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2004-07-31

 

De Blog em Blog (1)


Com boa parte dos blogueiros de férias e outros tantos bloguistas a banhos,
dou por mim a interrogar-me acerca da pós-modernidade. Porque não teriam
levado os seus portáteis para a praia? Devem ser uns radicalões que levam as
férias a sério. Bom...

Deixem-me então confidenciar.
Li uma abordagem exemplar sobre as diferenças
entre esquerda e direita no Jumento.
Se não lerem, arrepender-se-ão para sempre.

Num registo de esquerda profunda (e magoada), lúcida, palpitante (e, por
tudo isso, contraditória) João Tunes oferece um interessante enunciado acerca
dos candidatos a SG do PS. Chama-se "Abraço ao Trovador" e está no BotaAcima.
De outro modo o diz (dizendo quase o mesmo) o "post" do VJS no Causa
Nossa
.
Depois não digam que não foram avisados.

Finalmente, num rápido périplo, provando que há mais vida para além das
congeminações do saudosismo e da cultura política, vale a pena espreitar uma
breve (e curiosa) homenagem a Francis Crick, no Professorices.

2004-07-30

 

Heranças

A utilização do Produto Interno Bruto (PIB) ou de outro indicador macroeconómico equivalente, como critério único para medir ou avaliar o grau de desenvolvimento humano, já foi, há muito tempo, abandonada, estando hoje instituído, designadamente ao nível do sistema das Nações Unidas, um critério muito mais abrangente e rigoroso para o efeito. Refiro-me, como é evidente, ao Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), definido pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) em 1990 e que, desde então, e anualmente, tem sido objecto de um Relatório do Desenvolvimento Humano (RDH) elaborado e difundido por aquela importante e prestigiada organização.Como se refere no RDH de 1990, as pessoas não podem ser consideradas apenas como criaturas económicas: o que verdadeiramente caracteriza o ser humano e o seu desenvolvimento é um conjunto de condições que traduzem a forma como as capacidades humanas são acrescidas, melhoradas e utilizadas. Por outras palavras, se é certo que o crescimento do PIB é absolutamente necessário para garantir o desenvolvimento humano, considerado como um ambiente propício para as pessoas usufruírem de uma vida longa, saudável, estimulante e criativa, o que é verdadeiramente importante é analisar em que medida tal crescimento se reflecte ou não nesse desenvolvimento.A construção de um índice cada vez mais susceptível de traduzir adequadamente o desenvolvimento humano, de poder ser aplicado à generalidade dos países e de, assim, permitir fazer comparações e estabelecer anualmente um ‘ranking’ mundial nesta matéria tem sido objecto de estudos demorados e aprofundados, os quais têm conduzido ao progressivo aperfeiçoamento do IDH definido em 1990.Nos últimos anos, o IDH tem vindo a ser calculado a partir da determinação do valor de quatro indicadores agregados que se considera traduzirem um conjunto muito mais vasto de indicadores de base relativos a três áreas fundamentais para a definição do desenvolvimento humano: longevidade, conhecimento e condições de vida decentes. Tais indicadores agregados são a esperança de vida à nascença, a taxa de alfabetização de adultos, a taxa de escolarização bruta combinada dos ensinos primário, secundário e superior, e o PIB per capita.É muito interessante e instrutivo analisar a evolução da posição ocupada por Portugal no ranking mundial do IDH, desde que este indicador de desenvolvimento passou a ser calculado e divulgado pelo PNUD.
(Artigo publicado no "Diário Económico" de 29.Jul.2004;para ver o artigo completo consulte o ALFORGE)



2004-07-29

 

DARFUR na Wikipedia

Darfur Sudão Posted by Hello
Tableof contents
1 Geography
2 Economy and Demography
3 History
3.1 The Darfur crisis

Geography
Darfur covers an area of some 196,555 km² (75,890 miles²), with an estimated population of around 3.1 million people. It is largely an arid plateau with the Marrah Mountains (Jebel Marra), a range of volcanic peaks rising up to 3,000 m (10,100 ft), in the centre of the region. The north comprises a sandy desert, while bush forest exists in the south. The region's main towns are Al Fashir and Geneina.
...
 

Que Darfur não seja um novo Ruanda

Darfur Posted by Hello

Segundo observadores da União Africana, membros das milicias sudanesas, grupos armados cúmplices do Governo de Cartum , assaltaram a aldeia de Suleia (Darfur)pilharam o mercado, acorrentaram os habitantes e lançaram-lhes fogo (Público 2004-07-29).
Desde que em Fevereiro de 2003 a população negra se rebelou contra as tentativas de expulsão das suas terras e de limpeza étnica levadas a cabo pelas milícias árabes pró-governamentais, as janjawid, já se verificaram no Darfur, 30 a 50 mil mortos e cerca de um milhão de refugiados, na maior crise humanitária desde o genocídio de 1994, no Ruanda, que causou a morte de cerca de um milhão de pessoas.
Um projecto de resolução apresentado pelos EUA ao Conselho de Segurança da ONU faz um ultimatum a Kartum: ou desarmam as milicias ou sofrerão sanções.
As vítimas agradecem. O preço (há-de haver um preço qualquer) será sempre menor que as suas vidas.
 

Mas..., onde está o centro? (3)


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Aconselhado a pôr cobro a esta série de prosas (ver, se necessário, postes de 17 e 18 p.p., neste mesmo blog)  que, segundo parece,  não concita o interesse dos viajantes da blogosfera, venho confessar o seguinte:

1.   Se os girondinos se tivessem sentado à esquerda, na Assembleia Nacional, em 1789, os jacobinos continuariam a ser os mais radicais e determinados. Hoje utilizaríamos, provavelmente, outras metáforas espaciais. Todavia, as posições políticas, as políticas, a aferição dos projectos e das promessas eleitorais, continuariam a poder ser descritas e compreendidas sem a ajuda das referências geométricas. A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão continuaria a constituir um adquirido civilizacional, libertador, de inspiração democrática. O Código do Trabalho de Bagão Félix continuaria a ser globalmente mau. As políticas sociais dos governos de Guterres, executadas sob a responsabilidade de Ferro Rodrigues e Paulo Pedroso, continuariam a ser, globalmente, melhores.


2.   Sei que as posições de esquerda e de direita  -  tal como as suas numerosas variantes e conjugações, inclusivamente dentro das formações partidárias  -  devem ser sempre  (criticamente) examinadas e reexaminadas sob pena de não nos darmos conta do que vai mudando e do que parece permanecer. Compreendo que o "centro" tenha invadido os discursos políticos da esquerda e da direita. Acho o termo nebuloso e os conceitos que por lá moram ultrapassados e de fraca capacidade explicativa. É verdade que, já no final do século XVIII,  havia quem se sentasse entre os jacobinos e os girondinos. Não sabiam para que lado haviam de ir.
É humano.
 Quem nunca hesitou que atire a primeira pedra...

2004-07-27

 

Subscriçãozinha pró Kerry

Posted by Hello

Hela rapaziada dos blogs, já a caminho de férias, os que podem! (Inclui as raparigas. Até pelo menos o dobro da minha idade. Mas não digo raparigada porque o termo me parece pouco lisonjeiro.Ou não?)
A minha proposta é esta: vamos ajudar a parelha Kerry-Edwards com 50 dele. Uma subscriçãozinha. Mas como o seguro morreu de velho com uma condição. Só uma. As orientações para o Médio-Oriente, é o Puxa Palavra que as dá. E para não terem surpresas ou depois negarem-se com o pretexto de que julgavam que as orientações seriam diferentes aqui ficam (espero que os meus colegas do Puxa não me tirem o tapete debaixo dos pés):
1)Fim à guerra no Iraque. Retirada gradual das forças militares invasoras sob controlo da ONU no prazo de 6 meses.
2)Indemnização por morte de pessoas e destruições no país.
3)Entrega à ONU, com forte participação árabe e muçulmana, do restabelecimento da ordem no país e ajuda no combate ao terrorismo.
4)Substituição da clique fantoche criada pelos invasores que dá pelo nome de Governo por um governo provisório constituído por iraquianos, indicados por iraquianos, representantes dos diferentes povos e credos.
5)Intervenção urgente, militar se necessário, da ONU para pôr fim à catástrofe humanitária no Sudão.
6)Obrigar Israel a cumprir as resoluções da ONU. E, é claro, deitar abaixo o Muro.
7)Combate ao terrorismo de Estado israelita e ao terrorismo "mártires de todos os credos" palestiniano.
8)Garantia de fronteiras seguras para o futuro Estado Palestiniano e para o Estado de Israel.(Esta é repetição, pois já está nas resoluções da ONU. Mas agora não tenho tempo para substituir. Funciona como aquele erro evidente para os outros emendarem.)
9)Retirada de apoio às ditaduras e tiranias como a que viceja na Arábia Saudita e países sob tutela norte-americana.
10)Organização multilateral e com a cooperação da ONU, do combate ao terrorismo.

Só estas rápidas 10 alíneas, escritas no joelho e sem consultar as muitas pessoas competentíssimas que já entrevi no mundo dos blogs. Por $50 também não posso exigir mais. Por favor não venham com desculpas ou recriminações de que isto é mais fácil de dizer do que de fazer. Temos de começar por algum lado!
 

FREI SANTANA

Na apresentação do programa do Governo Posted by Hello
 
Ao ver hoje no hemiciclo de S. Bento este novo Primeiro Ministro a apresentar o Programa do seu Governo e ao invocar a voz do povo lembrei-me de Frei Tomás, faz como ele diz e não como ele faz.
O programa nem estava mal escrito. Santana Lopes até o leu melhor que o discurso da posse. Mas um discurso à defesa, a ver se se parece com o de um 1ºM. Só no debate e quando a auto-vigilância afrouxava, Santana 1ºM lembrava o Santana ele próprio, mas logo emendava. Nada do que de aceitável o programa tinha surgia com a força das convicções. Nisso Durão aldrabava melhor. Mostrava uma convicção só à altura da sua hipocrisia.
Como acreditar em Santana Lopes? Como sequer dar-lhe o benefício da dúvida? Santana Lopes presidente do Sporting que abalou a meio da obra e deixou o clube a nadar em dívidas. O Santana que em quatro anos de Presidente da Câmara da Figueira da Foz deixou mais dívidas e mais umas palmeiras. O Santana Lopes que deixou a CML com uma monumental dívida, um buraco no lugar de um viaduto, despesa astronómica com um célebre arquitecto para aparecer na TV e para obra nenhuma. Bom, melhorou o parque das viaturas de luxo.
Sempre a sua imagem de marca. Ligeireza, decisões para dar nas vistas, nenhum estudo prévio da sua sustentabilidade, vazio estratégico. O homem que julga poder conduzir a governação do país com as regras do espectáculo!
Pode ter, num Governo com 19 ministros e 38 secretários de estado, formatado para acolher amigos, afilhados e representantes dos lóbis, meia dúzia de homens e mulheres com a competência e seriedade que se exige a governantes mas quando os líders são pessoas como Santana Lopes e Paulo Portas, o país que se preza não pode deixar de se sentir diminuido e recear o pior.
Sem eleições na altura própria,quando Durão Barroso o político com défice de carácter, abandonou o barco, medrontado com as responsabilidades que o país lhe exigia, talvez venhamos a ter eleições noutro cenário de fuga, no momento escolhido pela frivolidade e ambição santanista. Talvez a tentar escapar-se para Belém, quando o défice orçamental, que hoje prometeu não ultrapassar os 2,8 do PIB, se tornar insustentável e... for conhecido.
 

Comentarismo politico (3)


[Henri Matisse, 1939, La Musique]


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O ideal para a plêiade de comentaristas da direita erudita (MRS, JPP, VGM) ou da direita menos erudita (LD, LX), seria que os governos da direita governassem efectivamente à direita, desequilibrando (ainda mais) o acesso aos recursos disponíveis (materiais e imateriais) em favor de alguns grupos empresariais (das “classes média alta” e “Alta”, pela ordem inversa), do “país empreendedor”, dos “criadores de postos de trabalho” e das “forças vivas”.

Depois, quando a governação desse para o torto (e dá sempre para o torto!), a “esquerda alternante e credível” deveria ocupar o “centro”, isto é, prometer medidas políticas moderadoras dos "excessos" da direita radical, resistindo à tentação de governar à esquerda, para não assustar o “eleitorado do centro”.

Perfeito! As políticas de esquerda vão para a gaveta, como outrora foi o socialismo, e ficamos condenados a umas pitadas de “luta contra a pobreza”, RSI em vez de RMG, formação ao longo da vida  -  que não interessa muitos aos patrões que apostam em resultados imediatos e não têm, sequer, nas suas intenções, uma planificação de médio prazo.
 
O fenómeno político eleitoral da “percentagem flutuante” que ora dá maiorias ao PS, ora ao PPD/PSD, é encarado com a ligeireza que convém aos arautos do “centro”.
 
Há uma entidade eleitoral estável por detrás da derrota do PPD/PSD em 1995, e do PS em 2002?

Será por causa de o PPD/PSD ou de o PS anunciarem, em campanha eleitoral, que vão governar ao “centro”, que conseguem captar a tal “percentagem flutuante” a que alguns chamam o “eleitorado do centro”?

Improvável. Guterres viu aumentar a influência eleitoral entre a 1ª e a 2ª legislatura. Desistiu quando os uivos dos lobbies irromperam no interior do Governo. José Barroso afirmava solenemente, antes de eleito, que não autorizaria nem mais uma grande obra enquanto os velhinhos e as crianças não tivessem uma vida digna...

Onde é que o “eleitorado do centro” está acampado agora? No centro ou nos subúrbios? Nas florestas a arder ou à espera de aumento vai para mais de dois anos? No desemprego em crescendo ou nas filas de espera dos hospitais SA?  À espera do choque fiscal ou orgulhoso da consolidação orçamental?

Aquelas e aqueles que se sentem enganados, feridos, desapontados e, muitas vezes, traídos; muitos dos que infligiram a maior derrota de sempre à direita de José Barroso e Paulo Portas, nas eleições para o PE, votarão outra vez, à esquerda, provavelmente,  em próximas eleições legislativas.
 
Continuarão, alguns, a chamar-lhe o “eleitorado do centro”.  Obviamente... à falta de melhor.

2004-07-26

 

Comentarismo politico (2)


[Luis Ferreira da Luz: Aguarela.Posted by Hello
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A metáfora da pátria embarcação, comentada em anterior post, é apenas um dos numerosos expedientes a que MRS recorre para fazer passar a ideia de que a estabilidade, tal como a direita a encara, é um valor que todos deveríamos prezar. Geralmente, o discurso da estabilidade é endereçado às forças sociais que manifestam descontentamento com as políticas de direita  e apresentam, com maior ou menor veemência, as suas reivindicações.
 
Se se tratar de satisfazer as exigências das confederações patronais, como ocorreu no Governo de José Barroso, brindando a tripulação (trabalhadores por conta de outrem) com um Código de Trabalho vergonhoso, o caso é outro. São elas as criadoras de emprego (apesar de serem igualmente as primeiras a provocá-lo e a beneficiar com ele) e é por elas que os comentaristas de direita aferem se se trata, ou não da “boa estabilidade”.
 
Para JPP, por exemplo, a verve reivindicativa de alguns grupos sociais era considerada, há tempos, uma espécie de ciúme que raiava o ilegítimo, tendo-lhe, mesmo, chamado “inveja social”.
Em contrapartida, as ciclópicas remunerações do capital, dos gestores de topo, são entendidas como “ambições legítimas”.
 
A barca em que estamos todos, a estabilidade, a razoabilidade, o sacrifício patriótico, são as palavras-passe para os pontos de vista de uma direita bem-falante, civilizada, exercendo a seu bel prazer os poderes comunicacionais que as televisões, as rádios e os jornais lhe concedem.
Para corolário de um comentarismo político tão escandalosamente partidarizado que até parece incomodar, por vezes, os próprios comentaristas, há uma falsa evidência, uma nulidade analítica, tão neutra e inocente como a barca, a estabilidade, etc., que assentou arraiais no discurso político.
O centro, (depois das sábias classificações de “centro-esquerda” e “centro-direita”) de que “governar ao centro”, “ocupar o centro” e o “eleitorado do centro” são subcategorias derivadas.
 
O centro é o papão com que a direita tenta assombrar a esquerda. 

 

Comentarismo politico (1)


[Marcelo Rebelo de Sousa]
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Marcelo Rebelo de Sousa, pelo meio de um discurso displicente que oscila entre o registo erudito e o registo popular, parecendo o popular uma conversão simplificada do erudito, presenteia-nos, de vez em quando, com as suas pérolas ideológicas. Ontem à noite, na sua habitual peroração na TVI, adiantou uma que vale a pena reter.
“O país é um barco.”
É verdade que para os muitos portugueses familiarizados com as artes da navegação, o trabalho de bordo é diferenciado. Nem todos têm o mesmo poder ou ganham o mesmo, nem todos fazem ou sabem fazer as mesmas coisas, enfim, até se poderia admitir, com muito boa vontade e condescendência que, nalguns aspectos, sim...
Mas eis que uma dúvida mais grada nos assoma ao espírito: qual é a prioridade de salvamento em caso de naufrágio?
Arreiam-se os salva-vidas. Primeiro vão as mulheres e as crianças, os mais fracos e fragilizados; depois os restantes, excepto o comandante, que deve permanecer e assegurar todas as manobras possíveis até ao limite. Diz-se, por isso, que o comandante é o último a retirar.
Veja-se, a esta luz, a vacuidade da metaforização marcelista.
Quando esse tal navio, que seria a pátria, enfrenta as porcelas das conjunturas desfavoráveis, os mais frágeis e desprotegidos são os primeiros a ser atingidos; os investimentos fluem para outras paragens; os marujos são obrigados a trabalhar mais e a ganhar menos, além de serem apontados como os grandes culpados da má navegação e, pasme-se!, os comandantes são os primeiros a abandonar a embarcação.
Foi assim com Cavaco, Guterres e Barroso.
É caso para questionar o insigne comentador: se a nação é, como sugere, um barco, e estamos todos interessados na sua preservação e boa rota, que diabo de marinha é essa?


 

Azevedo o grande ponta de Lance

Azevedo e Armstrong Posted by Hello
José Azevedo ficou num honroso 5º lugar na volta à França que hoje terminou em Paris. É o ciclista português melhor classificado na mais importante prova do ciclismo internacional, a seguir a Joaquim Agostinho que conseguiu, em 1978 e 1979, a 3ª posição.
José Azevedo não participou no Tour como um atleta participa numa prova desportiva onde cada um tem como único e supremo objectivo ultrapassar as suas melhor metas e ganhar. José Azevedo estava como hoje estão a maior parte dos desportistas-profissionais, e sem qualquer reparo à legitimidade, a ganhar a sua vida. E na volta à França, infelizmente, direi eu, José Azevedo não podia fazer o seu melhor, dar tudo por tudo, para ser ele o campeão. Ainda que o não conseguisse. Esse objectivo, verdadeiro objectivo do desporto, ele não podia ter. Nem ele nem os outros sete seus colegas de equipa e muitos outros ciclistas em todas as equipas de todas as voltas às Franças. Ele estava ali para ajudar Armstrong a ganhar a Volta. E foi um dos mais diligentes obreiros dessa vitória.

Aproveitando a conotação das palavras em francês em que o nome Lance do texano tem o significado de lança o L'Humanité digital titula
José Azevedo, le fer de Lance
Seul coureur portugais dans le peloton du Tour, cet ancien étudiant en médecine a été recruté par Armstrong pour l’escorter en montagne. Rencontre avec cet équipier modèle.
Saint-Flour, envoyé spécial.
José Azevedo, coursier de l’US Postal, est un peu le Porthos
[referência ao mosqueteiro, companheiro de armas de d’Artanhand, na obra de Alexandre Dumas]de Lance Armstrong, le grand favori de ce Tour 2004. Natif de Vila do Conde, à quelques kilomètres de Porto, - traduzo - o único lusitano do pelotão diz, por exemplo: " O meu objectivo é que Lance Armstrong ganhe o máximo número de vitórias. Nesta equipa, se tu pensas em ti próprio, tu não tens lugar. Em todo o caso, não é possível fazer outra coisa quando se tem o patrão do ciclismo mundial na nossa equipa" E mais adiante num registo não muito lisonjeiro - alguns franceses são um bocadinho sobranceiros - continua: "tudo isto para dizer que o nosso homem se contenta sem nenhuma mágoa do seu papel de "fer de Lance".

Sabemos o que é o mundo e poderá parecer "naif" prestar atenção a conceitos ou situações que de tão triviais e inelutáveis nos nossos quotidianos já não causam nenhum escândalo.
Ouvia um destes dias na TV uma das nossas celebridades do futebol dizer com ar naturalíssimo "fui comprado por tanto", "fui vendido àquele clube por tanto". O tanto é sempre muito dinheiro mas o que quero que me escandalise neste momento não é as somas astronómicas que são o contraponto da miséria obscena de milhões de seres humanos é o à-vontade com que uma pessoa aceita dizer de si que foi comprada e foi vendida. Claro que não me comove a situação em que ficam algumas destas mercadorias - e uso o termo sem réstea de ofensa - que ganham por mês o que um vulgar portuga não ganhará a vida toda.
Diferente, mas no mesmo mundo das mercadorias, com venda e compra, é a reportagem que hoje mesmo vi na SIC Notícias:
Que idade tem? 16 anos. Também teve de se prostituir? Também. E você? Tenho 18. E...? Igual. E você? Tenho 23. Também sou albanesa e vim aqui para a Bósnia contratada para lavar panelas. E então? Então fui vendida. Aqui o patrão da casa de alterne deu dinheiro por mim. Não quer perder o seu dinheiro. Mas... e não fugia porquê? Bom todas fugimos, umas antes outras depois, umas daqui outras dali. Por isso é que estamos todas agora nesta prisão. Mas não se queixavam à polícia? A polícia está feita com os nossos donos. Com os que nos venderam e com os que nos compraram. Fugíamos e entregavam-nos ao patrão. Fomos todas vendidas!

Não teremos aceitado com excessiva complacência a mercantilização dos Homens e das Mulheres? Das nossas vidas e das nossas consciências?

2004-07-25

 

Lance Armstrong um verdadeiro Mito

LA Posted by Hello
Lance Armstrong consagrou-se hoje, com a 6ª vitória consecutiva na volta à França, o mais famoso ciclista de todos os tempos. Em 103 anos de história, o Tour tinha quatro grandes recordistas com 5 vitórias. Eddy Mercks, Bernard Hinault, Miguel Indurain e Jacques Anquetil. Mas o texano pulverisou tais feitos com 6 vitórias seguidas. Armstrong tem outra grande vitória no seu palmarés sem a qual não teria conseguido estas. Lance venceu um cancro nos testículos que, segundo o NYT, já tinha provocado metástases nos pulmões e no cérebro. Para isto, além de muitos outros predicados, é necessário ter uma vontade de ferro. Parabéns Armstrong! Nem tudo o que vem do Texas é mau!!

2004-07-23

 

Carlos Paredes morreu. Só a sua música é imortal

CP Posted by Hello
Tive o privilégio de ter estado com Carlos Paredes três ou quatro vezes. Era muito difícil não se ficar logo amigo daquele homem bom.

No dia da sua morte transcrevo um excerto de um excelente texto de Ana Margarida de Carvalho / VISÃO nº 521 - 27 Fev. 2003, ano e meio antes da sua morte que retratam bem o artista e o homem

Para ele todos os superlativos convergem: o maior guitarrista português, o mais genial compositor, o mais virtuoso executante, o mais inspirado intérprete. Tão grande quanto o talento só a modéstia. Carlos Paredes, funcionário administrativo, músico nas horas vagas, que gostava de hambúrgueres do McDonalds, de ler BD e tratava toda a gente por «o meu amigo». Esta é a sua história, em ano de muitas homenagens a uma das Paredes mestras da nossa cultura.

Usa-se o pretérito imperfeito e parece estranho. Torna-se desconfortável, quase cruel. Não é habitual aplicar este tempo verbal a alguém que continua vivo. E, no entanto... continua aqui. Outras notícias e notas biográficas, hoje publicadas nos media disponíveis aqui.
 

GUITARRA(Carlos Paredes)

 


A palavra por dentro da guitarra
a guitarra por dentro da palavra.
Ou talvez esta mão que se desgarra
(com garra com garra)
esta mão que nos busca e nos agarra
e nos rasga e nos lavra
com seu fio de mágoa e cimitarra.
Asa e navalha. E campo de Batalha.
E nau charrua e praça e rua.
(E também lua e também lua).
Pode ser fogo pode ser vento
(ou só lamento ou só lamento).
Esta mão de meseta
voltada para o mar
esta garra por dentro da tristeza.
Ei-la a voar ei-la a subir
ei-la a voltar de Alcácer Quibir.
Ó mão cigarra
mão cigana
guitarra guitarra
lusitana.

 
Manuel Alegre

 

E, de repente, uma guitarra !

 


[16/02/1925-23/07/2004]

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"Feliz de quem pode encontrar amigos.


A mim, já me tem sucedido várias vezes."


Carlos Paredes



2004-07-20

 

Este Governo não tem nada a ver com o outro!!

NMS Posted by Hello
Nuno Morais Sarmento afirmou que "este Governo não tem que responder pelas suficiências ou insuficiências do anterior". (Jornal Público de 2004-07-20 1ª pág.)Muito bem Morais Sarmento! Especialmente para você que não esteve no anterior Governo!!
Nuno Morais Sarmento mandou às malvas o entendimento de Sampaio de que este Governo é a continuação do outro e ambos do PSD. Até para que não haja equívocos este é o Governo do PSD/PPD-PP. (Lembram-se que naqueles dias em que Sampaio não sabia o que havia de fazer Santana era só PSD e Portas era só CDS!?)
Claro que os eleitores avaliarão o desempenho de Santana e dos santanetes pelo seu Governo e não pelo Governo do PSD (Barroso+Santana). Não lhe vão pedir contas do que fez o PSD antes dele. Só não percebeu isso o Presidente Sampaio que acha mais simples guiar-se pela letra da Constituição do que pela leitura política que esta lhe faculta.

Ainda sobre as razões que terão pesado na decisão do PR de não convocar eleições é interessante conhecer o ponto de vista desse peso pesado da análise política, Mário Mesquita, publicado no Público de Domingo 2004-07-18 e disponível aqui)
Só uma amostra:
No nosso Portugal democrático, a direita política, associada à direita dos negócios, exerce uma inquestionável hegemonia política e institucional. Não se limita, aliás, a impor respeito aos Presidentes e a manobrar os governantes. Alarga a sua influência à própria oposição - e tem a sua palavra a dizer, com peso considerável, na designação do secretário-geral do PS.

 

Como tece Jardim o seu Poder

Madeira dragon Posted by Hello

Mais informação sobre a Madeira. Sara dixit:
A expropriação da Quinta Magnólia, propriedade de uma família inglesa, - os reais e verdadeiros colonizadores da ilha - por parte do governo regional da Madeira, foi, durante muitos anos, o símbolo da autonomia.
Jardim fazia questão de lembrar a exploração desses senhores, enquanto donos das terras em sistema de colonia, terrenos adquiridos, muitas vezes, com base em hipotecas feitas por emigrantes que não conseguiam pagar a viagem para a Venezuela e a Africa do Sul. Acontecia que as agências de viagens estavam nas mãos dessas famílias inglesas que, muito "caridosamente", adiantavam a passagem. O pagamento, esse, caso tardasse, era reconvertido em património. E assim se fizeram fortunas.
Esta prática de Jardim, contra os ingleses, que até eram donos da água de rega, calou a esquerda. O fim do regime feudal a que a Madeira estava votada até ao 25 de Abril, regime de colonia, foi extinto nos anos seguintes à revolução. Em todas as campanhas eleitorais, Jardim faz questão de dizer que a única reforma agrária com sucesso, neste país, aconteceu na Madeira. «Demos a terra a quem trabalha», grita, ou seja, mais uma vez cala a esquerda.
Só mais um exemplo para perceber a prática do lider madeirense que, por estratégia, varre os campos da esquerda à direita, como um eucalipto que suga tudo ao redor.
Na saúde, desde 1976, que o sistema adoptado foi convencionado. Ou seja, a ordem dos médicos na Madeira assinou um protocolo com o governo. Isto significa que o preço das consultas está tabelado. Nem mais um euro é permitido cobrar aos doentes. Nenhum médico pode levar, por consulta, mais de 50 euros, seja ou não especialista. Por outro lado, o utente pode escolher o médico que entender. No fundo, todos estão convencionados, incluindo as clínicas. Até os exames auxiliares de diagnóstico estão tabelados.Nos idosos, os que recebem pensão mínima, têm um regime especial que os isenta praticamente do pagamento de medicamentos e são reembolsados em quase 40 por cento do preço da consulta. Mais uma vez, isto calou a esquerda. A direita, caso do CDS/PP Madeira, é que chama despesismo a estas práticas, alegando que elas permitem negócios e promiscuidade entre público e privado, ao que Jardim responde chamando-os de fascistas. Portanto, este é só um preâmbulo de, uma parte, da história madeirense destes 30 anos. Na Madeira não há centro. Ou seja, não há partidos dobradiças.
Sara

2004-07-19

 

CDS/PP da Madeira ataca Jardim

 
O post de Manuel Correia Mas... onde está o Centro? (II) imediatamente abaixo deu origem a um interessante debate e a informação sobre a Madeira que escasseia no Continente trazida pela Sara. Por isso pareceu-me interessante publicar aqui o seu comentário.
 
Porque considera o CDS/Madeira uma força esquizofrénica ?
Sara responde:
 
A esquizofrenia popular revela-se no seguinte: Na Madeira, as alianças nacionais, desde ao Bloco Central, passando pela AD e pela actual coligação PSD/PP, nunca funcionaram porque o partido de Jardim, desde 1976, governa em maiorias absolutas e bipolarizou a sociedade madeirense entre os do partido do poder (leia-se PSD) e os outros, catalogados de frentismo, ou seja, os que "estão contra o desenvolvimento da Madeira Nova», como diz Jardim. E isto abrange, em pacote, o PS, PCP, UDP e CDS/PP, representados no parlamento regional e facilita o discurso e a prática do PSD na região. Por tudo isto, sem esquecer o passado histórico, o CDS de Paulo Portas é obrigado a fazer um discurso anti-regime na Madeira, contra o PSD, caso contrário perde eleitorado regional, pois, desde sempre, o CDS tem sido oposição a Jardim. Por exemplo, recordo que foi o CDS/PP que denunciou a "falcatrua" de uma Fundação Social Democrata, sediada no Funchal, que detém todo o património do PSD/Madeira, que recebe dinheiros para o partido, e que foi considerada de utilidade pública, com o mesmo estatuto de isenção fiscal de um lar de terceira idade ou instituições do género.Recordo, ainda, que, em 1992, quando o PS mediatizou a questão do défice democrático, problema levantado por Mário Soares na campanha das presidenciais de 1991, o CDS Madeira, então liderado por Ricardo Vieira, propôs que os partidos da oposição não deveriam concorrer às eleições regionais desse ano, por não haver garantias de liberdade e exercício da democracia. O PS e o PCP rejeitaram a ideia. Desculpe a conversa longa mas, infelizmente, existe algum desconhecimento nacional sobre a realidade desta ilha. Na Madeira, ou somos do PSD ou da oposição. Tão simples quanto isto. A questão ideológica ou a divisão esquerda/direita quase desapareceu. Cheira a antigamente, não é verdade? Mas é assim. Quando falei do esquizofrenismo do CDS/PP, referia-me à dualidade de comportamentos, discursos e atitudes exigíveis pela situação. Prometo contar mais histórias sobre esta região, cuja pérola foi dada aos porcos.
Sara

2004-07-18

 

Mas..., onde está o centro?  ( II )


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[João Soares a caminhar... em frente]


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1. O Governo tomou posse. Não posso adiantar mais nada. O Raimundo Narciso, no seu blog pessoal Memória do Presente, saciou-nos a curiosidade com  os pormenores mais rocambolescos dos bastidores da cerimónia. Lê-lo, torna-se divertido e instrutivo...
 
2. João Soares mantém a candidatura a secretário geral dos socialistas. Foi ao congresso da JS. Diz que vai ganhar e que a notoriedade de José Sócrates lhe vem do palco televisivo. Eu pergunto: não haverá mais diferenças?
 
3. Paulo Portas irritou o PSD/Madeira ao declarar que o ciclo de Alberto João tem de acabar, está esgotado, etc. Porque não terá Paulo Portas sido capaz de dizer coisa semelhante sob a batuta de José Barroso? Será que está mais à vontade agora? Tem um pouco mais de poder?
 
4. O que têm as três notas anteriores a ver com a problemática do "centro" político, fica para um próximo post. 
 

2004-07-17

 

Mas..., onde está o centro?  ( I )

[William Labbett, Tesselation]
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O centro é uma metáfora política. Tem em comum com as restantes metáforas a compleição quimérica. Algo do espaço e da geometria; uma medida e uma proporção impossíveis, pois "centro" é um conceito distinto de "meio" (onde proverbialmente está a virtude). Até certo ponto, é tão fixável como a linha do horizonte. Esta, por definição, afasta-se de nós à medida que avançamos para ela. O centro (político e eleitoral) avança para nós à medida que nos aproximamos dele. O inverso do que sucede com a linha do horizonte, portanto. Pelo visto, o "centro" começa por ser um equívoco. Deveria, para respeitar a inspiração geométrica, ser equidistante de qualquer ponto do sistema, e não é; deveria possibilitar a localização, tão precisa quanto possível, da esquerda e da direita, e não o permite. Na metáfora do centro, a esquerda e a direita são indiferentes. Deslocam-se em arco e ocupam, a cada passo, diferentes pontos do perímetro.

O centrismo político é uma velha história, colorida e acidentada. As figuras que se reclamaram do centrismo, começaram, quase sempre,  por recusar as posições extremadas da esquerda e da direita, passando, depois, a governar abertamente  à direita.

Se o Governo de PSL, que hoje tomou posse, acentuou ainda mais a viragem à direita que se tinha operado com o Governo anterior, então, como sustenta JPP, o "centro" foi deixado à mercê de quem se esforce por o conquistar.  Tratar-se-á de  lugares do "centro" deixados vagos pela direita?

Às vezes, ser do "centro" quer apenas dizer ser moderado...

 

Consciência de classe  ( I )


 
[Américo Marinho, Natureza Morta, com a devida vénia ao Luis Luz - http://artbarreiro.com]
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1.  Francisco Vanzeler, Presidente da CIP,  demonstrou ontém, na TSF, que apoiar o Governo PSL, não é tudo o que se pode fazer para tornar a história agradavelmente colorida. Respondendo a perguntas de Paulo Alves Guerra acerca da composição do Governo em formação, achou estranha a conjugação das áreas das Actividades Económicas e do Trabalho. Discorreu, acrescentando que são áreas diferentes, tão diferentes, que não imaginava o Ministro Álvaro Barreto a acudir aos empresários, de manhã e, à tarde, aos trabalhadores. Parecia-lhe, apesar de tudo, tratar-se de  interesses e matérias bem diferentes. Quero aqui deixar lavrado um louvor,  homenageando o ilustre empresário. Os trabalhadores em risco de serem atraídos para o "centro", ainda podem aprender alguma coisa com ele.
 

2.  Miguel Sousa Tavares deu, ontém, no PÚBLICO, uma achega para a compreensão do que se tem agravado em matéria de representação no nosso sistema político. Dizia ele, com humor e um sinal perverso de consciência ferida, que tendo votado sempre, aparecem-lhe pela frente a desempenhar os respectivos cargos pessoas em que ele não votou. Estão mesmo a ver a quem ele se refere? Pois, pois... Na dúvida, podem confirmar, dando uma espreitadela aqui.
 

3.  No Diário de Notícias de ontém (pág. 6), o título era "José Sócrates à frente na corrida", seguindo-se  que o "Ex-ministro anunciou que é candidato a líder e tem já apoio da maior parte do aparelho". Deveremos compreender (basta dar uma vista de olhos neste mesmo blog) que o DN pecou por defeito. Sócrates está a conseguir, mesmo antes de se comprometer publicamente com os Socialistas, um vasto (ou será amplo?) apoio. É a consciência possível: primeiro os apoios; depois, o programa. À noite logo se vê... Mas os meus camaradas de blog podem ter razão. A política tem as suas contingências, e o PS não é um partido qualquer.
 


2004-07-16

 

Pois, pois... (III)


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1. O Partido Socialista está agora, mais do que nunca, a olhar para este homem. Muitas pessoas de outros partidos e sem partido, também. Ouviram-no e viram-no, a noite passada, numa entrevista que ele deu a Judite de Sousa, na RTP1. Já se fazem apostas: é da ala direita e procura o "centro"; não é assim tão à direita como alguns dizem; espera, espera, ainda é cedo...
 
2. José Sócrates deve saber ao que vem. Diz inspirar-se no exemplo de todos os secretários gerais do PS, - o que é, digamos, bastante! Quando vier a chefiar um Governo (o próximo?) bater-se-á por um país competitivo, desenvolvido, com protecção social, na senda do que tentaram fazer as equipas de António Guterres, e no alinhamento vago do que são esses países do norte da Europa onde a social democracia semeou bem-estar e tranquilidade.
 
3. Preconiza o diálogo à esquerda e recorda que as organizações partidárias também se vão modificando...
 
4. Que sinais deu? O que reprovou na história acidentada e ziguezagueante das governações socialistas? Que garantias dá que desta vez irá ser diferente e o "centrão" não imobilizará as boas políticas que fariam de Portugal um país melhor e não paralizará o PS tornando-o indecidido entre "moderno" e "moderado"?
 
5. Estão aqui ao lado a tentar explicar-me que foi apenas a primeira entrevista, enfim, que não exagere, que não seja pessimista. Pois, pois... A verdade é que há sempre uma primeira entrevista. E a nossa capacidade de compreensão, a nossa credulidade, ao empatizar com o futuro líder, pactuando com generalidades envolvidas no manto diáfano das boas intenções, estende a passadeira às decepções do costume.
 
6. É sempre quando se baixa o nível de exigência e a simpatia começa a substituir a avaliação das ideias, projectos e desígnios, que os actores políticos percebem a sua marcação em palco, preferindo o slogan ao debate. A insistência na abstracção não augura nada de bom.

 

SÓCRATES

A entrevista de Sócrates a Judite de Sousa, ontem na RTP, revelou mais uma vez a boa imagem de Sócrates na TV e a sua reconhecida capacidade de comunicação.  Tal como Santana Lopes. Mas não me parece lícito levar mais longe a comparação. A não ser para evidenciar a superior consistência política do candidato à liderança do PS.
A comunicabilidade é uma vantagem muito importante na política. É por isso que na esquerda tanto se teme Santana Lopes. Ele tem esse don. Tal como Sócrates. Cada um com o seu estilo.
Considerar que a grande capacidade de comunicação e a boa imagem televisiva indicia o mau político, o demagogo ou a ausência de ideias, é um disparate.
Sócrates deixou obra na sua passagem pelo Governo e revelou qualidades que lhe auguram um futuro promissor. Capacidade de trabalho, conhecimento dos dossiês, determinação, combatividade, convicção. Lembremos a firmeza com que lutou pelo saneamento básico ao acabar com as lixeiras que empestavam o país e pela busca de solução para os lixos industriais e tóxicos. Enfrentando resistências no seu partido, trocando a popularidade pela firmeza de propósitos que serviam o interesse nacional.
A sua firmeza numa altura em que ela primava pela ausência levou-o por vezes a parecer  autoritário. Deverá ter isso em conta. E a não ultrapassar o risco.
Firmeza, combatividade, coragem e desapego pela demagogia parecem-me ser traços do seu carácter. Tem de aproveitar bem o tempo à sua frente para estudar, aprender, definir políticas e organizar. Trabalhar com profissionalismo, coisa que prima pela ausência no PS.
Não me parecem consistentes as avaliações de que ele representa a direita do PS. Espero para ver.
Se Sócrates souber fazer os seus Estados Gerais, definir com clareza políticas alternativas bem estruturadas poderá levar o PS ao Governo daqui a dois anos e ao contrário do que sucedeu com Guterres creio que terá a força de ânimo para não as deixar asfixiar pelos interesses instalados.


 

Assim se dignifica a Política

 
Pacheco Pereira, é claro! Porque renunciou, por razões estritamente éticas,  ao cargo na Unesco para que fora nomeado, em virtude das posições que assumiu relativamente ao actual Governo do seu partido.
Lembro a propósito José Barros Moura que, ainda que numa situação distinta, ao abandonar o PCP renunciou às suas funções de deputado ao Parlamento Europeu, sem que nada o obrigasse a não ser razões morais.
Associo-me assim aos muitos blogs que não deixaram passar em claro esta atitude que honra mais a política que mil discursos.

2004-07-15

 

As contradições da Olívia

Muitos leitores certamente se recordarão de Ivone Silva, uma das maiores e mais populares artistas da chamada Revista à Portuguesa, que criou numerosas personagens fabulosas que tão bem caricaturaram a situação política portuguesa e muitos dos seus intervenientes, antes e depois do 25 de Abril.

Uma dessas personagens, criada precisamente depois do 25 de Abril, foi a Olívia, costureira, que trabalhava sozinha em casa para as clientes que ia arranjando e que, portanto, era simultaneamente empregada e patroa de si mesma.

Olívia vivia em grande e permanente contradição: como Olívia patroa, exigia que Olívia costureira trabalhasse mais depressa e mais horas, que não fizesse férias, que tivesse menos salário e não recebesse horas extraordinárias; como Olívia costureira, reivindicava à Olívia patroa maior salário, redução das horas de trabalho e aumento do período de férias.

Este quadro de revista veio-me à memória a propósito da Directiva-Quadro da Água da UE que já devia ter sido transposta para o nosso direito interno até ao passado dia 22 de Dezembro e que ainda não o foi, nem ninguém sabe bem quando será transposta.
(Artigo publicado no "Diário Económico" de 15.Jul.2004. Para ver o artigo completo consulte o ALFORGE)

2004-07-14

 

Os animadores dos coments e Vital Moreira

O Puxa Palavra teve ontem um aumento de visitas que elevou para mais do dobro o seu número habitual. Acho que para isso contribuiu o vivo debate e controvérsia que se tem verificado nos últimos dias nos comentários a vários posts.
Mas depois na ronda habitual por alguns dos mais interessantes sítios reparei que Vital Moreira incluiu um post (aqui) com uma chamada de atenção para o Puxa Palavra e julgo que aí radica uma importante causa do pico, no gráfico das visitas.
Se fizer sentido agradecer, obrigado às amigas e amigos que nos visitam e proporcionam esta interessante troca de ideias e ao Vital Moreira e ao excelente Causa Nossa pela informação que oferece. E também à Ana Gomes porque, tal como na Grande Loja do Queijo Limiano e quiçá outros blogs, ela foi o pomo da discórdia (com o seu estilo, nada diplomático - que ela agora não é diplomata! - mas muito frontal) donde se partiu para a discussão da situação política do momento.
 

A Política tem surpresas?

Acabo de ler o post de Vital Moreira no Causa Nossa: António Vitorino "borregou".

Ao contrário de VM, acho que o Vitorino fez o que eu esperava dele, apesar de concordar em tudo com o que diz VM sobre os argumentos pouco convincentes da sua não candidatura.

Conheço muito mal António Vitorino. Estive em duas ou três reuniões conduzidas por ele no processo Estados Gerais, mas sempre fiquei convencido e isto é do mais puro subjectivismo, que Vitorino tinha pouca apetência para aquele tipo de realizações.

Acho que o País perde, mas sem gente motivada...

Acho que o PS necessita não sobretudo de um SG, mas de meia dúzia de ideias estruturantes para este País, porque não as tem fundamentadas e com rumo.
 

Aos morgados que por aí pululam (I)


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[Com a devida vénia ao Blog, aparentemente inactivo, "Cidadão do Mundo" - post de 27/02/2004 - aí vai, a pedido do Raimundo Narciso e de várias famílias, o histórico improviso de Natália Correia. Se ainda houver perdão, que Deus nos perdoe!]
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Na sequência da afirmação do deputado do CDS, João Morgado, em Abril de 1982, de que «o acto sexual é para fazer filhos», a saudosa Natália Correia repondeu-lhe com o seguinte poema, provocando o riso em todas as bancadas parlamentares:

Já que o coito – diz Morgado –
tem como fim cristalino,
preciso e imaculado
fazer menina ou menino;
e cada vez que o varão
sexual petisco manduca,
temos na procriação
prova de que houve truca-truca.
Sendo pai só de um rebento,
lógica é a conclusão
de que o viril instrumento
só usou – parca ração! –
uma vez. E se a função
faz o orgão – diz o ditado –
consumada essa excepção,
ficou capado o Morgado.


Natália Correia

"O deputado, ofendido com a dedicatória, rispostou que tinha DOIS filhos. Ao que Natália respondeu que bastava substituir truca-truca por truca-truca truca-truca."

2004-07-13

 

Pois, pois... (II)


1. Visto que Santana Lopes anda agora ocupado com a formação do Governo, deixemos o homem trabalhar. Atrás dele, deixa duas Câmaras Municipais em que prometeu ficar um pouco mais, mas... enfim, não foi possível. A Pátria chama. Vamos com ela! A quem ainda restar dúvidas, basta inscrever-se para uma visita ao Túnel do Marquês. A Câmara Municipal de Lisboa organiza. Veja aqui.

2. Anda muito povo maçado com os modos da Ana Gomes. Até mesmo aqui, no Puxa-Palavra, já houve quem se amofinasse com ela. Parece que a mulher tinha o direito de pensar aquilo - "Um Governo, uma Maioria, um Presidente" - mas dever-se-ia alpercatar, dando, assim, com aquele desabafo, a sensação de ir descalça pela verdura. Noutros blogs, então, a discussão ferve, e as pessoas estão mesmo a zangar-se (a sério) umas com as outras. Sem querer tirar partido nem apimentar o relatório, deixo uma proposta de reflexão: Como teria agido um Presidente da República eleito pela direita? Teria dissolvido? Ah!, também não!?

3. Não se deve criticar Jorge Sampaio porque é o nosso PR. Alberto João, também não, porque além de Presidente do Governo Regional da Madeira e Dirigente Nacional do PPD/PSD é apenas... Conselheiro de Estado. Pronto já percebi. Teremos de continuar a dizer mal daqueles..., pois, os do costume. E dizer o que pensamos, pode-se? Então pronto. Vá lá. Já é alguma coisa!
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Queixa das almas jovens censuradas


Dão-nos um lírio e um canivete
e uma alma para ir à escola
mais um letreiro que promete
raízes, hastes e corola

Dão-nos um mapa imaginário
que tem a forma de uma cidade
mais um relógio e um calendário
onde não vem a nossa idade

Dão-nos a honra de manequim
para dar corda à nossa ausência.
Dão-nos um prémio de ser assim
sem pecado e sem inocência

Dão-nos um barco e um chapéu
para tirarmos o retrato
Dão-nos bilhetes para o céu
levado à cena num teatro

Penteiam-nos os crâneos ermos
com as cabeleiras das avós
para jamais nos parecermos
connosco quando estamos sós

Dão-nos um bolo que é a história
da nossa historia sem enredo
e não nos soa na memória
outra palavra que o medo

Temos fantasmas tão educados
que adormecemos no seu ombro
somos vazios despovoados
de personagens de assombro

Dão-nos a capa do evangelho
e um pacote de tabaco
dão-nos um pente e um espelho
pra pentearmos um macaco

Dão-nos um cravo preso à cabeça
e uma cabeça presa à cintura
para que o corpo não pareça
a forma da alma que o procura

Dão-nos um esquife feito de ferro
com embutidos de diamante
para organizar já o enterro
do nosso corpo mais adiante

Dão-nos um nome e um jornal
um avião e um violino
mas não nos dão o animal
que espeta os cornos no destino

Dão-nos marujos de papelão
com carimbo no passaporte
por isso a nossa dimensão
não é a vida, nem é a morte
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Natália Correia, in "O Nosso Amargo Cancioneiro"


2004-07-12

 

A demagogia bate-nos à porta

A campanha está no terreno. Perguntar-me-ão que campanha? A da demagogia encartada. Esta entrada de post tem a ver com uma conversa hoje apreciada logo pelo café da manhã.

Chego ao café, onde aliás vou todos os dias, em que as pessoas se conhecem sem se conhecerem e começo a ouvir. O Santana Lopes não vai ter um governo tão grande e ainda bem: os funcionários públicos são uns malandrões, não fazem nada, só gastam o nosso.

Bem apeteceram-me várias coisas. Começar por perguntar quanto pagavam de impostos, pois a maioria dos conversantes não paga um tosto. Depois porque razão os funcionários públicos são assim tão odiados? Alguns dos presentes eram funcionários públicos e ainda estavam ali quando pelo menos deviam estar a trabalhar no mínimo há uma hora, só que não se consideram como tal pois são da saúde. Terceiro, questionei-me como sempre sobre este assunto que me toca muito, pois já fui funcionário público: de onde vem tamanha "peçonha" contra esta classe profissional.

É tempo de pegar muito a sério nesta questão, para dignificação da classe e para que o país possa usufruir de um trabalho dos bons profissionais que há, embora muitas vezes andem á deriva. Esta é uma questão de fundo, perfeitamente distorcida, em termos de sociedade e onde, seriamente, nenhum governo quer, sabe, meter a mão.

Vai doer a quem pegar neste trabalho de recuperação por um lado e de projectar como elemento de organização da sociedade por outro, porque os erros acumulados são demais. Mas sejamos honestos é um dos domínios chave para o País avançar, mas não numa estratégia contra as pessoas. Esse tem sido o erro dos múltiplos governos.

 

PABLO NERUDA

PN Posted by Hello

De manhã ouvi na rádio que o grande poeta chileno fazia anos. Cem anos. Bela idade, pensei. Vou enviar-lhe um cartão a dar-lhe os parabéns. Não queria ficar atrás do Pedro que enviou um cartão pessoal ao Machado de Assis, a agradecer o livro que ele amavelmente lhe enviou. Teria sido o D.Casmurro ou as Memórias Póstumas de Brás Cubas? Hoje, à beira de se tornar 1ºM, estou certo que a ideia de enviar o cartão a um senhor que morreu em 1908 não foi sua. Ele que até já foi Secretário de Estado da....da....Cultura! foi ideia, seguramente, de um secretário de pequena ou média literacia.

Quando manhã alta fui ao blog, a seguir à bica, vejo que o Manuel Correia se aproveitou dos meus vagares para insidiosamente se adiantar e colocar nada menos que 3 posts sobre Pablo Neruda.
Despeitado, fui à arca das antiguidades buscar uma relíquia deste grande Homem nacido en Parral en 1904 e muerto en Santiago en 1973 pouco depois do assassinato do seu amigo e Presidente Allende, pelo golpe militar de Pinochet.
É um folheto de 12 páginas com o formato de 1/4 de folha A4 em papel bíblia muito fininho (para se poder comer se a PIDE surgisse de supetão)que tem no alto da capa "Contribuições à luta pela libertação de Álvaro Cunhal". Contém um apelo de Jorge Amado à libertação do lider do PCP (Com 4 anos de prisão e ainda mais 7 pela frente até conseguir escapar na célebre fuga do Forte de Peniche, em Janeiro de 1961) e o poema de Pablo Neruda A LÂMPADA MARINHA de homenagem a Cunhal. Sem ser do melhor que o poeta escreveu não deixa de ter um importante significado.
É uma publicação clandestina do PCP de 1954 e o poema foi traduzido para português do Brasil por E. Carrera Guerra.
Transcrevo a primeira das cinco partes do poema.


A LÂMPADA MARINHA

O Porto Côr de Céu

I

Quando desembarcas
em Lisboa,
Céu celeste e rosa,
estuque branco e ouro
pétalas de ladrilho
as casas,
as portas,
os tetos,
as janelas
salpicadas do ouro verde dos limões,
do azul ultramarino dos navios,
quando desembarcas
não conheces,
não sabes que por detrás das janelas
escuta
ronda
a polícia negra,
os carcereiros de luto
de Salazar, perfeitos
filhos de sacristia e calabouço
despachando presos para as ilhas,
condenando ao silêncio
pululando
como esquadrões de sombras
sob janelas verdes,
entre montes azuis,
a polícia,
sob outonais cornucópias,
a polícia
procurando portugueses,
escarvando o solo,
destinando os homens à sombra
 

Hoy pasa el Centenario del Nacimiento de Pablo Neruda


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Quem quiser (re)ler online uma boa antologia da sua poesia, pode fazê-lo aqui.

 

PLENOS PODERES


Pablo Neruda
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A PURO sol escribo, a plena calle,
a pleno mar, en donde puedo canto,
sólo la noche errante me detiene
pero en su interrupción recojo espacio,
recojo sombra para mucho tiempo.

El trigo negro de la noche crece
mientras mis ojos miden la pradera
y así de sol a sol hago las llaves:
busco en la oscuridad las cerraduras
y voy abriendo al mar las puertas rota
hasta llenar armarios con espuma.

Y no me canso de ir y de volver;
no me para la muerte con su piedra,
no me canso de ser y de no ser.

A veces me pregunto si de donde
si de padre o de madre o cordillera
heredé los deberes minerales,

los hilos de un océano encendido
y sé que sigo y sigo porque sigo
y canto porque canto y porque canto.

No tiene explicación lo que acontece
cuando cierro los ojos y circulo
como entre dos canales submarinos,
uno a morir me lleva en su ramaje
y el otro canta para que yo cante.

Así pues de no ser estoy compuesto
y como el mar asalta el arrecife
con cápsulas saladas de blancura
y retrata la piedra con la ola,
así lo que en la muerte me rodea
abre en mí la ventana de la vida
y en pleno paroxismo estoy durmiendo.
A plena luz camino por la sombra.
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TORAH


[Leonardo da Vinci: Studies of Concave Mirrors of Differing Curvatures, c. 1492]
__________________________________________________

Jeová achou que era altura de pôr as coisas no seu devido lugar. Lá de cima acenou a Moisés. Moisés foi logo, tropeçando por vezes nas lajes e evitando o mais possível a sarça ardente. Quando chegou ao cimo, tiveram os dois uma conferência, cimeira, claro. A primeira, se não estou em erro. No dia seguinte Moisés desceu. Trazia umas tábuas debaixo do braço. Eram a Lei. Olhou em volta, viu o seu povo aglomerado, atento, e disse para todos os que estavam à espera: - Está aqui tudo escrito. Tudo. É assim mesmo e não há qualquer dúvida. Quem não quiser, que se vá embora. Já. Alguns foram.
Então começou o serviço militar obrigatório e fez-se o primeiro discurso patriótico.
Depois disso, é o que se vê.
______________________________
Mário Henrique Leiria
Contos do Gin Tónico

 

AOS AMIGOS


Amo devagar os amigos que são tristes com cinco dedos de cada lado.
Os amigos que enlouquecem e estão sentados, fechando os olhos,
com os livros atrás a arder para toda a eternidade.
Não os chamo, e eles voltam-se profundamente
dentro do fogo.
– Temos um talento doloroso e obscuro.
Construímos um lugar de silêncio.
De paixão.
___________________
Herberto Hélder
___________________

 

O PR vai vigiar e bater o pé ao Santana e ao Portas

E eles agradecem. Jorge Sampaio ou não faz nada e isso, ainda que os desaponte, deixa-os governar à sua maneira ou manda raspanetes e eles agradecem. Porque "governar" confrontos, isso sim, é a sua especialidade.
Na comunicação ao país em 2004-07-09 o Presidente asseverou:
.....
Justifica-se reiterar aqui que tem de ser rigorosamente respeitada a continuidade das políticas essenciais – repito, a Europa, a política externa, a defesa, a justiça, bem como as políticas de consolidação orçamental.
Fique claro que é por estas vias de continuidade e pelo rigor indispensável que passarão os critérios permanentes da minha avaliação das condições de manutenção da estabilidade governamental; e utilizarei a plenitude dos meus poderes constitucionais para assegurar que esses critérios serão respeitados. Sempre terei por inaceitáveis viragens radicais nestas políticas, pois foram elas as sufragadas pelo eleitorado

Quer-se dizer:
"Tem de ser rigorosamente respeitada a continuidade das políticas..."
Perguntas:
1)política externa - Santana tem de se manter fiel à política de Bush para o Iraque ou pode alterar se Kerry ganhar e mudar?
2)defesa - Portas deverá comprar mais submarinos ou Santana pode arripiar caminho?
3)justiça - Polícia Judiciária deve continuar a sanear os investigadores "inconvenientes" como Maria José Morgado, Teófilo Santiago, João Massano? a PJ deve continuar a desmantelar a investigação do Apito Dourado ou deve desmantelar a rede?
4)políticas de consolidação orçamentalSantana tem de continuar a consolidação orçamental com a venda da Caixa Geral de Depósitos, o Museu de Arte Antiga, a estátua do Marquês de Pombal ou pode, em alternativa, diminuir de forma sustentável as despesas públicas e combater a fuga ao fisco?
Mas...
"Sempre terei por inaceitáveis viragens radicais nestas políticas, pois foram elas as sufragadas pelo eleitorado"

Há ainda esse problema! Que é o de Santana ter de continuar a política que Durão seguiu e ao mesmo tempo ter de seguir a oposta. Porque as políticas que Barroso prometeu na campanha eleitoral, que foi a que foi sufragada, são diferentes das que adoptou chegado ao Governo.
Exemplo? Prometeu choque fiscal e depois fez o contrário.
 

Morreu Maria de Lurdes Pintassilgo

1�Ministra Posted by Hello

Presto a minha homenagem a esta grande MULHER.
Maria de Lurdes Pintassilgo foi a única mulher a exercer as funções de Chefe do Governo. Na Espanha do PSOE e de Zapatero metade do Governo é constituído por mulheres. Parabéns Zapatero. E também pela outra decisão!
Maria de Lurdes Pintassilgo foi 1ª Ministra por iniciativa do PR General Ramalho Eanes. Naquele tempo a Constituição permitia a escolha por iniciativa presidencial. Prestou muitos outros serviços ao país. O menor não foi o seu exemplo de militância cívica e desinteressado empenho de toda a sua vida na luta por causas a favor dos mais carenciados e desprotegidos.
Por isso não fiquei surpreendido ao ler no Causa Nossa o que Ana Gomes diz:
Naquele dia na Estrela, fomos conversando enquanto eu a amparava no lento e penoso percurso, corredor fora, deixando a capela do velório. Sobre a morte do Professor Sousa Franco, que a abalara muito, ... Já à saída da Basílica, perguntei de que lado estaria o motorista que a viera trazer. Atalhou «Meu motorista? Filha, não tenho dinheiro para tal. Este é um senhor muito amigo, muito gentil, que insiste em conduzir-me quando tenho de sair de casa. Sabe, é que eu vivo apenas de uma pequeníssima pensão dada pelo Baltazar Rebelo de Sousa...». Perante a minha incredulidade, Maria de Lourdes explicou que nos tempos do governo PS bem tentara que a situação fosse corrigida, falara até a alguns ministros... Mas, que havia de se fazer, só fora Primeira-Ministra cinco meses, só tinha direito a pensão pelos tempos de Procuradora à Câmara Corporativa!

Não fiquei surpreendido. Um país que dá boas pensões a agentes da PIDE pelos "altos serviços prestados à Pátria" é bem capaz de não dar nada a uma mulher como Lurdes Pintassilgo.

2004-07-11

 

Pois, pois... ( I )


1. Daqui a pouco virá um clima mais propício à reflexão. No calor da
refrega, tendemos a encorpar as nossas argumentações. Veja-se, por exemplo, o
Senador Rockfeller a declarar que se, no Congresso dos E.U.A., soubessem o que sabem hoje, não teriam autorizado Bush a desencadear a guerra...


2. Quanto à ida de JMBarroso para Bruxelas, li um artigo interessante de
Eduardo Lourenço no PÚBLICO. Quem não teve oportunidade de lê-lo mas sente
alguma curiosidade, pode encontrá-lo aqui.


Havemos de voltar muitas mais vezes ao gesto que desencadeou a demissão do
governo em exercício. Pensam alguns que foi uma deserção, pura e simples, em
consequência dos resultados das eleições para o PE. O artigo de Eduardo
Lourenço faz a demonstração do que foi uma falácia patrioteira. Por outro
lado, sugere pistas para descortinar o que significa ter sido JMBarroso o
"escolhido".


3. José Saramago (SIC-Notícias, 2004/07/11), propõe nova grelha de
leitura: o ciclo da revolução de Abril findou agora, no momento em que se
consumou a fuga do quarto fugitivo do Apocalipse, - Ferro Rodrigues. Para
Saramago, os anteriores foram Guterres, Barroso e Sampaio. Parece um desvario
literário, mas encarado com tolerância, pode ser interpretado de outro modo.
30 anos depois, com esta nova guinada para a direita extremada, já se ouve um
coro enorme de apologistas do "centro". Primeiro o poder. As
políticas ficam para depois. Depois de lá chegarmos, logo se vê o que é
possível fazer.


Saramago pode estar a exagerar com o Apocalipse, mas tem razão
num aspecto. São fugitivos, legitimados pessoal e formalmente, mas dando sempre cobertura a mais um deslize para a direita. Não necessariamente por falta de ideias, mas por ideias... assim.


OK. Juntemos, então, os cacos.


 

É preciso juntar os cacos!!

Não entrei de forma muito acalorada na discussão das alternativas de decisão que se punham a Jorge Sampaio. Em dois post dizia no primeiro que não me chocava se Sampaio não fosse para eleições, apesar de entender, e isso era dito nesse post, que a decisão de Durão Barroso era uma fuga por não ter condições para governar após os resultados das europeias.

No segundo post estava eu convencido que Jorge Sampaio iria para eleições, porque tinha dado aso, ao desenvolvimento de uma dinâmica nesse sentido.

Por muito que me custe dizer, por incapacidade política minha é certo, nunca cheguei a ter uma opinião segura sobre a melhor opção para o país. Falei com muitos amigos e muito poucos eram os que me acompanhavam nas minhas dúvidas, todos tinham ideias claras pró eleições, embora às vezes não me soubessem responder a algumas dúvidas abtusas que eu colocava. Sentia-me algo sozinho e agora, após a decisão de Sampaio, com uma amargura muito grande.

Certezas e dúvidas. Não posso acompanhar a decisão do Presidente pelo tempo que demorou. A não convocação de eleições exigia maior celeridade. Segundo, o discurso no que toca a condicionar o governo na sua composição e gestão é pouco credível porque não operacional.Terceiro, ir para eleições seria desejável, mas na política nem tudo o que é "genuino" dá um bom resultado.
Quarto, não posso aceitar algumas declarações, embora no calor da "reacção à decisão" de certos dirigentes do PS. Algumas raiaram a ofensa ao Presidente. Ser político dirigente requer para que os eleitores os respeitem e acreditem uma boa dose de ponderação, sobretudo na discordância. Para discordar temos argumentos e não palavras de ofensa. É "forte" dizer-se que há "uma maioria, um presidente e um governo".

Como diz o Rui Carreteiro, Jorge Sampaio, apesar desta decisão que desagradou muitos dos que votaram nele e à família das esquerdas (embora me permita pensar que, em muitos casos, o "desagrado" terá sido algo atenuado e em alguns casos alívio), não deixa de fazer parte do património da esquerda e do próprio PS.

Bem está tudo claro. Acho que o Presidente chamou a si uma missão que tem de mostrar que não é só retórica de discurso, embora eu não entenda o conteúdo subjacente: o Sr Presidente quer que a justiça continue na linha do mandato de Celeste Cardona? É isto? Aprova o pacote fiscal? Apoia o não aumento de ordenados mais um ano para a FP? Bem não percebo.

Quanto às esquerdas, há que juntar os cacos, designadamente na área do PS. Mais uma demissão do SG que, do posto de vista pessoal, pode ser um romper com uma situação penosa compreensível, mas politicamente não deixa de ser mais um erro.

Resta pois encontrar "caminhos" no PS, não um SG. Caminhos são ideias mobilizadoras para o País. Preocupa-me a falta de ideias em toda a esquerda, mas no PS como partido charneira, a situação é assustadora e é aí que está "a chave"!.
 

PR co-responsável pelo Governo do PPD/PSD - PP

PSL-PP Posted by Hello

Vital Moreira no Causa Nossa observa a inesperada atitude intervencionista adoptada pelo PR. E noutro artigo expôe os limites e a reduzida eficácia dos meios constitucionais ao dispor do Presidente para controlar e condicionar os actos do Governo.
Mais do que posições teóricas novas que conduzirão a um sampaísmo constitucional no exercício da magistratura presidencial julgo que se trata da natural reacção de (auto)promessas de intervencionismo de quem sente que não fez a necessária intervenção no momento próprio.
Sampaio com esta opção, legítima no plano constitucional mas, em minha opinião, equivocada no plano político, ficou amarrado a esta governação. Os Portugueses ao julgarem Santana Lopes não deixarão de responsabilizar também Sampaio.
Uma acção intervencionista do PR nas acções do Governo parece não só difícil com os meios de que dispôe (pode vetar as leis mas com uma segunda votação na AR elas passam) como representarão uma exorbitância que uma prudente leitura dos poderes de cada órgão de soberania desaconselhará.
Por outro lado só quem não conheça Santana Lopes e Paulo Portas poderá pensar que tal intervencionismo do PR a não passar de boas intenções, não será bom pretesto para desestabilização, vitimização e demagogia a pesar favoravelmente no prato da balança do PPD/PSP-PP.
 

Que levou Sampaio a decidir como decidiu?

PR Posted by Hello

Terá Sampaio pensado que após uma muito provável vitória do PS em eleições antecipadas não estaria este partido, devido à crise de liderança, em condições de governar bem o país nos próximos quatro anos e portanto preferir um Governo de dois anos de Santana-Portas como um mal menor?
Era uma razão, má porque muito subjectiva àcerca do PS e imprudente àcerca do direita populista, mas enfim era uma explicação para, como Presidente eleito, ter actuado contra a manifesta vontade de quem o elegeu e também de alguns que não votaram nele.
Mas julgo que a razão foi outra. A razão está na sua acanhada interpretação do papel do PR no quadro Constitucional português e no seu estilo pouco voluntarioso. Sampaio tem uma concepção (Devido à extensão continua ali. Um clic, se faz favor)
 

Um Pouco Mais de Razão

Das sempre fascinantes conversas com o Raimundo Narciso, as que mais me deixam lastro para meditar são sem dúvida as notáveis lições de História. Na voragem do imediato, os tempos não são de olhar para trás, é verdade. Mas é pena. Por mim, não consigo evitar que me venha constantemente à memória a Primavera de 1987. Após a aprovação da Moção de Censura apresentada pelo bizarro PRD, Soares decide convocar as eleições antecipadas que a 19 de Julho dão a primeira maioria absoluta de mandatos, mas também de votos, ao PSD de Cavaco. Tive a minha primeira zanga séria com o meu grande referencial político. Então o homem é eleito após a mais sangrenta batalha à esquerda e o embate mais decisivo contra a direita(só 12 anos após o 25 e Abril) e passado apenas um ano não dá hipótese à esquerda de formar um governo liderado pelo seu partido?! Alguns amigos falaram-me até de um conflito edipiano. Custou a sarar aquela ferida. Mas o que não nos mata, torna-nos mais fortes.
Dito isto, pensarão que apoio a decisão (devido à extensão do texto continua ali.Um clic por favor)

2004-07-10

 

Da Estabilidade e seus corifeus (IV)


Curvo-me, sem ironia, perante a clarividência do meu camarada de blog, João Abel. Na quarta-feira passada (ver post intitulado "A Mais Simples Decisão de Sampaio") a pretexto de uma citação de Eduardo Moura, do Jornal de Negócios, previu, com uma lucidez mordaz, o que veio a acontecer. Uma chapelada para ele e para os outros que, tendo ou não expressado o que previam, tinham já compreendido que Sampaio prefere a lisura constitucional à dinamização institucional. O Soares, apesar de tudo, enquanto PR, teve outra bravura. Sabia que os "contos da estabilidade" podem substituir as " histórias da carochinha" para embalar, noite alta, os filhos dos desempregados. A cada um, o seu lugar na História.
 

Da Estabilidade e seus corifeus (III)


Alberto João explicará aos madeirenses que estes gajos do continente - os cubanos e os colonialistas - reagem bem quando são postos no seu lugar. Contra o "golpe de estado" em preparação, este Conselheiro de Estado da República Portuguesa, ameaçou, para desencorajar a eventual inclinação do Chefe de Estado em dissolver a AR, que a direita não iria a eleições. Estando a arruaça no Conselho de Estado, para quê ir mais longe? Ficamos assim. Ele saiu pela porta das traseiras, pela direita baixa; o PR deu o que lhe foi exigido chantageadamente à direita alta. A República recomenda-se. A estabilidade institucional consolida-se.
 

Da Estabilidade e seus corifeus (II)


O PR não dissolveu a AR. Vai convidar o PPD/PSD, na pessoa do seu novel Presidente. Tudo muito bem justificado do ponto de vista da formalidade constitucional. Se fosse outra a convicção de Jorge Sampaio, o PR poderia ter dissolvido a AR na base de argumentação formal igualmente irrepreensível. JMBarroso, depois da "banhada" das "europeias", jogou no cavalo certo. Se não obteve garantias do PR, obteve, pelo menos, tudo o que lhe pediu. Ferro Rodrigues, demonstrando a solidez dos seus propósitos, demitiu-se. Dois a zero. A Coligação de Direita (pós-eleitoral) inicia o 2º ciclo nas melhores condições. Um PR venerando; o populismo impante; o PS à nora; o PCP e o BE a verberarem o Presidente da República. Só falta mesmo... a retoma. A estabilidade constroi-se no segredo dos acordos de cavalheiros.

2004-07-09

 

Valerá a pena discutir a conjuntura económica?

Não vale, a não ser que as pessoas estejam predispostas para pensar "no óbvio". E o "obvio" é: não desfraldar bandeiras e pensar já tocamos no fundo e o que fazer para começar a subir a rampa de forma sustentável.

Acho que esta observação se pode/deve colocar em outros domínios.

Voltando à economia e "ao óbvio", apenas umas notas algo "exóticas" e desprendidas de cargos em que o "politicamente correcto" é a bitola.

O Banco de Portugal divulgou ontem uma informação com uma análise prudente e ambígua, com muitas reticências(riscos e incertezas em linguagem técnica) que é preciso também ter em conta nas nossas leituras.

Os dados disponíveis apontam para o seguinte: em 2004 estima-se que o PIB nacional cresça ligeiramente acima das previsões de Dezembro de 2003(1.25% contra 0.75%, pontos médios dos intervalos). Esta ligeira melhoria enquadrada na UE significa que Portugal continua a evoluir abaixo da média da UE, ou seja, mantém a divergência desde 2002. Refira-se que Portugal está na 15ª posição na UE15. Mais grave ainda esta perspectiva prolongar-se-á em 2005.

Coloquemos agora a seguinte questão: Porque razão a economia portuguesa não consegue reagir, pelo menos, numa posição ajustada à média?

Resposta. Não somos competitivos. Só que temos de definir o que é isso da competitividade.

Ser competitivo é tão simples como isto, ou produzimos bens e serviços com aceitação nos mercados (nacioanl e internacional) ou não produzimos. A realidade é esta segunda situação: estamos cada vez mais em dificuldade para que os nossos bens e serviços sejam reconhecidos nos respectivos mercados.

Esta a questão de fundo. Os problemas da economia portuguesa não se reduzem a uma questão de défice das contas públicas, estão muito para além: há um problema de mercado, com tudo o que isso implica, por parte do Estado e das empresas.

Esta a questão do "busilis" e não vemos onde está a estratégia credível de inversão desta questão económica de fundo, tarda a aparecer, até porque ela exige considerar múltiplas áreas e, designadamente, a area do social, do humano, porque não é viavel uma estratégia de relançamento do país sem uma larga adesão.
 

Durão Barroso na comunicação social estrangeira

Respigadas do Semanário Económico de 2 de Julho, aqui ficam algumas opiniôes sobre Durão Barroso publicadas na comunicação social estrangeira.

«Sossegado, sem pretensões, amigável e discreto: os adjectivos aplicados a José Manuel Durão Barroso não são os habitualmente usados para descrever os políticos europeus de maior sucesso.»
The Independent

«Não é homem para contrariar Jacques Chirac ou Gerhard Schroeder.»
Die Welt

«Isto não é maneira de se escolher o presidente da Comissão Europeia». «O Sr. Barroso pode até revelar-se como a escolha certa para o cargo, mas por agora parece ter sido escolhido por ser o único homem de pé num concurso de bota-fora.»
Financial Times

«A principal característica de Barroso é o facto de não incomodar nem Londres, nem Paris, nem Berlim.»
Zuddeutsche Zeitung

«Foi escolhido mais por ter o cartão do partido certo, por não ter ofendido muito ninguém e por não ameaçar ninguém do que por ter ideias fortes ou grande capacidade de liderança.»
Reuters

«José Manuel Durão Barroso herda um cargo que frustrou políticos de perfil mais elevado: como obrigar os Estados Membros da União Europeia a cumprir as regras.»
Bloomberg



2004-07-08

 

Uma clarificação necessária

Na actual crise política, há uma questão importante que ainda não foi devidamente clarificada.
O PSD tem afirmado que, quando Durão Barroso, em 25 de Junho, transmitiu a Jorge Sampaio a sua intenção de aceitar o convite para presidir à Comissão Europeia, o Presidente da República lhe manifestou apoio a essa candidatura em termos que conduziram Durão Barroso à convição de que a sua saída do Governo não provocaria qualquer crise e que um novo Governo seria formado com base na actual maioria da Assembleia da República.
Como se sabe, esta versão da conversa de Durão Barroso com Jorge Sampaio tem sido negada por acessores do Presidente da República.
Por outro lado, sabe-se que no dia 1 de Julho, quatro dias antes de Durão Barroso ter formalmente apresentado ao Presidente da República o seu pedido de demissão como 1º Ministro, já Jorge Sampaio tinha vindo a público dizer que estava perante a maior crise política do seu mandato e que a decisão que iria tomar seria a mais grave que certamente iria tomar durante esse mandato.
Quando, ,no dia 5 de Julho, Durão Barroso apresentou formalmente o seu pedido de demissão ao Presidente da República, o Primeiro Ministro demissionário tornou a firmar que tinha aceite o convite para Presidente da Comissão Europeia por ter ficado convencido que não haveria eleições antecipadas pois, caso contrário,não teria aceite o convite.
Julgo que estas contradições deviam ser devidamente clarificadas. Espero que o Presidente da República o faça quando anunciar ao País a sua decisão para a saída da crise.
 

Da Estabilidade e seus corifeus (I)


1. Subordinar liminarmente os valores democráticos aos de uma "estabilidade" que já não existia com o Governo de Durão Barroso é confundir o funcionamento dos mercados com o funcionamento da democracia. Não é inédito, mas arrisca-se a ficar com a boca torcida quem, dizendo-se democrata, recusa soluções democráticas em nome de uma instabilidade gerada por numerosas injustiças sociais que deixam quase indiferentes os financeiros e mui carenciados os trabalhadores por conta de outrém. Chamar estabilidade a "isto" e, como se tal não bastasse, pôr "isto" acima da democracia, ... é obra!


2. Supor que a dificuldade em nomear um outro governo saído da mesma maioria PPD/PSD-CDS/PP, reside na personalidade de Pedro Santana Lopes (como faz hoje Eduardo Prado Coelho no PÚBLICO) é fulanizar demasiado a questão. Para Prado Coelho, a questão não se poria se se tratasse de Morais Sarmento, Marques Mendes ou Teresa Gouveia. Então, assim já se reconhece à Comissão Nacional do PPD/PSD a legitimidade de escolher o novo 1º Ministro de Portugal? O mesmo Marques Mendes que se insurgiu, mal soube, contra uma eleição "na secretaria"? Será, outra vez, o valor da tal "estabilidade" que está a balizar a análise de EPC?


3. Entretanto, Manuela Ferreira Leite, Marques Mendes et tutti quanti, calaram as agudíssimas críticas que fizeram publicamente contra o processo privado de sucessão do líder (e eventual 1º Ministro). Acabaram por alinhar com a solução corporativa. É com eles. Porém, após ouvir Manuele Ferreira Leite, ontém, declarar à SIC-Notícias que já tinha expressado a sua opinião nos "lugares próprios", fiquei perplexo. Rendidos às virtudes do Centralismo Democrático?
Alarme geral!

- Os partidos de direita estão a sovietizar-se!

 

Que pensa da crise a nossa Indústria?

AIP Posted by Hello

Pois a Indústria pensa que não se deve ir para eleições. Quem diz? O Comendador Pedro Rocha de Matos, presidente da Associação Industrial Portuguesa, a AIP. Ouvi-o na rádio e depois na TV. Explicou porquê? Explicou sim Sr. Num Português torturado, é certo, mas explicou. Disse que não se devia ir para eleições porque ele achava que o resultado eleitoral seria mais ou menos o mesmo que o de há dois anos. E para ficar tudo na mesma não valia a pena perder-se tempo!
Ora aí está! A nossa Indústria!! Se existisse!

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