas o embaixador da Venezuela em Lisboa, Manuel Quijada - para nossa vergonha - fez questão de nos refrescar a memória e disse em
carta ao DN "que a morosidade processual
"não é exclusiva" do sistema venezuelano e lembrou que no nosso país "estão presos e processados por tráfico de droga 120 venezuelanos em Lisboa, Funchal e no Porto". Acrescentou ainda que duas jovens venezuelanas permaneceram uma um ano, a outra nove meses em prisão preventiva, (o co-piloto português está em prisão domiciliária) mas em julgamento foram consideradas inocentes.
Em Caracas estão presas três portuguesas que fretaram o avião onde foram embarcados 386 kg de cocaína no regresso, assim como o co-piloto que se encontrava no avião quando as malas com a cocaína foram carregadas, o qual terá (?) dito à hospedeira que o alertava para aquela bagagem que estava a ser carregada que "não se metesse onde não era chamada".
A hospedeira e o piloto, que parece ter sido quem avisou as autoridades venezuelanas, foram postos em liberdade.
Orçamento de 2006
Ainda sabemos pouco sobre o orçamento de 2006.
Não sei se, dentro de meia hora, estará o OE disponível no Portal do Governo, apesar de estar anunciada uma conferência de imprensa do MFinanças para as 17 horas e a entrega de CD com o respectivo na AR.
Já aqui se disse algo sobre a curta margem de manobra que tem o MFinanças para trabalhar um OE (20 a 25%). Mas há um parâmetro de qualidade que pode estar mais ou menos claro no OE.
Esse parâmetro tem a ver com o investimento. Como toda a gente sabe, dadas as condições do nosso actual processo de desenvolvimento económico, um país que vem a perder quotas de mercado há bastantes anos, a questão crucial reside em inverter esta situação. E esta situação só se inverte com investimento de qualidade.
Daí que devemos olhar para o OE 2006 nesta perspectiva. Que condições ele oferece ao investimento de qualidade. Que burocracias vão ser simplesmente extintas. Que velocidade vai introduzir na decisão.
O governo teve uma grande ideia, a do choque/plano tecnológico. Até agora, talvez por incapacidade do pelouro responsável, nada de útil. Mais papel menos papel nada acrescentou ao que já havia e algumas ideias eram por demais requentadas.
Ora o plano tecnológico é de base uma coisa muito simples. Trata-se no essencial de acarinhar projectos tecnicamente bons para o país. O papel do governo consiste em agilizar a sua aprovação de forma responsável. Não há nada a saber. Basta copiar o processo em Espanha.
Aqui criou-se mais uma comissão com um Professor a comandar, muito bom, muito competente, ninguém duvida. Só que da vida empresarial sabia pouco e o que há tende para Zero.
Donde tenho fé que este OE possa trazer "num cestinho" melhores novas para o PT, ou seja, desburocratize os processos de investimentos. Se assim fôr trará um grande contributo ao futuro económico deste país.
A colecção Berardo a caminho de França?
Há cinco anos que Joe Berardo tenta arranjar um local apropriado para a sua grande colecção de arte do século XX. Há cinco anos que o Governo, as autoridades, a burocracia, o país encalhado, estuda, analisa mas não decide.
Podia a colecção Berardo minorar a nossa pobreza franciscana museológica no domínio das artes plásticas, mas... que maçada! Quem mandou o homem comprar tantas peças de arte. Não lhe chegam as salas que a Edite Estrela lhe arranjou em Sintra?
A França é que não se distrai e concluiu que poderia ficar com a colecção de graça. E a França tem museus de pintura! Julgo eu.
"Tendo isto em mente, os ministros da Cultura e dos Negócios Estrangeiros do governo francês convidaram Joe Berardo a deslocar-se a Paris na primeira semana deste mês para, em conjunto, lhe proporem duas localizações para instalar as suas obras: uma ilha no Sena, perto de Paris, ou a cidade de Toulouse. Berardo ficou, obviamente, agradado com as propostas.
Mas os franceses fizeram mais. Na última quarta-feira, na sua embaixada em Lisboa, impuseram ao homem de negócios português as insígnias de Chevalier de la Légion d'Honneur. E, na cerimónia, anunciaram que na exposição que marcará a reabertura do Grand Palais em Paris, em Junho de 2006, haverá um núcleo de obras de grande vulto da colecção Berardo."
É o que nos diz Luís Miguel Viana no DN.
Obras de artistas portugueses na Colecção Berardo podem ser vistas no Memórias.
Isto é que está Um Bailinho da Madeira
Receando que algum dos nossos visitantes pudesse perder o comentário-informação da Sofia ao post do João Abel "Esta é para Madeirenses", aqui em baixo, coloquei-o aqui, mais à vista.
Diz a Sofia:
"O serviço regional de saúde na Madeira foi criado em 1976/78 com base no figurino da esquerda, ou seja, copiado dos velhos países da ex-URSS. Acho que não preciso explicar o modelo e qual o papel do Estado neste sistema.
É verdade que, na região autónoma, ninguém espera meses por reembolsos. Que a medicina privada está convencionada e nenhum médico pode cobrar mais de 50 euros por consulta. É, também, verdade que há promiscuidade entre público e privado. Mas é por estas e outras que Jardim continua a ter a maioria dos votos dos madeirenses. Por exemplo, a SAUDE é dos sectores que o PS/Madeira não toca e sabem porquê? Porque também beneficia dos vapores da mesma panela, sobretudo os médicos socialistas. Aliás, um deles já chegou a ser director clínico do Hospital Cruz de Carvalho.
Se os madeirenses vão a Lisboa ao dentista porque Jardim, de acordo com a anedota do João Abel, não os deixa abrir a boca na terra onde vivem, devemos incluir na viagem toda a oposição madeirense (sobretudo o PS) que só vai falar a Lisboa, pela surdina, pelos corredores dos ministérios e dos gabinetes, porque não lhes interessa abrir a boca na Madeira. Aliás, o que se passou nas autárquicas do Funchal, a falta de apoio à lista de Carlos Pereira, um economista independente que teve a coragem de dizer que o rei vai nu, mas que foi deliberadamente cilindrado pelos senhores e senhoras do PS local porque a vitória de Carlos Pereira significava alterar o equilibrio de poderes dentro do partido.
Este é um dos bons exemplos que revelam os interesses de famílias deste partido, interesses económicos fortíssimos que se apresentam em bloco central numa ilha fadada a aturar a vaidade bacoca de imbecis ditos de esquerda que não mexem uma palha porque assim é que estão bem amparados pelos tais vapores de uma panela que indirectamente alimentam."
Sofia
2005-10-16
Houzan Mahmoud uma iraquiana pela liberdade
A constituição do Iraque foi ontem referendada. A afluência às urnas foi estimada em 60% mas os resultados aguardam alguns dias para serem conhecidos.
Houzan Mahmoud, iraquiana a viver no Reino Unido e representante deste país na Organização pela Liberdades das Mulheres no Iraque, esteve ontem na Biblioteca Museu da República e da Resistência, em Lisboa, a falar do seu país.
Sofia Lorena do Público entrevistou-a e dessa entrevista reproduzo algumas das suas respostas:
"A Constituição ontem votada legitima os poderes instituídos e pode conduzir a um "Iraque dividido em que as mulheres serão legalmente tratadas como cidadãos de segunda". O terrorismo islâmico que ameaça o país só pode ser travado através do "apoio às forças progressistas".
"Esta Constituição foi escrita por um comité de direita, religioso e sectário escolhido por este Parlamento. Na sua maioria são pessoas muito ligadas aos grupos religiosos e defensoras da sharia [lei islâmica], que querem substituir os direitos de estatuto civil, e isso significa a regulação do divórcio, do casamento, da custódia dos filhos, submetendo tudo isto à lei islâmica, que é algo com 1400 anos."
"Em termos de conteúdo, aquilo para que caminhamos é um Iraque dividido em que as mulheres serão legalmente tratadas como cidadãos de segunda classe. Nunca tivemos um estado islâmico nem nunca fomos governados de acordo com a sharia."
"Antes da invasão, os EUA já tinham preparado os políticos que fariam a transição. O Parlamento que temos hoje é constituído por muitas dessas caras. Não podemos ter um processo político realmente democrático sob ocupação e sob o terrorismo islâmico que assola o país."
"É preciso olhar para a história do Iraque como uma sociedade secular, nunca tivemos esta situação, estes grupos [ligados ao poder religioso] estavam absolutamente marginalizados e agora são estas as figuras que gozam de grande destaque no país e no estrangeiro, como se fossem os líderes legítimos dos iraquianos."
"As sanções destruíram a estrutura familiar, as pessoas perderam os empregos e a miséria espalhou-se. A sociedade iraquiana, e não Saddam, acabou punida. As pessoas ficaram mais vulneráveis e Saddam usou isso, começou a comportar-se como um líder muçulmano, construiu mesquitas."
" Mas ainda assim as pessoas vestiam o que queriam, as raparigas continuavam a sair com rapazes, os restaurantes e os clubes funcionavam e eram frequentados por todos. Mas se olharmos hoje para o Iraque a situação é muito diferente, o progresso dos anos 1970 e 1980 parece ter desaparecido. Eu nunca usei véu na minha vida e a última vez que estive no Sul do Iraque, em algumas áreas, foi-me dito que devia fazê-lo pela minha protecção."
"As milícias radicais no Sul aplicam os seus preceitos islâmicos pela força. O terrorismo sunita faz o mesmo, [Abu Mussab] Zarqawi fala em instaurar um estado islâmico. Tudo é feito pela imposição do terror e não por vontade das pessoas."
"Em Março, homens de Moqtada al-Sadr atacaram um grupo de estudantes na Universidade de Bassorá, um dos rapazes foi morto. Nos cinco dias seguintes milhares de pessoas manifestaram-se contra o movimento ... Numa cidade tão dominada por milícias, os estudantes estavam na rua desarmados a gritar não ao terrorismo e não ao Corão. "
Viva o Glorioso! Sinais!!!
Duas grandes vitórias consecutivas. Uma nas Antas e agora outra ali em Alvalade. Poderão dizer que não foi o glorioso que ganhou aqui mas todos sabem que uma derrota dos lagartos é na prática uma vitória das águias!
E mais, isto é um sinal!!! E não é preciso ir à bruxa para se entender que um sinal como este indicia uma derrota do Encoberto. Sim esse mesmo! O Professor que anda em campanha há dois anos para as presidenciais mas sempre escondido atrás do biombo. A recusar o combate.
Aviso já que tomaria como intolerável deselegância qualquer crítica do género lá está ele a misturar a política com o futebol.
Vasco Pulido Valente e... o Expresso
Mais uma das crónicas demolidoras de Vasco Pulido Valente (VPV). Desta vez, contra ou a favor do Expresso, conforme os olhos dos directores (os novos/velhos) e de Pinto Balsemão penetrarem na crónica de VPV. É pena que não esteja disponivel na NET, (o Público é para assinantes) pois é de se ler e revejo-me nela, como leitor.
VPV, com o seu estilo próprio, diz a coisa mais comezinha: o Expresso está muito mau há muito tempo. No entanto, continua a ter uma grande fidelidade, apesar das críticas e conversas que todos temos sobre a sua qualidade. Ainda ontem, conversava com vários amigos e amigas sobre a primeira página. E todos dizíamos. É uma primeira página típica do 24 horas, com o destaque da diplomata que arranha o colega na cara à entrada para uma reunião internacional, de tão requentada já nem notícia é, mais as histórias da Fátima Felgueiras. Mas até parece que o País vive disto. Basta olhar para as últimas eleições.
Um jornal de referência, é isto?
Até se admite que estes casos pudessem ser objecto da primeira página, se bem trabalhados e analisados. Mas análise é o que o Expresso não faz há muitos anos. Em todo o primeiro caderno de ontem nada de análise, nem de novo trazia.
Apesar disso, lá comprei o Expresso. Apenas demovi outros de o fazer.
Não resisto transcrever uma curta passagem de VPV sobre a subsistência do Expresso: "O mistério está na fidelidade ao Expresso da classe média portuguesa (cuja iliteracia ele provavelmente reflecte) e na razão por que não apareceu, nem aparece, o concorrente sério de que o país precisa".
2005-10-15
Esta é para Madeirenses
Também pode ser lida por outros portugueses que não pagam mais imposto para a ler.
Os cubanos, como se dizia lá terra, há uns tempos mais atrás, agora menos, desconhecem que na Madeira há de facto um bom serviço de saúde.
Há preços tabelados e os utentes são reembolsados, direi, quase na hora. É sair da consulta, atravessar a rua, ir ao banco e já está.
Quando os cubanos se aperceberem desta realidade vão todos a correr para a Madeira. Todos a inscreverem-se no serviço regional de saúde. E depois é uma questão do governo central mandar mais uns trocos para o défice da saúde.
Apenas se desaconselha esta corrida a quem tenha problemas de boca: dentes, garganta, etc.
E não se interrogam do porquê desta falha dos serviços regionais? Do porquê de todos os madeirenses virem ao dentista ao Continente?
Como diz o povo a razão é de muito simples entendimento. Temos de ir
lá porque o Senhor Presidente
aqui não nos deixa abrir a boca.